Introdução
Nos primeiros decênios do século XX, as várias denominações evangélicas tradicionais procuraram fortalecer as suas bases e estender a obra iniciada pelos pioneiros do evangelismo pátrio.
Muitas localidades foram alcançadas, tanto nos estados do sul como do norte, do leste e do oeste. Templos foram edificados, igrejas organizadas, cresceu o número de obreiros (nacionais e estrangeiros), conversões e batismos tornaram-se mais comuns e numa proporção animadora.
As distâncias a serem percorridas, as dificuldades de transporte e a oposição feita por parte do clero e de elementos fanáticos não diminuíram o entusiasmo daqueles que, em obediência ao "Ide", procuraram anunciar o Evangelho pelos rincões de nosso país.
No campo presbiteriano, apesar da "cisão" ocorrida em 1903, criando um mal-estar entre as igrejas e os grupos que se colocaram em lados opostos, os ânimos foram serenados com o correr do tempo. Tanto de uma parte como de outra, os "exageros" em que muitos incorreram devem ser creditados ao contexto da situação eclesiástica daqueles dias que já vão distantes.
Homens que amavam a causa do Senhor e dotados de excelentes qualidades, tinham também suas fraquezas, pois eram "vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus..." (2 Co 4.7).
Como escreveu o Rev. Júlio A. Ferreira, "o movimento de 'separação' abalou, mas não impediu a marcha da Igreja".
Como exemplo, o referido historiador cita o fato de que, em 1904, por ocasião da reunião do Presbitério do Sul (hoje desdobrado em outros) em Florianópolis, o Rev. Lenington apresentou no seu relatório o recebimento de 76 pessoas por profissão de fé, o Rev. Landes 48, e o Rev. Bickerstaph 36.
Longe iríamos se fosse possível contar da marcha do trabalho em tantos lugares como no Rio, São Paulo, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte, e outros.
1. Breve retrospecto
Em se tratando da IPB, que mais de perto nos interessa, numa estatística publicada em 1906, mencionava-se a existência de 77 igrejas com 6.034 membros comungantes, num total de 6 presbitérios, mas faltavam informações de 15 igrejas.
Grande foi a contribuição que tiveram na preparação dos ministros que vieram a servir à igreja os Seminários do Norte e do Sul. O do Norte iniciou suas atividades em Garanhuns, transferindo-se mais tarde para Recife.
O do Sul começou a funcionar em Nova Friburgo, transferindo-se depois para São Paulo, onde funcionava o Instituto Teológico. Posteriormente, veio a ser instalado em Campinas, por decisão do Sínodo, em 1908, sendo que a reabertura das aulas se deu em 01 de fevereiro de 1907.
Além desses dois seminários que, por longos anos, vêm servindo à igreja, temos hoje, em São Paulo, o Seminário "José Manuel da Conceição", que vem preparando uma boa turma de obreiros para o exercício do ministério sagrado, contando-se ainda outros cursos que funcionam em vários lugares, facilitando o preparo daqueles que buscam atender ao imperativo de sua vocação.
Várias instituições de ensino, como o Mackenzie (Universidade e cursos de 1.º e 2º graus), em São Paulo, o Instituto Gammon, em Lavras, o Instituto "15 de Novembro", em Garanhuns (PE), o Colégio Evangélico "Agnes Erskine", no Recife, o de Patrocínio (MG) e muitos outros constituem presença marcante no desenvolvimento cultural, moral e espiritual de grande parte da juventude brasileira e que honram o evangelismo pátrio!
O primeiro jornal evangélico a ser publicado no Brasil, "A Imprensa Evangélica", fundado por Simonton em 1864, teve uma duração de quase 28 anos.
Foi de um valor muito grande na difusão das verdades bíblicas e para informação às igrejas.
Muitos outros surgiram depois, mas alguns tiveram duração efêmera ou foram substituídos, como no caso de "O Puritano" e do "Norte Evangélico", vindo em lugar dos mesmos o "Brasil Presbiteriano". Jornal de grande penetração e que muito tem contribuído para a obra de evangelização é "O Evangelista", fundado por John Boyle e que ainda continua a ser publicado, tendo a sua sede no IBEL, em Patrocínio, Minas.
Devemos lembrar que, no aspecto social, teríamos muita coisa que dizer sobre hospitais, orfanatos, abrigos, ambulatórios, etc., demonstrando que a obra presbiteriana visava também a minorar os sofrimentos físicos e a socorrer os necessitados no espírito do bom samaritano.
2. Cooperadores de Deus
Paulo, referindo-se à situação existente na igreja de Corinto, onde o Evangelho fora anunciado por vários "servos" de Deus a começar pelo apóstolo dos gentios, desejava que houvesse a compreensão exata da importância e do desempenho de cada um na obra do Senhor.
Se alguns apreciavam a obra de Paulo, enquanto que outros a de Apolo, e ainda outros a de Cefas, o fato é que todos eram cooperadores de Deus, "de modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, Mas Deus que dá o crescimento" (1 Co 3.7).
Numa ligeira apreciação sobre os homens que deixaram as marcas de sua passagem, na história do presbiterianismo, salientamos os nomes de
- Simonton, o pioneiro, por sua visão e esforço missionário;
- Schneider e Blackford, no companheirismo e dedicação no trabalho;
- Chamberlain, pela sua fidelidade e consagração;
- José Manuel da Conceição, pela sua coragem, desprendimento e preocupação evangelística;
- John R. Smith, o pioneiro do Nordeste e ilustre professor no seminário; de Butler, "médico amado" e pregador incansável;
- Henderlite,
- Jerônimo Gueiros
- Eduardo Carlos Pereira
- Wadell
- Erasmo Braga, o grande educador
- Álvaro Reis, o notável pastor
- Alva Hardie
- Samuel Gammon
- Karlota Kemper
- Cecília Siqueira
- Lenington (pai e filho)
- Filipe Landes
- Herculano de Gouvêa (pai e filho)
- Matatias G. dos Santos... e tantos outros.
Impossível mencionar todos os nomes. Todos eles, na sacrossanta e bendita tarefa de levar a mensagem ao nosso povo, foram cooperadores de Deus.
3. Desafios e oportunidades atuais
Quando constatamos a ignorância religiosa do nosso povo, o desconhecimento das verdades do Evangelho, a multiplicidade de seitas que espalham suas heresias e superstições, a proliferação de vícios que resultam na miséria e na degradação moral do indivíduo, e quando também olhamos para os campos que "Já branquejam para a ceifa", um grande desafio está sendo feito a todos nós.
As possibilidades para a obra de evangelização são imensas e é preciso aproveitá-las. O mesmo espírito que animou os que nos precederam na grandiosa tarefa de levar a mensagem do Evangelho, tanto nas cidades como nas vilas ou povoados e nos sertões de nossa Pátria, deve animar a todos quantos fomos salvos para servir.
As palavras dirigidas à igreja em Filadélfia - "Eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta" (Ap 3.8) soam aos nossos ouvidos como um alerta para a nossa responsabilidade.
Contando com maiores facilidades hoje, que no passado, para expandir o trabalho, dispondo de melhores meios de comunicação, de maior número de obreiros e de recursos financeiros, precisamos agir com fé e coragem, a fim de que seja possível hastear a bandeira do Evangelho em todos os lugares da pátria brasileira.
Autor: Rev. Walder Steffen
