Salmos 139:13-16 (ARA)
13 - Pois tu formaste o meu interior tu me teceste no seio de minha mãe.
14 - Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem;
15 - os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra.
16 - Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda.
De todas as criaturas de Deus, o homem é o único criado à sua imagem e semelhança. Obviamente, este fato coloca o ser humano em posição de destaque na obra da criação. Somos, sem dúvida, especiais aos olhos de Deus. Mas por que, então, tanta gente vive insatisfeita consigo mesma?
Tem gente que não vive um dia sequer sem se sentir a pior de todas as criaturas. E isso pode ser visto em várias áreas da vida.
Um exemplo é o padrão de beleza atual. Todo mundo quer ficar bonito dentro de um padrão estabelecido pela sociedade. Não é a toa que nos filmes e séries não vemos gente feia, apenas gente incrivelmente bonita e em forma. Existe um padrão estabelecido.
E há muita gente frustrada, porque não consegue atingir esse padrão. A pessoa não aceita aquilo que ela é. Se ela é loira, ela queria ser morena. Se ela é crespa, queria ter cabelos lisos. Se o sujeito é alto, ele queria ser menor. Se é baixo, ele queria ser alto.
O sujeito quer ser barbudo, mas a barba tem falhas. O outro que tem a barba perfeita, quer ficar de cara limpa. Note então que muita gente passa a vida insatisfeita com aquilo que é.
Por isso eu quero refletir com você hoje sobre como desenvolver a autoaceitação. Vamos abrir nossos olhos e ampliar os nossos horizontes, para que possamos ver a nossa vida sob uma outra ótica. Com certeza, essa perspectiva será de grande valor para que possamos melhor servir a Deus.
Uma das maiores necessidades do ser humano é sentir-se aceito. Porém, mesmo que nem todos admitam, a maior parte das pessoas sofre algum tipo de rejeição.
Esse sentimento de rejeição pode começar muito cedo na nossa vida, já na infância. Às vezes, devido a uma gravidez não desejada; ou porque, a pessoa quando criança, sofreu abuso e violência, ou agressões verbais que feriram profundamente as suas emoções.
Isso parece trivial, mas há muita gente que carrega hoje os fardos resultantes de traumas que ocorreram lá no passado. E, sem perceber, a pessoa vive constantemente alterada, demonstrando haver um problema ainda não resolvido na sua vida.
E isso faz com que a ela tenha problemas sérios de relacionamentos ou viva como se buscasse algo que nem ela mesmo sabe o que é.
Na minha juventude na igreja, eu conheci uma moça muito alegre e popular. Ela era aquele tipo de pessoa que tinha amizade com todo mundo, mais conhecida do que moeda de 1 Real.
Mas isso começou a se tornar doentio no momento que as amizades que ela tinha já não eram suficientes para preencher o vazio dentro de si. Então ela começou frequentar várias igrejas ao mesmo tempo.
Em um domingo ela ia em determinada igreja, fazia amizade com o povo de lá, se vestia como as moças de lá. No outro domingo ela ia em outra igreja, completamente diferente, e tentava se envolver como povo de lá.
Chegou um tempo em que ela estava indo em 4 igrejas por mês, tentando participar de todas elas, tentando ser amiga de todo mundo. Mas não deu certo.
Primeiro, porque, como cada igreja tinha uma teologia diferente, ela logo entrou em crise quanto ao que ela deveria crer. Ela já não sabia se era salva. Segundo, porque, ficou muito custoso para ela tentar manter tantos relacionamentos vivos ao mesmo tempo.
Não era fácil participar e se envolver com muitos grupos de pessoas. E era aquela sensação: enquanto ela estava em uma igreja, com um grupo, ela ficava pensando – “e na outra igreja, o que estão fazendo?”. Afinal, ninguém pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo.
A verdade é que esta moça procurava ser amada. Queria estar em todos os grupos porque lhe dava a sensação de se sentir amada por todos. O fato é que ela mesmo não se aceitava e isso era tão forte, que procurou essa aceitação nas pessoas ao redor – mas não foi o melhor caminho. Apenas a deixou mais doente.
O que ela precisava fazer era começar a amar mais a si mesma, a se aceitar mais. E quanta gente nas igrejas com esse mesmo tipo de problema, de autoaceitação?
Pessoas que vivem com esses conflitos não resolvidos e que acabam prejudicando não só a si mesmas, como também a vida comunitária da igreja. São pessoas excessivamente críticas, intolerantes, amarguradas, mal-humoradas, irritadas, magoadas etc., que sofrem internamente por não se aceitarem.
Portanto, ao falar de autoaceitação, quero levar em conta três pontos básicos para nos tornarmos pessoas mais saudáveis:
1 - Deus tem um plano para cada um de nós
Eu creio que cada um de nós, em algum momento, já se perguntou: Por que nasci? Por que eu sou, assim, do jeito que eu sou? Por que possuo tantas limitações e fraquezas?
Por que o meu corpo é assim? Essas são perguntas legítimas, mas elas não podem desviar-nos de uma verdade bíblica muito clara: nós não somos obra do acaso. Deus tem um plano para nós.
Salmos 139:13-18 (NTLH)
13 - Tu criaste cada parte do meu corpo; tu me formaste na barriga da minha mãe.
14 - Eu te louvo porque deves ser temido. Tudo o que fazes é maravilhoso, e eu sei disso muito bem.
15 - Tu viste quando os meus ossos estavam sendo feitos, quando eu estava sendo formado na barriga da minha mãe, crescendo ali em segredo,
16 - tu me viste antes de eu ter nascido. Os dias que me deste para viver foram todos escritos no teu livro quando ainda nenhum deles existia.
O que nós percebemos nestes versículos?
- Deus nos formou no ventre materno de forma maravilhosa (vv. 13,14);
- Deus nos conhece e nos vê, antes mesmo do nosso nascimento (w. 15,16a);
- Deus traçou a nossa história de vida, antes mesmo do nosso nascimento (v. 16b).
O desenvolvimento da autoaceitação nasce da compreensão e aceitação de que somos criados à imagem e semelhança de Deus.
Ele conhece todas as coisas e exerce o seu controle sobre todos. Junto a esta compreensão, precisamos também ter a consciência de que Deus tem um plano para cada um de nós. Parte da tarefa de estar vivo é compreender o propósito de Deus para nós e caminhar dentro deste propósito.
E quanta gente ainda não se achou nesse sentido? Gente que não sabe por que está viva, não tem propósito, não tem foco... Outros já vão por outro caminho, fazem do sentido de suas vidas a maldade, opressão a divisão. Mas veja o que diz o apóstolo Paulo:
Romanos 14:8 (NTLH)
8 - Se vivemos, é para o Senhor que vivemos;
Há muita gente sofrendo porque ainda não compreendeu o propósito de sua vida. E às vezes, o propósito da vida está do lado delas e elas não veem. Tome como exemplo o que aconteceu com Dan S. Bagley. Ele é um escritor.
Ele conta que, em uma viajem de avião, uma mulher com três filhos se aproximou da sua poltrona. Naquele momento, ele pensou: tomara que não sentem ao meu lado, tenho um trabalho importante a fazer.
Mas não adiantou. O menino de 11 anos e uma menina de 9 se sentaram ao seu lado, enquanto a mãe e um menino de 4 anos se sentaram no banco atrás dele. Imediatamente o menino de 4 anos começou a chutar a poltrona da frente.
E as crianças maiores começaram a reclamar do pequeno. A cada dois minutos, o menino perguntava à irmã: Onde é que nós estamos agora? A irmã dizia: Cale a boca! – e assim se repetia, com choramingos e reclamações.
Aquele homem logo pensou: as crianças não têm noção do que é trabalho. Mas então ele conta que algo dentro do seu coração dizia: ame as crianças. Ame-os como se fossem seus filhos. Ele conta que deixou o trabalho de lado e começou a conversar com as crianças.
Explicou detalhadamente a rota e fez uma estimativa da hora de chegada. Pouco antes da aterrissagem, ele perguntou o que o pai deles fazia naquela cidade que estavam chegando.
Ficaram em silêncio. Depois de uma pausa, o menino disse apenas: Ele morreu. Eles estavam indo a seu funeral. Dan S. Bagley conta esta história e diz: "De repente me dei conta do que era o trabalho mais importante a fazer: dar atenção e amor para aquelas crianças durante aquela viagem".
Quanta gente assim hoje em dia, não? Gente cujo propósito da vida delas está ao lado delas, mas elas não enxergam.
Não valorizam a família, a esposa, os filhos, os amigos, a igreja. E por não enxergar propósito em nada, vão se desanimando, se desmotivando.
Quando você começar a sentir esse vazio, lembre-se que o caminho da autoaceitação é ter a consciência de que somos parte de um plano maior elaborado por Deus. Viva para realizar esse propósito.
2 - O cultivo do amor a si mesmo
A Palavra de Deus ensina que devemos amar ao próximo... como a si mesmo.
Lucas 10:27
27 - A isto ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Nós devemos cuidar das outras pessoas da mesma maneira como cuidamos de nós mesmos. Isso é o amor próprio. Logicamente, há diferença entre o amor-próprio sadio e o egoísmo, arrogância, ou a vaidade - que são obras da carne.
O amor próprio a que me refiro é esse amor natural e normal que temos por nós mesmos derivado do amor de Deus. Esse amor se reflete no cuidado que temos para com nós mesmos.
Nesse sentido, você é uma pessoa que se cuida? Você é uma pessoa que se ama?
- Você cuida do seu corpo? Você cultiva hábitos saudáveis, procura fazer exercícios, procura equilibrar ocupação e descanso, dorme bem, evita ser escravo dos vícios? Afinal, o nosso corpo é o “templo do Espírito Santo", conforme ensina 1 Coríntios 3.16. Você se aceita do jeito que você é? Ou você só acha que vai ficar bom mesmo depois de 30 plásticas?
- Você cuida de sua vida emocional? É importante evitar o negativismo, as críticas, as reclamações e amarguras... Se você não cuidar de sua vida emocional você vai acabar se tornando uma pessoa rabugenta, irritada, amarga, rancorosa e solitária – porque ninguém gosta de ficar perto de gente assim, acredite! Cuidar da vida emocional envolve cultivar a esperança, cultivar o otimismo, o pensar em coisas boas, coisas que enriquecem a vida.
- Você cuida de seus relacionamentos? Nós cristãos fomos chamados para vida comunitária, para desfrutar da comunhão com Deus e uns com os outros. Cuidar dos relacionamentos, tratar as pessoas com respeito e amor, manter contato com a igreja – tudo isso faz parte de uma vida saudável.
Mas você tem cuidado destas áreas? Há muita gente doente, sem propósito, amarga, porque não cuida de si mesma. Cultive, portanto, esse amor próprio sadio, esse cuidado de si mesmo. O caminho da autoaceitação passa por esse princípio.
3 - Tome uma atitude em relação ao que precisa ser mudado
Daniel 1:8
8 - Resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei...
O jovem Daniel tomou uma atitude diante daquilo que precisava ser mudado. A importância deste último ponto é bem clara.
Mudanças não podem ocorrer sem atitudes. Se você tem um cômodo na sua casa cheio de coisas velhas, ele não via ficar limpo e espaçoso se você não reservar um dia, separar o que é pra doação e só ficar com aquilo que vai usar. É necessário atitude.
Na vida emocional ocorre o mesmo. Todos nós temos nossas dificuldades emocionais. E elas estão ainda mais amplificadas por causa da situação de crise que vivemos no mundo e no nosso país.
Portanto, se tem um problema emocional e você simplesmente não fizer nada a respeito, você corre o risco de se ver cada vez mais imerso em problemas emocionais. E tem muita gente que está ficando assim: cada vez mais amarga, mais irritada, mais sombria.
Portanto, tome uma atitude.
- No sentido da autoaceitação, procure ser a pessoa que Deus quer que você seja. Deus quer que você ame mais, perdoe mais, que você se aceite mais, que você aproveite as oportunidades de servi-lo. Deus quer que você tenha uma vida coerente, ajustada e muito feliz, de acordo com os princípios de sua Palavra.
- Mas você pode também tomar uma atitude muito sensata no sentido de procurar ajuda. Os pastores sérios, os psicólogos e os conselheiros, podem oferecer uma contribuição importante para as pessoas que carecem de ajustamento às várias realidades da vida. Então, não tenha receio de pedir ou procurar por ajuda.
Enfim, tome uma atitude em relação ao que precisa ser mudado.
Conclusão
Nós vivemos num tempo onde muita gente vive insatisfeita consigo mesma, insatisfeita com a vida que tem. Hoje aprendemos sobre a importância de desenvolvermos a autoaceitação. E destacamos três realidades:
- Deus tem um plano para cada criatura
- O cultivo do amor a si mesmo
- A importância de se tomar uma atitude
Uma missionária solteira estava se menosprezando. Ela estava infeliz com a sua vida em geral, mas estava especialmente descontente com o que achava ser um nível baixo de crescimento espiritual. Certa manhã, ela olhou de forma penetrante para si mesma no espelho.
Então, ela disse muito lentamente: "Deus, eu te agradeço por ser eu mesma e nunca vou poder ser outra pessoa". Esse foi seu momento de liberação, de autoaceitação.
Ela compreendeu que, de acordo com o plano de Deus, ela era uma pessoa absolutamente única, um ser humano redimido por Cristo, que nunca poderia ser substituído ou duplicado. Você condena a si mesmo por não ser tão espiritual quanto desejaria?
Você vê a si mesmo como um discípulo de segunda categoria? Você queria ter os dons que outros cristãos têm, que parecem sem um modelo de oração, testemunho e serviço?
É claro que podemos melhorar em muitas coisas. Todavia o mais importante é sabermos que Jesus já nos aceitou e perdoou. Usemos o que somos, aquilo que temos, nossos dons, talentos, enfim, tudo para a glória de Deus!