As advertências fazem parte da rotina da vida humana. Como exemplo, podem-se lembrar as placas de sinalização de trânsito.
Elas se constituem em advertências aos motoristas e pedestres quanto à maneira de se conduzir, para que acidentes sejam evitados. No entanto, grandes tragédias acontecem, pelo fato de não se dar importância a tais advertências.
O maior, mais famoso e mais luxuoso transatlântico do mundo na época, o Titanic, naufragou em sua primeira viagem, provocando a morte de mais de 1.500 pessoas.
O comandante do navio havia sido advertido quanto aos icebergs existentes na rota que estava sendo seguida, mas ele não deu importância aos comunicados recebidos, pois o Titanic havia sido construído para não naufragar.
A tecnologia utilizada na construção oferecia segurança máxima. Nem Deus seria capaz de afundar aquele navio, diziam alguns. Porém, o naufrágio aconteceu. As trombetas do Apocalipse são uma advertência àqueles que se opõem ao projeto do Reino de Deus nesse mundo. Caso não se arrependam, serão destruídos.
Análise do texto
Os cinco primeiros versículos do capítulo 8 são uma preparação para o que acontecerá após a visão dos sete selos. O silêncio no céu simboliza a grande expectativa quanto ao que poderia acontecer. Observa-se, também, que as orações do povo de Deus são ouvidas.
Os cristãos atribulados e perseguidos podem estar certos de que suas orações são ouvidas no céu. Assim como Deus ouviu o clamor do povo hebreu no Egito e viu o seu sofrimento (Êx 3.7), Ele ouve o clamor e vê a aflição dos cristãos que sofrem as injustiças dos ímpios.
As quatro primeiras trombetas (8.7-13)
Como observa o professor Ray Summers, em seu livro A Mensagem do Apocalipse: Digno é o Cordeiro, as quatro primeiras trombetas anunciam as calamidades sobre a natureza: terra, mar, rios e astros no céu.
Para se compreender a mensagem anunciada pelas trombetas, não se pode dar uma interpretação literal ao texto, nem se preocupar com os detalhes de cada uma delas.
"O universo inteiro, incluindo mesmo o sol, a lua e as estrelas, é utilizado por nosso Senhor como uma advertência para aqueles que não O servem e que perseguem aos Seus filhos" (William Hendriksen, em seu livro Mais que Vencedores).
Deus se utiliza das calamidades naturais para advertir e, até mesmo, destruir os inimigos do povo cristão. No entanto, observa-se que a destruição é parcial.
No versículo 13, nota-se que uma águia é vista voando no céu anunciando que o pior está por vir. As três últimas trombetas anunciam calamidades piores e mais terríveis do que as quatro já descritas. "Era superstição corrente que a águia era ave de mau agouro e, assim sendo, constituía apropriado presságio dos males que se seguiriam" (Ray Summers).
As três últimas trombetas (9; 11.15-19) - A quinta trombeta anuncia o ataque dos gafanhotos aos que não têm o selo de Deus sobre as suas frontes (9.4).
Esses são os opositores de Cristo e o seu povo. Esses homens hão de sofrer grandes tormentos. Serão tão atormentados, que desejarão morrer, mas a morte fugirá deles (9.5-7). Esses gafanhotos têm um rei, cujo nome significa destruidor ou destruição.
Assim, as calamidades enviadas por Deus não estão restritas à natureza, mas são estendidas aos homens que se colocam contra Deus e sua igreja. A sexta trombeta (9.13-21) apresenta os quatro anjos que foram enviados à terra para matar a terça parte dos homens.
O cenário é de guerra. O Império Romano, no primeiro século, era o grande inimigo do povo de Deus. Por isso, Deus haveria de enviar os exércitos inimigos do Império para destruí-lo.
O Império Romano simboliza todos que, em todas as épocas, têm se levantado contra o povo de Deus. Mesmo tendo sido destruída boa parte dos ímpios, os que escaparam não se arrependeram e continuaram em suas práticas pecaminosas (9.20). Já que não se arrependeram, Deus haveria de enviar um flagelo maior e mais rigoroso sobre eles.
A sétima e última trombeta (11.15-19). Antes dessa última trombeta, Deus conforta o seu povo com duas visões que revelam que a igreja é alvo dos cuidados de Deus e que os ímpios receberão justa retribuição de seus feitos (10; 11.1-14).
Ao soar a última trombeta, surge a declaração de que, no final, a vitória é de Cristo e de seu povo. As lutas são muitas e os opositores estão por todos os lados; mas eles serão destruídos, pois Deus está com o seu povo. A Arca da Aliança (11.19) é símbolo da comunhão entre Deus e o seu povo.
Contextualização
De que maneira a mensagem das trombetas pode ajudar os cristãos hoje? A advertência de Deus aos opositores do Reino são para lembrar que:
1. Deus não está indiferente às necessidades de seu povo
Na visão do apóstolo João, o que se percebe é que Deus não está indiferente às necessidades de seu povo.
Antes de relatar os flagelos anunciados pelas trombetas, João contempla um altar sobre o qual ofereciam-se as orações dos salvos que subiam à presença de Deus (8.3-5).
O clamor do povo perseguido e injustiçado foi ouvido pelo Senhor da História. Aquele que está no controle há de interferir e punir os que estão a serviço do mal. Consequentemente, trará o alívio aos seus escolhidos.
O povo hebreu que estava sendo escravizado no Egito não passou despercebido aos olhos de Deus, que ouviu o seu clamor e enviou um libertador. Alguns dos flagelos anunciados pelas trombetas se assemelham às pragas do Egito.
Neste mundo no qual os cristãos são, muitas vezes, perseguidos, maltratados, discriminados e, até mesmo, mortos, é confortador saber que Deus não se esquece daqueles a quem Ele ama.
Ele não desampara a sua igreja. Jesus prometeu estar com os seus discípulos até à consumação dos séculos (Mt 28.20). Essa certeza é o que dá aos cristãos forças e todas as condições necessárias para prosseguirem em sua luta contra toda forma de mal, pois, "se Deus é por nós, quem será contra nós?"(Rm 8.31).
As provações são uma realidade inquestionável. O cristão é atribulado, e passa por momentos extremamente difíceis, por causa da sua fé, mas ele sabe que Deus tem conhecimento de tudo e vê tudo o que se passa. No momento certo Ele há de interferir e reverter o quadro. Chegará o dia no qual a derrota do mal será plena.
2. Com Deus não se brinca
Outra verdade salientada no texto, é que com Deus não se brinca. Os opositores do Reino de Deus, que promovem perseguições aos cristãos, serão visitados com a ira de Deus.
As calamidades que as trombetas anunciam são um sinal de que Deus, apesar de seu amor e tolerância, pune os incrédulos. Ele dá a todos a oportunidade do arrependimento, mostrando, através de muitas calamidades que, se isso não acontecer, o juízo é certo e a derrota inevitável. Em Gálatas 6.7, o apóstolo Paulo afirma: "Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará".
Retornando ao episódio do livramento do povo hebreu da opressão do Egito, percebe-se que Deus enviou as pragas para mostrar ao faraó que era impossível resistir ao seu poder.
O faraó brincou com Deus, por isso pagou caro. O Império Romano, nos dias em que o Apocalipse foi escrito, constituía-se no maior inimigo do povo de Deus. Por isso, as calamidades anunciadas pelas trombetas, cumpriram-se e o levaram à ruína.
Todos aqueles que contrariam os valores do Reino de Deus, ficando ao lado das injustiças, perseguições e opressões, hão de colher o que semeiam. Os que personificam todo tipo de mal, seja de forma individual ou através dos sistemas, serão visitados com a ira do Senhor. O imperador de Roma, bem como o Império, experimentaram essa taça amarga do juízo de Deus.
3. O reino de Cristo prevalece sobre os reinos desse mundo
A última trombeta (11.15-19) anuncia que o Reino de Cristo não será derrotado, por isso vale a pena lutar pelos valores desse Reino e suportar tudo por amor a Cristo.
A vitória é certa, pois o Reino de Cristo prevalece sobre os poderes desse mundo. São oportunas as palavras de Jesus: "No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" (Jo 16.33).
Não são poucas as vezes em que se encontram pessoas desanimadas, as quais cansaram de lutar a favor de Cristo e sua causa. São aqueles que desistiram de fazer o bem, por acharem que o mal sempre vence e que final feliz só existe nas novelas. De fato, muitas vezes parece que Satanás é que está no controle. Mas, chegará o dia no qual a supremacia do Reino de Cristo haverá de se evidenciar.
Nos dias do profeta Malaquias, muitos achavam que não valia a pena servir a Deus, pois aqueles que viviam na impiedade e zombavam de Deus estavam prosperando dia a dia.
No entanto, o Senhor mostra a eles que chegará o dia no qual a diferença entre o que serve a Deus e o que não o serve, será revelada. Essa diferença está na vitória que o Senhor garante ao seu povo (Ml 3.13-18).
Pode-se dizer, com toda certeza, que vale a pena defender e lutar pelos valores do Reino de Deus nesse mundo. Vale a pena defender as causas que Deus defende, pois o seu Reino prevalece contra os reinos desse mundo.
Autor: Rev. Sérgio Pereira Tavares
Lista de estudos da série
1. Não tenha medo: Como ler o livro da Revelação corretamente – Estudo Bíblico sobre a Introdução ao Apocalipse2. Mais que um profeta: A visão de Jesus que fortalece a esperança – Estudo Bíblico sobre Cristo em Apocalipse
3. Uma mensagem para hoje: O que Cristo diz à sua igreja – Estudo Bíblico sobre as Cartas às Sete Igrejas
4. Quem está no controle?: O governo soberano de Deus na História – Estudo Bíblico sobre o Trono Celestial
5. O mistério revelado: Por que só Jesus pode abrir o livro da História – Estudo Bíblico sobre o Livro e o Cordeiro
6. O mundo em crise: Entenda o significado dos cavaleiros do Apocalipse – Estudo Bíblico sobre os Sete Selos
7. O alerta divino: O que o som das trombetas anuncia ao mundo – Estudo Bíblico sobre as Sete Trombetas
8. Nossa maior tarefa: O papel da igreja em tempos de crise – Estudo Bíblico sobre a Missão do Povo de Deus
9. A guerra invisível: Entenda a vitória de Cristo sobre Satanás – Estudo Bíblico sobre a Mulher e o Dragão
10. Impérios vs. o Cordeiro: Identifique as forças que se opõem a Deus – Estudo Bíblico sobre as Duas Bestas
11. A ira do Cordeiro: A justiça final de Deus sobre a rebeldia – Estudo Bíblico sobre os Sete Flagelos
12. A queda inevitável: O fim de todo sistema que se opõe a Deus – Estudo Bíblico sobre a Queda da Babilônia
13. 1000 anos de paz?: O que a Bíblia realmente diz sobre o reinado de Cristo – Estudo Bíblico sobre o Milênio
14. O fim é apenas o começo: Descubra a promessa da vida eterna – Estudo Bíblico sobre Novo Céu e Nova Terra