Texto básico: Deuteronômio 18.9-22
Introdução
Nos dias de Moisés, os povos da terra eram extremamente apegados ao misticismo de uma forma geral. O paganismo antigo era muito atraente, pois possibilitava que as pessoas adentrassem no mundo da magia, das coisas ocultas e, assim, dava um vislumbre do sobrenatural para as pessoas que estavam acostumadas a ver apenas as coisas físicas.
A partir de agora, há uma volta generalizada aos princípios do paganismo, porém, ele frequentemente é revestido de roupagens cristãs. Especialmente no período natalino, vemos que os elementos místicos do paganismo se infiltram na comemoração cristã.
1. Coisas abomináveis
No texto de Deuteronômio 18.9-22, há uma promessa que Moisés fez ao povo de que, um dia, um profeta seria enviado ao mundo, e esse profeta deveria ser ouvido. Por duas vezes o Novo Testamento identifica esse profeta como sendo o Senhor Jesus (At 3.22; 7.37).
Portanto, essa é uma profecia messiânica. A profecia se cumpriu quando o Senhor Jesus nasceu em Belém, pois, naquele momento, Deus enviou o profeta prometido ao mundo. O natal, portanto, é o cumprimento dessa antiga profecia.
Quando lemos o capítulo 18 de Deuteronômio, percebemos que o que Deus falou na ocasião em que aquela profecia foi entregue ainda tem muito a nos ensinar nos dias de hoje, especialmente no contexto natalino.
O Senhor teve a preocupação de orientar o seu povo, antes que adentrasse a terra prometida, sobre coisas que deveria evitar. Deus disse:
Dt 18.9-12
Quando entrares na terra que o SENHOR, teu Deus, te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações daqueles povos. Não se achará entre ti quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; nem encantador, nem necromante, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao SENHOR; e por estas abominações o SENHOR, teu Deus, os lança de diante de ti.
Existiam certas práticas pagãs na terra que o povo de Deus iria adentrar, as quais deveriam ser evitadas. Deus foi muito enfático: "não aprenderás a fazer conforme as abominações daqueles povos".
A arte de copiar as práticas dos outros pode ser muito perigosa. Frequentemente, os desvios não entram em nossa prática por algo que nós próprios inventamos, mas por algo que copiamos.
Vemos as pessoas do mundo fazendo certas coisas, achamos interessante, começamos a copiar e, muitas vezes, não paramos para pensar se aquilo está certo, se é conforme o que a Escritura nos prescreve.
O Senhor fez questão de especificar certas práticas que o povo deveria evitar naqueles dias. Eram especialmente coisas ligadas à religião popular da terra de Canaã. Eram as práticas religiosas pelas quais as pessoas da terra viviam sua religião.
A razão porque Deus proibiu o povo de Israel de aprender essas práticas é porque, além de serem algumas desumanas, como passar o filho pelo fogo, elas certamente desviariam a atenção do povo do seu Deus.
A razão de serem taxadas de "abominação" deve-se especialmente a isso, pois se o povo começasse a seguir aquelas práticas, gradualmente se afastaria do Senhor, abandonaria os mandamentos, e se tornaria pagão. Nós, nem sempre, conseguimos perceber como as abominações aparecem gradualmente e adentram nossas casas sutilmente.
Ninguém se torna apóstata da noite para o dia. Geralmente há um processo. O Natal se tornou hoje uma festa praticamente mais pagã do que cristã porque, aos poucos, certos elementos pagãos foram sendo introduzidos.
Hoje, o Natal pode ser comemorado sem que alguém sequer pense em Jesus Cristo. Apesar de parecer absurdo, isso é a mais pura realidade. Quais são os elementos mais comuns no Natal hoje? O Papai Noel, a Árvore de Natal, o Peru de Natal, os Presépios, e o tão falado "espírito natalino". Essas coisas são más em si mesmas?
Evidentemente que não. Mas alguém pode passar o Natal só com elas. Elas substituem Jesus. Elas desviam a atenção das pessoas de Jesus. E, por isso, podem se tornar abominações.
2. A vinda do profeta
Em meio aos alertas para não aprenderem as abominações do povo da terra de Canaã, o Senhor, através de Moisés, prometeu a vinda de um profeta. Moisés disse: "O SENHOR, teu Deus, te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele ouvirás" (Dt 8.15).
Esse profeta seria enviado pelo próprio Deus. Paulo diz: "vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei" (Cl 4.4). E Jesus disse: "eu não vim de mim mesmo, mas ele (o Pai) me enviou" (Jo 8.42). Até mesmo o povo de Judá, quando viu os sinais e os ensinamentos de Jesus reconheceu: "Este é, verdadeiramente, o profeta que devia vir ao mundo" (Jo 6.14).
O profeta, na profecia de Deuteronômio, seria levantado do meio do próprio povo. Talvez Paulo tenha isso em mente quando diz que o evangelho foi "prometido por intermédio dos seus profetas nas Sagradas Escrituras, com respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio da descendência de Davi" (Rm 1.2,3).
Quando lemos as narrativas do evangelho encontramos a genealogia de Jesus. Ele foi um descendente de Israel, da tribo de Judá, da casa de Davi, nasceu de uma virgem, na cidade de Belém. Inclusive o nascimento dele em Belém, uma das cidades de Judá, não foi por acaso.
Lucas diz que "naqueles dias, foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se. Este, o primeiro recenseamento, foi feito quando Quirino era governador da Síria" (Lc 2.1,2).
A soberania de Deus é realmente de causar admiração. Ele é capaz de mover céus e terra para que seus propósitos se cumpram. José e Maria eram descendentes de Davi, mas habitavam na Galiléia.
A profecia da Palavra de Deus dizia que o Messias deveria nascer em Belém na Judéia. Isso estava profetizado por Miquéias: "E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade" (Mq 5.2).
Maria já estava grávida e a uma grande distância de Belém. O que faria com que aquela mulher grávida deixasse sua casa e se dirigisse a Belém para que o Messias nascesse na cidade prometida? Resposta: os planos secretos e soberanos de Deus.
É curioso pensar que César Augusto, que não havia sido um rei mau, mas que estava longe de ser um cristão, se dispôs a fazer aquele recenseamento com a intenção de aumentar a arrecadação de impostos.
Fazendo o recenseamento seria possível identificar todas as pessoas e, assim, cobrar devidamente o que cada uma deveria pagar para Roma.
O Imperador estava apenas correndo atrás de vantagens para si próprio. Ele não fazia ideia de que estava fazendo algo para cumprir uma profecia tão antiga de Miquéias, um profeta que, seguramente, nunca tinha ouvido falar.
Mas isso demonstra que acima de Miquéias, de José e Maria e do próprio Imperador estava o Deus onipotente e soberano que faz todas as coisas conforme o conselho de sua vontade (Ef 1.11). O desejo de lucro de César foi usado por Deus para que seus propósitos se cumprissem na vida de José e Maria e do nascimento do seu Filho.
3. A prerrogativa do profeta
O povo de Israel sempre foi advertido a tomar cuidado com falsos profetas. Inclusive, ainda no capítulo 18 de Deuteronômio, o Senhor colocou à disposição do povo uma forma de colocar os profetas à prova, para saber se eram verdadeiros ou não. O teste dos versos 20-22 baseia-se na comprovação histórica do anúncio do profeta e de sua conformidade com a Lei do Senhor.
Seria, numa linguagem mais popular, o teste do acontecimento verídico e de conformidade com a Bíblia. Essas duas coisas precisavam ser verificadas para que o profeta fosse aceito. Porém, o texto fala de um profeta muito maior, o qual deveria ser ouvido.
Um profeta semelhante ao próprio Moisés, ou seja, que teria a missão de liderar o povo na travessia de um estado para o outro. Moisés liderou o povo da saída do Egito até a entrada na Canaã. Jesus foi enviado ao mundo para conduzir as pessoas do Império das Trevas para o Reino de Deus.
Ele deve ter a prioridade em nossa vida. Deus ordenou que ele fosse ouvido. No monte da transfiguração, o próprio Deus confirmou essa ordem: "A seguir, veio uma nuvem que os envolveu; e dela uma voz dizia: Este é o meu Filho amado; a ele ouvi" (Mc 9.7).
Nisso percebemos o desejo divino de que Jesus tenha toda a primazia na vida de seu povo. Por essa razão, no Natal, que é a data em que comemoramos o nascimento do profeta que foi enviado ao mundo, nada deve ocupar o lugar de Jesus, e nem mesmo fazer concorrência com ele.
Conclusão
Nessa época natalina, devemos evitar que elementos pagãos ocupem o lugar do Senhor Jesus em nossos corações. Coisas aparentemente inofensivas podem se tornar abominações diante de Deus se de alguma forma nos desviam a atenção da centralidade e da primazia de Jesus. Imitar os costumes das pessoas da terra pode ser bastante perigoso. Devemos comemorar o Natal seguindo os elementos bíblicos.
Aplicação
Será que alguma coisa está ocupando o lugar de Jesus neste Natal em sua vida? O que tem sido mais importante para nós: as festas, os presentes, os enfeites, ou o significado da vinda do nosso Salvador?
Autor: Leandro Antônio de Lima