Frequentemente ouvimos alguém exclamar: "Aonde é que esse mundo vai parar?" Este questionamento reflete a perplexidade de algumas pessoas diante de certos acontecimentos ou situações.
São muitas as coisas que nos deixam perplexos. E o advento da rede mundial de computadores, conhecida como Internet. E a possibilidade da clonagem de seres humanos. E o programa de viagens espaciais com suas incríveis descobertas.
E a aberração dos casamentos homossexuais. E o avanço interminável da ciência e da tecnologia. E o aparecimento de movimentos e seitas... Diante de tudo isso, muitos se desesperam e ficam amedrontados, num pessimismo sem fim, pensando num "fim do mundo" catastrófico. É preciso ter calma. O Apocalipse nos ensina que tudo está sob controle.
Deus não perdeu o rumo da História. Cremos num Deus que é soberano sobre tudo, e Ele dirige a História. Nada de histeria ou fanatismo. A visão que João teve no capítulo 5 é uma visão que certamente servirá de consolo, conforto e esperança para as comunidades cristãs atuais. Vamos à reflexão:
Análise do texto
O capítulo 5 do Apocalipse, basicamente, é a visão do livro selado com sete selos e a visão daquele que abre o livro - o Cordeiro. É bom lembrar que os livros daquele tempo eram rolos, possivelmente de pele de carneiro.
João vê, também, um anjo com uma pergunta: "Quem é digno de abrir o livro e de lhe desatar os selos?"(v.2). Ele se desespera ao perceber que ninguém, em lugar nenhum, foi capaz de abrir o livro. No entanto, um dos anciãos mostra que a hora não é de desespero, mas de confiança e celebração. Jesus venceu a morte dando início a um novo tempo.
É o final dos tempos; porém, no dizer do teólogo José Bortolini, "não se trata do fim do mundo, e sim da vitória do bem sobre o mal, até que a vida se realize plenamente na Nova Jerusalém. Esta já começou com a ressurreição de Jesus" (Como ler o Apocalipse, Editora Paulus).
Em Apocalipse 5, Jesus é apresentado como Cordeiro, imagem que relembra a liber-tação de Israel do cativeiro egípcio (Ex 12.1-4). Ele tem a plenitude do poder, simbolizada pelos "sete chifres"; tem, também, a plenitude do Espírito, simbolizada pelos "sete olhos".
Ray Summers, professor de Novo Testamento, diz o seguinte, comentando a visão do Cordeiro: "O Cordeiro tem sete chifres, o número perfeito. Está Ele, portanto, perfeitamente aparelhado para destruir a oposição que fazem ao seu Reino. Tem sete olhos (...).Isto, sem dúvida, representa a vigilância incessante e perfeita a favor do seu povo".
Uma grande e festiva celebração se inicia quando o Cordeiro toma o livro. A celebração une o céu, a terra e todo o universo. Três cânticos são entoados. Analisemos rapidamente os três hinos:
O primeiro hino (5.9,10) - É entoado pelos quatro seres vivos com os vinte e quatro anciãos, e se dirige ao Cordeiro aclamando sua dignidade para receber o livro e abrir os selos. O cântico mostra que o povo de Deus está presente em toda a humanidade com uma nova missão: ser reino de sacerdotes agindo no mundo para transformar a morte em vida (Êx 19.6; Ap 1.6).
O segundo hino (5.11,12) - Proclamado em grande voz por "milhões" de anjos, reconhece ser o Cordeiro digno de todos os atributos possíveis. São sete atributos (7 = totalidade): poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor. Os grandes senhores daquele tempo exigiam para si todas estas coisas. O coral celeste afirma que só o Cordeiro merece isso.
O terceiro hino (5.13) - Abrange o mundo inteiro e se dirige a Deus e ao Cordeiro, atribuindo-lhes quatro coisas (4 = tudo): louvor, honra, glória e poder. A festa de louvor termina com o "Amém" dos quatro seres vivos e dos vinte e quatro anciãos. Jesus é adorado no final.
José Bortolini sugere que "esses hinos eram cantos que as comunidades perseguidas cantavam em suas celebrações. O Apocalipse mostra que no céu se celebra a mesma esperança dos que resistem e denunciam a idolatria que gera a morte" (op. cit.).
Da leitura e reflexão sobre o capítulo 5 de Apocalipse, podemos fazer as seguintes considerações:
1. A história não está desgovernada - ela tem um Senhor
Na época em que o Apocalipse foi escrito, possivelmente o imperador era Domiciano - alguém que impôs duras perseguições às igrejas aquém o livro foi escrito. Ele era apresentado como o "senhor absoluto" - alguém que deveria ser adorado por seus súditos.
Na visão confortadora de João, o grande soberano não é o Imperador Romano, mas sim, Jesus Cristo, o "Alfa e o Omega, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-poderoso" (Ap 1.8; Mt 28.18-20). A pergunta do anjo (v.2) tem uma resposta singular: "eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos"(Ap 5.2, 5).
No século I, o Império Romano castigou severamente as igrejas cristãs com violentas perseguições. As comunidades poderiam entender, em meio ao desespero, que a História estava desgovernada e que não havia mais esperança.
O choro de João (v.4) revela a triste situação das comunidades perseguidas "que só vêem injustiça, opressão e morte diante dos olhos. Os poderosos parecem ter tomado as rédeas da História, gerando a morte do povo" (J. Bortolini, op. cit.).
A partir de agora, também, somos tentados, em meio à situação caótica dos tempos atuais, a pensar que Deus não controla mais a História.
Não temos mais a perseguição daqueles dias, mas temos o imperialismo do mercado que persegue e exclui os mais pobres; temos a tão falada "globalização"; temos o avanço incrível da ciência e da tecnologia; temos a escalada da violência, e tanta coisa ruim acontecendo, que podemos pensar que o mundo e a História estão sem rumo.
O Apocalipse mostra que não. Diz o teólogo Carlos Mesters: "Jesus recebe o livro da mão de Deus (5.7) e torna-se, assim, o Senhor da História (5.13).
É Ele quem vai assumir o controle dos acontecimentos e executar o plano de Deus" (Esperança de um povo que luta, Editora Vozes). Diante desta realidade, os cristãos da atualidade precisam desenvolver suas vidas sem medo de nada.
Jesus é o Senhor da História! A História está em suas mãos! Os acontecimentos do mundo se desenrolam sob a absoluta soberania do Senhor dos senhores, do Rei dos reis.
Cada cristão, consciente desta realidade, irá interagir no mundo, transformando-o, levando conforto aos que precisam, e mostrando que a vida já triunfou sobre a morte. É significativo afirmar que foi por causa desta consciência que sobreveio aos cristãos do século I tamanha perseguição.
2. A vitória está nas mãos do Cordeiro
A situação das comunidades cristãs na Ásia no final do primeiro século era desesperadora. Elas sofriam a opressão do Império Romano. Muitos poderiam pensar numa derrota da fé cristã.
Ou, em meio às lutas, pensar que o projeto de Deus para a humanidade não deu certo. A morte tinha triunfado sobre a vida, os fortes sobre os fracos. O choro de João é significativo (v.4), como significativa também é a resposta que recebeu do ancião: "O Leão da tribo de Judá venceu "(v.5).
João olha, mas não vê um leão, e sim um Cordeiro. Para aquelas comunidades, a figura do Cordeiro relembrava a libertação do cativeiro egípcio (Êx 12.1 -28). Jesus é o Cordeiro (Jo 1.29).
Ele foi morto, humilhado, passando por toda sorte de sofrimento (Is 53). Agora Ele é vitorioso; está vivo ("de pé"-\.6); venceu a morte: "venceu para abrir o livro "(v.5). Com a descrição desta visão, João consola e conforta as pobres comunidades da Ásia, bem como a todos os cristãos em todo tempo e lugar. A vitória está nas mãos do Cordeiro. Ele tem o poder ("sete chifres "); Ele está em todo lugar ("sete olhos ").
A missão e o ministério de Jesus mostram algo que os próprios apóstolos não compreenderam bem, que era o papel duplo que o Messias haveria de cumprir. Ele, primeiro, teria de virem humildade e mansidão (Cordeiro) a fim de sofrer e morrer, para depois ressurgir com poder e glória (Leão) e colocar todos os seus inimigos (inclusive o Imperador) debaixo de seus pés (Fp 2.8-11).
Jesus é o Leão, que é o Cordeiro. O Cordeiro era símbolo da Páscoa judaica, assim como o pão e o vinho são símbolos da Páscoa cristã.
A visão que a Igreja precisa ter, hoje, é a mesma de João: a visão de um Jesus ressuscitado possuindo a plenitude do poder e do Espírito; a visão de que a vida vence a morte, de que ajustiça triunfa sobre a injustiça. "Ele abrirá o livro, e sua vitória é a chave para lermos todos os acontecimentos da História".
3. Inspiração para celebração
"Canta-se muito no Apocalipse", diz Carlos Mesters (op. cit. p. 48). O livro traz a letra de vários hinos e aclamações (4.8; 5.9,10,12, 13; 7.10, 12; 11.15-18; 12.10-12; 15.3,4). "Será que é só para informar o que se cantou no céu?
Não! Mas para animar o povo perseguido (e a nós também) a cantar o mesmo canto de vitória e de alegria" (op. cit. p. 49).
O fato de Jesus ser o Senhor da História, e o fato de ser Ele o Cordeiro vitorioso e digno de abrir o livro, é motivo de muita festa e muita música no céu. O versículo 7 registra o momento em que o Cordeiro toma o livro "e, quando toma o livro" (v.8) surge uma grande celebração de exaltação ao Cordeiro.
No cântico (5.9,10) louva-se a Jesus Cristo porque foi digno de abrir os selos. O Cordeiro é digno exatamente por causa de sua obra redentora. Ray Summers descreve esta obra redentora com quatro qualidades específicas:
Primeira - é para Deus, primariamente - "compraste para Deus".
Segunda - é pelo sangue de Cristo - "foste morto... e com o teu sangue compraste ".
Terceira - é ilimitada - "homens de toda tribo, e língua e povo e nação". A graça de Deus por Cristo não está limitada a esta ou àquela nação, mas é para todas as nações.
Quarta - faz dos remidos um reino. "E para o nosso Deus os fizeste um reino de sacerdotes, e reinarão sobre a terra". "Tornando-se os homens participantes da obra redentora de Deus, tornam-se parte do Reino de Deus; tornam-se sacerdotes, para servi-lo aqui neste mundo" (A Mensagem do Apocalipse: Digno é o Cordeiro, JUERP,p.133).
Esta obra redentora é inspiração para celebração, e não para temor. A igreja cristã não deve temer nenhum inimigo, nenhum poder maligno. Ela pode entrar na luta e suportar todo o mal, tendo plena consciência de que Javé permanece no seu trono, não deixou o seu cetro, não abandonou seu lugar para qualquer outro. Ele é o Todo-poderoso.
Autor: Rev. Ailton Gonçalves Dias Filho
Lista de estudos da série
1. Não tenha medo: Como ler o livro da Revelação corretamente – Estudo Bíblico sobre a Introdução ao Apocalipse2. Mais que um profeta: A visão de Jesus que fortalece a esperança – Estudo Bíblico sobre Cristo em Apocalipse
3. Uma mensagem para hoje: O que Cristo diz à sua igreja – Estudo Bíblico sobre as Cartas às Sete Igrejas
4. Quem está no controle?: O governo soberano de Deus na História – Estudo Bíblico sobre o Trono Celestial
5. O mistério revelado: Por que só Jesus pode abrir o livro da História – Estudo Bíblico sobre o Livro e o Cordeiro
6. O mundo em crise: Entenda o significado dos cavaleiros do Apocalipse – Estudo Bíblico sobre os Sete Selos
7. O alerta divino: O que o som das trombetas anuncia ao mundo – Estudo Bíblico sobre as Sete Trombetas
8. Nossa maior tarefa: O papel da igreja em tempos de crise – Estudo Bíblico sobre a Missão do Povo de Deus
9. A guerra invisível: Entenda a vitória de Cristo sobre Satanás – Estudo Bíblico sobre a Mulher e o Dragão
10. Impérios vs. o Cordeiro: Identifique as forças que se opõem a Deus – Estudo Bíblico sobre as Duas Bestas
11. A ira do Cordeiro: A justiça final de Deus sobre a rebeldia – Estudo Bíblico sobre os Sete Flagelos
12. A queda inevitável: O fim de todo sistema que se opõe a Deus – Estudo Bíblico sobre a Queda da Babilônia
13. 1000 anos de paz?: O que a Bíblia realmente diz sobre o reinado de Cristo – Estudo Bíblico sobre o Milênio
14. O fim é apenas o começo: Descubra a promessa da vida eterna – Estudo Bíblico sobre Novo Céu e Nova Terra