1000 anos de paz?: O que a Bíblia realmente diz sobre o reinado de Cristo – Estudo Bíblico sobre o Milênio

Apocalipse 20

Para se entender Apocalipse 20 é essencial conhecer o método de interpretação denominado paralelismo progressivo. Aliás, o entendimento global do Apocalipse torna-se bastante simplificado com a aplicação do referido método.

De acordo com esse método, o livro de Apocalipse está dividido em sete seções. Chama-se paralelismo porque cada seção trata, praticamente, do mesmo assunto. E é progressivo porque, em cada seção, há elementos novos, verificando-se uma progressão escatológica de seção para seção.

É William Hendriksen quem propõe esse método. O mesmo pode ser assim ilustrado:

Sendo assim, os capítulos 20 a 22 constituem a última seção do livro. Segundo Anthony Hoekma, o texto de "Apocalipse 20.1 leva-nos novamente ao princípio da era cristã" (Milênio: Significado e Interpretações, LPC, Campinas/SP, 1985).

No capítulo 20 de Apocalipse encontramos vários símbolos, a saber: chave, corrente, 1000 anos, abismo, selo, tronos, prisão, livros, Gogue e Magogue, lago de fogo e enxofre.

Não se pode dar a nenhum desses símbolos uma interpretação literal. Nem mesmo aos 1000 anos, como alguns defendem. Esse número é simbólico e indica apenas um longo período de tempo. Os significados dos símbolos serão considerados no decurso do estudo. 

É importante atentar, também, para o fato de que, na hermenêutica de Apocalipse 20, a História, a Geografia e a Matemática são pouco relevantes como instrumentais de interpretação; ao utilizá-las, devemos fazê-lo com cautela.

O texto descreve situações e experiências complexas, tais como: o aprisionamento de Satanás, o reinado dos santos no céu, a primeira ressurreição, a segunda morte, a libertação de Satanás e sua derrota definitiva, e o grande julgamento. Procuraremos, a seguir, trabalhar todas essas questões à luz do ensino geral das Escrituras.

1. O milênio

O milênio começou com a primeira vinda de Cristo e terminará um pouco antes da segunda vinda.

Os 1000 anos mencionados em Apocalipse 20 não podem ser entendidos como sendo literalmente um período de 1000 anos. Referem-se, na verdade, a um período de tempo iniciado a partir da primeira vinda de Cristo. A referência à primeira vinda inclui tudo o que a envolve, desde a encarnação até à ressurreição e a entronização de Cristo (Ef 1.20-23).

Satanás está amarrado e aprisionado até que transcorram os 1000 anos (vv. 1-3). O aprisionamento de Satanás indica que o seu poder e liberdade de ação foram restringidos por Cristo.

Em João 12.31,32 Jesus declara: "Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso. E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim". Segundo o próprio Senhor, os sinais da chegada do reino de Deus confirmam que Ele mesmo, primeiramente, amarrou o valente, isto é, a Satanás (Mt 12.28,29).

O acorrentamento de Satanás não o impede, entretanto, de agir. Apenas restringe a sua ação no sentido de poder enganar e obscurecer as nações, como acontecia até à vinda de Cristo (Is 9.1-7). Também o impede de resistir e prevalecer contra a igreja (Mt 16.18).

A era que estamos vivendo e que é o desenrolar do próprio milênio, terminará pouco antes da segunda vinda de Cristo, quando Satanás será solto e derrotado de uma vez por todas. Em seguida, o Senhor virá para julgar o mundo.

A era atual - compreendida pelo milênio - é o tempo da igreja ou a era evangélica, e Satanás não pode impedi-la (Lc 10.17-19). Esse é um período em que a igreja tem a liberdade e a oportunidade de fazer ouvir as boas-novas de salvação em todo o mundo, como determinou o Senhor Jesus (At 1.6-11).

É importante observar nesse texto, que esta missão está inserida entre a primeira e a segunda vindas do Senhor. A igreja deve aproveitar as oportunidades e desenvolver, com urgência, a sua missão, pois o tempo está próximo (Rm 13.11-14).

E importante lembrar, porém, que o fato de Satanás estar amarrado não significa que seja desnecessário preocupar-se com ele. Sabemos que um leão, mesmo amarrado ou aprisionado, continua sendo perigoso e pode causar muitos danos (I Pe 5.8-10).

Nos versículos 4 a 6, João fala, novamente, em 1000 anos, durante os quais os santos "viveram e reinaram com Cristo". Não se trata, aqui, de outro milênio; apenas indica que, enquanto o milênio transcorre e vive-se na terra a era da igreja, no céu estão vivendo e reinando com Cristo os crentes que já morreram. João destaca, inclusive, os crentes martirizados pela tirania do Império Romano.

A "primeira ressurreição" mencionada no texto, refere-se ao novo nascimento em Cristo (Jo 5.24; Rm 6.3-8; Ef 2.5; I Jo 5.11,12). Quanto à "segunda morte", trata-se da morte espiritual e eterna, reservada aos ímpios (Rm 8.13; II Co 2.15,16; Ap 2.11; 21.8).

2. A grande tribulação

João afirma que, cumpridos os 1000 anos, Satanás será posto em liberdade: "é necessário que ele seja solto pouco tempo" (vv.3,7). Será um curto período caracterizado por grande apostasia.

O texto diz que Satanás "sairá a seduzir as nações nos quatro cantos da terra", com o propósito de pelejar contra o povo de Deus (v.8). Gogue e Magogue mencionados nesse versículo não se referem, propriamente, a uma pessoa ou lugar, mas são nomes simbólicos representando a oposição movida pelos inimigos de Deus e do seu povo.

O Rev. Américo J. Ribeiro observa o seguinte: "Os nomes Gogue e Magogue derivam do livro de Ezequiel (38.2). 

São usados pelo profeta, segundo autorizados intérpretes, para indicar o poder dos selêucidas, revelado nos dias de Antíoco Epifânio, o arquiinimigo dos judeus. João usa esse período de grande aflição e angústia para o povo de Deus, na velha dispensação, como símbolo do ataque final de Satanás e suas hordas contra a igreja, nos últimos dias" (Iniciação Doutrinária, vol. 3, LPC,p.57).

Comentando esse trecho de Apocalipse, em comparação com o ensino de Paulo, Michael Wilcock faz a seguinte análise: "Paulo descreve em II Tessalonicenses 2 o que vai acontecer imediatamente antes do retorno do Senhor: '...não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia, e seja revelado o homem da iniqüidade... '(v.3). No tempo presente um poder divino 'o detém', porém é certo que em alguns aspectos 'o mistério da iniqüidade já opera' (vv. 6 e 7).

Mas, quando aquele que o detém for afastado, o mundo novamente verá 'a eficácia de Satanás... com todo engano de injustiça '(vv. 9 e 10). As predições não simbólicas de Paulo concordam de forma tão marcante com as profecias simbólicas de Apocalipse 20, que é muito difícil dizer que as duas passagens se referem a circunstâncias diferentes". (A Mensagem de Apocalipse, ABU Editora, São Paulo, 1986, p. 158).

A investida final de Satanás e suas hostes contra o povo de Deus será de curta duração, pois tudo culminará com a intervenção e a vitória definitiva de Cristo contra ele e seus agentes: "desceu fogo do céu e os consumiu.

O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre... e serão atormentados pelos séculos dos séculos "(v. 10). Esse evento é sucedido, imediatamente, pela segunda vinda de Cristo (Mt 24.29-31). A propósito, é oportuno recordar as orientações de Paulo registradas em II Tessalonicenses 2.13-17.

3. A vinda gloriosa de cristo

O trecho compreendido nos versículos 11 a 15 é uma clara referência à segunda vinda de Cristo e o grande julgamento. Nesse tempo ocorrerá a ressurreição dos mortos.

A visão de João é muito nítida quanto à presença, diante do trono, de todos os que estavam mortos, mas acabaram de ressuscitar. Essa ressurreição envolve a todos: os justos e os ímpios.

Sobre isso, a Confissão de Fé de Westminster declara: "No último dia, os que estiverem vivos não morrerão, mas serão mudados; todos os mortos serão ressuscitados com os seus mesmos corpos, e não outros, embora com qualidades diferentes, e se unirão novamente às suas almas, para sempre. Os corpos dos injustos serão, pelo poder de Cristo, ressuscitados para a desonra; os corpos dos justos serão, pelo seu Espírito, ressuscitados para a honra e para serem semelhantes ao próprio corpo glorioso de Cristo".

Simultaneamente à ressurreição dos mortos e a transformação dos que estiverem vivos, ocorrerá o julgamento, e seguir-se-á a eternidade (Mt 16.27; II Co 5.10; II Ts 1.7-10; Jd 14,15).

A morte e os seus poderes, bem como os ímpios, já terão sido aniquilados para sempre (vv. 14,15). Os santos, por sua vez, na presença do Senhor, começam a desfrutar do novo céu e da nova terra por toda a eternidade.

É o fim da História e o "começo" da eternidade. Como diz Daniel, "os santos do Altíssimo receberão o reino, e o possuirão para todo o sempre, de eternidade a eternidade"(Dn 7.18).

Discussão

1. O que comprova que a ação de Satanás na presente era está limitada?

2. "O ímpio nasce uma vez e morre duas; o justo nasce duas vezes e morre uma". Explique.

Autor: REV. ENEZIEL PEIXOTO DE ANDRADE


Lista de estudos da série

1. Não tenha medo: Como ler o livro da Revelação corretamente – Estudo Bíblico sobre a Introdução ao Apocalipse

2. Mais que um profeta: A visão de Jesus que fortalece a esperança – Estudo Bíblico sobre Cristo em Apocalipse

3. Uma mensagem para hoje: O que Cristo diz à sua igreja – Estudo Bíblico sobre as Cartas às Sete Igrejas

4. Quem está no controle?: O governo soberano de Deus na História – Estudo Bíblico sobre o Trono Celestial

5. O mistério revelado: Por que só Jesus pode abrir o livro da História – Estudo Bíblico sobre o Livro e o Cordeiro

6. O mundo em crise: Entenda o significado dos cavaleiros do Apocalipse – Estudo Bíblico sobre os Sete Selos

7. O alerta divino: O que o som das trombetas anuncia ao mundo – Estudo Bíblico sobre as Sete Trombetas

8. Nossa maior tarefa: O papel da igreja em tempos de crise – Estudo Bíblico sobre a Missão do Povo de Deus

9. A guerra invisível: Entenda a vitória de Cristo sobre Satanás – Estudo Bíblico sobre a Mulher e o Dragão

10. Impérios vs. o Cordeiro: Identifique as forças que se opõem a Deus – Estudo Bíblico sobre as Duas Bestas

11. A ira do Cordeiro: A justiça final de Deus sobre a rebeldia – Estudo Bíblico sobre os Sete Flagelos

12. A queda inevitável: O fim de todo sistema que se opõe a Deus – Estudo Bíblico sobre a Queda da Babilônia

13. 1000 anos de paz?: O que a Bíblia realmente diz sobre o reinado de Cristo – Estudo Bíblico sobre o Milênio

14. O fim é apenas o começo: Descubra a promessa da vida eterna – Estudo Bíblico sobre Novo Céu e Nova Terra

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