Texto básico: 1 Jo 2.20; 4.2
Introdução
A doutrina da Pessoa do Espírito Santo sempre esteve ligada, de alguma forma, à obra da salvação, à Trindade, à inspiração, etc. A Pessoa do Espírito Santo sempre foi aceita pela igreja desde as épocas mais antigas como uma verdade básica, em conexão com a fórmula batismal. Sempre os verdadeiros cristãos creram e confessaram a pessoalidade e a divindade do Espírito Santo.
O Credo, chamado Apostólico, evidencia isso quando diz: "Eu creio no Espírito Santo". Pelos verdadeiros cristãos a doutrina do Espírito nunca foi refutada, mas à semelhança das outras doutrinas, também ela recebeu oposição séria por parte de alguns grupos, como veremos abaixo:
I. Erro doutrinário ligado à pessoa do Espírito Santo
A personalidade do Espírito Santo foi negada pelos monarquianos (vide lição 4). Todos os monarquianos tinham tendência anti-trinitárias. Eram Unitários, isto é, criam que Deus era uma só Pessoa, e não um Deus Tri-Pessoal.
Havia uma espécie de monarquianos chamados "modalistas" que criam na divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, mas não criam que eles eram três pessoas distintas. A crença deles era que o mesmo Deus se manifestava ora como Pai, ora como Filho e ora como o Espírito.
Eram três modos de manifestação da mesma pessoa (daí o nome "modalistas"). Fazendo assim, negavam que o Espírito Santo fosse uma pessoa distinta, tornando-o apenas um modo de manifestação de Deus.
Esse tipo de monarquianismo modalista encontrou expressão por volta do ano 200 AD com Práxeas na Ásia Menor. Mas o expoente maior desse movimento foi Sabélio, um presbítero de Ptolemais, por volta de 218 AD. O modalismo também ficou sendo conhecido como sabelianismo.
Obs.: Há muitos crentes no meio evangélico que refletem este tipo de modalismo. Eles têm dificuldade em crer que Deus subsiste em três pessoas distintas e, então, caem neste pensamento errôneo.
II. Erros doutrinários ligados à divindade do Espírito Santo
1. A divindade do Espírito Santo foi negada pelos arianos no 4.° século.
ÁRIO, presbítero de Alexandria (± 318 AD), contra todas as evidências bíblicas, sustentou que o Pai deu origem ao Filho pelo "fiat" da criação, e que o Espírito era criatura de uma outra criatura (o Filho).
Ário não atacou abertamente a divindade do Espírito, mas negou que o Espírito fosse eterno, tendo sido criado pelo Filho que, por sua vez, também era criatura do Pai. Fazendo assim, Ário negou que o Espírito era da mesma essência do Pai, da mesma natureza divina.
2. A divindade do Espírito Santo foi negada pelos macedonianos (por causa de Macedónio, bispo de Constantinopla, 342 AD).
Os macedonianos também eram conhecidos como "semi-arianos". Eles concediam relativa divindade ao Filho, mas negavam qualquer atribuição de divindade ao Espírito. Para Macedónio, o Espírito era apenas um ministro ou servo da Divindade. Ele afirmava expressamente que o Espírito era uma criatura.
a) Macedónio sustentava que o Espírito como uma criatura derivou sua vida de Cristo, baseando-se falsamente em Jo. 1.3 - "... todas as coisas foram feitas por intermédio dele (Jesus), e sem ele nada do que foi feito se fez".
b) Os macedonianos argumentavam que se o Espírito fosse Deus verdadeiro, Ele devia ser gerado ou não-gerado: Se Ele fosse não-gerado (ou incriado) haveria dois seres não-originados (que não tiveram origem), a saber, o Pai e o Espírito; Se ele fosse gerado, Ele teria que ser gerado do Pai ou do Filho.
Se fosse gerado do Pai haveria dois Filhos e, consequentemente, Ele seria irmão do Filho o que resultaria num problema: Quem é o mais velho? ou seriam ambos gêmeos? - Por outro lado. se o Espírito é gerado do Filho, então o Espírito seria uma espécie de neto de Deus.
Com isto os macedonianos tentavam mostrar que o Espírito não era da mesma essência de Deus, mas criado, portanto, não divino.
c) Atacando a divindade do Espírito apelavam para o fato de que as Escrituras nunca ordenam a adoração do Espírito. Este foi um de seus principais argumentos, como também o foi dos unitários em tempos posteriores.
Obs.: O arianismo foi condenado no primeiro concílio geral da igreja em Nicéia (325 AD) e o macedonianismo no segundo concílio geral, em Constantinopla (381 AD).
III. Erros doutrinários ligados à processão ou espiração do Espírito Santo
Os arianos negavam que o Filho fosse da mesma essência do Pai. Depois sustentaram que tudo, exceto o Pai, era criação do Filho. Portanto o próprio Espírito era uma criação do Filho. Os macedonianos (ou semi-arianos) foram assim obrigados, de acordo com os seus princípios, a negar que o Espírito procedia do Pai, porque isto envolveria Sua participação na essência divina.
Obs.: A questão da Processão do Espírito foi decidida finalmente no Sínodo de Toledo, em 589.
III. Doutrina bíblica sobre a pessoa do Espírito Santo
1. O Espírito Santo é uma pessoa
A Escritura atribui ao Espírito características exclusivas de uma pessoa: Mente (1 Co 2.10,11; Jo 14.26; Rm 8.27 - Vontade - At 16.7; 1 Co 12.11 - Emoções - Ef 4.30; Is 63, 10.
O Espírito também realiza outras coisas próprias de uma pessoa: intercede (Rm 8.26; ressuscita (Rm 8.11); testifica (Rm 8.16); ensina (Jo 14.26); faz companhia aos homens (Jo 14.16); convence Jo 16.8); ordena (At 8.29), etc.
Um poder (ou uma força) não é capaz de fazer estas coisas, como ensinam os modernos heresiarcas as "Testemunhas de Jeová", negando a pessoalidade do Espírito Santo.
O Espírito Santo não é um modo de manifestação de Deus, como ensinavam os monarquianos, mas a 2. Pessoa da Trindade, com características marcantemente pessoais.
2. O Espírito Santo é uma pessoa divina
Muitos criam que o Espírito era uma pessoa, mas nem todos criam que Ele era divino, mas sim uma pessoa criada, inferior ao Pai.
A Escritura atribui ao Espírito não simplesmente características pessoais, mas divinas:
- O Espírito é Onipotente - Rm 15.19; 1 Co 12.11; Gn 1.2 (criação).
- O Espírito é Onipresente - Sl 139.7-10.
- O Espírito é Onisciente - Is 40.13,14 (cf. Rm 11.34); 1 Co 2.10,11.
- O Espírito é Eterno - Hb 9.14.
A Escritura diz claramente que o Espírito é uma Pessoa Divina. Leia At 5.1-11 - A mentira é sempre a alguém e não a alguma coisa; a uma Pessoa e não a uma força (ou energia).
Ananias mentiu a uma Pessoa, ao Espírito Santo (v. 3). Logo em seguida, no v. 4, referindo-se à mentira ao Espírito, Pedro disse a Ananias: "Não mentiste aos homens, mas a Deus". Esta é uma afirmação inequívoca de que o Espírito Santo é o próprio Deus. É por isso que Ele é chamado o "Espírito de Deus" (exemplo: 1 Co 3.16).
3. O Espírito Santo é uma pessoa que PROCEDE eternamente do Pai e do Filho
É um pouco difícil descrever o quer seja a processão (ou espiração) do Espírito. A Bíblia não define essa terminologia, mas os textos evidenciam que o Espírito procede de Deus. O Espírito é espirado ou exalado, porque este é o significado do nome Espírito.
Lembre-se de que quando o Espírito procede do Pai e do Filho, não quer dizer que Ele seja inferior a Eles. O segredo está no fato de que o Espírito foi eternamente espirado.
Nunca houve tempo quando o Espírito não tenha sido espirado. Ele tem coexistido eternamente com o Pai e o Filho. Quando dizemos que o Espírito procede do Pai e do Filho, não implica que Ele seja menos Deus do que Eles.
a) O Espírito procede do Pai - Jo 15.26.
b) O Espírito procede do Filho - É o Filho quem O envia e esse mesmo Espírito é chamado de "o Espírito de seu Filho" (Gl 4.6; Fp 1.19). Em Rm 8.9 é dito que o Espírito do Pai é o Espírito do Filho. Portanto se o Espírito é do Filho, aquele procede deste.
Conclusão
É muito importante que tenhamos uma ideia correta da Pessoa do Espírito. Do contrário, haveremos de ser levados, ainda hoje, pelos "ventos de doutrina, pela artimanha dos homens" que procuram enganar-nos com suas vãs subtilezas.
Conheçamos a verdade não simplesmente com um conhecimento intelectual, mas conheçamo-la duma forma pessoal, numa experiência cada vez mais viva com o Senhor, o Espírito, que procede do Pai e do Filho.
Devemos agradecer a Deus a revelação preciosa de Sua Palavra que, inspirada pelo próprio Espírito, nos tem dado material suficiente para que compreendamos as verdades a respeito da Trindade, da Pessoa de Cristo e da Pessoa do Espírito. E não só nos dá material para conhecimento, mas também é instrumento de vida, da Palavra viva de Deus.
Autor: Rev. Heber Carlos Campos