Quando um filho nasce, a família se enche de alegria e esperança. É natural que pais cristãos desejem, desde o primeiro momento, colocar seus filhos sob a bênção e o cuidado de Deus.
Uma das formas mais antigas e significativas de fazer isso é através do Batismo. No entanto, poucas práticas na igreja geraram tanto debate.
Para alguns, batizar uma criança que ainda não pode crer por si mesma parece algo sem sentido, uma invenção humana que não se encontra na Bíblia.
Eles argumentam com sinceridade que a Palavra de Deus deve ser guardada em sua pureza, sem que nada seja adicionado ou retirado.
Essa é uma preocupação nobre e que devemos levar a sério. Se o batismo infantil for apenas uma tradição humana, devemos abandoná-lo e seguir apenas o que o Senhor ordenou. Os sacramentos não podem depender de invenções humanas.
Mas, e se descobrirmos que, pelo contrário, o batismo de crianças está profundamente enraizado na Palavra de Deus e na própria natureza de Sua aliança conosco?
A questão central que precisamos responder é: O batismo infantil é uma tradição vazia ou um sinal poderoso das promessas de Deus para as nossas famílias?
Vamos, com a Bíblia em mãos, investigar essa questão para que nossa consciência seja firmada na verdade de Deus e nosso coração se encha de consolo ao entender a beleza deste ato.
1. O batismo é um sinal de uma promessa
Para entender o valor de qualquer sacramento, incluindo o Batismo, não podemos olhar apenas para o ato exterior.
A cerimônia visível, a água, é apenas uma parte da história. A verdadeira substância e verdade do batismo estão nas promessas de Deus e nas realidades espirituais que ele representa.
A Escritura nos ensina que o batismo representa, em primeiro lugar, a purificação dos nossos pecados pelo sangue de Cristo.
Em segundo lugar, ele representa a nossa morte para a velha vida e o nosso renascimento para uma nova vida de santidade. Essas duas bênçãos — perdão e regeneração — são o coração do evangelho e a herança de todos os filhos de Deus.
Portanto, o batismo é um sinal visível que aponta para realidades espirituais invisíveis e poderosas.
A virtude não está na água, mas na Palavra de Deus, que dá sentido ao sinal. É nesta Palavra que encontramos o fundamento para tudo. A pergunta, então, não é sobre a água, mas sobre a promessa: a quem pertencem as promessas de purificação e regeneração em Cristo?
Se pudermos demonstrar que as crianças dos crentes estão incluídas nessas promessas, teremos uma base sólida para entender por que elas também devem receber o sinal da promessa.
Aplicação
Olhe além do ritual. Ao pensar no seu batismo ou no batismo de outros, treine seu coração para focar não na cerimônia, mas nas incríveis promessas de Deus que ela representa: perdão total e uma vida nova em Jesus.
Aproprie-se das promessas. O batismo não é um amuleto. Ele te convida a viver pela fé nas promessas que ele sela. Diariamente, lembre-se: "Eu fui batizado em Cristo; portanto, o perdão e a nova vida são meus Nele".
Ensine o significado. Se você é pai, mãe ou líder na igreja, não trate o batismo infantil como um mero evento social. Use-o como uma oportunidade para ensinar profundamente sobre as promessas de Deus em Cristo.
2. O batismo substitui a circuncisão
Para compreendermos a questão do batismo infantil, precisamos olhar para a forma como Deus sempre lidou com Seu povo. Antes do Batismo, o povo de Deus no Antigo Testamento tinha a circuncisão como sinal da aliança.
Quando o Senhor fez Sua aliança com Abraão, Suas palavras foram claras:
Gênesis 17:7
"Estabelecerei a minha aliança como aliança eterna entre mim e você e os seus futuros descendentes, para ser o seu Deus e o Deus dos seus descendentes."
Esta promessa continha tudo: a vida eterna, a remissão dos pecados e a mortificação da carne. E o fundamento desta aliança, assim como o da nossa, era Cristo, a "semente" prometida a Abraão.
Para selar esta promessa, Deus ordenou que Abraão e seus descendentes, incluindo os bebês do sexo masculino no oitavo dia, recebessem o sinal da circuncisão.
No Novo Testamento, a promessa da aliança permanece a mesma, mas o sinal mudou. A circuncisão foi substituída pelo Batismo.
Paulo deixa claro que não há diferença na substância espiritual desses dois sacramentos. Tudo o que a circuncisão significava para os judeus, o batismo significa para nós. O mistério interno é o mesmo; apenas a cerimônia externa é diferente.
Portanto, a lógica é simples e poderosa: se as crianças no Antigo Testamento recebiam o sinal da aliança (circuncisão), por que as crianças no Novo Testamento deveriam ser privadas do novo sinal da mesma aliança (batismo)? Negar-lhes o batismo seria sugerir que a graça de Deus se tornou *menor* e mais restrita com a vinda de Cristo, o que é uma blasfêmia.
Aplicação
Pense na continuidade de Deus. Deus não mudou. Seu plano de salvação através de uma aliança de graça é o mesmo desde Abraão. Entender essa continuidade nos dá uma base sólida para o batismo infantil.
Alegre-se com uma aliança mais ampla. A graça de Cristo não diminuiu, mas expandiu a aliança. O que antes era para uma nação agora é para todas, e o sinal que antes era apenas para homens agora é para homens e mulheres, meninos e meninas.
Não separe o que Deus uniu. Se a promessa da aliança é para "você e seus filhos" (Atos 2:39), não devemos separar os filhos do sinal da aliança.
3. Jesus incluiu as crianças em seu reino
A atitude de Jesus para com as crianças oferece uma das mais belas confirmações de seu lugar na aliança. O evangelho nos conta a famosa história:
Marcos 10:13-14
"Traziam-lhe também as crianças, para que as tocasse, mas os discípulos os repreendiam. Vendo isso, Jesus se indignou e lhes disse: 'Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o Reino de Deus.'"
Vamos analisar o que Jesus fez e disse. Ele não apenas permitiu que as crianças se aproximassem, Ele se indignou com quem tentava impedi-las. Ele as abraçou, impôs as mãos sobre elas e as abençoou. Ele declarou que o Reino de Deus pertence a elas.
Agora, pensemos: se é correto e bom trazer as crianças a Cristo, por que seria errado admiti-las no batismo, que é o sinal de nossa comunhão com Ele?
Se o Reino dos Céus pertence a elas — que é a realidade espiritual maior —, por que lhes negaríamos o sinal visível que representa a entrada na Igreja, o portal para o Reino?
Seria uma grande perversidade expulsar aqueles a quem Cristo chama para si, fechar a porta para quem Ele a abre.
A ação de Jesus é mais importante do que qualquer argumento teológico sutil. Ele as recebeu, abençoou e declarou que são Dele. O batismo, então, nada mais faz do que testemunhar e selar essa verdade.
Aplicação
Traga seus filhos a Jesus. Essa passagem é um convite aberto para pais e mães. Apresente seus filhos a Cristo em oração, ensine-lhes a Palavra e confie-os à Sua aliança, selada no batismo.
Valorize as crianças na igreja. A igreja não é um lugar apenas para adultos. Jesus valoriza a presença e a fé das crianças. Devemos criar um ambiente onde elas se sintam acolhidas e parte do corpo de Cristo desde o nascimento.
Confie na bênção de Cristo. O gesto de Jesus de impor as mãos e abençoar era um sinal de santificação. Confie que Ele continua a santificar e a separar para si os filhos da aliança hoje.
4. O batismo é um ato da graça de Deus, não da nossa capacidade
A principal objeção ao batismo infantil é: "Mas as crianças não podem ter fé nem se arrepender!".
É verdade, elas não podem exercer uma fé consciente como um adulto. Mas esse argumento coloca o foco no lugar errado: na capacidade humana, em vez de na soberania de Deus.
A regeneração espiritual, o novo nascimento, é uma obra do Espírito Santo. Sua ação não está presa ao nosso entendimento. Deus pode operar no coração de uma criança de maneiras que não conseguimos compreender. Ele santificou João Batista desde o ventre de sua mãe (Lucas 1:15).
A Bíblia nos ensina que, se não nascermos de novo, não podemos ver o Reino de Deus (João 3:3). Se as crianças que morrem na infância são salvas — e cremos que as crianças da aliança o são —, então elas devem ser regeneradas por Deus. O poder de Deus para salvar e regenerar não depende da idade ou da capacidade intelectual.
Portanto, o batismo é administrado às crianças não com base em uma fé futura que talvez elas venham a ter, mas com base na aliança de Deus que já lhes pertence.
A semente da fé e do arrependimento é plantada em suas vidas pela ação oculta do Espírito Santo, e o batismo sela essa promessa de que Deus completará a boa obra que começou.
Aplicação
Descanse na soberania de Deus. A salvação de seus filhos não depende, em última análise, da sua capacidade de ensiná-los ou da decisão que eles tomarão. Depende da graça soberana de Deus, que os incluiu em Sua aliança.
Assuma sua responsabilidade. O batismo de uma criança não é o fim, mas o começo. É um chamado para os pais e para a igreja instruírem essa criança no temor do Senhor, regando a semente que o Espírito plantou e orando para que ela cresça e dê frutos.
Não coloque limites em Deus. Não presuma saber como e quando Deus pode operar. A Escritura ensina que a fé vem pelo ouvir (Romanos 10:17), mas essa é a maneira *ordinária* de Deus trabalhar. Ele não está limitado a ela.
Conclusão
Longe de ser uma invenção humana, o batismo de crianças está firmemente ancorado na natureza da aliança de Deus, que sempre incluiu os filhos dos crentes.
É o substituto da circuncisão, o sinal de um pacto que não mudou. É coerente com a atitude acolhedora de Jesus, que declarou que o Reino dos Céus pertence aos pequenos.
Batizar nossos filhos é um ato de fé. É a resposta grata de pais que confiam na promessa de Deus de ser o seu Deus e o Deus de seus descendentes. É um imenso consolo saber que nossos filhos pertencem ao Senhor desde o nascimento e são membros de Sua Igreja.
Que possamos, então, sem rejeitar essa maravilhosa liberalidade de nosso Pai celestial, apresentar com alegria nossas crianças a Ele, selando em seus corpos o sinal de uma graça que, esperamos e oramos, um dia florescerá em uma fé viva e pessoal.
Estudo Bíblico adaptado das Institutas da Religião Cristã - João Calvino / Livro IV - Capítulo XVI - "O Batismo das crianças: seu acordo com a instituição de Cristo e a natureza do sinal"
Lista de estudos da série
1. A Mãe Espiritual: Por que um cristão não pode crescer sem a Igreja – Estudo Bíblico sobre as Institutas2. O DNA da Verdade: As marcas infalíveis da Igreja verdadeira – Estudo Bíblico sobre as Institutas
3. Vasos de Barro: Por que Deus usa líderes humanos e imperfeitos – Estudo Bíblico sobre as Institutas
4. O Espelho do Passado: Lições da liderança e generosidade na Igreja Primitiva – Estudo Bíblico sobre as Institutas
5. O Ministério em Ruínas: Quando o serviço se transforma em busca por poder – Estudo Bíblico sobre as Institutas
6. Um Trono Vazio na Terra: Por que a Igreja tem uma única Cabeça, Cristo – Estudo Bíblico sobre as Institutas
7. A Sombra do Poder: Como a ambição corrompeu a liderança da Igreja – Estudo Bíblico sobre as Institutas
8. Edificar ou Destruir: Os limites da autoridade na Igreja de Cristo – Estudo Bíblico sobre as Institutas
9. A Voz no Concílio: A verdadeira autoridade das assembleias da Igreja – Estudo Bíblico sobre as Institutas
10. Um Rei para a Consciência: A liberdade do crente diante das regras humanas – Estudo Bíblico sobre as Institutas
11. A Disciplina do Amor: As chaves que protegem e restauram a Igreja – Estudo Bíblico sobre as Institutas
12. O Jardim de Deus: Como a disciplina cultiva a saúde da Igreja – Estudo Bíblico sobre as Institutas
13. A Armadilha da Piedade: As promessas que agradam a Deus e as que escravizam – Estudo Bíblico sobre as Institutas
14. A Graça Visível: Por que Deus nos deu os sacramentos – Estudo Bíblico sobre as Institutas
15. O Selo do Perdão: O significado profundo do batismo cristão – Estudo Bíblico sobre as Institutas
16. O Abraço da Aliança: Por que batizamos as crianças dos crentes – Estudo Bíblico sobre as Institutas
17. O Banquete do Rei: A Ceia do Senhor como alimento para a alma – Estudo Bíblico sobre as Institutas
18. Um Sacrifício, Uma Mesa: A Ceia como memorial, não como repetição – Estudo Bíblico sobre as Institutas
19. A Simplicidade de Cristo: Os dois sacramentos em contraste com invenções humanas – Estudo Bíblico sobre as Institutas