A busca divina: Como a história do primeiro Adão explica a vinda de Jesus no Natal – Sermão de Natal sobre Gênesis 3

Texto básico: Gênesis 3.1-21

Introdução

O Natal é tão significativo para os cristãos porque nesse dia comemoramos o recebimento do maior presente que o mundo já recebeu: o filho de Deus nos foi dado. Jesus mesmo falou a Nicodemos: "porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito" (Jo 3.16).

Os presentes que damos uns aos outros nesse dia nada significam perto desse presente que Deus deu ao mundo. Ao enviar seu filho, Deus demonstrou que ama o mundo, e que fez tudo o que era necessário para salvá-lo.

Ele veio aqui pessoalmente para nos buscar. O Natal é tão significativo por causa disso: Deus veio atrás de nós, para nos salvar.

1. Revolta e fuga

Podemos entender melhor o significado desse ato divino de enviar seu Filho ao mundo quando voltamos às primeiras páginas do Gênesis e somos informados sobre a origem de todos os males que nos têm sobrevindo nessa terra.

O capítulo 3 de Gênesis nos leva a uma cena de uma mulher diante de uma árvore num belíssimo jardim. 

Ela está sendo tentada por uma serpente a tomar e comer de um fruto proibido. Desafiando a ordem estabelecida por Deus, Satanás fez uso da serpente para subverter o estado de bênção e harmonia que reinava na criação de Deus.

O inimigo usa a técnica das meias verdades e colocações sutis para enredar a mulher em sua teia. Como um peixe fisgado, a mulher começa a fazer o jogo do inimigo exagerando a proibição divina e relaxando o aviso de punição. 

Atraída pelo aspecto visual do fruto e sentindo lá dentro de si o desejo de ter autonomia intelectual, a mulher tomou do fruto e comeu e deu ao marido que também comeu. A simplicidade do ato esconde o drama de suas consequências.

Naquele momento, numa simples e aparente inocente atitude, o homem e sua mulher estavam jogando fora todo o privilégio que Deus lhes havia concedido. Eles quebravam o pacto de Deus e assumiam um pacto com Satanás. Logo puderam entender as consequências drásticas de sua decisão, quando abriram os olhos e viram que estavam nus (3.7).

Porém, ao contrário de se voltar para seu Senhor e clamar por misericórdia, eles persistem na loucura de sua autonomia e fazem roupas de folhas de figueira para si, com o intuito de esconder sua nudez. O próximo passo foi tentar se esconder de Deus. Desesperados, eles correm por entre as árvores do jardim, numa tentativa de fugir de seu benfeitor.

Conscientes do erro, envergonhados de sua nudez e temerosos de se encontrar com Deus, só podiam tentar fugir da presença dele, se escondendo por entre as árvores do jardim (Gn 3.8). Essa é a cena mais trágica que poderia ser pintada nesse mundo. Ela representa quão profundo é esse poço que o homem caiu.

Quem antes se encontrava alegremente com o Senhor, para conversar sobre a criação, para desfrutar da presença santa, agora, só pode fugir desesperadamente torcendo para não ser encontrado. De forma muito simples, nesse texto, está descrita a história de todos nós. Nossa queda, nosso desejo de autonomia física e moral e, especialmente, nossa fuga.

2. A busca divina

De repente, somos informados de que Deus estava lá. A voz dele podia ser ouvida no jardim. Não sabemos em que momento do dia aconteceu a queda; mas, na viração do dia, o Senhor já estava no jardim. O que ele estava fazendo lá? Buscando o homem.

Será que Deus não sabia do que estava acontecendo? É óbvio que ele sabia. Sabia que o homem e a mulher haviam cedido à tentação de Satanás e trocado todas as bênçãos divinas por uma simples ideia de ter autonomia. Deus sabia de tudo. Mas ainda assim resolveu ir atrás deles. Se algo pode nos explicitar o que significa graça é essa atitude de Deus.

Vê-lo andando no jardim pela viração do dia já nos dá a certeza de que ele não desistiu. Mesmo percebendo que suas principais criaturas estão fugindo dele, ele condescende e chama ao homem e lhe pergunta: onde estás? (3.9). 

Ao invés de deixá-lo abandonado a seu próprio destino, Deus se digna a ir atrás do homem e da sua mulher a fim de redimi-los. Saindo detrás de alguma árvore, o homem aparece e responde: "Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi" (Gn 3.10).

Desde o início, Deus tomou a iniciativa para salvar o homem. Quando Adão e Eva fugiram da presença de Deus, escondendo-se por entre as árvores do Jardim, Deus foi em busca deles. 

Deus poderia ter abandonado o homem à sua própria sorte, mas sua disposição de ir atrás do homem e da mulher, de interrogá-los, e de apontar uma salvação, demonstra que, desde o início, Deus agiu para salvar o homem baseado, exclusivamente, em sua graça.

Quando Deus encontrou o homem e iniciou o diálogo que foi se estendendo até chegar em Satanás, demonstrou seu desejo de solucionar aquele problema. 

Não é apenas o Deus vingador que deseja executar justiça e derramar a ira, é também o Deus gracioso que deseja estabelecer uma forma de salvar o homem, o que pode ser demonstrado pela confissão de culpa que Deus levou o homem a fazer.

E o que é que comemoramos no Natal, senão a vinda desse mesmo Senhor que não nos deixou perdidos à mercê de Satanás, antes veio atrás de nós para nos buscar? 

O nascimento de Jesus em Belém nada mais é do que a comprovação histórica de que Deus jamais desiste de seus planos. E a comprovação histórica de que Deus tem uma salvação para o seu povo.

3. A promessa natalina

Deus começou o interrogatório com o homem, por ser este o cabeça, e responsável maior pelo acontecido. O homem jogou a responsabilidade sobre sua mulher e, em última instância sobre o próprio Deus, pois disse: "a mulher que me deste" (3.12).

A mulher, por sua vez, jogou a responsabilidade sobre a serpente. Então, Deus se dirige ao mentor de todo aquele projeto de desgraça. E justamente para Satanás que Deus faz a primeira promessa explícita sobre a vinda de seu Filho.

Depois de amaldiçoar a serpente pelo que fez, no famoso verso de Gênesis 3.15, Deus disse: "Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. 

Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar". Desde aquele momento, a derrota de Satanás estava decretada, e ele fez de tudo para impedir que o descendente prometido viesse ao mundo.

Porém, todos os esforços do inimigo foram frustrados, pois na cidade de Belém, no dia ordenado por Deus, nasceu o esmagador da cabeça de Satanás. E porque isso aconteceria certamente, Deus pode fazer promessas de bênçãos para o homem e a mulher, e não apenas lançar maldições sobre eles.

Quando Deus disse à mulher que multiplicaria as dores da concepção, isso certamente continha um elemento de maldição, mas a bênção é que a mulher poderia continuar a ter filhos. Isso seria possível porque ainda haveria um futuro para o ser humano, porque o descendente viria e esmagaria o inimigo.

O mesmo se aplica às palavras dirigidas ao homem, pois, apesar de toda a dificuldade que teria para tirar o sustento da terra, a bênção é que ele continuaria podendo fazer isso. A esperança de futuro que Deus concedeu ao homem estava toda baseada no fato de que o descendente seria enviado para aniquilar os planos de Satanás.

Quando Deus foi atrás de Adão e Eva naquele fim de tarde no Jardim do Éden, ele não foi de mãos vazias. Suas mãos estavam cheias de graça para conceder a eles. Talvez o verso 21 tenha a ver com isso: "Fez o SENHOR Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu".

O Senhor fez questão de vestir o homem com as roupas feitas por ele mesmo. Lembramos que eles tinham tentado se cobrir com folhas de figueira. 

Para fazer vestimentas de peles, algum animal teve que ser sacrificado. Talvez Deus já estivesse indicando aí também que o caminho da salvação era pelo sacrifício que ele próprio ofereceria. Devemos lembrar que o descendente esmagaria a cabeça da serpente, mas seria ferido por ela no calcanhar.

Conclusão

Ainda no Jardim do Éden, Deus deixou bem claro que sempre foi sua disposição ir atrás do ser humano para redimi-lo. Deus precisa fazer isso, porque o homem, por natureza, não está disposto a buscá-lo; antes, prefere fugir de Deus. O homem jamais conseguiria cruzar o espaço que existe entre a terra e o céu. Por isso, o próprio Deus resolveu vir atrás do homem.

Ele cruzou o imenso abismo que existia entre o céu e a terra. Naquela tarde, no Jardim do Éden, ele foi à busca de Adão e Eva e demonstrou seu jeito de salvar o perdido. Em Belém da Judéia, ele consumou esse plano ao enviar seu filho ao mundo. 

Naquele momento, Deus veio definitivamente em busca do homem. Neste estudo podemos comemorar e louvar ao Senhor por ter rompido a barreira que nos separava. É Natal.

Aplicação

Devemos nos regozijar em extremo ao lembrarmos que o Senhor Jesus veio aqui nos salvar. Como Adão e Eva, todos nós somos propensos a nos esconder atrás de nossa autojustiça e fugir da face de Deus. Ainda assim ele nos buscou. Louvemos ao Senhor.

Autor: Leandro Antônio de Lima


Lista de estudos da série

1. A busca divina: Como a história do primeiro Adão explica a vinda de Jesus no Natal – Sermão de Natal sobre Gênesis 3

2. A profecia esquecida: O que Deuteronômio revela sobre a primazia de Cristo no Natal – Sermão de Natal sobre o Profeta prometido

3. O guerreiro inesperado: Por que Deus veio ao Natal pronto para a batalha – Sermão de Natal sobre a vinda do Redentor

4. A canção que inverteu o mundo: O que o louvor de Maria ensina sobre o poder do Natal – Sermão de Natal sobre o Magnificat

5. O cântico do sacerdote: Como o silêncio quebrado revelou a salvação no Natal – Sermão de Natal sobre a profecia de Zacarias

6. Além da manjedoura: 4 Lições de fé da mulher que disse 'sim' a Deus no Natal – Sermão de Natal sobre o exemplo de Maria

7. O herói silencioso do Natal: As virtudes do pai que Deus escolheu para Jesus – Sermão de Natal sobre o caráter de José

8. Mensageiros da glória: Por que os anjos foram essenciais para a história do Natal – Sermão de Natal sobre o anúncio angelical

9. A cidade inesperada: Os 4 significados ocultos de Belém para a história do Natal – Sermão de Natal sobre o berço de Jesus

10. Os primeiros a saber: O segredo revelado aos homens mais improváveis no Natal – Sermão de Natal sobre os pastores de Belém

11. A jornada da adoração: O que a busca dos magos ensina sobre encontrar Jesus no Natal – Sermão de Natal sobre os sábios do Oriente

12. A espera recompensada: Como a profecia de Simeão revela a missão de Jesus no Natal – Sermão de Natal sobre o Nunc Dimittis

13. Mais que um nome: Os 4 títulos de Jesus no Natal que definem sua identidade e poder – Sermão de Natal sobre os nomes de Cristo

14. A mente da humildade: O desafio do Natal para viver e pensar como Jesus – Sermão de Natal sobre a mente de Cristo

Semeando Vida

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