O cântico do sacerdote: Como o silêncio quebrado revelou a salvação no Natal – Sermão de Natal sobre a profecia de Zacarias

Texto básico: Lucas 1.67-79

Introdução

O Dia da Bíblia, comemorado no segundo domingo de dezembro, faz-nos lembrar que Deus demonstrou sua misericórdia ao revelar-se num livro que ocupa a função de regra de fé e prática para a Igreja.

A curiosidade deste dia estar inserido no mês do Natal, é que o nascimento de Cristo foi a maior evidência de que a Palavra de Deus é verdadeira em suas predições e cumprimentos.

Cada cumprimento de promessa em nossa vida é motivo de louvor, e o primeiro Natal como cumprimento de promessa foi o motivo de louvor do sacerdote Zacarias.

Zacarias, por obra do Espírito de Deus, agiu como profeta (v. 67), que tem a função de anunciar a Palavra de Deus, declarando como a promessa divina se mostrava verdadeira. Isto é, a atuação de Zacarias como profeta estava em demonstrar que as promessas do Antigo Testamento com respeito à salvação messiânica estavam se cumprindo naqueles dias.

A ênfase do cântico está no cumprimento das promessas do Antigo Testamento. Tanto é que fatos aconteciam "como Deus prometera, desde a antiguidade, por boca dos seus santos profetas" (v. 70). Zacarias diz que Deus estava se lembrando de uma aliança e juramento feitos no passado (v. 72-73).

1. Cumprimento das escrituras quanto à salvação

O primeiro motivo para Zacarias bendizer ao Senhor é porque ele visita o seu povo a fim de trazer salvação (v. 68,78-79). O verbo "visitar" é um dos favoritos no Antigo Testamento, e expressa uma intervenção especial de Deus.

Isto é, apesar de sempre estar presente e ativo, há momentos decisivos de se aproximar para abençoar ou julgar (Gn 21.1; 50.24-25; Êx 4.31; 13.19; 32.34; Sl 65.9; 80.14; 106.4). 

No caso do cântico de Zacarias, a vinda do Messias era uma visita para redenção; e não só o nascimento de João Batista, mas os feitos milagrosos do próprio Jesus evidenciavam a presença desta visita (Lc 7.16).

O verso 78 de nosso texto básico diz que a misericórdia de Deus é a causa de visitar-nos encarnado e tornar possível o "Emanuel - Deus conosco". A visitação divina é um exemplo típico da graça de Deus. Além do verbo "visitou", outras palavras e frases evidenciavam que a salvação prometida estava para chegar.

Zacarias nos diz que Deus "nos suscitou plena e poderosa salvação" (v. 69). No Salmo 89, Deus diz que é o sustento e força do seu servo para que realize a sua obra de salvação (Sl 89.21-26); o profeta Ezequiel também fala de um poder que brota da casa de Israel (Ez 29.21).

Zacarias continua dizendo que essa salvação surge "na casa de Davi, seu servo". Quando Deus ratificou a aliança com o seu povo representado na pessoa de Davi, disse que o seu descendente é que estabeleceria um reino eterno (2Sm 7.12-16).

Os versos 71 e 74 falam de livramento dos inimigos. Este é um aspecto salvador muito mencionado no Antigo Testamento, e alguns destes textos o relacionam com o Messias (2Sm 22.18; Sl 89.23; 106.10; Is 63.6).

Os versos 78 e 79 falam de um "sol nascente" que vem para iluminar os que estão nas trevas. Este salvador que Malaquias chama de sol da justiça (Ml 4.2), é descrito pelo profeta Isaías como sendo luz tanto para Israel quanto para os gentios (Is 9.2; 42.6-7). Todas estas frases e palavras proferidas no Benedictus expressavam que este era o tempo em que a salvação aguardada pelos fiéis da antiga dispensação se cumpria.

2. Cumprimento das escrituras quanto a renovação da aliança

O cântico de Zacarias não só anunciava o cumprimento da visitação, livramento, iluminação e perdão de pecados englobadas na salvação messiânica, mas também recordava que o Messias vinha para confirmar a aliança da redenção (Jr 31.31-34; 33.14-26).

Nosso Deus havia dito a Abraão que, pela sua obediência, Deus abençoaria a sua descendência e a tornaria numerosa e diversificada (Gn 22.16-18); isto iria se cumprir em Cristo. Preciosa foi a fé de Zacarias em relembrar que Deus nunca se esquece da sua aliança (Sl 105.8- 9; 106.45).

O profeta Miquéias, então, confirmou que a promessa de aliança com Abraão, proferida dois mil anos antes e reconfirmada no decorrer da história, seria cumprida no Messias (Mq 7.20).

3. Cumprimento das escrituras quanto ao precursor do messias

Zacarias entende que o nascimento do seu filho não é o evento principal de tudo que estava acontecendo, tanto é que o cântico só dedica dois versículos a João (v. 76,77). Contudo, Zacarias percebe que o nascimento do seu filho era o início de tudo o que o anjo havia predito (Lc 1.15-17).

É certo que Zacarias compreendera a importância da missão de seu filho, pois ao falar do mesmo causou espanto nos vizinhos (Lc 1.65) ao ponto de perguntarem: "Que virá a ser, pois, este menino?" (Lc 1.66). 

O cântico responde a esta pergunta dizendo que João seria chamado "profeta do Altíssimo" para preparar o caminho de Jesus Cristo (Is 40.3; Ml 3.1). Sua mensagem seria de redenção, não de caráter político como alguns esperavam, mas redenção espiritual que consiste em remissão de pecados.

4. O cumprimento é expressão da misericórdia de Deus

Todas estas alusões às promessas do Antigo Testamento feitas pelo sacerdote Zacarias demonstram algumas virtudes de Deus. É claro que Deus cumpre as suas promessas porque ele é imutável e fiel. Mas se há um atributo divino muitíssimo enfatizado no contexto do cântico é a misericórdia (v. 58,72,78).

Ao fazermos um rápido panorama em nossas mentes da história do povo de Deus no Antigo Testamento, veremos como a infidelidade sobrepujou em muito a fidelidade do povo. 

Por muitas vezes, Deus se sentiu como pai desprezado, como noivo traído, porque o seu povo não buscava a sua salvação, não cumpria as estipulações da aliança, e não dava ouvidos às exortações dos profetas.

Ainda assim, Zacarias reconhece que Deus é misericordioso, e a prova disso é que as promessas de salvação, manutenção da aliança e envio de um precursor estão se cumprindo. 

Deus sempre nos prova sua profunda ("entranhável" - que vem de dentro, das entranhas) misericórdia quando continua a nos abençoar, cumprindo a sua parte na aliança, a despeito de nossa infidelidade.

Conclusão

O Natal é o grande tempo de celebrarmos a fidelidade e misericórdia de Deus em ter cumprido todas as profecias acerca do Messias no seu Filho encarnado. 

Deve ser motivo de nosso louvor o fato da Bíblia ser verdadeira nas suas asseverações, exatamente por ser a Palavra de Deus. Sendo assim, podemos descansar na veracidade das Escrituras por sabermos que as profecias relativas a fatos ainda futuros se cumprirão.

Aplicação

Você já louvou a Deus pelo fato de que as promessas colocadas na sua Palavra sempre se mostraram verdadeiras? Quando cumprimos os seus preceitos somos abençoados, quando os quebramos trazemos a maldição de Deus sobre nós. Isto é motivo de louvor, pois Deus não nos ilude com respeito às diretrizes para a nossa vida.

Autor: Heber Carlos de Campos Júnior


Lista de estudos da série

1. A busca divina: Como a história do primeiro Adão explica a vinda de Jesus no Natal – Sermão de Natal sobre Gênesis 3

2. A profecia esquecida: O que Deuteronômio revela sobre a primazia de Cristo no Natal – Sermão de Natal sobre o Profeta prometido

3. O guerreiro inesperado: Por que Deus veio ao Natal pronto para a batalha – Sermão de Natal sobre a vinda do Redentor

4. A canção que inverteu o mundo: O que o louvor de Maria ensina sobre o poder do Natal – Sermão de Natal sobre o Magnificat

5. O cântico do sacerdote: Como o silêncio quebrado revelou a salvação no Natal – Sermão de Natal sobre a profecia de Zacarias

6. Além da manjedoura: 4 Lições de fé da mulher que disse 'sim' a Deus no Natal – Sermão de Natal sobre o exemplo de Maria

7. O herói silencioso do Natal: As virtudes do pai que Deus escolheu para Jesus – Sermão de Natal sobre o caráter de José

8. Mensageiros da glória: Por que os anjos foram essenciais para a história do Natal – Sermão de Natal sobre o anúncio angelical

9. A cidade inesperada: Os 4 significados ocultos de Belém para a história do Natal – Sermão de Natal sobre o berço de Jesus

10. Os primeiros a saber: O segredo revelado aos homens mais improváveis no Natal – Sermão de Natal sobre os pastores de Belém

11. A jornada da adoração: O que a busca dos magos ensina sobre encontrar Jesus no Natal – Sermão de Natal sobre os sábios do Oriente

12. A espera recompensada: Como a profecia de Simeão revela a missão de Jesus no Natal – Sermão de Natal sobre o Nunc Dimittis

13. Mais que um nome: Os 4 títulos de Jesus no Natal que definem sua identidade e poder – Sermão de Natal sobre os nomes de Cristo

14. A mente da humildade: O desafio do Natal para viver e pensar como Jesus – Sermão de Natal sobre a mente de Cristo

Semeando Vida

Postar um comentário

O autor reserva o direito de publicar apenas os comentários que julgar relevantes e respeitosos.

Postagem Anterior Próxima Postagem
Ajuste a fonte: