Que é a verdade? Indagou Pilatos de Jesus. Mas não esperou pela resposta. E o Senhor tinha a solução para a questão que inquietava o presidente. A verdade tem sido a suprema preocupação das indagações humanas. Os maiores filósofos, os maiores poetas e os mais prestigiados cientistas têm posto seu talento à pesquisa da verdade.
E esse anseio é coisa natural no homem, conforme disse Fontenelle: "A verdade está tão naturalmente no espírito, que, quando a sabemos pela primeira vez, parece que não fazemos mais do que lembrarmo-nos dela".
Ou como diria Lamenais: "Recebemos a verdade como os campos recebem o orvalho do céu". A Escritura Sagrada, atendendo aos reclamos da alma humana, dá a resposta mais clara, mais convincente e mais confortadora com respeito à verdade. Este é o assunto que, embora de leve, abordaremos neste estudo.
1 - A manifestação da verdade
O grande mal dos pesquisadores é que buscam a verdade numa fórmula, ou num princípio, numa ideologia ou numa forma de viver, enquanto a Bíblia ensina que ela se encarna e se manifesta num ser perfeito e verdadeiro.
a) O testemunho de Jesus
"Eu sou a verdade", disse Jesus. "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará"; dizia ele, referindo-se à sua própria pessoa. Somente Deus possui a verdade, que lhe é atributo exclusivo. Nós podemos falar a verdade, viver na verdade, não podemos, contudo dizer: "sou a verdade". A doutrina cristã é confortadora, porque nos revela que a verdade não é algo impessoal, irracional, mas é a manifestação do próprio Deus, no qual se encarna.
João 14.6
Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.
b) O exemplo de Jesus
O Senhor não deixou o homem às escuras. Clara e definidamente deu o seu testemunho da verdade. O apóstolo João, ao apresentá-lo como o Verbo, a Revelação de Deus, disse que Jesus viera com a graça e a verdade.
João 1.17
Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.
Perante Pilatos Jesus disse claramente que veio para dar testemunho da verdade.
João 18.37
Disse-lhe, pois, Pilatos: Logo tu és rei? Jesus respondeu: Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz.
Além desse ensino, Jesus exortou os homens à prática da verdade. No sermão do monte ensinou um princípio de absoluta prática da verdade, quando disse: "Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não".
Mateus 5.37
Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna.
Teve sérias lutas com os fariseus e outros grupos religiosos, combatendo sua hipocrisia e exortando-os à prática da verdade. Chegou mesmo a dizer que os que praticam a mentira são filhos do diabo, porque este é o pai da mentira.
2 - O conhecimento da verdade
O Evangelho tornou simples o conhecimento da verdade. Basta conhecer-se a Cristo e ter-se-á ciência exata da verdade.
No texto fundamental da lição, o Mestre está procurando levar os judeus, aferrados seguidores de Abraão, a se convencerem de que ao aceitar a Jesus estariam, justamente, aceitando a verdade.
Essa cogitação, parece, não estava na mente dos judeus, que tinham a verdade estereotipada na lei e, por isso, não podiam imaginar que ela se manifestasse numa pessoa. O esforço de Jesus, no texto, é no sentido de convencer os israelitas da deficiência de suas ideias. Conhecendo-se a verdade encarnada numa pessoa, a convicção torna-se mais forte e mais confortadora.
a) A Relação com a liberdade
O sentido da liberdade dado aqui por Jesus, é a proporção mais ampla - sem qualquer restrição. Refere-se ele à libertação espiritual, a liberdade de alma. O conhecimento de Jesus, a Verdade, liberta-nos:
1) Da ignorância - Quem tem conhecimento da verdade, vence a ignorância, uma das maiores causas da escravidão humana, porque ela é a geratriz de muitos males;
2) Do temor - Quem tem conhecimento e está convicto da verdade, não tem medo. Este é filho da ignorância. Essa é uma das grandes vitórias do conhecimento da verdade;
3) Do pecado - O pecado tem sido senhor de muitas consciências, que vivem apavoradas e presas ao temor e à insegurança. Libertando-nos do pecado. Cristo devolveu-nos a paz original da alma, dando-nos a segurança perfeita.
Romanos 6.18,22
E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça. Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna.
Gálatas 5.1
Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.
b) Consequências do Conhecimento da Verdade
A liberdade, como vimos, é a primeira consequência da ciência da verdade: "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará". Lembramos, todavia, que essa liberdade é interior e espiritual, o que, é verdade, nos proporciona também a libertação de peias exteriores.
Mas não significa que estejamos livres para fazer o que quisermos, pelo contrário, a libertação da alma dá-nos maior senso de responsabilidade diante da liberdade do próximo. Consulte o ensino de Paulo a este respeito, em Gl 5.1-15. Outro benefício é a certeza.
Quem conhece a verdade tem segurança, tem certeza. Paulo expressa essa convicção, quando diz: "... porque sei em quem tenho crido, e estou certo que é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia". E todos os crentes têm segurança, em decorrência da sua fé em Cristo, a Verdade Eterna. Muitas outras bênçãos poderiam ser citadas como consequência do conhecimento da verdade. Essas, contudo, deixamos a cargo de nossos leitores relacionar.
2 Timóteo 1.12
Por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho; porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia.
3 - A prática da verdade
Se o conhecimento não nos levasse à prática, teria perdido todo o seu valor. Jesus ensinou e praticou a verdade, não só para termos conhecimento dela e gozarmos das bênçãos que lhe são consequentes, mas para que a exercitássemos em nossa vida.
1) Pelo indivíduo
Jesus estabeleceu um princípio sólido para esse fim: "Sim, sim; não, não; o que disto passar, vem do maligno". Jesus nos ensina a falar e a praticar a verdade a todo custo, mesmo com prejuízo próprio. Tiago, por ter achado muito importante o ensino do Mestre, o repete em sua epístola.
Tiago 5.12
Mas, sobretudo, meus irmãos, não jureis, nem pelo céu, nem pela terra, nem façais qualquer outro juramento; mas que a vossa palavra seja sim, sim, e não, não; para que não caiais em condenação.
O crente não tem justificativa alguma para fugir à verdade. Deus jamais aceitaria a mentira. Em nenhuma circunstância a Bíblia aprova a mentira, porque esta é filha do diabo, e o que passa da verdade, vem do maligno.
2) Pela Igreja
O princípio fundamental neste caso é o estabelecido por Cristo na sua discussão com os judeus. Assim como os que praticam a mentira são filhos do diabo, os que praticam a verdade são filhos de Deus. É por esse motivo que Deus exige de seus filhos a prática da verdade.
Zacarias 8.16-17
Estas são as coisas que deveis fazer: Falai a verdade cada um com o seu próximo; executai juízo de verdade e de paz nas vossas portas. E nenhum de vós pense mal no seu coração contra o seu próximo, nem ameis o juramento falso; porque todas estas são coisas que eu odeio, diz o Senhor.
A Igreja, como manifestação do Reino de Deus, deve ser a divulgadora da verdade, bem como a testemunha da verdade. Por essa e por outras razões, a Igreja evita atitudes incoerentes, transações duvidosas, ensino falso.
Suas informações devem ser verídicas, suas estatísticas exatas, seus negócios claros e honestos e suas pretensões justas. Se a Igreja falhar nesses princípios, será calamidade para o mundo. Devemos manter, custe o que custar, a fidelidade à verdade, porque a verdade é o próprio Deus. Rei e Senhor da Igreja.
Conclusão
Algumas questões aparecem diante de nossas mentes, quando abordamos este assunto. Entre elas destacamos, as seguintes:
a) Pode-se em alguma circunstância, deixar de dizer a verdade?
Nem sempre somos solicitados a dizer a verdade. Há circunstâncias em que é melhor calar. Mas, sempre que formos instados a falar, não podemos dizer senão a verdade. Lembremos, todavia, que, como disse Voltaire, "não é a verdade que nos perde; é a maneira de dizê-la".
b) Há mentiras piedosas?
De maneira nenhuma. "O que passa disso", disse Jesus, "é de procedência maligna". Deus saberá equilibrar as consequências que decorrem de falarmos a verdade.
c) E justa a meia-verdade?
Nunca. A meia-verdade é mentira. Não podemos cortar Deus pela metade. Veja o caso de Abraão que usou de uma verdade pela metade, mas não foi justificado por Deus, Gn 20.1-18. A verdade, acima de tudo, custe o que custar, porque a verdade é o próprio Deus.
Lista de estudos da série
1. Mais que uma instituição: Descubra o propósito divino da Igreja no Reino – Estudo Bíblico sobre a Igreja e o Reino de Deus2. A mensagem que transforma: A essência do Evangelho confiado à Igreja – Estudo Bíblico sobre a Mensagem do Reino
3. O Reino em ação: Como a Igreja se torna a agência visível de Deus na Terra – Estudo Bíblico sobre a Manifestação do Reino
4. A força invencível: O amor como a identidade e a maior arma do Reino – Estudo Bíblico sobre o Reino de Amor
5. Retidão que exalta: O segredo para aplicar a justiça de Deus em um mundo injusto – Estudo Bíblico sobre o Reino de Justiça
6. A paz que o mundo não pode dar: Como cultivar e promover a verdadeira paz de Cristo – Estudo Bíblico sobre o Reino de Paz
7. Laços inquebráveis: O guia prático para viver a unidade e a fraternidade cristã – Estudo Bíblico sobre o Reino da Fraternidade
8. Liberdade inegociável: Por que conhecer a verdade em Cristo é o único caminho – Estudo Bíblico sobre o Reino da Verdade
9. Vencendo a batalha interior: O guia definitivo para andar no Espírito e não na carne – Estudo Bíblico sobre o Reino do Espírito
10. O maior chamado de todos: A revolução do serviço no Reino de Deus – Estudo Bíblico sobre o Reino de Serviço
11. Puros de coração: O segredo da bem-aventurança e do testemunho eficaz – Estudo Bíblico sobre o Reino de Pureza
12. A oração mais poderosa: Entendendo a promessa e a vinda definitiva do Reino – Estudo Bíblico sobre a Consumação do Reino
