Os semeadores da palavra: a chegada dos pioneiros que mudaram nossa nação – Estudo Bíblico sobre Denominações no Brasil

Texto básico: At 13.1-12

Introdução

Os primeiros evangélicos que vieram para o Brasil, a partir do Século XIX, eram anglicanos e luteranos, principalmente após a assinatura do "Tratado de Aliança e Amizade, e de Comércio e Navegação", que foi estabelecido com a Inglaterra, em 1810, no governo de D. João VI.

Pelo tratado acima referido, dava-se liberdade aos cidadãos ingleses e a outros estrangeiros para realizarem seus cultos, "quer dentro de suas casas particulares, quer nas suas particulares igrejas e capelas".

Estas, entretanto, na sua parte externa deviam ser casas comuns, e não era permitido o uso de sinos. A princípio, os cultos eram realizados na língua inglesa ou em alemão, conforme o caso, e as pessoas se reuniam a bordo dos navios de guerra ou nas casas.

Sem entrar em pormenores sobre aspectos interessantes de como o protestantismo ia fazendo sua penetração em nossa Pátria, faremos apenas referências breves sobre os primeiros grupos denominacionais que aqui se estabeleceram.

1. Grupos denominacionais

a) Luteranos.

Imigrantes alemães que se estabeleceram na vila de Nova Friburgo, Estado do Rio, vieram a constituir o primeiro grupo dessa denominação a se organizar em uma igreja, o que ocorreu em 3 de maio de 1824.

O segundo grupo de imigrantes luteranos estabeleceu-se no Rio Grande do Sul, em São Leopoldo, no começo do ano de 1824, sendo que outros colonos chegaram ao local chamado Rio dos Sinos, "onde hoje se ergueu um monumento comemorativo desse fato". São Leopoldo é o ponto de partida da expansão da obra luterana no sul do país.

Outras comunidades foram organizadas, como em Petrópolis (1845), São Paulo (1858), Juiz de Fora (1862), porém, o trabalho restringia-se aos membros da comunidade e a pregações feitas na língua alemã.

b) Congregacionais.

É a partir da metade do Séc. XIX, isto é, de 1855 em diante, que começa a existir realmente uma preocupação missionária. O Dr. Kalley e sua esposa, D. Sara, são os elementos usados por Deus para a realização de um magnífico trabalho em nossa Pátria.

O Dr. Kalley, médico e ministro da Igreja Livre da Escócia, havia trabalhado na Ilha da Madeira, de onde precisou fugir por causa de perseguições religiosas. Encontrava-se nos Estados Unidos, quando sentiu a necessidade de proclamar o Evangelho em nossa Pátria. Sabendo falar a língua portuguesa, estava em condições que facilitariam sua atuação como missionário.

Estabeleceu-se em Petrópolis, em 1855, onde a 19 de agosto foram iniciadas as aulas bíblicas dominicais, com a presença de cinco crianças.

Não se pode esquecer a grande contribuição dada pelo Dr. Kalley e D. Sara no que diz respeito aos hinos evangélicos entoados no Brasil, no idioma nacional.

Foi através do esforço desse casal que veio a ser publicado o primeiro hinário evangélico brasileiro: Salmos e Hinos, cujos hinos foram e continuam a ser fonte de inspiração para milhares de almas.

O trabalho desenvolvido pelos pioneiros da obra congregacional em muito contribuiu para a difusão da Bíblia e das doutrinas cristãs, no cumprimento à ordem de Cristo: "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura" (Mc 16.15).

c) Metodistas.

Houve um primeiro esforço missionário entre os anos de 1835 e 1841, quando aqui estiveram para os contatos iniciais o Rev. Fountain E. Pitts e, depois, o Rev. Justin Spaulding, chegando-se a organizar algum trabalho no Rio de Janeiro, chegando a ser organizada uma Escola Dominical com trinta alunos, incluindo-se algumas crianças brasileiras.

Outro missionário que se destacou e que, além do Rio, visitou vários estados, com o propósito de difundir a Bíblia em português, pois era correspondente da Sociedade Bíblica Americana, foi o Rev. Daniel P. Kidder.

Mas a obra metodista sofreu uma interrupção e somente depois da Guerra de Secessão, nos Estados Unidos, o trabalho veio a ser reiniciado com metodistas que tinham se estabelecido em Santa Bárbara, no interior de São Paulo, sob a liderança do Rev. Junius E. Newman, organizando-se a primeira Igreja Metodista no Brasil, em agosto de 1871.

d) Batistas.

Atendendo a pedidos de colonos batistas que tinham se fixado no interior de São Paulo, a Junta de Richmond enviou, em 1881, o casal de missionários William Bugby e sua esposa. Aprenderam o português com os presbiterianos, em Campinas, e foram cuidar de duas igrejas em Santa Bárbara.

Mas as bases do trabalho batista e o ponto para o desenvolvimento de suas atividades foi Salvador, na Bahia, de onde a obra se expandiu para outros lugares de nosso país.

A primeira Igreja Batista nacional foi organizada em 15 de outubro de 1882, com cinco membros, na capital da Bahia, e as pregações se faziam no idioma nacional.

2. Presbiterianismo

Dando um destaque maior ao estudo do trabalho presbiteriano, diremos que o despertamento missionário ocorrido no século passado determinou a vinda de um jovem pastor, Rev. Ashbel Green Simonton deixando as facilidades que poderia desfrutar em sua terra, ele desembarcou no Rio de Janeiro, a 12 de agosto de 1859, tão somente movido pela paixão missionária e iniciar, com a graça de Deus, a grandiosa tarefa de implantação da Igreja Presbiteriana no Brasil.

A. L. Blackford, em 1860, e Francis J. Christofer Schneider, em 1861, vieram somar esforços junto ao pioneiro presbiteriano. Mais tarde, dá também sua grande contribuição o Rev. Chamberlain, que, embora não tivesse vindo como missionário, aqui foi ordenado e se dedicou com entusiasmo à obra de evangelização.

Quando se deu a conversão do ex-padre José Manuel da Conceição e sua posterior ordenação (foi o primeiro presbiteriano brasileiro a ser ordenado, ministro), este, na sua preocupação evangelizadora, visitou muitos lugares, onde anunciou o

Evangelho, como se poderá ler no livro do Rev. Boanerges Ribeiro: "O Padre Protestante".

Simonton, em apenas 8 anos, realizou um trabalho notável, pois em tão curto espaço de tempo conseguiu organizar uma Escola Dominical, a 1ª Igreja Presbiteriana, no Rio (1862), fundar o primeiro jornal (Imprensa Evangélica), dado à publicidade em 5 de novembro de 1864, organizar um presbitério e criar um seminário. Publicou sermões e poesias.

Ampliando o campo de ação, visitou São Paulo, Campinas, Itu, Rio Claro, Sorocaba e outros pontos, estabelecendo nesses lugares depósitos de Bíblias. Faleceu aos 34 anos, de febre amarela, em São Paulo.

Depois das igrejas do Rio e de São Paulo, são consideradas igrejas pioneiras as de Brotas, Lorena, Borda da Mata e Sorocaba. O trabalho foi-se irradiando para outros lugares e dando os seus frutos. Poderíamos dizer que, em meio às lutas e dificuldades, "acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos" (At 2.47).

3. A cisão, em 1903

Vicente Themudo Lessa escreveu que 1903 foi "ano sombrio". Nos concílios e pela imprensa discutia-se o problema do relacionamento dos missionários com a igreja nacional, falava-se da incompatibilidade ou da inconveniência de o crente filiar-se à maçonaria e havia também outros assuntos de natureza eclesiástica que criaram um clima de agitação.

Quando se reuniu o Sínodo, convocado para o dia 28 de julho, na Igreja Unida, em São Paulo, havia uma certa "tensão" com relação aos assuntos a serem tratados. No dia 31, ao ser votada a "moção Gamon", deu-se o fato de a parte vencida retirar-se do plenário, indo reunir-se no templo da rua 24 de Maio.

O grupo dissidente veio a constituir a Igreja Presbiteriana Independente. Atravessou a Igreja Presbiteriana uma fase amarga. Com o passar dos anos, voltou a paz e as duas alas, embora separadas, prosseguiram no mesmo propósito de servir à causa do Senhor.

Conclusão

No fim do século passado, podia-se constatar que grandes progressos tinham sido feitos. A obra iniciada por Simonton tinha bases seguras e o avanço era animador.

Centenas de igrejas e congregações, escolas e colégios, seminário, vários presbitérios, o Sínodo, diversos jornais, tudo indicava que o presbiterianismo era uma realidade vitoriosa. Graças a Deus!

Autor: Rev. Walder Steffen


Lista de estudos da série

1. O elo perdido da sua fé: por que conhecer a história fortalece sua doutrina – Estudo Bíblico sobre Doutrina e História

Semeando Vida

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