Até os confins da terra: O impacto da Reforma no movimento missionário mundial – Estudo Bíblico sobre a Reforma Protestante

O anúncio da salvação tem sido feito desde os mais remotos tempos. Este roteiro apresenta atuações missionárias no período do Antigo Testamento, exemplos de evangelização na época apostólica (Novo Testamento) e, principalmente, informações sobre a atuação da Igreja Cristã ao longo da história do cristianismo.

As missões existem porque Deus quer ser adorado em todas as etnias. “Reina o Senhor. Louvem-te os povos, ó Deus; louvem-te os povos todos” (Sl 67.3-4) “Regozije-se a terra, alegrem-se as muitas ilhas" (Sl 97.1).

O tema das missões perpassa toda a Bíblia, pois, por meio delas, pessoas serão alcançadas para adorar a Deus. A glória dele é o que impulsiona e justifica todo esforço missionário.

1. Evangelização e missões na escritura

Deus sempre preservou um remanescente na terra. Ele nunca ficou sem dar testemunho de si. Por mais que Israel tenha recebido privilégios ímpares na antiga aliança (Rm 9.4-5), a salvação não ficou restrita aos judeus. Em vários textos bíblicos é mencionada a responsabilidade missionária do povo hebreu.

É possível afirmar que havia entre os israelitas a consciência do papel que eles deveriam exercer como luz para os gentios (Gn 22.17-18; 26.2-4; 28.13-14; 49.22; Js 4.23-24; 1 Sm 17.45-46; 1 Rs 8.43; Sl 66; 72.11,17; 86.9; 96.3; 98.2,4; 117.1; Is 45.22-23; Os 2.23; Zc 9.10; Ml 1.11).

João Batista, Jesus e os apóstolos eram judeus. Eles conheciam o mandato missionário delegado a Israel. A mensagem que proclamaram não era, na sua essência, diferente da mensagem anunciada nos tempos passados. A novidade consistia na chegada do reino. O mistério de Deus, o Messias, foi revelado na plenitude dos tempos.

Jesus foi a mensagem e o mensageiro por excelência, rompendo as barreiras geográficas, sociais, culturais e religiosas. Ele peregrinou pela Judeia, Samaria e Galileia; foi até Cesareia de Filipe; esteve no Monte Hermon; passou pela região de Decápolis; foi a Betânia, além do Jordão.

Visitou a casa de fariseus (Lc 7.36,11.37, 14.1); deixou que a mulher pecadora ungisse seus pés (Lc 7.36-50); comeu na casa do publicano Levi (Lc 5.27-31); convidou-se para ficar hospedado na casa de outro publicano, Zaqueu (Lc 19.1-10); esteve com os samaritanos (Jo 4) e até com um centurião romano (Lc 7.1-10).

Por isso, com autoridade própria, ressurreto, ordenou aos discípulos “que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém” (Lc 24.47).

2. Missões na história do cristianismo

E foi isso que os apóstolos fizeram. O livro de Atos demonstra como o “roteiro" Jerusalém-Judeia-Samaria-confins da terra foi cumprido (At 9.31; 16.6-10).

A partir de Jerusalém, cidades importantes da Ásia e Europa foram alcançadas. A igreja deixou de ser composta somente por judeus e se internacionalizou com o ingresso dos gentios. O evangelho deve ter chegado também à Etiópia, na África, através do “eunuco, alto oficial de Candace, rainha dos etíopes” (At 8.26-39).

Atos termina com o apóstolo Paulo em Roma (cap. 28). Noutro lugar, esse mesmo evangelista informa seu plano de ir à Espanha (Rm 15.28) — no limite da Europa.

A igreja cristã nasceu com uma vocação para crescer e se tornar universal. Já havia algumas intimações de tal universalidade no Antigo Testamento (Sl 67.2; 117.1; Is 2.3; 42.6; 66.19; Am 9.12; Zc 2.11; 8.22s), mas essa ênfase se tornou explícita nos ensinos de Jesus Cristo e dos apóstolos.

Ao confiar a “grande comissão” aos seus seguidores, Jesus foi muito claro: eles deviam fazer discípulos de todas as nações (Mt 28.19), ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda criatura (Mc 16.15), pregar arrependimento para remissão de pecados a todas as nações (Lc 24.47), ser suas testemunhas em Jerusalém, na Judéia e Samaria, e até aos confins da terra (At 1.8).

No livro de Atos e nas epístolas, os apóstolos e os discípulos se mostram zelosos no cumprimento desse mandado (At 8.4; Rm 15.19). E o livro do Apocalipse apresenta grandiosas visões dos redimidos que procedem de todas as tribos, povos, línguas e nações (Ap 5.9; 7.9; 14.6).

É verdade que, nos primeiros tempos, houve um sério obstáculo a ser transposto. Muitos cristãos judeus queriam que os conversos gentios praticassem a lei de Moisés, isto é, se tornassem prosélitos do judaísmo, para poderem se tornar cristãos. Somente crer em Cristo não era suficiente.

O "concilio de Jerusalém”, descrito em Atos 15, resolveu o problema de maneira sábia e equilibrada, dizendo que os cristãos gentios não precisavam seguir a lei mosaica, mas apenas se abster de determinadas práticas, visando manter a comunhão com os seus irmãos judeus.

Isso permitiu que o movimento cristão deixasse de ser uma simples seita dentro do judaísmo e abraçasse plenamente a sua vocação universal. Inicialmente restrito aos judeus, cada vez mais o evangelho passou a ser pregado deliberadamente aos gentios, fato que ocorreu de maneira ampla, pela primeira vez, na cidade de Antioquia da Síria (At 11.19-21). A partir de então, esse processo se tornou irreversível.

A. Os primeiros séculos

Nos três primeiros séculos a igreja experimentou uma notável expansão geográfica. As regiões atingidas até o final do primeiro século formavam um semicírculo em torno da extremidade oriental do Mar Mediterrâneo, indo desde Cirene (Líbia), ao sul, até a Itália central, ao norte, e incluindo todas as regiões intermediárias — Egito, Palestina, Síria, Ásia Menor, Grécia e Macedônia.

As maiores concentrações de comunidades cristãs estavam na Palestina, na Síria e na chamada Ásia, o oeste da Ásia Menor, em torno da cidade de Éfeso.

No segundo e no terceiro séculos, as novas regiões alcançadas incluíam, no Oriente, a Mesopotâmia (Iraque), a Pérsia e a Armênia, e no Ocidente, toda a Península Balcânica ao sul do rio Danúbio, a região ao sul do rio Reno (atuais República Tcheca, Albânia), toda a Península Itálica, partes da Alemanha, França, Espanha e Lusitânia (Portugal) e o sul da Britânia (a futura Inglaterra).

No norte da África, um novo e florescente centro cristão foi a Numídia (a atual Tunísia) e sua capital Cartago. É verdade que em muitos desses lugares a presença cristã era ainda pequena, mas crescia continuamente.

Dois fatos se destacam nesse período antigo. Essa foi a época das perseguições sofridas pela igreja nas mãos do Império Romano. As perseguições não foram generalizadas nem contínuas, mas causaram consideráveis danos à igreja em algumas de suas regiões mais prósperas, como a Ásia Menor, Itália, Egito e sul da Gália.

Todavia, a repressão não teve o efeito esperado, porque quando ela cessava, o exemplo dos mártires e outros que sofreram por sua fé inspiravam os cristãos a um esforço renovado pela difusão das boas novas. Daí as célebres palavras do escritor Tertuliano (cerca do ano 200 d.C.): “O sangue dos mártires é semente”.

Ele também fez a seguinte afirmação dirigida aos pagãos: “Nós somos um grupo novo, mas já penetramos em todas as áreas da vida imperial - nas cidades, ilhas, vilas, mercados, e até mesmo no campo, nas tribos, no palácio, no senado e no tribunal. Somente deixamos para vocês os seus templos" (Apologia 37).

Outro dado importante é que, à exceção de Paulo, nenhum missionário se destacou nos três primeiros séculos da vida da igreja. O cristianismo crescia espontaneamente através do testemunho de cristãos anônimos que no seu dia-a-dia compartilhavam informalmente a fé com seus parentes, amigos, vizinhos, conhecidos e colegas de trabalho.

B. A igreja imperial

Alguns fatos novos muito importantes aconteceram a partir do início do quarto século. Para começar, pela primeira vez um imperador romano, Constantino, aderiu à fé cristã, com a consequente legalização do cristianismo e o fim das perseguições (ano 313).

No final do mesmo século, outro imperador, Teodósio, oficializou a Igreja (ano 380), tornando-a a única religião admitida no império.

Isso fez com que grandes levas de pagãos ingressassem na igreja, nem sempre movidos pelas motivações mais corretas. O fato é que, no quarto e no quinto séculos, o cristianismo tornou-se a religião majoritária na parte sul do Império Romano.

C. O surgimento do islamismo

Com as migrações dos chamados povos bárbaros para dentro dos limites do império, eles foram progressivamente cristianizados, a começar dos visigodos. A primeira tribo teutônica a aceitar a fé trinitária, foi a dos francos, no final do quinto século.

O cristianismo sofreu um golpe terrível no sexto século com o advento do islamismo, que, em algumas regiões em torno do Mediterrâneo, deteve a marcha vitoriosa da igreja. Importantes regiões e centros cristãos de grande influência foram perdidos definitivamente, como foi o caso da Síria, Palestina, Mesopotâmia, Egito, Líbia e Numídia (Cartago).

Mais tarde, os turcos, também convertidos ao islamismo, haveriam de causar grandes danos à igreja grega ou oriental, com a progressiva absorção da Ásia Menor e de certas partes dos Bálcãs, até a conquista da magnífica cidade cristã de Constantinopla, em 1453. Outras regiões cristãs ocupadas pelos muçulmanos por longo tempo foram eventualmente reconquistadas pelos cristãos, notadamente a Península Ibérica.

As Cruzadas, grandes campanhas militares promovidas pelos cristãos europeus com a finalidade de recuperar os lugares sagrados do cristianismo que haviam caído em mãos maometanas, fizeram muito mais mal do que bem, deixando ressentimentos que perduram até o presente. Alguém se referiu a elas como a mais trágica distorção das missões cristãs em toda a história da igreja.

D. Cristianismo para o mundo

Em compensação, até o fim do primeiro milênio completou-se em grande parte a cristianização do norte e do leste da Europa (Ilhas Britânicas, Países Baixos, Escandinávia e nações eslavas, inclusive a Rússia). Com as perdas sofridas no Oriente Médio e no Norte da África, poderia parecer à primeira vista que o cristianismo se tornara uma religião exclusivamente europeia.

Porém, esse não foi o caso. Desde um período muito remoto, a fé cristã atingiu com maior ou menor intensidade vastas regiões da África ao sul do Saara, como o Sudão e a Etiópia, bem como importantes áreas do Oriente, como a índia, a Mongólia e a China. Por outro lado, se não houve missionários de destaque além de Paulo nos primeiros séculos da igreja, o mesmo não se pode dizer dos séculos posteriores.

Até hoje servem de inspiração para muitos cristãos os exemplos de Ulfilas (missionário aos godos), Martinho de Tours (França), Patrício (Irlanda), Columba (Escócia), Agostinho de Cantuária (Inglaterra), Wilibrordo (Frísia), Bonifácio (Alemanha), Anscar (Escandinávia), Cirilo e Metódio (povos eslavos) e tantos outros.

E. Missões protestantes

Nos séculos 16 e 17, um período de intensa atividade missionária católica em vários continentes, os protestantes pouco fizeram em termos de missões mundiais. As causas apontadas para isso são várias:

(a) a teologia dos reformadores não dava ênfase à Grande Comissão como um desafio para a igreja da época;

(b) o protestantismo ainda incipiente buscava consolidar-se em meio a grandes dificuldades;

(c) os protestantes tinham acesso limitado às novas áreas missionárias;

(d) havia falta de instrumentos eficientes como as ordens religiosas católicas.

O movimento missionário protestante teve seus primórdios com o pietismo alemão, um movimento de renovação do luteranismo liderado por Philip Spener e Auguste Francke, com sede na Universidade de Halle (1694).

A colaboração entre o rei da Dinamarca e os pietistas resultou na primeira missão protestante, que enviou os missionários Bartolomeu Ziegenbalg e Henrique Plutschau para Tranquebar, na índia, em 1705.

Os pietistas influenciaram o conde Nikolaus Ludwigvon Zinzendorf (1700-1760), que acolheu em sua propriedade na Saxônia um grupo de refugiados morávios perseguidos pela Contra Reforma, herdeiros do pré-reformador tcheco João Hus.

Sob a liderança do piedoso Zinzendorf, os morávios empreenderam um vigoroso movimento missionário que até 1760 enviou 226 missionários a São Tomás (Ilhas Virgens), Groenlândia, Suriname, Costa do Ouro, África do Sul, Jamaica, Antígua e aos índios norte-americanos.

Os ingleses, influenciados tanto pelos pietistas e morávios quanto pelo avivamento evangélico do século 18, iniciaram um movimento de oração intercessória pela conversão dos pagãos.

Um líder de grande impacto foi o batista William Carey (1761-1834), considerado “o pai das missões modernas". Vencendo muita oposição e desânimo, fundou com vários companheiros a Sociedade Batista Particular para a Propagação do Evangelho entre os Pagãos, depois denominada Sociedade Missionária Batista. Em 1793, Carey foi para a índia, onde passou o restante da sua vida e traduziu a Bíblia para vários idiomas.

Finalmente, no início do século 19, vários missionários foram enviados para a Ásia, entre os quais Adoniram Judson, que trabalhou na índia e na Birmânia. Outros campos pioneiros da Junta Americana foram o Ceilão, o Oriente Próximo, a China e Madura, uma ilha da Indonésia.

Conclusão

Em diferentes lugares no Brasil e no mundo, vidas têm sido salvas. No entanto, a veracidade dessa afirmação não deve eclipsar uma grave realidade que se nos apresenta: existem povos e lugares que ainda não foram alcançados. E como ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm 10.14).

Todos os cristãos são vocacionados para a obra missionária. O que devemos também ressaltar é que no bairro onde moramos ou no interior da África, na escola/universidade ou entre os índios da Amazônia, no lar ou na casa de amigos que moram no Japão, dentro da nossa cidade ou longe dela, todo lugar é seara e precisa de trabalhadores.

Aplicação

De que maneira podemos contribuir para que o evangelho alcance as imediações da igreja local?

Autor: Dráusio Piratininga Gonçalves

Semeando Vida

Postar um comentário

O autor reserva o direito de publicar apenas os comentários que julgar relevantes e respeitosos.

Postagem Anterior Próxima Postagem
Ajuste a fonte: