Atos 2.42-47; 4.32-37
O Reino de Deus é espiritual (Jo 18.36) e eterno (II Pe 1.11). Suas armas e seus implementos são de caráter espiritual, mas, como todo reino, tem embaixadas, agências, departamentos. O Reino de Deus tem sua agência na terra, que é a Igreja.
Por isso ela é chamada de "manifestação do Reino dos Céus". A intenção deste estudo é mostrar como a Igreja se torna eficaz agência do Reino de Deus. Leiam e releiam bem os alunos o texto fundamental e os textos para leitura diária, porque eles nos fornecem abundante material para o estudo do assunto.
1. A guardiã do reino
À Igreja Cristã foi confiada a tarefa de preservar, defender, manter e guardar os preciosos tesouros espirituais do Reino. Usando o texto fundamental de At 2, especialmente o versículo 42, examinemos quais são as responsabilidades da Igreja nesse setor:
a) A doutrina
"e perseveravam na doutrina dos apóstolos". A doutrina é a base ideológica do reino. Sem ela não haveria possibilidade de expressão dos princípios normativos da vida. Cabe à Igreja a tarefa de manter pura a doutrina, ao mesmo tempo que exige de seus membros a prática de seus princípios. Paulo foi o grande paladino em defesa do que chamava "a sã doutrina".
Em várias de suas cartas procura chamar a atenção dos leitores para o exercício da vida cristã segundo a doutrina evangélica: Rm 6.1; 16.17; Ef 4.14; I Tm 1.9,10; 6.3; Ti 2.1,7. A grande dificuldade é a avaliação das doutrinas que nos parecem estranhas. Qual seria o padrão, a regra a seguir na verificação dos princípios conforme à doutrina do Reino? A Bíblia é o grande modelo.
O princípio estabelecido por Pedro é de grande auxílio no caso, II Pe 1.19-21, "nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação". O princípio, exposto de modo mais claro, é o de comparar a doutrina com o ensino geral da Escritura.
Um texto isolado não deve servir de base a uma doutrina, nem aquele que contrarie o ensino geral da Escritura. Aquilo que for de encontro aos princípios bíblicos deve ser considerado espúrio e perigoso, senão herético.
b) Sacramentos
Os sacramentos são sinais visíveis de graças invisíveis. São selos da vida cristã. No texto que estamos analisando lemos que a Igreja "perseverava na comunhão e no partir do pão". As ordenanças foram instituídas por Cristo para serem lembradas pela Igreja - a Ceia, como lembrança de sua morte.
tendo o pão e o vinho como elementos simbólicos, e o batismo, como sinal da vida nova do crente, ou da purificação operada pelo Espírito Santo, tendo como sinal visível a água.
A Ceia foi instituída por Jesus, na ocasião da última Páscoa que celebrou com os discípulos, Mt 26.26-30; Mc 14.22-26; Lc 22.14-23; I Co 11.23-29.
O batismo foi ordenado por Jesus, antes de subir aos céus - Mt 28.19; Mc 16.16. Para que um sacramento seja reconhecido é preciso:
- que tenha sido instituído por Jesus Cristo;
- que tenha o elemento invisível que ele simboliza;
- que possua os sinais ou elementos visíveis, símbolos da doutrina que representam.Por esses motivos é que os evangélicos só admitem dois sacramentos.
c) Vida espiritual
A Igreja é agência que se esforça por conduzir seus membros a um padrão de vida espiritual cada vez mais elevado.
Em ambos os textos fundamentais do estudo nota-se a preocupação dos primeiros cristãos em manter contato entre si, a fim de exercerem os atos de culto nas casas e nos lugares reservados a esse fim. A Igreja era firme na exigência de vida espiritual segundo os padrões evangélicos.
Ananias e Safira são exemplos do inabalável propósito da comunidade cristã, de preservar a pureza da vida dos membros da Igreja. Ainda hoje a Igreja é a maior defensora dos princípios morais e espirituais que estão exarados na Santa Palavra de Deus.
2. A agência do reino
Funciona a Igreja como um departamento, ou melhor, como a única agência do Reino sobre a face da terra.
a) Agência sobrenatural
esta importantíssima ideia nos dá a compenetração de que a Igreja não é mero departamento terreno. Ela é formada por membros que estão ligados misticamente ao corpo de Jesus. O seu chefe supremo é Deus, e, porquanto estão em jogo os interesses do seu Reino através da Igreja, ele age, muitas vezes, por meio dela.
Este fato é ensino bíblico, I Pe 2.9. Ela é a "nação santa", a agência sobrenatural do Reino de Deus na terra. "Muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos", v.43. Ainda hoje, a Igreja tem sido instrumento divino para a realização dessas maravilhas que têm admirado o mundo.
b) Agência de culto
Deus sempre desejou o culto de seus filhos, não só apresentado intimamente pelo fiel, mas, especialmente, pela congregação de seus servos. Foi para isso que ele mandou construir o tabernáculo no deserto, e depois o templo de Jerusalém.
O templo é hoje o lugar escolhido pelo Senhor para que ali se reúnam seus crentes para lhe prestarem o devido culto. "Em cada alma havia temor"... v.43. Temor é expressão muito própria para significar a reverência e o culto a Deus. O crente que se afasta do culto prestado pela Igreja está contrariando a vontade divina que deseja a adoração prestada pela congregação dos justos, SI 148.14; 22.22,25; Hb 2.12.
c) Agência de salvação
Na providência divina, a salvação do homem, pela fé em Jesus Cristo, é realizada através da instrumentalidade da Igreja. A esta foi entregue a tarefa da evangelização, meio pelo qual Deus alcança os corações. No v.47 de At. 2, vê-se que aqueles que eram alcançados pela graça divina eram encaminhados à Igreja - "... acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos".
O argumento de Paulo em Rm 10.9-15 é no sentido de mostrar a importância da pregação do Evangelho na salvação das almas. Ora, se a pregação é a tarefa principal da Igreja, conclui-se que é ela a única agência de Deus, na terra, para a salvação das almas.
3. A despenseira do reino
Função importantíssima tem ainda a Igreja - a de distribuir as graças, as bênçãos, os privilégios do Reino de Deus. Em At 2.44-47 verifica-se que a Igreja distribuía duas coisas de alta significação para o grupo:
a) As bênçãos da comunhão
"tinham tudo em comum", diz o texto. O sentido comunitário era bem compreendido pelos primitivos irmãos, tanto assim que todas as coisas lhes eram comuns - os bens, a doutrina, os sacramentos, o culto, os problemas, as vicissitudes e as expectações.
Em nenhum aspecto havia entre eles algum necessitado. Pertencer à Igreja é alto privilégio. Dá-nos a consciência de que estamos ligados a uma entidade dirigida sobrenaturalmente pelo mais poderoso dos chefes. Dá-nos o senso de que não estamos sós, mas pertencemos a um grupo que transcende o tempo e o espaço, que tem ligações e ramificações na terra e raízes e realidade no céu.
b) A caridade
Há um aspecto social na tarefa da Igreja. A primeira experiência nesse sentido foi magnífica, embora houvesse as deficiências decorrentes das tendências humanas. Ainda hoje, a Igreja não pode prescindir dessa missão. Ela tem uma obrigação social - "vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade".
Alguns faziam o sacrifício de vender os bens para que todos igualmente tivessem o que comer. A Igreja está sendo sempre desafiada a atender às necessidades do mundo.
E esse desafio não é feito por ideologias sociais, nem por agências de caridade, mas pelo próprio Senhor que ainda nos ordena, em face do mundo faminto e necessitado - "Dai-lhes vós mesmos de comer", Mt 14.16; Mc 6.37; Lc 9.13.
4. A testemunha do reino
Foi o próprio Senhor que constituiu a Igreja como testemunha do seu Reino. No texto fundamental de At 4.33, os apóstolos são chamados "testemunhas da ressurreição". Os discípulos tiveram o privilégio de contar com a presença do Senhor após sua ressurreição.
E a Igreja, que recebeu deles esse testemunho, continua a divulgá-lo, como continuadora da missão dos primeiros cristãos. Esse testemunho é essencial porque, no último estudo bíblico, a ressurreição é doutrina básica da fé cristã.
Além disso, Jesus deu à Igreja a responsabilidade de testemunho da sua própria pessoa. "... E ser-me-eis testemunhas", foi a sua última comissão à Igreja, At 1.8.
E ser testemunha, segundo o conceito mais comum, é dizer tudo o que sabe, toda a verdade sobre a pessoa. Para isso há necessidade, pois, de contacto pessoal, de experiência pessoal com Cristo.
Não somos testemunhas chamadas imprevistamente; deveremos estar sempre em condições para dar o testemunho sobre Cristo, ou como diz Pedro, para estarmos "sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós", I Pe 3.15.
Conclusão
A Igreja Espiritual é expressão legítima do Reino de Deus sobre a face da terra. Todavia, como as contingências em que vivemos são terrenas e temporais, não se podem desprezar as coisas visíveis.
Por esse motivo se requer a filiação à Igreja, porque ela é a depositária das bênçãos e das graças divinas, como manifestação do Reino de Deus. O crente deve prestigiar a Igreja, procurando manter seus propósitos de fidelidade à doutrina, aos sinais ou sacramentos, à pureza da vida.
Deve compenetrar-se de que ela é agência que tem a assistência sobrenatural de Deus, que promove o culto ao Senhor e foi instituída como meio de salvação.
O crente deve sentir-se feliz por pertencer à Igreja, porque, por ela, recebe as graças prometidas por Deus.
Deve também sentir o senso de sua responsabilidade na missão de dar testemunho de Jesus e de seu Evangelho. O verdadeiro cidadão do Reino procura, enquanto estiver em sua casa terrestre, manter-se firme e leal na Igreja de Cristo!
Lista de estudos da série
1. Mais que uma instituição: Descubra o propósito divino da Igreja no Reino – Estudo Bíblico sobre a Igreja e o Reino de Deus2. A mensagem que transforma: A essência do Evangelho confiado à Igreja – Estudo Bíblico sobre a Mensagem do Reino
3. O Reino em ação: Como a Igreja se torna a agência visível de Deus na Terra – Estudo Bíblico sobre a Manifestação do Reino
4. A força invencível: O amor como a identidade e a maior arma do Reino – Estudo Bíblico sobre o Reino de Amor
5. Retidão que exalta: O segredo para aplicar a justiça de Deus em um mundo injusto – Estudo Bíblico sobre o Reino de Justiça
6. A paz que o mundo não pode dar: Como cultivar e promover a verdadeira paz de Cristo – Estudo Bíblico sobre o Reino de Paz
7. Laços inquebráveis: O guia prático para viver a unidade e a fraternidade cristã – Estudo Bíblico sobre o Reino da Fraternidade
8. Liberdade inegociável: Por que conhecer a verdade em Cristo é o único caminho – Estudo Bíblico sobre o Reino da Verdade
9. Vencendo a batalha interior: O guia definitivo para andar no Espírito e não na carne – Estudo Bíblico sobre o Reino do Espírito
10. O maior chamado de todos: A revolução do serviço no Reino de Deus – Estudo Bíblico sobre o Reino de Serviço
11. Puros de coração: O segredo da bem-aventurança e do testemunho eficaz – Estudo Bíblico sobre o Reino de Pureza
12. A oração mais poderosa: Entendendo a promessa e a vinda definitiva do Reino – Estudo Bíblico sobre a Consumação do Reino