Texto básico: Mateus 2.1-12
Introdução
Os magos são figuras com presença garantida em qualquer presépio de Natal. Costumamos vê-los representados como reis e em número de três.
Os presépios ainda nos dão a impressão de que eles teriam visitado a Jesus na própria noite de seu nascimento para oferecer-lhe presentes. No entanto, há muitos equívocos nesta ideia tradicional a respeito dos magos e de seu procedimento para com Jesus.
Somente o evangelista Mateus narra a visita dos magos (Mt 2.1-12) e vamos estudar esse texto para que possamos compreender corretamente quem foram os magos, por quem eles procuravam e qual foi sua atitude para com Jesus.
1. Quem eram?
Os magos eram literalmente chamados de magoi, plural de magos, no original grego. Este termo é uma transliteração de uma palavra iraniana que era utilizada para referir-se à tribo dos medos.
Supõe-se que, depois, devido à habilidade dessa tribo no estudo das estrelas, esse nome passou a ser utilizado para toda a linha sacerdotal dos medos e persas.
Mas essa teoria não ganhou aceitação universal. Outros acreditam que eles eram magos vindos da Caldéia, pois os caldeus e babilônios também tinham seus "magos" (Dn 2.2,10,27) e que eles poderiam ter sido influenciados por Daniel tendo contato com o Deus de Israel e da profecia da vinda do Messias.
Por isso eles teriam vindo adorar a Jesus quando de seu nascimento.
Na verdade, sabe-se muito pouco a respeito desses magos vindos do Oriente. Devemos nos ater ao texto e reconhecer que, pelo que vemos de suas ações, eles merecem o adjetivo de "sábios", sábios vindos do Oriente.
Costumamos ver os magos representados em número de três, mas não há como saber realmente quantos eram. O que faz com que se pense nesse número é o fato de que eles entregaram a Jesus três presentes (Mt 2.11). Podem ter sido dois, três, quatro, nove...; o fato é que não temos como saber o número exato.
Outro erro comum com relação aos magos é serem chamados de "reis". Chamar aos magos de Melquior, Baltazar e Gaspar é outro grande exercício de criatividade. Isso não passa de uma lenda sem qualquer fundamento.
O que podemos afirmar sobre tais magos é que eles eram sábios, estudiosos das estrelas, vindos de algum lugar no Oriente e que conheciam a profecia de que, em determinado período de tempo, nasceria aquele que haveria de ser o Rei dos judeus.
2. Por quem procuravam?
A chegada dos magos a Jerusalém causou grande alvoroço. Eles chegaram perguntando: "Onde está o recém-nascido Rei dos judeus?" (v. 2). Os judeus aguardavam há muito o Messias e agora surgiam magos vindos do Oriente afirmando que gostariam de saber onde ele estava, pois teria nascido e queriam adorá-lo.
O rei Herodes, mais do que qualquer outro, ficou agitado com aquela notícia. Ele não desejava ver nenhum concorrente por perto, tanto que tomaria medidas drásticas, mais adiante, para acabar com o possível Rei dos judeus.
Uma estrela havia sido avistada pelos magos no Oriente: "vimos a sua estrela no Oriente" (v. 2). Isso fez com que seguissem viagem até chegar a Jerusalém. É pouco provável que essa estrela tenha sido como a que é representada em presépios e cartões de Natal.
Não era uma estrela de grandes proporções ou muito mais brilhante que as outras. Se assim o fosse, teria chamado a atenção de todas as outras pessoas. O que ocorreu é que só os magos, estudiosos das estrelas, viram o surgimento da estrela de sua região, o Oriente, e seguiram rumo a ela.
O que importa realmente é a quem eles procuravam. Os magos buscavam saber onde estava o recém-nascido Rei dos judeus. Já observamos que não há como saber exatamente como esses magos sabiam sobre o Messias prometido.
A profecia de que haveria de nascer um rei que restauraria a Israel e traria um reinado de paz era conhecida não somente pelos judeus, mas também por outros povos. Será que os magos conheciam o texto de Números 24.17: "uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro"?
Não o sabemos. O que nos importa saber é que eles procuravam o messias prometido, o Rei dos judeus, o príncipe da paz.
O centro do texto é a pessoa de Jesus e não os magos. Por isso não encontramos tantos detalhes sobre eles.
O interesse do evangelista Mateus é demonstrar que outros povos vieram prestar honras a Jesus e que, portanto, os judeus, mais do que ninguém, também deveriam fazê-lo.
3. Adoraram ao rei dos reis
Após saírem da presença de Herodes, o versículo 10 de Mateus 2 nos diz que os magos, ao verem a estrela novamente, alegraram-se muito.
Eles, que foram informados pela própria palavra profética, adquirida com os principais sacerdotes e escribas do povo de Israel, que o Messias deveria nascer em Belém, vêem que a mão divina realmente os está direcionando. Agora possuíam a certeza de que alcançariam seu destino e prestariam adoração ao Rei dos judeus.
E aqui devemos desfazer outra falsa imagem criada pela "tradição do Natal": a ideia de que os magos teriam adorado o menino Jesus na noite em que ele nasceu. O relato bíblico se distancia em muito disso. O verso 11 diz que os magos entraram na casa e não num estábulo.
Conforme o relato de Lucas 2.22-24 podemos ver que Maria, José e o menino Jesus viveram em relativa pobreza pelo menos durante os 40 dias da purificação.
Pois ao final desse período eles levaram Jesus ao templo para que fosse consagrado e ofertaram um par de pombinhos. Se eles já tivessem recebido os preciosos presentes dos magos, com certeza teriam ofertado algo melhor que isso. Portanto, os magos devem ter chegado ao menos 40 dias após o seu nascimento.
Os magos vieram para adorar a Jesus. O verso 11 de Mateus 2 diz que eles entraram na casa e viram o menino com Maria. Em seguida eles se prostraram e adoraram o menino.
Sua atitude foi de reverência diante de um rei. Não sabemos até onde os magos tinham noção de a quem eles estavam adorando. Talvez eles não soubessem que diante deles estava a Deidade encarnada.
No entanto, o verso 12 de nosso texto básico parece indicar que eles tinham ideia de que fizeram mais do que adorar a um rei terreno, pois eles foram advertidos em sonho, por providência divina, que não retornassem à presença de Herodes e retornaram por outro caminho.
Eles puderam verificar que em todos os momentos Deus os conduziu e orientou.
A adoração dos magos também envolveu a entrega de presentes. Alguns baseiam a troca de presentes que realizamos hoje no Natal, ao fato de os magos terem entregado presentes a Jesus. Há também, muita especulação quanto ao significado de cada presente entregue a Jesus.
Simbologias são atribuídas ao ouro, ao incenso e à mirra e diferentes usos são apresentados para cada um deles. Mais uma vez, o melhor é nos atermos ao texto e verificar qual era o uso comum desses artigos na Bíblia.
O ouro traz a ideia de riqueza, de honraria, de realeza. Ele foi usado na construção do tabernáculo e do templo. Foi usado de forma negativa quando associado à idolatria, quando se faziam "deuses de ouro" (Ex 20.23); mas também foi usado para confeccionar coroas de reis.
A palavra utilizada para incenso no Antigo Testamento é derivada de uma raiz que significa branco. O seu uso é relacionado com manjares de flor de farinha (Lv 2.1,2,15,16), procissões de bodas (Ct 3.6), e numa lista de artigos de comércio (Ap 18.13).
A mirra era derivada de uma árvore cuja madeira exalava perfume. Era utilizada para perfumar objetos e também mulheres. De igual modo, era usada na preparação de um corpo para a sepultura. Parece que o ouro está ligado à realeza, o incenso à pessoa de Deus e a mirra ao homem mortal.
Os magos adoraram ao Rei dos reis, adoraram ao Deus feito homem.
Conclusão
Devemos encarar a história dos magos como ela realmente é, ou seja, como a Bíblia a relata. Ignorando, portanto, os acréscimos que a tradição fez.
O que deve realmente nos marcar na história dos magos é que ela está centrada na pessoa de Jesus Cristo. Os magos viram a "sua estrela"; buscavam ao "rei dos judeus"; e, encontrando-o, prostrados, "o adoraram".
Os magos representavam todas as nações, que têm livre acesso ao Pai mediante o Filho, o qual deve ser adorado pelos séculos dos séculos. Adorar a Cristo deve ser central em nossa vida (1 Co 10.31). Ele é nosso Senhor e Salvador e devemos entregar todos os nossos "tesouros" em suas mãos.
Autor: Marcelo Smeets