As sete cartas, registradas nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse, foram ditadas a João pelo próprio Senhor Jesus.
O conteúdo das mesmas está distribuído numa estrutura comum, a saber: indicação do destinatário, designações de Cristo, aspectos positivos da igreja, aspectos negativos, exortações ao arrependimento, ameaças, promessas de vitória. Em todas as cartas ocorre o refrão: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas".
Originalmente foram dirigidas às sete igrejas locais, históricas localizadas na Ásia Menor, na região compreendida hoje pela Turquia, no final do século I da era cristã. Mas essas cartas contêm estímulos, advertências e promessas para todas as igrejas, em todas as épocas e em todos os lugares.
O ambiente histórico em que os fatos se desenrolaram é o da dominação romana, especialmente sob a tirania do imperador Domiciano, que governou de 81-96 d.C.
A linguagem simbólica é utilizada fartamente nas cartas. Na tabela abaixo é apresentada, resumidamente, a listagem dos símbolos e os possíveis significados.
Símbolos | Significados Possíveis |
---|---|
⭐ Sete | Perfeição, totalidade |
✨ As sete estrelas | Os pastores das igrejas |
🕯️ Os sete candeeiros | As sete igrejas |
💎 Ouro | Valor e durabilidade |
🌳 A árvore da vida | A experiência da vida eterna |
👑 O primeiro e o último | Em referência a Cristo, indica sua vitória e preeminência |
⏳ Dez dias | Período não muito longo de tempo |
🏆 A coroa da vida | Indicação da vitória eterna sobre a morte |
⚔️ A espada afiada de dois gumes | Juízo e vingança |
💀 A segunda morte | Morte espiritual; condenação eterna |
🍞 O maná escondido | Alimento espiritual |
💌 A pedrinha branca com um novo nome | Símbolo de vitória e distinção, bem como garantia de entrada e participação no reino |
🔥 Olhos como chama de fogo | Ira e juízo iminentes |
💪 Pés como bronze polido | Firmeza e determinação |
🌟 A estrela da manhã | A vida eterna gloriosa em Cristo |
🕊️ Os sete espíritos de Deus | Alusão à plenitude do Espírito Santo |
⚪ Vestiduras brancas | A condição de pureza espiritual que caracteriza a vida celestial |
🔑 A chave de Davi | A autoridade para abrir as portas do reino de Deus aos homens |
🏛️ Coluna no santuário de Deus | Solidez e estabilidade quanto à participação no reino porvir. |
Sobre as cidades onde estavam as igrejas, é importante saber o seguinte:
- Éfeso - Estrategicamente localizada, tornou-se o centro comercial, político e religioso da Ásia. Era a sede do culto à deusa Diana, que os gregos chamavam Ártemis. Em Éfeso, praticava-se em larga escala a feitiçaria.
- Esmirna - Cidade portuária, rica e próspera. Era um importante centro de culto ao Imperador romano. Havia ali uma forte colônia de judeus, hostis à igreja cristã, os quais foram chamados sinagoga de Satanás.
- Pérgamo - Importante centro político, religioso e cultural. Tornou-se, na Ásia, o principal local de adoração ao Imperador romano. Era também o centro de cultos a vários deuses, principalmente Zeus, Atenéia, Dionísio e Esculápio.
- Tiatira - A importância dessa cidade era apenas no âmbito comercial. Havia ali diversas corporações comerciais, especialmente de manufaturados têxteis. Lídia era dessa cidade (At 16.14). O local é habitado até hoje.
- Sardes - A história de Sardes era respeitável. Tinha sido capital do reino da Lídia (sexto século a.C.) e, posteriormente, um centro do governo persa. Nos dias de João, a cidade já se tornara pouco relevante. A sua localização, junto a um importante entroncamento de estradas, dinamizava a sua indústria e comércio de lã e tinturaria. A vida social de Sardes era acentuadamente luxuosa, dissoluta e secularizada.
- Filadélfia - Era uma cidade castigada por terremotos. Tornou-se notável pelo número de templos e festividades religiosas. É habitada até hoje. Podem-se ver ali muitas ruínas da antiga cidade.
- Laodicéia - Localizada no entroncamento de três estradas importantes, tornou-se um grande centro bancário e industrial. Era famosa pela qualidade de seus produtos de lã e também pela escola de medicina que ali existia, especialmente na área oftalmológica.
Em algumas das cartas encontram-se referências aos "nicolaítas" (2.6), aos que sustentavam a "doutrina de Balaão" (2.14), e aos seguidores de "Jezabel" (2.20).
Parecem ser todos adeptos de seitas que tinham em comum a idolatria, o comer coisas sacrificadas a ídolos, a prostituição e a lealdade ao Imperador.
Em cada uma da sete cartas, podem-se ver desafios atuais, pertinentes e não menos urgentes para a Igreja do Senhor também nos dias de hoje. São eles:
1. Equilíbrio do zelo com o amor
A primeira carta é dirigida à igreja de Éfeso (2.1-7). Essa era uma igreja ativa. Valorizava a realização e a preservação da doutrina. Soube repelir as heresias e foi elogiada pelo Senhor (vv. 2,3,6).
Entretanto, o zelo para com o serviço e a doutrina não são suficientes. A igreja estava falhando no mais importante: o amor (v.4).
Em carta escrita a essa igreja antes, Paulo ensinou sobre a necessidade de se associar a verdade com o amor (Ef 4.15,16). As realizações e a orto-doxia da igreja tornam-se nulas quando destituídas de amor (I Co 13.1-3). O zelo deve ser equilibrado com o amor: amor a Deus e ao próximo.
2. Demonstração de fidelidade incondicional
A segunda carta é dirigida à igreja de Esmirna (2.8-11). Das sete igrejas, esta é a única que existe até hoje. Essa igreja era pobre sob o ponto de vista material, pois os crentes tiveram os seus bens confiscados.
Mas, por outro lado, era uma igreja espiritualmente rica (v.9). Nenhum ponto negativo é mencionado na vida dessa igreja. Ela é estimulada pelo Senhor a continuar evidenciando uma fidelidade incondicional. Naquele contexto, ser crente significava correr risco de vida, como aconteceu, por exemplo, com o bispo Policarpo, condenado à morte aos 86 anos de idade, por causa de sua fé em Cristo.
A firmeza de nossa fé não pode ficar condicionada às circunstâncias em que vivemos. Somos desafiados, portanto, a cultivar uma fidelidade incondicional (Mt 10.28-33).
3. Resistência à sedução do mundanismo
A terceira carta é dirigida à igreja de Pérgamo (2.12-17). Essa igreja enfrentou corajosamente as pressões da religião imperial e permaneceu firme no Senhor (v.13).
Mas, infelizmente, não soube resistir à sedução do mundanismo (vv. 14,15). Isso mostra que nem sempre o que ameaça a igreja são as forças hostis, mas sim, as sutis. A igreja de Pérgamo se deixou seduzir, mostrando-se extremamente tolerante para com alguns falsos profetas e suas pregações perniciosas.
A relativização de valores, nos dias de hoje, tem feito com que muitas igrejas adotem e tolerem conceitos e práticas errôneos, os quais têm a aquiescência da sociedade, mas não têm respaldo bíblico. É oportuna a recomendação de Paulo: "não vos conformeis com este século... " (Rm 12.1,2).
4. Valorização da santificação
A quarta carta é dirigida à igreja de Tiatira (2.18-29). Essa igreja se distinguiu em virtude de suas obras, amor, fé e serviço. O resultado de suas realizações era notável (v. 19).
O erro de Tiatira foi pensar que a fé cristã tem apenas um caráter filantrópico. As suas boas obras estavam mescladas de idolatria e prostituição (v.20). Eram tolerantes para com uma conduta de vida pagã, marcada por frouxidão moral.
A ignorância aos preceitos do Senhor e o esvaziamento dos conceitos de moral, pureza e santidade, têm levado muitos crentes e igrejas a adotar uma conduta que revela pouco valor à vida de santificação. Vale a pena recordar o que diz a Bíblia (Lv 11.44; Rm 6.22; II Co 6.14-18; 7.1).
5. Busca de reavivamento espiritual
A quinta carta é dirigida à igreja de Sardes (3.1-6). O problema dessa igreja era a hipocrisia. O que ela apresentava não correspondia à realidade. Tinha só nome; estava praticamente morta (vv. 1,2).
Essa igreja é o retrato de muitas outras hoje que causam uma ótima impressão, mas cuja realidade espiritual é péssima. As vezes, a visão que temos dessas igrejas é que são fortes, fraternas e consagradas.
Mas a radiografia que Deus faz delas é desanimadora, pois "o homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração" (I Sm 16.7). Toda igreja deve estar aberta à experiência do reavivamento espiritual; o reavivamento que vem de Deus (Hc 3.2). Viver só de nome e de aparência não adianta (Is 29.13).
6. Experiência da força que nasce em meio à fraqueza
A sexta carta é dirigida à igreja de Filadélfia (3.7-13). A exemplo de Esmirna, não foram apontadas falhas na igreja de Filadélfia. As suas grandes qualidades eram a fidelidade e a perseverança (v.8).
A igreja é exortada a continuar firme e é estimulada com a garantia da vitória (vv. 9-12). Filadélfia é o retrato de uma pequena igreja e uma grande vitória. É como diz o poeta sacro: "Não é dos fortes a vitória, nem dos que correm melhor. Mas dos fiéis e sinceros que seguem junto ao Senhor".
Filadélfia é um belo exemplo para aquelas comunidades de hoje que se julgam pequenas, fracas, impotentes e que pensam que pouco podem fazer para o reino de Deus.
Como diz Paulo, é da fraqueza que brota a força (II Co 12.10). Os pequenos e fracos conhecem melhor o que significa depender do Senhor e viver na Sua força. As transformações, muitas vezes, nascem da periferia, com os fracos e marginalizados (I Co 1.26-29).
7. Vitória sobre a insensatez da auto-suficiência
A sétima carta é dirigida à igreja de Laodicéia (3.14-22). Essa igreja foi a única a não receber nenhum elogio. A sua situação é dramática; está a ponto de ser vomitada pelo Senhor.
Talvez influenciada pelo contexto em que estava, a igreja assumiu uma postura materialista e auto-suficiente. A tepidez, a presunção, a pobreza e a cegueira espiritual são os grandes males dessa igreja, e é por isso que o Senhor não a suporta mais (vv. 15-17). Mas em virtude de seu grande amor, o Senhor ainda oferece à igreja uma oportunidade.
Ela é exortada a buscar em Deus as verdadeiras riquezas (v. 18); a arrepender-se (v.19); a dar lugar ao Senhor como resposta ao Seu amor (v.20).
Os tempos atuais têm exercido sobre muitas igrejas uma forte influência no sentido de conduzi-las a uma visão materialista da vida e à auto-suficiencia. Há igrejas, hoje, que se tornaram mais notáveis do que o Senhor a quem pregam.
A auto-suficiência é uma insensatez que deve ser vencida o quanto antes. Por enquanto, o Senhor ainda está à porta, bate e deseja entrar.
Autor: Rev. Eneziel Peixoto de Andrade
Lista de estudos da série
1. Não tenha medo: Como ler o livro da Revelação corretamente – Estudo Bíblico sobre a Introdução ao Apocalipse2. Mais que um profeta: A visão de Jesus que fortalece a esperança – Estudo Bíblico sobre Cristo em Apocalipse
3. Uma mensagem para hoje: O que Cristo diz à sua igreja – Estudo Bíblico sobre as Cartas às Sete Igrejas
4. Quem está no controle?: O governo soberano de Deus na História – Estudo Bíblico sobre o Trono Celestial
5. O mistério revelado: Por que só Jesus pode abrir o livro da História – Estudo Bíblico sobre o Livro e o Cordeiro
6. O mundo em crise: Entenda o significado dos cavaleiros do Apocalipse – Estudo Bíblico sobre os Sete Selos
7. O alerta divino: O que o som das trombetas anuncia ao mundo – Estudo Bíblico sobre as Sete Trombetas
8. Nossa maior tarefa: O papel da igreja em tempos de crise – Estudo Bíblico sobre a Missão do Povo de Deus
9. A guerra invisível: Entenda a vitória de Cristo sobre Satanás – Estudo Bíblico sobre a Mulher e o Dragão
10. Impérios vs. o Cordeiro: Identifique as forças que se opõem a Deus – Estudo Bíblico sobre as Duas Bestas
11. A ira do Cordeiro: A justiça final de Deus sobre a rebeldia – Estudo Bíblico sobre os Sete Flagelos
12. A queda inevitável: O fim de todo sistema que se opõe a Deus – Estudo Bíblico sobre a Queda da Babilônia
13. 1000 anos de paz?: O que a Bíblia realmente diz sobre o reinado de Cristo – Estudo Bíblico sobre o Milênio
14. O fim é apenas o começo: Descubra a promessa da vida eterna – Estudo Bíblico sobre Novo Céu e Nova Terra