Muita gente tem procurado entender, traduzir e explicar o desenrolar da história humana. Antropólogos, arqueólogos e historiadores procuram montar uma sequência lógica dessa colcha de retalhos, com tantas guerras, fome, exploração e dominação do mais forte.
Como afirma Michael Wilcock: "nós não precisamos de Cristo para nos dizer que o mundo está cheio de problemas. Mas precisamos da sua explicação sobre a História, se quisermos entender o sentido dos problemas" (A Mensagem de Apocalipse). Assim sendo, ao contemplarmos os sete selos do livro de Apocalipse, estaremos percebendo o desenrolar e a explicação da história da humanidade, segundo o governo de Deus.
Análise do texto
Em seu livro Como ler o Apocalipse, José Bortolini afirma: "O capítulo 6 dá início à nova unidade, à seção aos selos. Jesus, vencedor da morte, vai mostrar como é a história da humanidade, abrindo os sete selos que mantém lacrado o livro da História.
A abertura dos quatro primeiros selos segue um esquema padrão: abertura do selo; voz de comando de um dos seres vivos; surgimento de um cavalo; descrição do cavaleiro. Os cavalos chamam a atenção. No Apocalipse, os animais representam forças positivas ou negativas atuantes na História. Se fazem o bem, são boas; se fazem o mal, são más".
Já Michael Wilcock completa, dizendo: "De todos os pontos, de todos os círculos, o louvor converge para o centro; e no centro de tudo está o trono do Pai, está o Senhor Jesus Cristo". Assim, vejamos como o trono interpreta a História e a faz desenrolar para um propósito final.
1. Uma história de ganância
O primeiro selo que é aberto (6.1,2) revela que a mola propulsora das conquistas e da história humana se chama "ganância": "e ele saiu vencendo e para vencer".
O cavaleiro que monta o primeiro cavalo possui uma arma de guerra; é, portanto e naturalmente, uma força negativa. É a representatividade da ganância na História. Não se dá por satisfeita com as vitórias alcançadas; sempre quer mais e mais.
Com isso, Jesus nos alerta para que abramos os olhos e descubramos que na origem de todas as relações sociais, instalam-se a cobiça e o desejo de dominar.
Bortolini afirma que: "o texto evidencia, também, que a força do Espírito desmascara a ganância dizendo: "Venha, ou seja, mostre-se" (v. 3).
Por outro lado, há uma teoria que defende este primeiro cavaleiro como sendo Jesus, com base em Apocalipse 19. Todavia, contra esta teoria há duas questões fortes a serem observadas:
- a) Se é o cordeiro que abre o selo, como pode ser ele o cavaleiro?
- b) Como Jesus pode fazer parte desses flagelos?
2. Uma história de sangue
O segundo selo que é aberto (6.3,4) revela que a história humana está manchada de vermelho, pelo sangue dos homens e mulheres, derramado pela ganância. O cavaleiro tem em mãos uma "grande espada" - símbolo da violência que cada vez aumenta, cresce e assusta mais.
Nos dias do Novo Testamento, a espada era a arma dos romanos. Por meio dela, afirma Bortolini, da violência, o imperialismo romano impunha paz no mundo - a Paz Romana. Era uma paz de cemitério. Ninguém podia se opor, que corria o risco de perder a vida. O Apocalipse faz uma crítica feroz à paz romana, afirmando: "foi-lhe dado tirar a paz da terra".
O mais interessante é que a violência vem logo em seguida à ganância; ou seja, a violência é filha da ganância. Uma sociedade gananciosa põe no alto os poderosos e esmaga com violência os descontentes.
Quando se elege a ganância para regular as relações sociais, as pessoas se matam entre si, só para ter mais. A partir de agora, o que vemos se aproxima muito desta visão. A ganância por se ter e poder mais, leva pessoas e instituições a patrocinar a violência.
3. Uma história de escassez
A partir de referências como pesos e medidas, salários e preços, a terceira visão descreve uma situação econômica (6.5,6). Não exatamente fome, e sim, escassez.
A Bíblia na Linguagem de Hoje expressa melhor esse versículo, oferecendo uma compreensão mais ampla: "Uma medida de trigo pelo pagamento de um dia inteiro de trabalho, e três medidas de cevada pelo pagamento também de um dia inteiro de trabalho".
Esse terceiro cavalo esvazia o bolso do povo. E o arrocho sobre quem trabalha e não tem como defender a vida. Trabalha-se um dia todo por um quilo de farinha. A ganância gera a violência, e esta provoca a exploração econômica.
A farinha de trigo e a cevada eram a base da comida do povo. Porém, ninguém danifica o óleo e o vinho, que como pratos finos estão com fartura nas mesas regaladas dos ricos.
A escassez é para o trabalhador que luta, luta, e precisa a cada dia abaixar seu padrão de vida, devido à escassez de alimentação ou diminuição do seu poder aquisitivo.
4. Uma história de morte
O significado do quarto cavaleiro (6.7,8) e do acompanhante é evidente. Os homens matavam uns aos outros como consequência da abertura do segundo selo; lá, vimos a guerra, a causa; aqui, vemos a morte, o resultado.
Mas não se trata de morte enquanto condição de todo mortal, e sim, de morte violenta, provocada. "O cavalo é esverdeado, cor de cadáver que morreu de peste", afirma Bortolini. O povo não tem o que comer, é vítima de todos os tipos de doença, e seu trágico destino é a morte prematura.
E o resultado histórico da ganância que gera a guerra, que leva à escassez e produz a morte. A morte trágica desse selo leva um quarto da terra - é sinal de parcialidade; não de todo, não de vitória.
5. Uma história de clamor pela justiça
Abre-se o quinto selo (6.9-11). "Os mártires, isto é, os que foram mortos por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho, clamam a Deus, pedindo que lhes faça justiça. Deus vai pedir conta do sangue derramado" (cf. Gn 4.10).
Nesse trecho há um destaque para os "habitantes da terra" - são os que se sentem em casa na presente ordem, ou seja, são os que promovem e sustentam uma sociedade injusta.
Os mártires são um clamor constante para que Deus não seja neutro; ao contrário, execute sua justiça perante os senhores da terra. Toda vida sacrificada devido à Palavra do testemunho é e sempre será uma denúncia da injustiça que a provocou. Quando a justiça que este sangue clama perante Deus se realizar, não haverá mais martírios.
6. Uma história debaixo do juízo
Quando foi aberto o sexto selo (6.12-17), ocorreu um grande terremoto acompanhado de todos os horrores. O sol se escureceu, a lua ficou em sangue, as estrelas caíram, os céus se enrolaram, os montes e ilhas desapareceram.
Todas as gentes se esconderam e clamaram pedindo morte. A curta agonia da morte era preferível à presença de um Deus irado.
Há duas interpretações deste simbolismo: uns acham que aqui não está representado o juízo final; o outro ponto de vista, vê, nesta ação de ira de Deus, a manifestação final do seu juízo sobre toda a terra.
José Bortolini afirma que este juízo é resultado do clamor dos mártires, do sangue derramado, e que Deus não se pode fazer de rogado diante de tão intensa maldade.
7. Do silêncio ao triunfo
O sétimo selo (8.1-5) se distingue em muito dos demais. Ele prepara o caminho para a visão que se segue: das trombetas.
E esta visão pode ser dividida em duas partes:
- a) O silêncio na História;
- b) O incenso da vitória.
Quanto ao silêncio referido no texto, há dois possíveis significados: a) O silêncio como resultado direto da manifestação do juízo de Deus, que cala e silencia a História; b) O silêncio como apreensão e expectativa ante às cousas que devem acontecer após o juízo divino.
A segunda parte da visão do selo destina-se a um grande acontecimento: o incensário, cheio das orações e dos clamores dos santos é atirado à terra. E quando este incensário chega à terra, ouvem-se relâmpagos, vozes e trovões, o que no capítulo 4 está associado ao juízo de Deus.
Ao olharmos a História com os olhos do governo de Deus, vemos uma história de tragédia, de injustiças e ganâncias, que assolam a criação, exploram as criaturas e deformam os relacionamentos. Só mesmo uma intervenção de Deus pode reverter e transformar esse quadro.
Autor: Rev. Carlos de Oliveira Orlandi Jr.
Lista de estudos da série
1. Não tenha medo: Como ler o livro da Revelação corretamente – Estudo Bíblico sobre a Introdução ao Apocalipse2. Mais que um profeta: A visão de Jesus que fortalece a esperança – Estudo Bíblico sobre Cristo em Apocalipse
3. Uma mensagem para hoje: O que Cristo diz à sua igreja – Estudo Bíblico sobre as Cartas às Sete Igrejas
4. Quem está no controle?: O governo soberano de Deus na História – Estudo Bíblico sobre o Trono Celestial
5. O mistério revelado: Por que só Jesus pode abrir o livro da História – Estudo Bíblico sobre o Livro e o Cordeiro
6. O mundo em crise: Entenda o significado dos cavaleiros do Apocalipse – Estudo Bíblico sobre os Sete Selos
7. O alerta divino: O que o som das trombetas anuncia ao mundo – Estudo Bíblico sobre as Sete Trombetas
8. Nossa maior tarefa: O papel da igreja em tempos de crise – Estudo Bíblico sobre a Missão do Povo de Deus
9. A guerra invisível: Entenda a vitória de Cristo sobre Satanás – Estudo Bíblico sobre a Mulher e o Dragão
10. Impérios vs. o Cordeiro: Identifique as forças que se opõem a Deus – Estudo Bíblico sobre as Duas Bestas
11. A ira do Cordeiro: A justiça final de Deus sobre a rebeldia – Estudo Bíblico sobre os Sete Flagelos
12. A queda inevitável: O fim de todo sistema que se opõe a Deus – Estudo Bíblico sobre a Queda da Babilônia
13. 1000 anos de paz?: O que a Bíblia realmente diz sobre o reinado de Cristo – Estudo Bíblico sobre o Milênio
14. O fim é apenas o começo: Descubra a promessa da vida eterna – Estudo Bíblico sobre Novo Céu e Nova Terra