Unindo forças pelo Evangelho: O legado do Congresso de Lausanne para hoje – Estudo Bíblico sobre a Reforma Protestante

 

Ocorreu no século passado um evento de grande significado para o cristianismo, cujos efeitos se estendem aos nossos dias. Trata-se do Congresso de Lausanne, marcado pela preocupação com a evangelização mundial.

Lausanne ocorreu ao final de um período durante o qual as igrejas evangélicas haviam reagido mal aos perigos de fora, encolhendo a sua mensagem. A ameaça atual é uma teologia existencialista, baseada na experiência pessoal e pluralista. As Escrituras e os históricos símbolos de fé são rejeitados.

Com efeito igual, até o século 19 o perigo era a teologia liberal, racionalista, que nega o sobrenatural, rejeitando por isso os milagres, a ressurreição de Cristo e a inspiração e inerrância das Escrituras.

No começo do século 20, em resposta a essa influência, crentes fieis à Bíblia e bons pensadores reafirmaram os fundamentos da fé cristã. Infelizmente, porém, seus herdeiros adotaram “uma forma de pietismo que restringia os interesses do cristão a uma visão extremamente limitada de espiritualidade”.

Segundo essa forma, “muitos dos elementos relacionados à arte, cultura, ensino e envolvimento social eram considerados ‘não-espirituais' e, portanto, fora da esfera de interesse do cristão".

O isolamento cultural e o anti-intelectualismo passaram a caracterizar os evangélicos. "A tarefa exclusiva do cristão era conduzir as pessoas a Cristo e, depois disso, experimentar algo que poderíamos chamar de cristianismo personalizado," sem preocupação com as estruturas à volta.

Outros evangélicos fizeram o oposto: mergulharam na cultura e se perderam nela, fazendo concessões e então tendo de se calar diante de ideias anticristãs aceitas hoje pela sociedade.

A igreja estava precisando de correção. Precisava aprender como não perder seus ouvintes pelo isolamento e como não perder a mensagem pelas concessões feitas. Era hora de voltar para o próprio modelo do ministério de Jesus.

1. A missão integral em Jesus Cristo

Em Mateus 4.12-17 temos uma descrição do início do ministério de Jesus na Galileia. Talvez um ano depois dos acontecimentos registrados em 3.13-4.11 (batismo e tentação), Jesus tenha se “retirado para a Galileia”, mas se afastou de Nazaré, que fora seu lar até aos 30 anos, e se estabeleceu em Cafarnaum, situada na costa a noroeste do Mar da Galileia.

Partindo de Cafarnaum, ele atravessou todo o território nortista, ensinando, pregando e curando, de tal forma que a luz da salvação raiou sobre os que habitavam nas trevas.

A fama do ensino, da pregação e das obras de cura de Cristo se espalhou até muito longe. Multidões o acompanhavam.

Ele curou todos os atormentados, os endemoninhados, os epiléticos e os paralíticos. Jesus estava destruindo as obras do diabo, ensinando e pregando, expulsando demônios e curando as doenças pelo poder do Espírito, tanto a alma como o corpo, e estabelecendo cada vez mais o reino de Deus sobre a terra.

Nesse processo, ia sendo proclamada a verdade sobre a pessoa de Jesus e sobre a sua obra, isto é, quem ele era e o que veio aqui fazer. Essa proclamação ampla e encarnada havia sido perdida pela igreja na primeira metade do século 20 e o Congresso de Lausanne buscou restaurá-la.

2. O congresso de Lausanne

O Congresso aconteceu na cidade suíça de Lausanne, de 16 a 25 de julho de 1974, reuniu 2.473 participantes e cerca de 1.000 observadores de 150 países e 135 denominações evangélicas.

Lausanne teve delegados de todos os continentes e contribuiu para o movimento protestante internacional e foi o feliz desfecho de uma caminhada com tentativas de unir os protestantes em torno de objetivos comuns. Desde reuniões restritas a um país até as intercontinentais, esforços já eram empreendidos nessa direção desde o século 19.

Alguns fatores contribuíram para que o Congresso de Lausanne se tornasse um marco inigualável, entre eles a influente participação de respeitados personagens como o reformado Francis Schaeffer, o anglicano John Stott e o evangélico Billy Graham.

O pacto de Lausanne

A melhor forma de se avaliar Lausanne é apreciando o pacto elaborado no Congresso, escrito sob a direção do teólogo John Stott:

1. O propósito de Deus. Ele chamou do mundo um povo para si, enviando-o novamente ao mundo como seus servos e testemunhas, para estender o seu reino, edificar o corpo de Cristo, e também para a glória do seu nome.

2. A autoridade e o poder da Bíblia. Afirmamos a inspiração divina, a veracidade e autoridade das Escrituras tanto do Antigo como do Novo Testamento, em sua totalidade, como única Palavra de Deus escrita, sem erro em tudo o que ela afirma, e a única regra infalível de fé e prática. Também afirmamos o poder da Palavra de Deus para cumprir o seu propósito de salvação.

3. A unicidade e a universalidade de Cristo. Afirmamos que há um só Salvador e um só evangelho, embora exista uma ampla variedade de maneiras de se realizar a obra de evangelização. Não existe nenhum outro nome pelo qual importa que sejamos salvos.

4. A natureza da evangelização. Evangelizar é difundir as boas novas de que Jesus Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou segundo as Escrituras, e de que, como Senhor e Rei, ele agora oferece o perdão dos pecados e o dom libertador do Espírito a todos os que se arrependem e creem.

5. A responsabilidade social cristã. Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a evangelização e o envolvimento sociopolítico são ambos parte do nosso dever cristão. A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta.

6. A igreja e a evangelização. A igreja ocupa o ponto central do propósito divino para com o mundo, e é o agente que ele promoveu para difundir o evangelho. Mas uma igreja que pregue a Cruz deve, ela própria, ser marcada pela Cruz.

7. Cooperação na evangelização. Instamos para que se apresse o desenvolvimento de uma cooperação regional e funcional para maior amplitude da missão da igreja, para o planejamento estratégico, para o encorajamento mútuo, e para o compartilhamento de recursos e de experiências.

8. Esforço conjugado de igrejas na evangelização. Haverá um crescente esforço conjugado pelas igrejas, o que revelará com maior clareza o caráter universal da igreja de Cristo.

9. Urgência da tarefa evangelística. Mais de dois bilhões e setecentos milhões de pessoas, ou seja, mais de dois terços da humanidade, ainda estão por serem evangelizadas.

10. Evangelização e cultura. O desenvolvimento de estratégias para a evangelização mundial requer metodologia nova e criativa. Com a bênção de Deus, o resultado será o surgimento de igrejas profundamente enraizadas em Cristo e estreitamente relacionadas com a cultura local. A cultura deve sempre ser julgada e provada pelas Escrituras.

11. Educação e liderança. Reconhecemos que há uma grande necessidade de desenvolver a educação teológica, especialmente para líderes eclesiásticos.

12. Conflito espiritual. Cremos que estamos empenhados num permanente conflito espiritual com os principados e potestades do mal, que querem destruir a igreja e frustrar sua tarefa de evangelização mundial. Precisamos tanto de vigilância como de discernimento para salvaguardar o evangelho bíblico.

13. Liberdade e perseguição. Também expressamos nossa profunda preocupação com todos os que têm sido injustamente encarcerados, especialmente com nossos irmãos que estão sofrendo por causa do seu testemunho do Senhor Jesus.

14. O poder do Espírito Santo. A evangelização mundial só se tornará realidade quando o Espírito renovar a igreja na verdade, na sabedoria, na fé, na santidade, no amor e no poder.

15. O retorno de Cristo. Essa promessa de sua vinda é um estímulo ainda maior à evangelização, pois lembramo-nos de que ele disse que o evangelho deve ser primeiramente pregado a todas as nações.

3. A importância de Lausanne

Como o cristianismo impactaria o mundo contemporâneo com a mensagem do evangelho? Com essa preocupação, dentre as verdades que foram afirmadas em Lausanne, aquela que diz respeito à responsabilidade social cristã (tópico 5) ganharia destaque no transcurso dos anos:

Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a evangelização e o envolvimento sociopolítico são ambos parte do nosso dever cristão. A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais.

Essa afirmação identificou Lausanne com uma cara convicção Reformada, cujos efeitos marcaram positivamente os países alcançados pela Reforma.

Conclusão

Com certeza, o tema da responsabilidade social da igreja não foi descoberto em Lausanne. Os livros de André Biéler e de Ronald Wallace, já citados, mostram essa bandeira na Reforma calvinista do século 16. Ocorre, porém, que os evangélicos foram se afastando da Escritura e praticando um cristianismo fechado para o mundo ou comprometido com ele. Isso precisava mudar, mas o problema não terminou em Lausanne. Ainda praticamos a alienação ou a acomodação, ambas anti-evangélicas.

Aplicação

A sociedade pode sentir o seu sabor? Pode ver a sua luz? Ou você anda escondido nas reuniões da igreja?

Autor: Dráusio Piratininga Gonçalves

Semeando Vida

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