Mais que aparências: A revolução da Reforma na vida diária do cristão – Estudo Bíblico sobre a Reforma Protestante

Mesmo sabendo que nossa cultura tem perdido valores morais que outrora eram importantes, existem aqueles mais tradicionais que sempre dizem: “O importante é fazer a coisa certa."

O mundo, entretanto, tem sido muito confundido no discernimento do certo e errado devido à enorme quantidade de teorias éticas. Por isso Sproul diz que “não é só uma questão de 'fazer a coisa certa', mas de chegar a uma conclusão de qual é a coisa certa."

A fim de chegarem a essa conclusão as pessoas têm criado uma ética em cima do que é 'normal', tendo como padrão de normalidade o próprio homem. Na verdade, confundem 'normal' com 'comum', pois acabam aceitando como certo o que a maioria faz. Isso é parte do que hoje é chamado de ‘ética situacional'.

Esta, a princípio, parece extremamente positiva por ter como único princípio ético absoluto a lei do amor. Todavia, o amor conforme entendido pelos homens pode levar a deturpações; o amor leva alguém ao adultério, ao homossexualismo, à violência e à corrupção.

Quando o homem se afasta da revelação divina, que são as Escrituras, sua ética vira um caos. Pois olham para dentro de seus corações imundos que não entendem de amor, ao invés de copiarem as atitudes daquele que é amor (Ef 5.1-3). Deus e a sua Palavra deveriam ser os padrões de ética de todo homem.

Por isso, veremos como os crentes tem sido influenciados pela ética que o mundo apresenta, e depois veremos a importância de reformarmos nossas posições com o espírito cristão de contracultura.

1. Influenciados pela ética do mundo

Na área judicial vemos um exemplo de como nossa cultura tem extinguido Deus das questões éticas. Um delito não é mais visto como pecado mas somente como crime (pois não se pensa mais em ofensa contra Deus e sim contra o Estado).

E depois o crime acaba sendo visto como sintoma. Comete-se certo crime por causa do ambiente em que se vive, dos pais ou dos genes. Este é o desvio típico gerado pela ética situacional.

Um outro exemplo de ética situacional pode ser visto nos defensores do aborto que se rotulam de 'pró-escolha'. Este título que atribuem a si mesmos, mostra a importância que dão à liberdade de escolher o que bem entender.

Não importa o que a mulher decide (abortar ou ter a criança), o importante é ela ter o direito de escolha. O que ela escolher é certo — para ela. Não é fator crucial o desenvolvimento do feto, ou a santidade da vida; essas são questões com os quais a mãe vai lidar.

Esta é uma ética regida pela consciência humana; se você está de consciência tranquila, então foi uma boa decisão.

Podemos ver a disseminação destes princípios entre cristãos, quando tentam justificar seus erros. Quantos vão ao seu pastor não em busca de orientação baseada na Palavra de Deus, mas em busca de permissão para fazer o que querem? O que desejam é uma licença para pecar. Isso é tentar elaborar uma ética situacional; querem agir com base no comportamento comum e na consciência tranquila.

Falta-lhes o senso de pecado. O livro do profeta Malaquias dá um excelente exemplo de sociedade da aliança que havia perdido a sensibilidade para as transgressões da lei de Deus. Quando acusados de pecado, perguntavam: “Em que temos errado?” (MI 1.6, 7; 2.17; 3.7,8,13).

De modo geral, percebemos a mesma insensibilidade nas igrejas evangélicas de nosso país, pois tem havido muita ênfase na fé para obtenção de bênçãos e pouca atenção tem sido dada ao arrependimento. Isto é típico de uma igreja que busca realizações espetaculares e não uma vida de santidade.

2. Redescobrindo a ética cristã transformadora

Deus exige dos seus filhos a não conformidade com o mundo no texto de Romanos doze. Paulo fala de uma ética transformadora, na qual os valores morais não são criados pelo 'eu', mas já preestabelecidos por Deus. O texto de Romanos doze diz que a vida cristã não é uma reivindicação de direitos, mas uma apresentação de nós mesmos em sacrifício a Deus.

A ideia principal nos primeiros dois versos é a ordem “apresenteis o vosso corpo... a Deus"; e aqui, 'corpo' significa a pessoa em sua inteireza, como indivíduo que vive em seu corpo físico (Rm 6.12,13,19). A vida cristã tem como característica a consagração de todo nosso ser, uma entrega por inteiro.

Vale a pena ressaltar que para nos apresentarmos a Deus, é preciso que antes neguemos a nós mesmos (Mt 16.24). A aplicação para a ética é que não devemos viver conforme achamos certo, ou conforme nossa preferência.

Pelo contrário, a conduta cristã é marcada pela crucificação do ‘eu' (G1 2.19-20) e submissão à vontade divina. Isto é seguir a Cristo, imitar a sua atitude enquanto servo humilhado (Fp 2.5-8).

O apelo para uma ética de auto-entrega conforme Romanos doze, vem baseado nos misericordiosos atos redentivos de Deus.

A palavra "pois” mostra que Paulo vê a ordem de apresentar o corpo como consequência das “misericórdias de Deus” mencionadas nos onze capítulos anteriores. Isto significa que vidas obedientes a Deus não partem de nós mesmos, mas vêm como resposta à graça divina.

Essa vida piedosa é vista como um culto a Deus. Um sacrifício que tem as seguintes características:

Vivo

Sacrificamos a própria vida, o que há de mais precioso, a Deus. No Velho Testamento, não era permitido oferecer um animal morto; o sacrifício era sempre vivo. Por isso, enquanto tivermos vida, seremos um sacrifício contínuo a Deus; não só uma vez, mas constante.

Santo

Como a palavra 'santo' carrega primeiramente a ideia de 'separado', nossa vida tem de ser um sacrifício consagrado somente a Deus (ljo 2.15; Tg 4.4). A palavra 'santo' também carrega o aspecto de sacrifício puro, imaculado. Temos de entender que embora Deus tenha nos tomado quando éramos sujos, ele quer que diariamente sejamos limpos, pois devemos ser instrumentos de sua santidade.

Agradável a Deus

Nossa vida tem de ser um sacrifício que se encaixa em seus propósitos para nós. Precisa ser uma vida como ele quer e não como nós queremos.

O verso dois mostra que este estilo de vida como sacrifício a Deus tem dois lados opostos, mas que andam juntos: Não vos conformeis com este século. Esta chamada de Paulo mostra que uma vida sacrificada a Deus não pode voltar à escravidão do pecado da qual Deus a tirou (Gl 5.1).

Não podemos nos amoldar aos princípios do mundo que tornam suas atitudes 'normais'. Nossa vida deve fazer contraste com o estilo de vida do mundo, assim como a luz faz contraste com as trevas.

Transformai-vos pela renovação da vossa mente. A 'mente' não se refere aos raciocínios gerados pelo cérebro, mas ao nosso ser mais interior que a Bíblia também denomina de coração (Pv 4.23) — centro de nossos pensamentos, emoções e desejos. Paulo está exortando-nos a uma transformação com base na renovação do coração causada por Deus.

E o mais maravilhoso desta proposta transformadora que chamamos de vida cristã é o seu propósito: provar que a vontade de Deus para a nossa vida é boa, agradável e perfeita.

Conclusão

F. E Bruce resume bem a passagem quando escreve: “Em vez de viverem pelos padrões de um mundo em desacordo com Deus, os crentes são exortados a deixar que a renovação das suas mentes, pelo poder do Espírito, transforme as suas vidas harmonizando-as com a vontade de Deus."

Lutemos para mudar a situação de uma igreja que tem cada vez mais se assemelhado ao mundo no que diz respeito à conduta.

Aplicação

Você já pensou sobre o fato de que uma vida cheia do Espírito é evidenciada não só pelas manifestações piedosas no culto, mas também no nosso dia a dia (Ef 5.18-6.9)?

Autor: Heber Carlos de Campos Júnior

Semeando Vida

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