A canção que inverteu o mundo: O que o louvor de Maria ensina sobre o poder do Natal – Sermão de Natal sobre o Magnificat

Texto básico: Lucas 1.46-55

Introdução

Enfeites coloridos espalhados por todos os lados e o tocar constante de temas natalinos anunciam que o Natal se aproxima. Esta também é a época das cantatas apresentadas nas igrejas e nas praças. É tempo de cantar hinos como:

"Vinde cantai, Jesus nasceu"

"Noite de paz, noite de amor"

"Oh! Vinde fiéis, triunfantes e alegres"

Num período tão musical, o cântico de Maria é um ótimo texto a ser estudado. Ele é conhecido como "Magnificat" devido à primeira palavra do texto latino — sempre foi explorado por músicos de toda história. Este cântico possui um estilo poético hebraico semelhante ao dos Salmos, com construções paralelísticas.

O "Magnificat" é parecido com o cântico de gratidão de Ana (ISm 2.1-10) pelo nascimento de Samuel. Há semelhança tanto no contexto como no conteúdo.

Um dos aspectos singulares deste cântico é o esclarecimento do porquê o Natal é uma época de louvor.

1. O Natal é uma época de louvor porque este brota de um coração que já participou do milagre de Cristo (vs. 46-48)

O contexto confirmava a Maria que ela estava participando do milagre messiânico. Primeiro, um anjo apareceu a ela (Lc 1.26-29), coisa pouco comum. Segundo, a mensagem do anjo (Lc 1.30-37) falava de concepção milagrosa na vida de Isabel (concebeu na velhice) e principalmente na vida de Maria (sem relação sexual; concebido pelo Espírito Santo).

Terceiro, a reação de Isabel (Lc 1.41-45) ao ficar cheia do Espírito Santo e chamar Maria de bem-aventurada. Esses três elementos eram evidências de que Maria participava do milagre da encarnação do próprio Deus.

Como resposta, Maria louva ao Senhor porque a humilde serva será mãe do Rei dos Reis, a mulher pecadora será mãe do Salvador (v. 46-48). Maria está alegre porque o Senhor olhou para ela com compaixão; Deus a escolheu para uma tarefa honrosa a despeito dela ser uma mulher simples, obscura até aquele momento. Pelo privilégio de participar do milagre de Cristo, ela louva ao Senhor.

Maria não está sozinha neste louvor. Todo aquele que participa do milagre do Natal, louva ao Senhor juntamente com ela. E qual é o milagre do Natal? "Emanuel, Deus conosco". Deus só está com aquele que experimentou o nascimento de Jesus na manjedoura do seu coração.

Todo aquele que tem esta experiência de fé, participa do milagre de Cristo. Neste sentido, Maria não era nem um pouco mais privilegiada do que qualquer um de nós. Ela também era pecadora; pois ela mesma afirma precisar de um Salvador (Lc 1.47). 

Quando uma mulher exaltou a bem-aventurança de Maria, por ser mãe de Jesus, veja o que o próprio Jesus respondeu: "Antes bem-aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam!" (Lc 11.27-28). E nestes que acontece o milagre de Cristo; é do coração de pessoas assim que brota o louvor do Natal.

2. O Natal é uma época de louvor porque destaca os atributos de Deus (vs. 49,50)

Da gratidão, Maria passa a contemplar o próprio Deus. Ela se prende a três características do ser divino: seu poder, sua santidade e sua misericórdia. De fato, no milagre da encarnação, essas características se fazem evidentes.

O poder de Deus é destacado pelo apóstolo Paulo quando diz que o nascimento do Filho de Deus ocorreu na "plenitude do tempo" (G1 4.4). O Império Romano, que ocupava grande parte do mundo da época, havia conseguido manter um período de paz nos anos que cercaram o nascimento de Cristo.

Além disso, as estradas do Império e o recenseamento publicado pelo Imperador (Lc 2.1-7), proporcionaram o nascimento de Cristo na cidade que Deus havia planejado. Tudo acontecia conforme o seu poder soberano controlando a história.

A santidade de Deus ficou clara a medida que o Espírito Santo produziu no útero de Maria um "ente santo" (Lc 1.35). A santidade de Deus brilhou no Salvador que nasceu sem pecado, o cordeiro sem mancha. 

A misericórdia de Deus foi descrita por João como sendo um amor sem medida (Jo 3.16). Para um povo que estava em cativeiro, a visão que o anjo Gabriel transmitiu a Daniel acerca do Ungido (Dn 9.24-27) foi expressão máxima da misericórdia divina.

3. O Natal é uma época de louvor porque substitui os valores humanos por valores divinos (vs. 51-53)

A mídia coloca o seu enfoque nos ambiciosos, poderosos e ricos. O mundo aplaude a fama conquistada pela autoconfiança, pelo poder e pelo dinheiro.

Os seis verbos (no pretérito perfeito) deste trecho nos falam de uma reviravolta dos valores humanos; uma mudança das ordens da sociedade. Eles indicam tanto a forma como Deus agiu no Antigo Testamento como a ação do Messias no Novo Testamento.

Antigo Testamento:

v. 51 — A ação do braço de Deus e a dispersão dos soberbos pode ser vista no que Deus fez com Nabucodonosor (Dn 4).

v. 52 — Deus derrubou o numeroso exército midianita para exaltar os 300 homens sob o comando de Gideão (Jz 7).

v. 53 — A descendência dos filhos de Jacó que desceu para o Egito em busca de comida, futuramente habitaria na terra que mana leite e mel ("Encheu de bens os famintos"). A descendência dos poderosos faraós recebeu um Egito que já não era mais uma força mundial; nunca mais voltou a ser ("despediu vazios os ricos").

Deus não é como os homens que se submetem aos soberbos, poderosos e ricos. Para Deus, possuir virtudes significa ser 'humilde de espírito' e 'faminto de justiça' (Mt 5.3,6). Tanto é, que Deus oculta a verdade aos sábios e entendidos, e revela aos pequeninos (Mt 11.25; ICo 1.26-29).

O Messias também não veio para aplaudir o orgulhoso, o poderoso e o rico. Na verdade, o Natal representa exaltação dos humildes e fartura para os famintos.

Novo Testamento:

v. 52 — O Natal derrubou o poderoso Herodes o Grande para exaltar humildes pastores.

v. 53 — O Natal enriqueceu os famintos magos do Oriente com a revelação do menino, para despedir vazios os doutores da lei que se achavam ricos no conhecimento da Palavra (Mt 2.1-12).

Louvamos a Deus no Natal porque Ele não segue os padrões estabelecidos pelo homem. Jesus se preocupa com pequeninos, humildes e famintos. Nós estamos entre esse grupo e fomos agraciados com a sua salvação.

4. O Natal é uma época de louvor porque Deus nunca se esquece de suas promessas (vs. 54,55)

A vinda do Messias foi o tão esperado amparo a Israel. Gênesis 22 ilustra a ansiedade presente por toda história de Israel. Neste capítulo, Abraão e Isaque estão subindo em um dos montes da terra de Moriá quando Isaque pergunta: "onde está o cordeiro para o holocausto".

A resposta de Abraão é: "Deus proverá". A pergunta de Isaque ilustra a ansiedade do sofrido povo de Israel por todo o período do Antigo Testamento: 'Onde está o Messias? Será que Deus se esqueceu de ser gracioso' A voz profética do Antigo Testamento ecoava as palavras de Abraão: 'Deus proverá'.

Quando o anjo vai até Maria anunciar-lhe boas novas, ela entende que Deus havia se lembrado da sua misericórdia "a favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, como prometera aos nossos pais" (Lc 1.55).

Por Deus não ter se esquecido da maior das promessas é que Maria canta louvores a ele. Quando nos sentimos desanimados quanto ao cuidado de Deus para conosco, o Natal é a grande prova de que Deus é fiel às suas promessas.

Conclusão

Com todos estes motivos, não é à toa que o Natal é uma época de louvor. Não foram motivos somente para o primeiro Natal, mas para todos os dezembros (data simbólica) que se foram quanto pelos quais ainda iremos passar, exaltando a Deus por ter nos enviado o seu Filho.

Aplicação

O mundo tenta fazer do Natal uma época de mais caridade e alegria, mas não conhece o porquê.

Autor: Heber Carlos de Campos Júnior


Lista de estudos da série

1. A busca divina: Como a história do primeiro Adão explica a vinda de Jesus no Natal – Sermão de Natal sobre Gênesis 3

2. A profecia esquecida: O que Deuteronômio revela sobre a primazia de Cristo no Natal – Sermão de Natal sobre o Profeta prometido

3. O guerreiro inesperado: Por que Deus veio ao Natal pronto para a batalha – Sermão de Natal sobre a vinda do Redentor

4. A canção que inverteu o mundo: O que o louvor de Maria ensina sobre o poder do Natal – Sermão de Natal sobre o Magnificat

5. O cântico do sacerdote: Como o silêncio quebrado revelou a salvação no Natal – Sermão de Natal sobre a profecia de Zacarias

6. Além da manjedoura: 4 Lições de fé da mulher que disse 'sim' a Deus no Natal – Sermão de Natal sobre o exemplo de Maria

7. O herói silencioso do Natal: As virtudes do pai que Deus escolheu para Jesus – Sermão de Natal sobre o caráter de José

8. Mensageiros da glória: Por que os anjos foram essenciais para a história do Natal – Sermão de Natal sobre o anúncio angelical

9. A cidade inesperada: Os 4 significados ocultos de Belém para a história do Natal – Sermão de Natal sobre o berço de Jesus

10. Os primeiros a saber: O segredo revelado aos homens mais improváveis no Natal – Sermão de Natal sobre os pastores de Belém

11. A jornada da adoração: O que a busca dos magos ensina sobre encontrar Jesus no Natal – Sermão de Natal sobre os sábios do Oriente

12. A espera recompensada: Como a profecia de Simeão revela a missão de Jesus no Natal – Sermão de Natal sobre o Nunc Dimittis

13. Mais que um nome: Os 4 títulos de Jesus no Natal que definem sua identidade e poder – Sermão de Natal sobre os nomes de Cristo

14. A mente da humildade: O desafio do Natal para viver e pensar como Jesus – Sermão de Natal sobre a mente de Cristo

Semeando Vida

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