Nem sempre foi fácil ser crente, no Brasil. Pessoas já enfrentaram perseguição e morte. Igrejas eram apedrejadas e destruídas. Pastores enfrentavam perigo de todo tipo para levar a mensagem do Evangelho pelo país adentro.
Uma dessas pessoas foi um homem chamado José Manoel da Conceição. Ele era padre e tornou-se um dos mais importantes pastores da história da igreja no Brasil. Ele foi um exemplo de dedicação, em tempos difíceis.
Mas a história dele também é um desafio para cada um de nós. Deus tem chamado algumas pessoas para serem mártires e literalmente morrerem por amor a Jesus. Mas todos nós somos chamados a viver por amor a Jesus.
Por incrível que pareça, isso costuma ser muito difícil. Quando outros interesses são mais atraentes para nós do que nosso amor a Jesus, nosso compromisso de vida com ele fica para segundo plano. E sempre há outros interesses e compromissos rondando nosso coração.
Conhecer alguns fatos da vida desse homem pode ajudar você a verificar a quantas anda sua dedicação a Jesus e à proclamação da mensagem do Evangelho.
1. Primeiros anos e lutas
Conceição nasceu em São Paulo, em 11 de março de 1822. Naquela época, São Paulo era pouco mais que um vilarejo. A cidade importante, no sudoeste do país, era o Rio de Janeiro, capital do império. Ele foi criado em família e escola católica e foi ordenado com 23 anos.
Seu contato com os protestantes aconteceu por meio do pintor francês Carlos Leão Bailot. Esse pintor estava decorando a igreja matriz de Sorocaba e ministrava aulas de desenho e pintura a Conceição.
Outro contato aconteceu em 1840, quando Conceição estudou alemão com um médico dinamarquês protestante chamado João Henrique Theodoro Laangard. Conceição, por sua vez, ensinava português ao dr. Laangard e, desse modo, teve acesso à biblioteca do médico, onde teve oportunidade de ler obras evangélicas.
Ao mesmo tempo, Conceição lia a Bíblia. Começou a comparar os ensinos da Igreja Católica e a sua própria vida com a Palavra de Deus. Quanto mais fazia isso, mais entendia as cadeias do pecado, da indiferença, da idolatria e do desprezo à lei de Deus. Acabou concluindo que a Igreja Católica romana não era a igreja evangélica de nosso Senhor Jesus Cristo.
Como você pode ver, Deus usou aulas de línguas (português, alemão) e de artes (pintura), livros evangélicos e sobretudo a leitura da própria Bíblia para levar o padre Conceição ao conhecimento da Verdade revelada nas Escrituras.
Foram testemunhos simples, de pessoas comuns, como você e eu, que tocaram o coração daquele padre angustiado porque não tinha paz com Deus.
A Bíblia explica o que aconteceu com o padre Conceição, nesse processo de ansiedade e questionamento:
Ele teve sede da Palavra de Deus
Isso aconteceu como com os crentes da cidade de Beréia:
At 17.10,11
E logo, durante a noite, os irmãos enviaram Paulo e Silas para Beréia; ali chegados, dirigiram-se à sinagoga dos judeus. Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as cousas eram de fato assim.
Lendo as Escrituras, Conceição teve convicção de seu próprio pecado
O Senhor Jesus, no seu último sermão aos discípulos, antes de ser crucificado, falou sobre a vinda do Consolador - o Espírito Santo de Deus - dizendo que:
Jo 16.8
Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo.
Ele foi em busca da verdade revelada nas Escrituras
Nessa busca, foi instruído pelo Espírito Santo, como ensinou o Senhor Jesus, no mesmo sermão de João 16: “ quando, porém, vier o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade...”(v.13); como resultado, Conceição foi liberto do erro e do seu próprio pecado:
Jo 8.31-32,34,36
Disse, pois, Jesus, aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. ... Todo o que comete pecado é escravo do pecado. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.
2. O padre e os missionários
Quando teve convicção da Verdade revelada nas Escrituras, Conceição ficou sem saber o que fazer. Então, clamou pela misericórdia de Deus e foi ouvido. O Rev. Blackford, (cunhado do Rev. Simonton, que estava trabalhando como missionário no Rio de Janeiro) trabalhava em São Paulo.
Em 22 de outubro de 1863, o Rev. Blackford viajou para o interior de São Paulo e teve o primeiro contato com o padre Conceição. Ele considerou a visita do pastor como a de um mensageiro de Deus.
Os dois começaram a se corresponder e, seis meses depois, Conceição foi visitar o Rev. Blackford em São Paulo. Durante cinco dias conversaram, juntamente com o Rev. Simonton.
Conceição voltou a Corumbataí decidido a estudar as doutrinas evangélicas e a deixar a Igreja Católica. No dia 28 de setembro de 1864 comunicou ao bispo de São Paulo que estava deixando o sacerdócio católico, para aderir à fé evangélica.
Ele fez sua profissão de fé em 9 de outubro de 1864. Não foi fácil esse rompimento. A Igreja Católica fez uma pressão muito grande para que ele voltasse. Sua excomunhão foi decretada só em 19 de fevereiro de 1867.
A questão era tão séria, que acabou indo parar no jornal, pois Conceição publicou uma Circular, com sua Resposta, no jornal Correio Paulistano. Em 17 de dezembro de 1865 ele foi ordenado pastor evangélico.
Lendo essa história, você percebe como Deus atendeu a oração do padre Conceição, quando ele clamou por misericórdia? O que ele experimentou foi o seguinte:
Mateus 7.8
...todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á.
Hebreus 4.16
Acheguemo-nos, por-tanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna.
3. Viagens e perseguições
Logo depois do primeiro encontro de Conceição com o Rev. Blackford, Conceição começou, na cidade de Brotas, sua primeira distribuição de Bíblias e folhetos evangélicos que o Rev. Blackford havia deixado com ele.
Conceição, depois de sua ordenação como pastor evangélico, começou um incansável ministério de viagens pelo interior de São Paulo. Em julho de 1869 voltou a São Paulo para uma reunião do Presbitério.
Ele apresentou um extenso relatório de viagens, informando que lia e pregava a Palavra de Deus por toda parte, nas estradas e nas casas, e orava com as famílias.
Depois de julho de 1869 ninguém mais teve relatório dos trabalhos desenvolvidos por ele. Sabe-se que ele continuou seu trabalho em São Paulo, Rio e Minas Gerais.
Foi perseguido, chegando a ser apedrejado em um local chamado Campanha, onde ficou caído na estrada como semimorto.
Compare com a experiência do apóstolo Paulo, narrada em Atos 14.19,20:
Atos 14.19,20
Sobrevieram, porém, judeus de Antioquia e Icônio e, instigando as multidões e apedrejando a Paulo, arrastaram-no para fora da cidade, dando-o por morto. Rodeando-o, porém, os discípulos, levantou-se e entrou na cidade...
Ninguém tem o relatório completo de suas viagens e pregações, mas em muitos lugares deixou igrejas organizadas, vigorosas e fiéis.
De onde vinham tanta energia e dedicação? Vinham da própria ação do Espírito Santo de Deus. O que o Rev. Conceição experimentou foi que a convicção de pecado, a busca da verdade e a sede da Palavra de Deus levaram-no a:
Uma rendição completa a Jesus Cristo
Isso ocorreu conforme o ensino de Paulo:
Gl 2.19,20
Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.
Uma profunda convicção da responsabilidade de levar a mensagem do Evangelho a quantos pudesse alcançar
Ele entendia que: “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho”. (1Co 9.16). “Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram?...” (Rm 10.13,14).
4. A sós com Deus
Em julho de 1873 Conceição estava indo de Caraguatatuba ao Rio de Janeiro, onde o Rev. Blackford estava esperando por ele. Chegou à estação ferroviária de noite e procurou abrigo em uma casa à beira da estrada. Um policial que o viu, descalço e mal vestido, resolveu prendê-lo.
Ele só conseguiu sair da prisão 3 dias depois, mas já não tinha mais dinheiro para pagar a passagem de trem para o Rio. Então, decidiu ir a pé. No dia 24 de dezembro estava na estrada de Pavuna quando se sentiu mal e desmaiou na varanda de uma casa.
Ele foi socorrido e levado para a enfermaria militar do Campinho. Foi tratado com humanidade, alimentado, medicado e trocado. Então, no dia seguinte, 25 de dezembro, pediu ao médico e ao enfermeiro que pudesse ficar só com Deus. Virou para o lado e morreu. No princípio de 1877, seu corpo foi transferido para o Cemitério Protestante em São Paulo, onde está enterrado até hoje, ao lado de Simonton.
Conclusão
Conceição não teve uma conversão dramática, como a do apóstolo Paulo. Na verdade, o Espírito Santo usou recursos da vida diária de Conceição, para dar a ele compreensão e convicção da Verdade da Palavra de Deus.
Conceição nos deixou lições importantes. A maior, sem dúvida, foi sua incansável dedicação, literalmente, até a morte. Nos ensina também a necessidade de nos rendermos a Jesus e a responsabilidade de falarmos de Cristo às pessoas.
Mas há também a lição das pessoas e dos recursos que Deus usou para alcançar Conceição: o pintor, o médico, as aulas, os livros. Você pode ser instrumento de Deus na vida das pessoas com quem você convive, com aquilo que você é, com as coisas que você tem e faz, na sua vida diária.
Autor: Hermisten Maia Pereira da Costa