Texto básico: Isaías 59.1-21
Introdução
Nas descrições que existem sobre o nascimento de Jesus, geralmente vemos a imagem de uma criança frágil nos braços de sua mãe. De certa forma, essa imagem é verdadeira, pois, de fato, o Senhor nasceu como uma simples criança e se submeteu a tudo o que uma pessoa precisa se submeter nesta vida.
Porém, há um sentido em que toda essa fragilidade descrita não é tão real. Apesar de ser um bebê, ainda assim estava ali o próprio Deus encarnado. Apesar de ele colocar de lado suas prerrogativas e aparência divinas, jamais deixou de ser Deus.
Na verdade, quando lemos algumas passagens bíblicas, percebemos que ali estava um guerreiro, o todo-poderoso Filho de Deus.
1. Uma barreira intransponível
Isaías 59 descreve, de forma dramática, a separação que o pecado causa entre o homem e Deus. O profeta diz:
Is 59.1,2
Eis que a mão do SENHOR não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para não poder ouvir. Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça.
Essa é a triste realidade que o pecado causa. Debaixo dessa maldição vivem todos os homens. Refletindo essa ideia, Paulo ensinou em Romanos 3.23: "porque todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus". Fica muito claro pelos textos bíblicos que a causa dessa separação está exclusivamente no ser humano.
O pecado do homem levou-o a se afastar de Deus. Como Adão e Eva que fugiram da presença de Deus no paraíso se escondendo por entre as árvores do Jardim, assim todos os seres humanos fogem de Deus, e a cada dia se afastam mais de sua presença abençoadora. O pecado faz uma barreira entre Deus e os homens.
Nenhum homem consegue romper essa barreira, ela é totalmente intransponível para nós. Herdamos de Adão uma natureza rebelde ao Senhor, uma natureza que não tem prazer em seguir os preceitos dele e em andar na sua presença.
Isaías diz que toda a angústia que o povo estava sofrendo não era por omissão do Senhor. Não é que Deus não estava disposto a agir, mas os pecados de Israel faziam com que Deus escondesse sua face do povo (Is 1.15; Jr 14.12).
Isaías descreve a corrupção de forma dramática. Ele diz:
Is 59.3,4
Porque as vossas mãos estão contaminadas de sangue, e os vossos dedos, de iniquidade; os vossos lábios falam mentiras, e a vossa língua profere maldade. Ninguém há que clame pela justiça, ninguém que compareça em juízo pela verdade; confiam no que é nulo e andam falando mentiras; concebem o mal e dão à luz a iniquidade.
Essa é uma descrição da completa depravação em que se encontram os seres humanos sob o domínio do pecado. Nada do que fazem tem qualquer validade para bem, apenas para o mal.
Eles "chocam ovos de áspide e tecem teias de aranha; o que comer os ovos dela morrerá; se um dos ovos é pisado, sai-lhe uma víbora. As suas teias não se prestam para vestes, os homens não poderão cobrir-se com o que eles fazem, as obras deles são obras de iniquidade, obra de violência há nas suas mãos" (Is 59.5,6).
E o profeta continua descrevendo que não há vontade nas pessoas de fazer o bem, a preferência sempre é pelo que está errado.
E, por causa disso, "está longe de nós o juízo, e a justiça não nos alcança; esperamos pela luz, e eis que há só trevas; pelo resplendor, mas andamos na escuridão. Apalpamos as paredes como cegos, sim, como os que não têm olhos, andamos apalpando; tropeçamos ao meio-dia como nas trevas e entre os robustos somos como mortos" (Is 59.9,10).
Não conseguir enxergar em plena luz do meio-dia denota uma completa falta de senso de direção. O texto fala que as mãos, os pés, os pensamentos e a boca estão sempre dispostos a fazer o que não presta. Nenhuma glória humana pode sobreviver diante de uma descrição como essas.
Muitos podem se chocar e achar que não são tão pecadores assim, mas a verdade é que essa é uma descrição da alma humana. Alguns evidenciam mais transgressões que outros; mas, potencialmente, todos são igualmente pecadores. Por natureza, todos somos completamente corruptos (Jr 17.9).
2. A descida do guerreiro
Toda essa situação desesperadora do ser humano levou Deus a fazer alguma coisa. Ele não ficou parado diante da situação trágica do homem. O texto diz que Deus "viu que não havia ajudador algum e maravilhou-se de que não houvesse um intercessor; pelo que o seu próprio braço lhe trouxe a salvação, e a sua própria justiça o susteve" (Is 59.16).
O texto sugere que ninguém tinha condições de fazer algo pela situação do ser humano. Como pessoas mergulhadas no mesmo poço de lama poderiam ajudar outras a sair? Como pessoas enfermas pela mesma doença incurável poderiam se ajudar?
A barreira é totalmente intransponível do nosso lado, porém, não é do lado de Deus. Ele decidiu romper as barreiras e vir ao nosso encontro para nos salvar. E isso o que comemoramos no Natal.
Aquela criancinha aparentemente indefesa que nasceu em Belém não era o que parecia ser. Ali não estava nascendo apenas um rei, um sacerdote ou um profeta, mas um guerreiro. O exército dele já havia se manifestado pouco depois do nascimento para alguns pastores no campo (Lc 2.8-14).
Is 59.17
Vestiu-se de justiça, como de uma couraça, e pôs o capacete da salvação na cabeça; pôs sobre si a vestidura da vingança e se cobriu de zelo, como de um manto.
Sua armadura era composta de uma couraça de justiça e de um capacete da salvação. Essas duas palavras "justiça" e "salvação" são essenciais para entendermos o agir de Deus. A vinda de Jesus Cristo aqui é o cumprimento dessas duas coisas.
Ele veio aqui manifestar a justiça de Deus (Rm 3.26) e trazer salvação (Lc 19.10). Havia ainda na armadura uma vestidura da vingança. Isso se refere ao pagamento que o Senhor dá aos seus inimigos.
Por cima de tudo está o manto de zelo, que é o estado de paixão com que o Senhor encara sua missão. Segundo o profeta, ele aparecerá vestido de justiça, salvação, ira e zelo para libertar o seu povo e punir seus adversários.
Assim, de fato, veio o prometido destruidor da serpente (Gn 3.15). Ele veio armado com todas as armas celestiais para resistir ao pecado durante toda a sua vida e, para que, no momento em que a serpente se aproximasse para lhe ferir o calcanhar, fosse esmagada debaixo de seus pés.
Foi isso o que aconteceu cerca de 30 anos depois do seu nascimento, quando o inimigo induziu os homens a crucificarem o filho de Deus.
Naquele instante, Satanás pensava obter a vitória sobre Jesus, e estava, de fato, lhe ferindo o calcanhar; porém, por sua morte, o Senhor conquistou o perdão para todo o seu povo e, com sua ressurreição, consumou a vitória sobre o inimigo.
A cabeça do grande vilão da história estava esmagada.
Is 59.18
Segundo as obras deles, assim retribuirá; furor aos seus adversários e o devido aos seus inimigos.
Mas, para o povo de Deus, desde o início estava reservada a redenção. Isaías diz:
Is 59.19,20
Temerão, pois, o nome do SENHOR desde o poente e a sua glória, desde o nascente do sol; pois virá como torrente impetuosa, impelida pelo Espírito do SENHOR. Virá o Redentor a Sião e aos de Jacó que se converterem, diz o SENHOR.
Evidentemente que podemos encaixar nessa descrição profética tanto a primeira como a segunda e ainda futura vinda de Cristo. Mas, naquele dia em Belém, a luz já começou a brilhar sobre os homens, e a glória do Senhor já começou a se estender desde o nascente do sol.
O redentor veio a Sião. Veio para cumprir a primeira etapa de sua obra de redenção. Submeteu-se às exigências da Lei, venceu o pecado e todo mal. Ainda outra vez virá o redentor a Sião. E, nessa vez, consumará todo o plano de Deus sobre a salvação de seu povo.
Conclusão
No dia de Natal, comemoramos a vinda do Redentor prometido que veio para trazer salvação ao seu povo e juízo sobre os inimigos. Por sua vinda, o Senhor cobriu a imensa distância que havia entre a terra e o céu, e rompeu a barreira de separação entre os homens e Deus.
Seu nascimento aqui foi a manifestação de seu poder. O guerreiro veio para destruir o inimigo e libertar o povo oprimido. Natal nos fala de comemoração pela vitória de nosso Deus e pela nossa libertação.
Aplicação
Devemos agradecer ao Senhor pela imensa libertação que ele providenciou para nós. Por sua vinda, o Senhor nos libertou de Satanás, do pecado e da morte.
Autor: Leandro Antônio de Lima