O herói silencioso do Natal: As virtudes do pai que Deus escolheu para Jesus – Sermão de Natal sobre o caráter de José

Texto básico: Mateus 1.18-25

Introdução

A história do nascimento de Jesus conforme as narrativas de Mateus e Lucas apresentam-nos situações envolvendo pessoas quase desconhecidas — Isabel e Zacarias, Maria e José, os pastores e os magos — que se tornaram figuras centrais do maior acontecimento da história.

O nascimento do Messias foi testemunhado e vivido por pessoas que souberam receber com profundo temor e sabedoria a visita dos anjos e o anúncio da grande boa nova.

Entre essas pessoas mencionadas, talvez José seja visto, por muitos, apenas como um "figurante" da história. Todavia, sua presença e sua ação tiveram grande importância no propósito de Deus.

José foi um instrumento no cumprimento dos planos de Deus. Assim, cremos que há lições preciosas para nós na vida deste servo do Senhor, escolhido por Deus para ser o pai humano de Jesus Cristo. Vejamos, portanto, alguns aspectos relacionados com a vida e a personalidade de José que servem de exemplo para cristãos de todas as épocas.

1. Conhecendo José

A. Sua origem

Mateus começa com uma descrição da genealogia de Jesus (Mt 1.1-17). Essa descrição acha-se estreitamente relacionada com a substância de todo o capítulo. No verso 1, Jesus Cristo é intitulado "o filho de Davi". A mesma expressão reaparece no verso 20, onde é aplicada a José, o "pai" de Jesus. 

Ele era um descendente daquele que foi o segundo rei de Israel a quem o Senhor prometera um herdeiro que estabeleceria a sua casa, seu trono e seu reino para sempre (2Sm 7.12-16; ICr 17.11-14).

Devemos notar, porém, no verso 16, depois das palavras "Jacó tornou-se pai de José", que Mateus acrescenta: "marido de Maria, de quem nasceu Jesus, chamado Cristo." Agora não nos é dito que José tornou-se o pai ou gerou a Jesus. O padrão na descrição das gerações que antecederam Jesus é mudado.

José é chamado o "marido de Maria", porém nada teve que ver com a concepção de Jesus. Em sentido físico foi de Maria e não de José, que Jesus nasceu. José foi o "pai" de Jesus no sentido legal. Por meio de José, um filho de Davi, o direito ao trono de Davi foi transferido a Jesus, filho de Maria.

No verso 20, ao dirigir-se a José como filho de Davi o anjo relembra a dignidade e a honra que estava sobre ele, pois pertencia a uma linhagem real. Ele foi preparado e separado por Deus para participar do cumprimento da promessa messiânica sendo aquele que transmite a Jesus a honra que estava sobre ele, ou seja, a honra de ser filho de Davi.

B. Sua profissão

A profissão de José consistia em um trabalho árduo que exigia grande dedicação. Mas era também um trabalho artístico que envolvia talento e sensibilidade. 

Possivelmente José tenha ensinado a arte da carpintaria a Jesus. Em sua atividade profissional, José certamente procurava cumprir o mandato cultural estabelecido por Deus desde a criação do homem (Gn 2.15). 

O mandato cultural envolve a responsabilidade do homem diante de Deus relacionada ao trabalho, o lazer, a educação, a tecnologia, etc. José cumpria essas estipulações da aliança com Deus, além de evidentemente cumprir o mandato social (Gn 2.24) na manutenção e sustento do seu lar.

2. Reconhecendo as virtudes de José

A. Um homem justo

Conforme a indicação do verso 18, Mateus, desde já, chama a atenção para a ação do Espírito Santo sobre a vida de Maria — "achou-se grávida pelo Espírito Santo." Mas a questão é: que significa a expressão desposada? Significa que ela estava solenemente prometida em matrimônio a José. 

De acordo com a cultura judaica, o noivo e a noiva juravam fidelidade mútua na presença de testemunhas. Esse compromisso era basicamente o matrimônio, daí o fato de ele ser chamado esposo de Maria (v. 19); e Maria ser chamada de esposa de José (v.20).

Ainda que os dois estivessem legalmente "desposados", havia a necessidade de um intervalo de tempo antes que ambos passassem a viver juntos. Foi nesse período que ela, sendo virgem, soube que estava grávida. Ela recebeu a visita do anjo Gabriel que lhe anunciou os planos de Deus com relação à sua vida (Lc 1.26-35).

Ao saber da gravidez de Maria, José entendeu que ela havia sido infiel no compromisso estabelecido. Ele deve ter sofrido muito com a situação.

De acordo com o costume da época, havia duas opções para a solução do problema: a) estabelecer uma demanda judicial contra Maria; ou b) entregar-lhe uma carta de divórcio, sem envolvê-la em qualquer procedimento judicial (Dt 24.1,3; Mt 5.32).

A segunda opção foi a escolhida por ele: "José, seu esposo, sendo justo e não a querendo infamar, resolveu deixá-la secretamente." 

Por ser justo, isto é, um homem reto no seu procedimento diante de Deus, ele não poderia receber Maria como sua esposa de forma definitiva. Sua decisão ainda que fosse dolorosa revelava sua retidão e submissão a Deus.

B. Um homem piedoso

Ao optar por entregar uma carta de divórcio a Maria e deixá-la secretamente, José demonstrava que também era um homem piedoso. 

Ao invés de ficar amargurado desejando mal daquela que supostamente lhe havia sido infiel, preferiu preservá-la de maiores humilhações. Ao lermos as palavras iniciais do verso 20, fica evidente que José passava por um momento dramático na solução daquele problema.

"Enquanto ponderava...", isto é, enquanto esses pensamentos giravam em sua mente, ele caiu no sono. Enquanto dormia, um anjo do Senhor comunicou-lhe em sonho que Maria concebera pelo poder do Espírito Santo. O anjo disse a José para não temer receber Maria como sua esposa.

A revelação feita pelo anjo, certamente causou espanto porque José estava diante do maior milagre de todos os tempos: o nascimento do Salvador, concebido de forma sobrenatural no ventre de uma virgem. 

Mas também causou consolo porque Maria não fora infiel e ele poderia recebê-la definitivamente como esposa oferecendo-lhe proteção, provisão para suas necessidades e honra livrando-a de qualquer calúnia maldosa. Por ser um homem piedoso, José poderia receber sua esposa com alegria.

C. Um homem obediente e íntegro

Depois de relatar todas as instruções do anjo, Mateus encerra essa narrativa descrevendo a resposta prática de José: "Despertando José do sono, fez como lhe ordenara o anjo do Senhor, e recebeu sua mulher." José não diz nada, apenas faz. Quando lemos o capítulo 2 de Mateus, notamos que essa sempre foi sua atitude diante de Deus (Mt 2.13,14). Havia prontidão da parte de José em obedecer ao Pai.

Além de ser obediente, José era um homem íntegro. Em Mateus 1.25, lemos: "Contudo, não a conheceu, enquanto ela não deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Jesus." Embora José e Maria agora estivessem juntos na mesma casa, não praticaram relações até que Maria deu à luz a Jesus. A razão para este procedimento não nos é relatada.

Talvez pela consideração que o casal tinha por aquele que fora concebido. Ou para evitar qualquer alegação de que José fosse o pai da criança. Seja como for, todas as coisas seguem o plano do Deus soberano. 

Certamente José agiu com sabedoria sob a direção do Senhor e em perfeita sintonia com sua esposa. Assim, José agiu obedientemente e com integridade.

Conclusão

Ao estudarmos um pouco acerca de José, percebemos que ele não foi apenas um "figurante" da história de Jesus, antes, foi um instrumento de Deus nos seus planos. Assim como as demais pessoas que participaram desse acontecimento, ele cumpriu sua missão no propósito do Senhor. 

Além de ser da casa de Davi, de onde nasceu o Salvador, José foi um homem de grandes qualidades. Um profissional dedicado, de caráter justo, piedoso, íntegro em seu procedimento e profundamente submisso à vontade de Deus.

Aplicação

Precisamos reconhecer qual o nosso lugar dentro do Reino de Deus. Qual nossa missão? Assim como José, não somos meros figurantes nesse mundo. Devemos estar atentos à vontade do Senhor sendo justos, piedosos e obedientes. Nós também somos instrumentos de Deus. Cumpramos com eficiência nossa missão.

Autor: Dário de Araújo Cardoso


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