Desde que a igreja de Cristo existe, ela é perseguida. Neste exato momento, cristãos em vários lugares do mundo sofrem perseguição por exercer sua fé em Jesus.
Missionários cristãos estão sofrendo algum tipo de perseguição. Muitos deles nem ao menos podem informar suas igrejas os locais onde se encontram. Isso porque, em alguns países, a presença de missionários é proibida e pregar o evangelho é crime.
Por que a igreja de Cristo é perseguida? As perseguições impedem a igreja de avançar e progredir? Será que elas poderiam extinguir a igreja? O que a Bíblia nos ensina sobre a igreja sofrer perseguições?
I. A UNIÃO COM CRISTO E AS PERSEGUIÇÕES (Jo 15.18-27)
A união de Cristo com sua igreja é retratada nas Escrituras de diversas maneiras e por meio de diferentes figuras (o fundamento de uma construção, Ef 2.20-22; a cabeça e o corpo, Ef 1.22-23; marido e esposa, Ef 5.31-32).
Em João 15, o próprio Senhor Jesus utiliza a figura da videira para falar da união vital entre ele e seus discípulos. Jesus é a videira e seus discípulos são os ramos. Seus discípulos dependem dele para viver e frutificar:
Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. (v 4-5)
A união com Cristo é a fonte de vida e bênçãos para a igreja. E por causa dessa união que a igreja passa a ser identificada com Cristo Jesus diante do mundo. Assim ela representa o Senhor diante do mundo — mas é claro que o pecado acaba afetando essa identificação e representação.
Por meio da igreja, o mundo pode receber a mensagem de salvação e conhecer a Cristo, mediante a pregação do evangelho. Contudo, a identificação da igreja com Cristo faz com que o mundo também, muitas vezes, volte-se contra ela, assim como foi contra Cristo Jesus.
O mundo representa todo o sistema pecaminoso em oposição ao Salvador. Todo o ódio que o mundo tem contra Cristo é canalizado e descarregado contra a sua igreja. Jesus disse a seus discípulos:
Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros. (Jo 15.20)
O Mestre ensina aos discípulos que a perseguição a eles seria inevitável e que esse era um sinal de que pertenciam a Jesus.
É por viver e pregar os ensinamentos divinos que os discípulos acabam sendo perseguidos pelo mundo (2Tm 3.12). O ódio do mundo contra os discípulos de Cristo não é uma manifestação gratuita, sem um motivo. A causa tem a ver com o fato de que a igreja exala o seu bom perfume de Cristo (2Co 2.15), e isso não é agradável ao mundo.
Vemos um exemplo dessa realidade em Atos 7.1-60. Essa passagem fala do apedrejamento de Estevão por pregar o evangelho. As autoridades judaicas o prenderam e o interrogaram. Aquele que seria o primeiro mártir da igreja cristã passou a fazer uma exposição bíblica, desde o chamado de Abraão até Salomão, que havia construído o templo de Deus.
Mas ele logo foi interrompido, não conseguindo terminar seu depoimento, pois as autoridades e outros que estavam no Sinédrio ficaram enfurecidos com aquelas palavras.
Eles taparam os ouvidos e clamaram em alta voz para não mais ouvi-lo. A seguir, o arrastaram para fora da cidade e o apedrejaram. A mensagem que Estevão pregava e seu testemunho causaram irritação aos que não queriam ouvir a palavra da verdade.
O apóstolo Paulo, antes de sua conversão, era um perseguidor implacável da igreja de Cristo. Quando saiu a caminho de Damasco, ocasião em que se deu a sua conversão, o Senhor Jesus, do céu, lhe falou:
Saulo, Saulo, porque me persegues? (At 9.4)
Tal palavra, dita pelo Senhor a Paulo (na ocasião, Saulo), demonstra que há uma íntima ligação entre Cristo e sua igreja, de tal modo que quando a igreja é perseguida, é o próprio Cristo quem está sendo perseguido.
É importante frisar que só se pode caracterizar a perseguição contra a igreja quando seus discípulos são perseguidos por viver e pregar a Cristo Jesus.
Isso é bem diferente daqueles casos em que alguns vizinhos de igrejas apresentam reclamações aos órgãos públicos contra a igreja que utiliza som em volume acima do permitido. Neste caso, e em outros semelhantes, os atritos nem sempre podem ser considerados perseguição contra a igreja.
O que normalmente ocorre é que tais igrejas estão infringindo a lei, por isso estão sendo penalizadas, não, perseguidas. Não é a mensagem do evangelho que está incomodando, por ser provida de verdade, atacando o engano.
A perseguição sempre se dá por causa do nome de Cristo, caso contrário, o que ocorre pode ser qualquer outra coisa, mas não perseguição por servir a Cristo (Mt 5.10-11; 1Pe 4.12-16).
II. AS PERSEGUIÇÕES E A EXPANSÃO DO EVANGELHO (AT 8.1-8)
No livro de Atos temos o relato do desenvolvimento da igreja e como a mensagem do evangelho chegava a todos os lugares por seu intermédio. Atendendo a ordem dada pelo Senhor Jesus e cheios do Espírito Santo (At 1.8) tendo os cristãos recebido o Espírito Santo, passaram a testemunhar em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até os confins do mundo.
Fosse por meio dos apóstolos ou de outros, a palavra de Cristo alcançava o mundo. Nessa tarefa de anunciar Cristo as perseguições acabaram funcionando como combustível, proporcionando um avanço rápido.
Atos 8.1-8 relata que com a morte de Estevão uma grande perseguição se levantou contra a igreja, forçando a dispersão dos discípulos por toda parte. No entanto, à medida que eram dispersos eles “iam por toda a parte pregando a palavra”.
A perseguição fez os cristãos se espalharem até a Fenícia, Chipre e Antioquia (At 11.19). Deus usou a perseguição como instrumento de sua graça para levar o evangelho a lugares distantes de Jerusalém e salvar pessoas, que de outro modo talvez não pudessem ter a oportunidade de ouvir sobre a salvação.
A perseguição fez a igreja espalhar mais rapidamente a semente do evangelho. Tal foi o progresso do evangelho em Antioquia, que a igreja em Jerusalém enviou Barnabé para lá, a fim de instruir os novos convertidos.
Muita gente se uniu ao Senhor. Barnabé, a seguir, foi para Tarso à procura de Saulo e o levou para Antioquia para ajudá-lo no ensino dos crentes (At 11.19-26).
No relato do Livro de Atos, nota-se que a igreja não teve seu ânimo e vigor destruídos quando foi perseguida. As lutas nunca foram suficientes para destruir a igreja, muito pelo contrário, elas suscitaram coragem e desprendimento nos cristãos. Isso aconteceu mesmo antes da primeira grande perseguição registrada em Atos 8.
Em Atos 4, Pedro e João foram presos e ameaçados para não mais falarem no nome de Cristo Jesus. Depois de terem sido soltos, foram ao encontro da igreja que estava reunida e contaram tudo o que havia acontecido e também sobre as ameaças que receberam. Depois que os irmãos em Cristo ouviram o relato deles, unânimes, levantaram a voz e oraram a Deus.
Não pediram para Deus os livrar das perseguições e sim que tivessem intrepidez para continuar anunciando a palavra (At 4.29). As ameaças e perseguições tornaram-se combustível para se empenharem ainda mais na proclamação do evangelho.
Conforme disse Tertuliano, referindo-se às perseguições contra a igreja, “o sangue dos cristãos é a semente da igreja”.
Uma análise da história da igreja demonstrará que em seus primeiros séculos de vida, enquanto era perseguida, mantinha-se saudável em seu vigor e progresso.
No entanto, no século IV, a partir de Constantino, quando o cristianismo passou a ser favorecido pelo Estado e a gozar de certa paz e liberdade, nota-se um declínio em sua pureza e vigor.
Podemos nos perguntar se, muitas vezes, a apatia espiritual da igreja em determinados períodos não teria relação com sua liberdade de culto. Há quem diga que em tempos de perseguição a igreja se purifica e se torna mais vigorosa em seu empenho em defesa do evangelho.
III. O TRIUNFO DA IGREJA (MT 16.13-20)
Em Mateus 16.13-20, depois da bela declaração de fé de Pedro ("tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”), o Senhor profere palavras importantes acerca de sua igreja:
tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. (Mt 16.18)
Com essas palavras, podemos ter a certeza de que a igreja de Cristo sofrerá ataques de seu inimigo. “As portas do inferno” representam Satanás e suas legiões, que irrompem pelas portas do inferno para assaltar e tentar destruir a igreja. Durante toda a História, Satanás procurou destruir a igreja de Cristo, investindo contra ela.
As perseguições fazem parte desse investimento, uma tentativa para apagar e destruir a chama da igreja. Ao mesmo tempo em que Cristo declara que a igreja será alvo dos ataques malignos, ele afirma que, a despeito de tais ataques, sua igreja será sempre conduzida em triunfo.
A vitória da igreja sobre os ataques de seus inimigos está fundamentada no próprio Cristo. Ele mesmo edificará sua igreja. É por isso que a igreja, mesmo tendo atravessado terríveis dificuldades e perseguições sanguinárias no decorrer da História, continua a existir neste mundo.
É bem verdade que várias comunidades locais desapareceram — como é o caso das igrejas da Ásia, como Éfeso, Esmirna, Pérgamo etc —, no entanto, a igreja de Cristo continua existindo, a cada dia se expande e, assim será até o fim.
CONCLUSÃO
As perseguições contra a igreja são inevitáveis. Há sempre a possibilidade de elas ocorrerem. O mundo odeia a Cristo e, por conseguinte, também a igreja, pois a igreja representa e serve ao Senhor Jesus. No entanto, a despeito das perseguições, sabemos que a igreja sempre será conduzida por Cristo Jesus em triunfo. Até mesmo as perseguições podem ser instrumentos de Deus para promover o avanço da igreja.
APLICAÇÃO
Os cristãos do passado sofreram perseguições, mas se mantiveram fiéis a Cristo Jesus. Se hoje ocorresse alguma perseguição contra a igreja, você estaria preparado para sofrer por causa de Cristo Jesus? Ore pela vida daqueles irmãos que são perseguidos por causa do evangelho. Clame ao Senhor que os sustente e que o testemunho dado por eles seja um instrumento para a glória de Cristo.