O fundamento inabalável: as doutrinas que a primeira igreja defendeu com a vida – Estudo Bíblico sobre a Igreja Primitiva

Texto básico: 1 Timóteo 6.3-5

"Chega de doutrina!", dizia um pregador. E a igreja aplaudia. Um presbítero, referindo-se a um pastor, disse:

"O Rev. é o obreiro ideal para a nossa igreja; pois ele é um pastor que não está preocupado com doutrina!".

Infelizmente, algumas igrejas estão tomadas de grande aversão pela doutrina.

Mas a igreja apostólica tinha uma estratégia diferente. Os apóstolos encheram Jerusalém de sua doutrina (At 5.28). Os crentes "perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações" (At 2.42).

O apóstolo Paulo rendia graças a Deus pelos crentes de Roma que, de coração, vieram a obedecer à forma de doutrina que receberam (Rm 6.17). E ao escrever a Timóteo, seu filho na fé, advertiu-o: "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina" (1 Tm 4.16).

Timóteo devia continuar a alimentar-se "com as palavras da fé e da boa doutrina" (1 Tm 4.6). A Tito, jovem ministro, Paulo escreveu: "Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina" (Tt 2.1). O apóstolo João afirmou que "Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece, não tem Deus" (2 Jo 9).

E o apóstolo Paulo foi mais veemente ainda, quando disse: "Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles" (Rm 16.17).

1. O doutrinamento apostólico

Jesus havia ordenado aos discípulos: "Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado" (Mt 28.19,20).

Eles haviam acompanhado Jesus durante todo o tempo, tinham aprendido dele e com Ele e eram testemunhas da Sua ressurreição.

1 Jo 1.1,3
O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida, o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós igualmente mantenhais comunhão conosco.

2 Pe 1.16-18
Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, segundo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade, pois ele recebeu, da parte de Deus Pai, honra e glória, quando pela Glória Excelsa lhe foi enviada a a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. Ora, esta voz, vinda do céu, nós a ouvimos quando estávamos com ele no monte santo.

Os apóstolos estavam, portanto, aptos para ensinar. E eles eram conscientes disto. Eles mesmos reconheciam que os seus ensinos e escritos estavam em pé de igualdade com "as demais Escrituras" (2 Pe 3.16).

Sua doutrina era, portanto, inspirada pelo Espírito Santo. "Disto também falamos", declarou o apóstolo Paulo, "não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo cousas espirituais com espirituais" (1 Co 2.13).

Por isto davam mandamento em nome do Senhor (1 Co 1.10; 14.37; 2 Co 5.20; 2 Ts 3.6). "De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio" (2 Co 5.20).

A palavra e os escritos dos apóstolos têm a mesma autoridade da palavra e dos escritos dos profetas do Antigo Testamento. Mas os apóstolos eram mais do que atalaias e embaixadores: eram pastores.

Sua mensagem era, por isto, mais direta, mais pessoal e mais dosada de amor. "Não vos escrevo estas cousas para vos envergonhar; pelo contrário, para vos admoestar como a filhos meus amados. Porque ainda que tivésseis milhares de preceptores em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; pois eu pelo evangelho vos gerei em Cristo Jesus" (1 Co 4.14,15).

2. A doutrina dos apóstolos

O livro dos Atos dos Apóstolos registra que os convertidos "perseveravam na doutrina dos apóstolos" (At 2.42). Mas não especifica o conteúdo desta doutrina. Afinal, de que era constituída a doutrina dos apóstolos?

Os apóstolos ensinavam que Deus é o criador de todas as coisas visíveis e invisíveis (At 17.24). Todas as coisas foram criadas por intermédio de Jesus Cristo (Jo 1.3). E todas as coisas, tanto as dos céus quanto as da terra, hão de convergir nele (Ef 1.10). Jesus é o Messias prometido (Jo 1.41). No tempo próprio (Gl 4.4), Ele nasceu de uma virgem (Mt 1.18-25; Lc 1.26-35).

Foi rejeitado pelos Seus (Jo 1.11), que O crucificaram (At 2.36). Mas Deus O ressuscitou (At 2.32) e O exaltou à Sua destra (At 5.31; Fp 2.9). Ele é o único que pode salvar (At 4.12). Sem Cristo, o homem está perdido (Rm 3.9-18,23). Mas aquele que recebe a Cristo é nova criatura (2 Co 5.17).

Está salvo (Ef 2.1-9). Nada poderá separá-lo do amor de Deus que está em Cristo (Rm 8.31-39). Agora salvo pela graça, mediante a fé em Cristo, o homem tem paz com Deus (Rm 5.1,2). Está livre da maldição da lei (Gl 3.13) e glorifica a Deus (1 Co 6.20).

At 17.30,31
Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos em toda parte se arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos.

Jesus virá pela segunda vez (2 Pe 3.9-12). Os mortos ressuscitarão (1 Co 15.1-49) e os vivos serão transformados (1 Co 15.51,52; 1 Ts 4.15-17). Todos comparecerão diante do tribunal de Cristo (Rm 14.10; 2 Co 5.10). E os salvos reinarão para sempre com o Senhor (1 Ts 4.17).

3. As heresias combatidas pelos apóstolos

Os que aderiam ao cristianismo procediam do judaísmo ou do paganismo. Eles tinham os seus próprios conhecimentos e experiência. Muitos renunciavam inteiramente à vida antiga e assumiam a nova vida. Mas alguns insistiam em viver e pensar como antes. Estas pessoas procuravam dar a sua própria interpretação da doutrina cristã. Daí surgiram as heresias.

Que é heresia? É uma doutrina diferente daquela que está sendo ensinada oficialmente. No caso específico que estamos estudando, heresias eram as doutrinas diferentes da doutrina dos apóstolos.

a) Os judaizantes

A mais antiga heresia conhecida na história da Igreja foi a dos judaizantes. Esta doutrina consistia no seguinte:

Havia judeus convertidos ao cristianismo que continuavam crendo que a salvação era só para os judeus. Julgavam que nenhum gentio poderia participar de tão elevado privilégio. E ensinavam que o gentio, para ser admitido na Igreja, devia primeiro se fazer judeu; isto é, devia ser circuncidado e guardar a lei.

A primeira reunião de Presbitério de que temos notícia foi feita para estudar e deliberar sobre a heresia dos judaizantes.

At 15.1,2,6
Alguns indivíduos que desceram da Judéia, ensinavam aos irmãos: Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos. Tendo havido, da parte de Paulo e Barnabé, contenda e não pequena discussão com eles, resolveram que esses dois e alguns outros dentre eles subissem a Jerusalém, aos apóstolos e presbíteros, com respeito a esta questão. Então se reuniram os apóstolos e os presbíteros para examinar a questão.

O Presbitério tomou a seguinte deliberação:

At 15.28,29
Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas cousas essenciais: Que vos abstenhais das cousas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue e das relações sexuais ilícitas; destas cousas fareis bem se vos guardades.

A Epístola de Paulo aos Gálatas, provavelmente o primeiro livro do Novo Testamento a ser escrito, teve como objetivo combater a heresia dos judaizantes.

b) Os antinomianos (contrários à lei)

O antinomianismo é uma heresia que surgiu muito cedo na Igreja. Em síntese, esta heresia ensina o seguinte:

Visto que Cristo cumpriu toda a lei, o cristão vive sob a graça e não tem nenhuma obrigação de guardar a lei moral. A lei está morta. Para o cristão não há nada proibido: ele pode fazer o que quiser. Quanto maior o pecado, maior a oportunidade para a aplicação da graça divina.

Judas, em sua epístola, afirmou que tais pessoas "transformam em libertinagem a graça de nosso Deus, e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo" (Jud 4). E Paulo, na Epístola aos Romanos, trata

O assunto nos seguintes termos:

Rm 6.1,2,15,16
Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum. Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos? E daí? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da lei, e, sim, da graça? De modo nenhum. Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?

Acrescenta que o crente foi libertado do pecado e feito servo da justiça (Rm 6.17,18).

c) Os gnósticos

O termo "gnosticismo" vem do grego "gnosis", que significa: conhecimento, o saber, ciência. Segundo os gnósticos, a sua doutrina estava baseada numa sabedoria mística, sobrenatural, que levava os iniciados a adquirirem o verdadeiro conhecimento. Havia muitas seitas gnósticas; e cada uma tinha doutrinas diferentes. Em síntese, podemos dizer que os gnósticos ensinavam o seguinte:

O espírito é bom, e a matéria totalmente má. Deus, para ter contato com o mundo e com a humanidade, tem de operar mediante seres inferiores ou deuses menores. Jesus é um desses deuses menores. Assim, Jesus não é Deus e nem é homem. É apenas um fantasma, com aparência de homem.

João, em seu evangelho e nas suas três epístolas, combate veementemente os gnósticos. Ele mostra que Jesus é verdadeiramente Deus (Jo 1.1; 10.30; 14.9; 1 Jo 5.20) e verdadeiramente homem (Jo 1.14; 4.6; 1 Jo 1.1-3). Aquele que negar a divindade ou a humanidade de Cristo é anticristo e falso profeta (1 Jo 2.22-24; 4.1-3; 2 Jo 7).

Os apóstolos estavam atentos contra as doutrinas de homens ou de Satanás. E tudo faziam para preservar a pureza doutrinária da Igreja. Aos gálatas, Paulo escreveu: "Mas, ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema" (Gl 1.8).

Autor: Adão Carlos F. Nascimento


Lista de estudos da série

1. O elo perdido da sua fé: por que conhecer a história fortalece sua doutrina – Estudo Bíblico sobre Doutrina e História

Semeando Vida

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