Você já pensou no motivo pelo qual, mesmo entre os que professam a fé reformada, há falta de consenso sobre um ou outro assunto?
Por exemplo, há quem não tolere o uso de bateria na igreja e outros que não se incomodam com ela. Há quem não tolere o canto de outra coisa que não sejam os Salmos, e outros aceitam hinos e até cânticos.
Se essas diferenças puderem ser administradas, ainda poderemos andar juntos. Quando não há mais entendimento, aparecem as divisões.
É triste constatar que a grande maioria das divisões surgidas no meio protestante histórico brasileiro fez uso de pequenos problemas como pretexto. Igrejas foram divididas por razões políticas e até mesmo desentendimentos familiares.
Entretanto, há um grupo de igrejas que insiste em se identificar como evangélico e não liga muito para essas questões. Chegam até a considerar essas questões irrelevantes, mas admitem coisas que nós jamais sonharíamos admitir.
Por exemplo: ensinar que a salvação não depende apenas de Jesus (nós temos de fazer nossa parte também), obedecer ao ensino de alguém como se essa pessoa possuísse a mesma autoridade da Bíblia, etc.
Nesse caso, não temos denominações, e sim seitas, pois, travestidas de cristianismo, essas organizações negam seus fundamentos.
I. O QUE É UMA DENOMINAÇÃO?
É um grupo de pessoas que comunga os mesmos princípios. Ainda que não concordem em assuntos periféricos, respeitam-se e partilham os mesmos princípios doutrinários.
Há um nome, uma estrutura e doutrinas comuns. Quem faz parte de uma denominação, portanto, geralmente professa seu sistema doutrinário e de governo.
As denominações cristãs, de modo geral, reconhecem os princípios cristãos fundamentais nas outras denominações, divergindo somente em pontos que não são essenciais. Mas quando pontos básicos do cristianismo são questionados, não é possível caminhar irmanados.
Evidentemente, o foco de diferenças assim é teológico. Por isso, as igrejas evangélicas não consideram o catolicismo romano uma denominação, por exemplo, já que ela mesma afirma não haver salvação em outra igreja.
II. O QUE É UMA IGREJA SECTÁRIA?
É uma igreja que abraçou os princípios de uma seita. Às vezes é um grupo menor dentro de um grupo maior, esperando a hora certa para ganhar força e dominá-lo.
Imagine, por exemplo, que em uma igreja um pequeno grupo de irmãos comece a se reunir informalmente para ler a Bíblia, orar, cantar e assistir a vídeos de um pregador famoso. Eles permanecem vinculados à igreja na qual estão arrolados e dizem que dela jamais sairão; só querem exercitar uma vida de maior comunhão.
O grupo cresce e quando completam um número certo de comprometidos, alugam um espaço e saem da virtualidade para a realidade. Essa é a principal característica de uma seita: ser parasita.
Ela se nutre da igreja e se volta contra ela. Voltar-se contra ela é a segunda característica, que às vezes não é tão percebida, por isso não será chamada de prática, embora seja também.
Quem professa uma seita, acredita que apenas ela está certa. Aliás, no contexto religioso, pode-se dizer que acreditam que apenas eles estão salvos e que sua seita é dona das chaves das portas dos céus.
Não há seita mais clara e acintosa do que a Igreja Católica Apostólica Romana. Em seus catecismos ela é clara em dizer que fora dela não há salvação.
III. QUAL FOI A PRIMEIRA SEITA CRISTÃ?
A Bíblia fala de muitas heresias (partidos ou facções). Eles apareceram com o passar do tempo. Nas cartas de Jesus às sete igrejas da Ásia, ele repreende a igreja de Pérgamo, que tolerava os nicolaítas e “os que sustentam a doutrina de Balaão”, dos quais sabemos muito pouco. Mas há um grupo que prejudicou muito a igreja desde seus primeiros anos: o dos judaizantes.
Lucas os descreve em poucas palavras:
Alguns indivíduos que desceram da Judeia ensinavam aos irmãos: Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos. (At 15.1)
Na realidade, eram judeus que viam o cristianismo como uma seita judaica. O raciocínio deles era o seguinte: nosso Senhor era judeu e seus apóstolos também. Portanto, quem quiser ser cristão, precisa antes se tornar judeu (daí judaizantes). A marca distintiva de um judeu era a circuncisão, então todos tinham de ser circuncidados.
Eles deram muito trabalho a Paulo. Veja alguns exemplos:
- E também os demais judeus dissimularam com ele, a ponto de o próprio Barnabé ter-se deixado levar pela dissimulação deles. (Gl 2.13)
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Nesse texto, Paulo diz que o homem que o acolheu foi seduzido por eles. Repare a gravidade dessa informação, pois a discussão ferrenha de Paulo e Barnabé com eles foi o motivo da realização do Primeiro Concílio: o Concílio de Jerusalém.
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Em Gálatas 2.1-5, ao narrar sua viagem a Jerusalém, Paulo deixa entrever que houve alguma pressão para que Tito fosse circuncidado, mas ele não se deixou submeter em prol da “verdade do evangelho”.
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Em Gálatas 2.14, Paulo narra o quanto eles afetaram Pedro, a ponto de Paulo se ver compelido a repreendê-lo na presença de todos.
IV. COMO SE DEVE TRATAR UMA SEITA?
As Escrituras nos alertam contra o perigo de uma seita. Escrevendo aos Gálatas, Paulo diz que as seitas fazem parte das obras da carne. O Senhor Jesus ameaça as igrejas que as toleram nas cartas do Apocalipse. Mas o que podemos fazer está exemplificado no que foi feito pelo Concílio de Jerusalém.
Observe os passos descritos em Atos 15:
- 1°) O problema (v. 1)
- 2°) Proposta de solução (v. 2)
- 3°) Enviados ou delegados pelas igrejas da região (v. 3)
- 4°) Recebidos em Jerusalém (v. 4)
- 5°) Reunião do Concílio para debater a questão — observe a presença de debatedores e de público que não interferem no debate (v. 6-12)
- 6°) Tiago apresenta uma proposta (v. 13-21)
- 7°) Votação (v. 22a)
- 8°) Decisão por escrito (v. 22b-29)
- 9°) Entrega da decisão (v. 30-33)
Parece um tanto burocrática e lenta, mas a solução bíblica para o sectarismo instalado (pois o que está no coração é solucionado apenas pela santificação) é o pronunciamento conciliar.
Veja que o v. 31 diz que a decisão trouxe conforto e alegria às igrejas. No capítulo seguinte, que narra o início da segunda viagem missionária de Paulo, Lucas observa que ao passar pelas igrejas (obviamente as que foram afetadas pelos judaizantes) Paulo entregava as decisões do Concílio para serem observadas e “as igrejas eram fortalecidas na fé e, dia a dia, aumentavam em número” (At 16.4-5).
CONCLUSÃO
Sabemos que, em nossos dias, algumas igrejas são plantadas com interesses meramente comerciais, e até mesmo escusos. Sabemos de igrejas que sofreram divisões apenas por questões de antipatia de liderança. Não é raro escutar que um grupo saiu de uma igreja e constituiu uma comunidade, buscando alguma coisa de que sentia falta.
Seja em um lugar novo ou em um já existente, sempre haverá problemas semelhantes, pois eles derivam da condição humana.
Somos pecadores. Fomos redimidos pelo sangue de nosso Senhor, mas ainda não fomos libertos da condição pecaminosa em que nascemos. Somos sectários por natureza.
Podemos abafar esse pecado mediante o poder do Espírito Santo, mas quando nosso velho homem resiste, ou quando alguém solta as rédeas do sectarismo, ele se instala e se apresenta na forma de ensinos destruidores, partidos, facções.
Daí para o aparecimento de novas igrejas (até mesmo de “sinagogas de satanás”) o caminho é curto. É o que temos visto hoje.
APLICAÇÃO
Com suas palavras descreva a diferença entre uma denominação e uma igreja sectária. O que você pode fazer para evitar sentimentos e práticas sectárias?