Apocalipse 21.1-8
No decurso da História, os homens sempre sonharam e idealizaram cidades perfeitas. Livros já foram escritos descrevendo a utopia desses que imaginaram e propuseram a sociedade ideal.
Entretanto, tais cidades ou sociedades nunca chegaram a ser uma realidade. Isto porque o novo céu e a nova terra não serão o resultado dos sonhos e empenho humanos. A cidade perfeita desce do céu, ou seja, ela é projetada e construída pelo próprio Deus.
Neste mundo há milhares e milhares de cidades. Cada uma com as suas peculiaridades. Existem cidades bonitas e bem planejadas. Porém, todas elas têm, em maior ou menor escala, os problemas que hoje afligem os seus moradores. As cidades são um lugar de contrastes em todos os aspectos.
A cidade que desce do céu, porém, distingue-se de todas as outras. Ela é perfeita, como veremos no presente Estudo.
Por mais que amemos a nossa cidade terrena, e por mais importante que ela seja, vale a pena recordar o que escreve o autor da carta aos Hebreus: "Na verdade, não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir... a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador" (Hb 11.10; 13.14).
Análise do texto
Enquanto o capítulo 20 de Apocalipse se encerra com o relato estarrecedor do grande julgamento, o capítulo 21 é iniciado com o relato glorioso da visão que João teve de um novo tempo estabelecido por Deus: o novo céu e a nova terra (21.1).
Esta antevisão da eternidade que João teve o privilégio de experimentar é a concretização do projeto de Deus, ou seja, vida plena, eterna e feliz (vv. 3,4).
O novo céu e a nova terra, identificados como a Nova Jerusalém ou a Nova Cidade, ou, ainda, a Cidade Santa, está centralizada em Deus. Ele é o Seu arquiteto, edificador e mantenedor (Hb 11.10; Ap 22.1-5).
A descrição de João a respeito da cidade, nos capítulos 21 e 22 é acentuadamente figurada. Ele utiliza, por exemplo, as pedras preciosas (jaspe, safira, calcedônia, esmeralda, sardônio, sárdio, crisólito, berilo, topázio, crisópraso, jacinto, ametista), para tentar descrever a esplendorosa visão que teve dessa cidade cercada por altas muralhas (que oferecem segurança e proteção).
Naturalmente, tal descrição não deve ser entendida de forma literal. Ao falar de pedras preciosas, pérolas, ouro etc, o propósito de João é descrever, ainda que de forma incompleta, a solidez, a durabilidade e o resplendor da glória de Deus, que envolve toda a cidade.
João descreve, ainda, a visão do "rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro "(22.1). A referência ao rio de água viva aponta para a ação comunicadora de vida do Espírito Santo.
A água é símbolo de vida e do Espírito (Jo 3.5; 4.13,14; 7.38,39). Fala, também, da "árvore da vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a cura dos povos "(22.2). A referência à árvore da vida simboliza a vitória da vida sobre a morte. Na nova cidade ocorre o contrário do que aconteceu no Éden (Gn 3.22-24).
A visão de João é finalizada com um alerta: "Estas palavras são fiéis e verdadeiras. O Senhor, o Deus dos espíritos dos profetas, enviou o seu anjo para mostrar aos seus servos as cousas que em breve devem acontecer".
Na parte final do livro (22.8-21), João faz admoestações, tendo em vista a urgência da mensagem. Apresenta promessas reservadas ao povo de Deus e incentiva a esperança dos cristãos quanto à concretização dessas coisas.
1. As características da nova cidade
O apóstolo João, ao utilizar algumas figuras de linguagem para descrever a cidade que desce do céu, afirma que ela possui, entre outras, as seguintes características:
Tem a glória de Deus (21.3,10,11a, 22, 23) - A presença de Deus na cidade é sinal de Sua glória e majestade permanentes. No Antigo Testamento, a glória de Deus se manifestava, ocasionalmente, no Tabernáculos e no templo (Êx 40.34; I Rs 8.11). Ao dizer que a cidade tem a glória de Deus, João está falando da manifestação resplandecente da pessoa de Deus. Trata-se da gloriosa revelação de si mesmo.
Em Cristo Jesus Deus manifestou a Sua glória (Jo 1.14; Hb 1.3); porém, é somente na Nova Jerusalém que os santos contemplarão, em sua plenitude, a glória de Deus.
A visão que temos hoje da glória de Deus é parcial: "agora vemos como em espelho, obscuramente, então veremos face a face..." (I Co 13.12). João diz, ainda, que lá não há santuário (símbolo da presença de Deus). Não haverá santuário, porque a presença de Deus não será simbólica, mas real e perceptível (i 122). A cidade será iluminada pelo resplendor da glória de Deus (21.23).
É completa (21.12,16,17) - O número 12 e seus múltiplos são mencionados várias vezes nos capítulos 21 e 22: 12 portas, 12 anjos, 12 tribos, 12 pilares, 12 mil estádios, 144côvados, 12 pérolas, 12 frutos, 12 vezes por ano.
O número 12, como já foi dito, sugere algo completo, perfeito. Na cidade não falta nada, pois é completa em todos os aspectos. Ela tem alta muralha (proteção), 12 portas, sendo 3 de cada lado (aberta a todas as nações) e 12 fundamentos (base sólida).
A cidade é igual, tanto no comprimento quanto na largura e altura, simbolizando harmonia, totalidade e perfeição. Nela não haverá desigualdades.
A referência às nações (21.24-26) reforça a idéia da universalidade da cidade, como diz Michael Wilcock em seu livro A Mensagem de Apocalipse (ABU Editora, 1986): "suas portas encontram-se abertas para todos, independentemente da raça (ou, podemos acrescentar), da riqueza, da inteligência, do poder ou da sua influência".
2. A qualidade de vida na nova cidade
Diferentemente de todas as cidades que conhecemos, a cidade que desce do céu oferece uma qualidade de vida, sem comparação. Ela é a restauração do paraíso perdido. Essa qualidade pode ser descrita e resumida em termos de plenitude.
Comunhão plena com Deus (21.3,5-7; 22.4) - João descreve essa comunhão plena utilizando-se da figura do tabernáculo, que simbolizava a presença de Deus com o Seu povo. Na Cidade Santa, a presença de Deus é permanente: "Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com eles" (21.3). Portanto, a comunhão dos remidos será constante e plena com o Senhor (v.7). João afirma que "o vencedor herdará estas cousas, e eu lhe serei Deus e ele me será filho.
Os seus servos o servirão, contemplarão a sua face, e nas suas frontes estará o nome dele... o Senhor Deus brilhará sobre eles e reinarão pelos séculos dos séculos "(21.7; 22.3-5).
Plenitude de vida (21.4; 22.1-5) - As circunstâncias que envolvem os cristãos hoje, muitas vezes roubam deles as possibilidades de uma vida melhor. Muitos são aqueles que vivem (ou sobrevivem) em situações de extrema pobreza e miséria.
Porém, tal situação não faz parte do projeto de Deus (Jo 10.10). No novo céu e na nova terra, a vida será vivida em toda a sua plenitude: "a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor"(21.4). Lá não haverá nem fome, nem sede, nem enfermidade, e a vida se realizará plenamente.
Em seu livro A Soberania de Deus na História (JUERP, 1980), E. A. McDowell afirma: "Na Nova Jerusalém, o rio procede do trono de Deus e do Cordeiro, e nas suas margens cresce a árvore da vida, cujas folhas são para a cura das nações. O simbolismo descreve a cidade celestial como a fonte da vida eterna.
A árvore da vida no jardim do Éden, no livro de Gênesis, vem a ser, no último livro da Bíblia, a árvore da vida eterna na cidade de Deus. Aqui está a fonte e a origem de toda a vida. Não existe, portanto, a morte".
3. O passaporte para a nova cidade
Conversão a Cristo (21.7, 8, 27; 22.17) - "O vencedor herdará estas cousas, e eu lhe serei Deus e ele me será filho "(21.7). Este texto apresenta, com clareza, que nem todos desfrutarão do novo céu e da nova terra. Apenas os filhos de Deus serão herdeiros.
E para se chegar a esta condição, é indispensável a conversão a Cristo, como ensina o apóstolo João: "Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber: aos que crêem no seu nome "(Jo 1.12). O próprio Senhor Jesus declara: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo 14.6).
O convite ao arrependimento é extensivo a todos, como se vê no capítulo 22.17. Porém, o destino reservado àqueles que desprezam essa oportunidade, não se arrependendo dos seus pecados, é a severa condenação (21.8, 27; 22.15).
Vida de santificação (22.11-15) – A conversão conduz à santificação (Rm 6.22,23). A certeza da salvação não exclui, de forma alguma, a necessidade da santificação. Por isso, Apocalipse 22.11 ensina que o justo deve continuar a santificar-se, pois o tempo da segunda vinda do Senhor está próximo.
O texto enfatiza a bem-aventurança da santificação simbolizada nas vestiduras lavadas e alvejadas no sangue do Cordeiro (3.5; 7.14; 22.14). A Palavra de Deus ensina que, sem a santificação, ninguém verá o Senhor (Mt 5.8; Hb 12.14).
Esperança inabalável na segunda vinda de Cristo (22.20) - Embora cerca de 2.000 anos tenham se passado, a esperança da segunda vinda de Cristo continua viva na alma dos cristãos. Muitos são aqueles que julgam que essa vinda esteja demorando.
Entretanto, adverte o apóstolo Pedro: "para com Senhor, um dia é como mil anos e mil anos como um dia. Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento"(II Pe 3.8,9).
As promessas do Senhor são fiéis e verdadeiras. Infelizmente, muitos têm vivido sem levar em consideração tudo quanto foi prometido pelo Senhor. "Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra nos quais habita justiça"(II Pe 3.13).
Autores: REV. DIONEI FARIA, REV. ENEZIEL PEIXOTO DE ANDRADE, REV. SÉRGIO E P. TAVARES
Lista de estudos da série
1. Não tenha medo: Como ler o livro da Revelação corretamente – Estudo Bíblico sobre a Introdução ao Apocalipse2. Mais que um profeta: A visão de Jesus que fortalece a esperança – Estudo Bíblico sobre Cristo em Apocalipse
3. Uma mensagem para hoje: O que Cristo diz à sua igreja – Estudo Bíblico sobre as Cartas às Sete Igrejas
4. Quem está no controle?: O governo soberano de Deus na História – Estudo Bíblico sobre o Trono Celestial
5. O mistério revelado: Por que só Jesus pode abrir o livro da História – Estudo Bíblico sobre o Livro e o Cordeiro
6. O mundo em crise: Entenda o significado dos cavaleiros do Apocalipse – Estudo Bíblico sobre os Sete Selos
7. O alerta divino: O que o som das trombetas anuncia ao mundo – Estudo Bíblico sobre as Sete Trombetas
8. Nossa maior tarefa: O papel da igreja em tempos de crise – Estudo Bíblico sobre a Missão do Povo de Deus
9. A guerra invisível: Entenda a vitória de Cristo sobre Satanás – Estudo Bíblico sobre a Mulher e o Dragão
10. Impérios vs. o Cordeiro: Identifique as forças que se opõem a Deus – Estudo Bíblico sobre as Duas Bestas
11. A ira do Cordeiro: A justiça final de Deus sobre a rebeldia – Estudo Bíblico sobre os Sete Flagelos
12. A queda inevitável: O fim de todo sistema que se opõe a Deus – Estudo Bíblico sobre a Queda da Babilônia
13. 1000 anos de paz?: O que a Bíblia realmente diz sobre o reinado de Cristo – Estudo Bíblico sobre o Milênio
14. O fim é apenas o começo: Descubra a promessa da vida eterna – Estudo Bíblico sobre Novo Céu e Nova Terra