O mistério revelado: decifrando a doutrina da Trindade nos primeiros séculos – Estudo Bíblico sobre a Trindade

Texto básico: Mt 3.16,17

Introdução

O fundamento da doutrina apostólica da Trindade estava na fórmula batismal (Mt 3.16,17; 28.19), na doxologia de 2 Co 13.13 e no conhecimento da doutrina do Verbo (Logos) do apóstolo João. Veja 1 Jo 5.5-9.

Não havia ainda uma formulação sistemática da doutrina da Trindade. Todos os crentes apostólicos criam nela. Parece-nos que havia paz na igreja quanto a esse assunto.

Mas os anos foram passando e, com o aparecimento das dúvidas, as heresias foram crescendo. Era preciso que a igreja tomasse uma posição e formulasse a doutrina bem embasada nas Escrituras para tratar dos problemas emergentes.

As questões eram as seguintes: "Como Cristo e o Espírito estavam relacionados com Deus?" Os cristãos estavam seguros de que Deus era UM. De alguma forma os cristãos também estavam seguros de que Cristo era tanto homem como Deus, e que o Espírito vinha da parte de Deus.

Como, então, conciliar essas dificuldades, sendo que eles criam apenas num só Deus? Como conciliar as convicções?

E a luta começava a crescer no cristianismo dos primeiros séculos a respeito desses problemas. Grande controvérsia foi levantada e ela continuou até o 5.° século.

A história antiga da doutrina da Trindade mostra que a fé cristã pode existir sem uma formulação científica e técnica de uma doutrina. A formulação da doutrina da Trindade surgiu como necessidade com o aparecimento das heresias.

Devemos dar graças a Deus porque, pelo surgimento das heresias, a igreja cristã firmou-se na sã doutrina. A formulação das doutrinas apareceu nos concílios. O 1.° concílio geral da igreja, o de Nicéia em 325, tratou do problema da Trindade com profundidade, mas foi em Constantinopla, em 381, que a doutrina tomou forma final.

1. Heresias

a) Monarquianismo

("mono" + "arche" = um princípio - um só Deus e uma só Pessoa). O historiador J.C. Ayer definiu-o assim: "O monarquianismo é um termo geral usado para incluir todas as tentativas sem sucesso, dentro da igreja, no sentido de explicar o elemento divino em Cristo sem fazer violência à doutrina da unidade de Deus". Portanto, todo monarquianista era unitário, isto é, salientava a unidade de Deus e negava toda e qualquer ideia de diversidade no Ser divino.

O monarquianismo também era conhecido nas igrejas do Ocidente como PATRIPASSIANISMO. De um modo geral os patripassianos criam numa espécie de divindade de Jesus Cristo, não em termos absolutos, mas asseveravam que a doutrina das três pessoas era irreconciliável com a unidade de Deus. Para os patripassianos Deus era somente Uma divina pessoa.

Um dos representantes do patripassianismo foi Práxeas (Roma ± 200 AD). Ele foi adversário de Tertuliano (o grande defensor da Trindade). Práxeas sustentava que o Pai desceu sobre a virgem Maria, nasceu dela, sofreu, e o próprio Pai era Jesus Cristo. A característica principal dos patripassianos era identificar o Filho com o Pai, sem nenhum tipo de distinção real.

Este ensino errôneo trouxe sérias consequências: quem morreu na cruz foi o próprio Pai. Essa heresia repetiu-se posteriormente, e a última grande manifestação contemporânea dela foi o surgimento da "Teologia da Morte de Deus", na década de 60.

b) Monarquianismo modalista

Uma espécie bem diferente da primeira. Este tipo de monarquianismo teve como expoente máximo Sabélio (250-260), um presbítero de Ptolemais. Os modalistas criam no Pai, Filho e Espírito Santo, mas não como pessoas distintas, e sim como modos de manifestação ou modos de revelação. Daí o nome modalistas.

Os que criam assim negaram Jesus e o Espírito como pessoas, com receio de violentar a unidade de Deus. Para Sabélio, Deus se expande como o PAI, que se contrai em si mesmo e se torna o FILHO, assim como o ESPÍRITO. Esse movimento herético também é conhecido como "SABELIANISMO".

Percebam que alguns crentes têm sustentado uma posição semelhante com relação à Trindade. Eles têm crido, talvez sem perceber, em três modos de a mesma pessoa se manifestar, e não em três pessoas distintas, mas da mesma essência, subsistindo no mesmo Deus.

Não podemos negar que o Deus da Bíblia é TRIPESSOAL. A Escritura mostra isso claramente, embora seja difícil compreender com a nossa mente finita como três pessoas subsistem no mesmo Deus. Lembremos que usamos palavras humanas para expressar realidades divinas.

c) Monarquianismo dinâmico

Os desse grupo eram conhecidos também como HUMANITARIANOS. Eles negavam a divindade de Cristo, dizendo que Ele era meramente humano. Quando se nega a divindade de Jesus, nega-se também a Trindade. Se Cristo não tem a mesma essência divina, logo não é Deus. Se Cristo não é Deus, desfaz-se a Trindade.

O mais famoso representante dessa escola herética de pensamento foi Paulo de Samosata (250-336), personagem que estudaremos com mais detalhes quando estudarmos a PESSOA DE CRISTO.

3. Doutrina bíblica da Trindade

Numa forma bastante resumida tentaremos estudar esta difícil, mas preciosa doutrina:

1. Nosso Deus é UM - não há mais de um Deus.

No VT está afirmado claramente isso. Foi o próprio Deus quem o disse (Is 43.10,11; 44.6,8; 45.5,6; 47.4; 49.7,26).- Note que as expressões citadas, referentes ao único Deus, são usadas com referência a Jesus no NT - "Salvador", "Redentor", "sou o primeiro e o último", etc. Trata-se do mesmo Deus, mas de duas pessoas distintas: Pai e Filho.

No VT Yahveh habita em Israel e nos corações daqueles que O temem (Sl 135.21; Is 8.18; 57.15; Ez 43.7-9; Jl 3.17,21; Zc 2.10,11). No NT é o Espírito Santo que habita no povo de Deus (At 2.4; Rm 8.9,11; 1 Co 3.16; Gl 4.6, etc.). Trata-se do mesmo Deus que habita, mas de duas pessoas distintas: Pai e Espírito.

2. Nosso Deus é TRI-PESSOAL

Ele subsiste em 3 pessoas chamadas: Pai, Filho e Espírito Santo. Elas aparecem juntas em alguns textos exercendo funções próprias:

  • Observe as três pessoas distintas no Batismo do Filho - Mt 3.16,17.
  • Observe-as na Grande Comissão - Mt 28.19.
  • Observe-as na Bênção Apostólica - 2 Co 13.13.
  • Observe-as na obra completa da salvação - 1 Pe 1.2.
  • Observe-as na distribuição dos dons - 1 Co 12.4-6.
  • Observe-as na mensagem joanina - 1 Jo 5.5-9.

3. Jesus Cristo usa expressões próprias de uma conversa entre duas pessoas.

Há expressão "Eu" e "Tu" na conversa entre o Filho e o Pai - Mt 11.25,26; 26.39; Jo 11.41; 17.1, etc. Do mesmo modo o Pai fala com o Filho - Mc 1.11; Lc 13.22; 9.35; Jo 12.28. São as comunicações entre as pessoas subsistentes no mesmo Deus.

4. Provas de que o Filho é Deus assim como o Espírito, veremos nas lições subsequentes.

5. São abundantes as provas de que o Pai e o Filho e o Espírito são pessoas (verifique nas próximas lições).

Conclusão

Conheça essa doutrina até onde a Escritura a revela. Ela é bastante profunda, mas Deus no-la revelou para que a conhecêssemos. Estude a Escritura acuradamente e veja ao mesmo tempo quão misterioso e insondável, quanto belo e grandioso é o Deus. Conheça dele o que Ele revela de Si mesmo, e você se sentirá cada vez

mais honrado em ter um Deus cuja natureza que vai além da sua compreensão, mas que, ao mesmo tempo, compadece-se de você e manda Seu próprio Filho para redimir você.

Lembre-se de que o Deus Tripessoal, o Deus Trino, salvou você: O Pai escolheu-o do meio de uma raça decaída. O Filho morreu em seu favor.

O Espírito aplicou a obra da redenção ao seu coração. A Trindade bendita, insondável, incomparável fez isto por você. Bendiga o seu Deus Triúno.

Autor: Rev. Heber Carlos Campos


Lista de estudos da série

1. O elo perdido da sua fé: por que conhecer a história fortalece sua doutrina – Estudo Bíblico sobre Doutrina e História

Semeando Vida

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