Retidão que exalta: O segredo para aplicar a justiça de Deus em um mundo injusto – Estudo Bíblico sobre o Reino de Justiça

Amós 5.14-15

Seria importante, antes de entrarmos no estudo da lição, conceituarmos a palavra "justiça", isto é, conhecer o sentido exato do termo no texto bíblico. A ideia é a de uma linha reta.

A justiça seria, pois, a atitude reta a ser tomada por aquele que a desejasse seguir. Por esse motivo, talvez, é que lemos, em diversos lugares o conselho - "não te desvies nem para a direita, nem para a esquerda". O justo é o homem que anda retamente, assumindo atitudes corretas, definidas, certas.

Outra ideia que os termos possuem é a de "completo", "exato", "integral". Daí chamarmos à justiça, algumas vezes, de "integridade".

A Igreja, como a visível manifestação do Reino de Deus, deve ser exemplar na prática da justiça. Ela é uma qualidade do crente, do cidadão do Reino e, por esse motivo, cremos, é o cristão, o militante do Reino, chamado "justo".

1. A função da justiça

Na palavra interessante e agradável de E. Percy Ellis, o Reino de Deus possui um Ministério da Justiça, através do qual é exercida a justiça do Reino. Qual é o propósito da prática da justiça? Resumidamente, poderíamos dizer que é para:

a) Exaltar as nações

Conforme a revelação do texto áureo - "a justiça exalta as nações". Essa afirmativa é bastante correta e pertinente. Conhece-se muito bem qual é a nação que pratica a verdadeira justiça, assim como se sabe qual é o povo que vive sob um regime de injustiça.

Há nações que têm perdido o prestígio perante as demais por causa da opressão, da tensão a que submete os seus filhos. Se formos verificar quais os países que gozam de conceito e de prestígio entre as nações do mundo, chegaremos à conclusão que são aqueles em que a liberdade, o direito, a justiça são virtudes pinaculares dos governistas.

Quando se pratica a justiça, há paz no seio do povo, há progresso para a nação, há prestígio para o governo, há glória para Deus. Um exemplo disso está na história do povo de Israel, que gozava do maior prestígio no mundo do seu tempo, durante o reinado de Davi e de Salomão, quando a justiça era praticada pelo rei e seus súditos.

Depois, quando o filho de Salomão resolveu abolir a justiça, oprimindo o povo, veio a rebelião, a divisão, e a paz ficou prejudicada, assim como o progresso da nação. Realmente, a "justiça exalta as nações" que a praticam.

b) Exaltar o reino

A justiça é um dos sustentáculos do Reino. Sem ela não pode haver nação forte, nem reino próspero. No Reino de Deus a justiça destaca-se como uma de suas mais nobres facetas. O senso da justiça provém de Deus. Consequentemente, seu Reino estabelece-se pela justiça e seus súditos praticam-na como um dom natural de seu caráter.

Paulo exorta os crentes de Éfeso a que se vestissem com a couraça da justiça, Ef 6.14. E o autor da carta aos Hebreus, referindo-se aos heróis da fé, destaca-os como praticantes da justiça, Hb 11.33. Noé foi chamado por Pedro de "pregador da justiça", II Pe 2.5.

João afirma que o praticante da justiça é o verdadeiro cidadão dos céus, I Jo 2.29; 3.7. E o ensino dos apóstolos nos mostra que a justiça permanecerá no Reino de Deus, onde sempre habitará, II Pe 3.13. E no Apocalipse a justiça praticada pelos súditos do Reino será permanente demonstração de glória ao Cordeiro - Ap 19.8.

c) Exaltar a Deus

Este motivo decorre dos demais. Se Deus é quem inspira a justiça das nações, se é ele quem estabelece a justiça do seu Reino, então, como consequência, a justiça promovida pelas nações e exercida pela Igreja contribuirá para a maior glória de Deus. Isaías diz claramente que o Senhor será exaltado em justiça, Is 5.16. Os povos que praticam a justiça inspirada na justiça de Deus, a Igreja que exerce a justiça estabelecida por Deus estão obedecendo ao Senhor, realizando sua vontade e, concorrendo, destarte, para a glória de Deus.

Note-se, para estímulo nosso, que a justiça exaltará ainda aquele que a pratica, isto é, o justo, SI 75.10; 5.12; Mt 25.46.

2. O padrão de justiça

Como vimos, a justiça do Reino de Deus difere do conceito comum. Tomando os textos deste estudo, teremos bem claro o padrão que Deus exige de seus súditos. Vejamo-lo:

a) Deve ser superior ao dos fariseus

Estes eram os grandes propugnadores da justiça, no tempo de Jesus. Eram doutrinadores que exerciam grande influência no espírito público. Todavia, o conceito que difundiam não era o ideal. Jesus mostrou as falhas dos fariseus nesse particular:

1) A justiça dos fariseus consistia em exigências meramente exteriores, em ordenanças e proibições.

Mt 23.25,26
"Ai de vós escribas e fariseus, hipócritas Porque limpais o exterior do copo e do prato, mas estes por dentro estão cheios de rapina e intemperança. Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do copo, para que também o exterior fique limpo".

2) A justiça do fariseu era exclusivista e unilateral.

Mt 23.4
"atam fardos pesados e os põem sobre os ombros dos homens, entretanto eles mesmos nem com o dedo querem movê-los".

É por esse motivo que Jesus exigia que o nosso padrão de justiça excedesse ao dos escribas e fariseus.

b) Deve ser perfeito como o de Deus

No discurso, em que muitas vezes se refere à justiça, Jesus recomenda esse padrão, Mt 5.48: "Portanto, sêde vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste". Parece uma exigência descabida, porque não há criatura humana que possa cumpri-la.

Contudo, devemos compreender que estamos falando de padrão, e este deve ser um modelo de tal perfeição que nos leve sempre a procurar progredir na escala da santificação. Portanto, devemos tê-lo como nosso mais elevado ideal.

E para conhecê-lo precisamos ter conhecimento da vontade divina. Para isso temos a sua Palavra a nós revelada.

3. A aplicação da justiça

Tende em mente que a justiça do Reino é a atitude reta, correta, equilibrada, moralmente íntegra, aprendamos como aplicá-la nos vários setores da vida:

a) Publicamente

As nações estabelecem leis que são a estrutura de sua justiça. O crente deve promover, pelos meios de divulgação de que dispuser, os ensinos cristãos a respeito da honestidade, da probidade, do direito da liberdade, da justiça, a fim de que as leis do país sejam promulgadas para o bem de todos.

Ainda poderemos participar na promoção da justiça pública, realizando, com integridade, nossa função, nosso trabalho. Mormente o crente que for funcionário de qualquer repartição pública deve ser zeloso no cumprimento do dever. Ele deve ter a consciência de que está sendo sustentado para o serviço público; o senso de justiça, de direito e de dever permaneça sempre na sua mente.

b) Pessoalmente

O livro de Amós é uma apologia ao exercício da justiça pessoal. No texto da lição, Am 8.4-7, recomenda o profeta, inspirado por Deus, a justiça nos negócios.

O negociante, o comerciante não deve visar tão somente a seus lucros pessoais; lembre-se que está realizando uma tarefa de grande responsabilidade. Os lucros desmedidos são, às vezes, a causa de muita pobreza. Para que alguns enriqueçam, muitos ficam na miséria.

O cidadão do Reino deve contentar-se com aquilo que é justo, que não prejudique a economia do seu próximo. Também, na conversação, a ideia de justiça deve temperar nossas opiniões.

Há crentes que caem em exagero e mesmo em injustiça quando se referem a fatos e a pessoas. É preciso ter muito cuidado para não incorrermos em injustiça através de nossas palavras. É bom ouvirmos o conselho de Paulo em Cl 4.6. Assim, também, no trato com os outros, evitemos a parcialidade, o protecionismo, a discriminação, mostrando para com todos, o mesmo espírito, a mesma atitude, a mesma justiça.

c) Eclesiasticamente

A Igreja deve ser o maior exemplo na prática da justiça. Não só quando cuida de interesses temporais, nos quais não se pode acomodar a padrões inferiores de honestidade e justiça. Mas também, e especialmente quando aplica a justiça aos seus membros.

A disciplina, por exemplo, deve ser equilibrada, justa, firme. O melhor princípio é o estabelecido por Cristo em Mt 18.15-18. Esse método é a melhor atitude, quer no trato entre irmãos, quer na execução de medidas disciplinares, na Igreja.

Em resumo, os crentes, em particular, e a Igreja são despenseiros do Reino de Deus. Por isso, têm a obrigação de difundir os ideais da justiça em todos os setores da vida, servindo de exemplo perante o mundo, praticando a justiça, no seu elevado e verdadeiro conceito cristão.

Conclusão

Para estabelecer os ideais justos do Reino de Deus teremos de enfrentar lutas tremendas, porque o mundo já se acomodou a conceitos deturpados da justiça. Mas, ainda que pouco consigamos, convém e vale a pena viver dentro desses ideais porque, além de concorrer para a glória de Deus, nos estarão integrando cada vez mais no Reino de Deus.

Esse privilégio é garantido pela palavra de Jesus - "buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas", Mt 6.33. Vale a pena, pois, praticar a justiça do Reino, porque enobrece as nações, dá-nos segurança e concorre para a glória de Deus.


Lista de estudos da série

1. Mais que uma instituição: Descubra o propósito divino da Igreja no Reino – Estudo Bíblico sobre a Igreja e o Reino de Deus

2. A mensagem que transforma: A essência do Evangelho confiado à Igreja – Estudo Bíblico sobre a Mensagem do Reino

3. O Reino em ação: Como a Igreja se torna a agência visível de Deus na Terra – Estudo Bíblico sobre a Manifestação do Reino

4. A força invencível: O amor como a identidade e a maior arma do Reino – Estudo Bíblico sobre o Reino de Amor

5. Retidão que exalta: O segredo para aplicar a justiça de Deus em um mundo injusto – Estudo Bíblico sobre o Reino de Justiça

6. A paz que o mundo não pode dar: Como cultivar e promover a verdadeira paz de Cristo – Estudo Bíblico sobre o Reino de Paz

7. Laços inquebráveis: O guia prático para viver a unidade e a fraternidade cristã – Estudo Bíblico sobre o Reino da Fraternidade

8. Liberdade inegociável: Por que conhecer a verdade em Cristo é o único caminho – Estudo Bíblico sobre o Reino da Verdade

9. Vencendo a batalha interior: O guia definitivo para andar no Espírito e não na carne – Estudo Bíblico sobre o Reino do Espírito

10. O maior chamado de todos: A revolução do serviço no Reino de Deus – Estudo Bíblico sobre o Reino de Serviço

11. Puros de coração: O segredo da bem-aventurança e do testemunho eficaz – Estudo Bíblico sobre o Reino de Pureza

12. A oração mais poderosa: Entendendo a promessa e a vinda definitiva do Reino – Estudo Bíblico sobre a Consumação do Reino

Semeando Vida

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