O povo de Deus através dos tempos: as raízes da igreja desde o Antigo Testamento – Estudo Bíblico sobre a História da Igreja

Texto básico: 1 Reis 19.1-18

Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo e, consequentemente, uma só Igreja. Todas as denominações verdadeiramente evangélicas são agências da Igreja de Deus, mas não são a Igreja.

A Igreja é o conjunto formado por todas as pessoas que sinceramente adoram e servem ao Senhor. Ela sempre existiu e sempre existirá. "Haverá sempre sobre a terra uma igreja para adorar a Deus segundo a vontade dele mesmo" (Confissão de Fé, XXV.5).

A Igreja é universal no tempo e no espaço. Isto é, ela não está limitada a "alguma igreja local, a alguma denominação, a algum grupo de igrejas, a algum credo, a alguma organização eclesiástica, a alguma raça humana, a algum país".

A Igreja é o povo de Deus. E este povo existiu no passado, existe no presente e existirá no futuro.

1. A igreja no período patriarcal

A Igreja, como o conjunto formado por todas as pessoas que verdadeiramente conhecem a Deus, que O adoram corretamente e O servem em espírito e em verdade, nasceu no Éden, quando Deus criou o primeiro casal. "Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou" (Gn 1.27).

O homem caiu em pecado, mas a Igreja não deixou de existir. "Fez o Senhor Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher, e os vestiu" (Gn 3.21). O sangue de algum animal foi derramado como sacrifício pelo pecado cometido. A comunhão com o Criador foi restaurada.

E o primeiro casal, embora deformado e embrutecido espiritualmente pelo pecado, continuou adorando e servindo ao Senhor. E o Espírito continuou agindo no homem.

Apesar do crescimento da maldade, da deterioração dos desígnios do coração humano e da multiplicação da violência, continuaram existindo crentes fiéis. Caim era do maligno e assassinou a seu irmão (Gn 4.8; 1 Jo 3.12); mas Abel era crente, e ofereceu ao Senhor excelente sacrifício (Gn 4.4; Hb 11.4).

Caim matou Abel. Mas "tornou Adão a coabitar com sua mulher; e ela deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Sete; porque, disse ela, Deus me concedeu outro descendente em lugar de Abel, que Caim matou" (Gn 4.25).

Lameque era mau, vingativo, ao ponto de se vangloriar, dizendo: "Matei um homem porque ela me feriu; e um rapaz porque me pisou" (Gn 4.23); mas Enoque era crente, e "obteve testemunho de haver agradado a Deus" (Hb 11.5). "Andou Enoque com Deus, e já não era, porque Deus o tomou para si" (Gn 5.24).

E quando tudo parecia perdido, quando o próprio Deus estava arrependido de haver criado o homem, a Igreja continuava existindo.

Gn 6.7-9
Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis, e as aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito. Porém Noé achou graça diante do Senhor. Noé era homem justo e íntegro entre os seus contemporâneos, Noé andava com Deus.

No período patriarcal as famílias dos crentes constituíam as congregações religiosas; a igreja estava melhor representada nas famílias piedosas, onde o pai de família servia como sacerdote.

Não havia cultos regulares, ainda que Gênesis 4.26 pareça implicar uma invocação pública do nome do Senhor. Até o tempo de Moisés as famílias dos patriarcas eram os verdadeiros depositários da fé verdadeira, na qual o temor do Senhor e seu serviço se conservaram vivos" (L. Berkhof).

A Igreja assumiu contornos mais claros com o chamado de Abraão. "Ora, disse o Senhor a Abraão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome... em ti serão benditas todas as famílias da terra" (Gn 12.1-3).

Abraão partiu; e passou a viver pela fé. Deus instituiu a circuncisão, como sinal e selo da aliança com o Seu povo. Era o marco de separação entre os que pertenciam ao Senhor e os demais.

A lei ainda não havia sido dada, mas os verdadeiros crentes já invocavam o nome do Senhor (Gn 4.26), ofereciam sacrifícios (Gn 31.54; 46.1), entregavam o dízimo (Gn 14.18-20) e praticavam a circuncisão (Gn 17.23-27; 34.15).

2. A igreja no período judaico

Deus havia prometido a Abraão: "De ti farei uma grande nação" (Gn 12.2). E a promessa estava sendo cumprida. Deus tirou o Seu povo do Egito e o introduziu em Canaã. O povo se organizou em nação, e constituiu a Igreja de Deus.

A terra prometida não foi totalmente conquistada de imediato. "Os israelitas, na sua invasão do país, tentaram evitar qualquer conflito, estabelecendo-se nas montanhas menos povoadas ao sudeste de Canaã. Só mais tarde Josué conseguiu tomar as colinas, as planícies e algumas cidadezinhas. Depois de se estabelecer no Sul, Josué se estendeu até o Norte" (William S. Smith).

Os cananeus permaneceram ainda muitos anos no litoral fértil, controlando as maiores cidades. Assim as doze tribos ficavam separadas pelas cidades cananéias. A conquista da terra só se completaria muitos anos depois. Jerusalém só foi conquistada no reinado de Davi (2 Sm 5.6,7).

O convívio com os naturais da terra representava uma ameaça à fidelidade do povo de Deus. Os cananeus adoravam os "baalins", ou seja, os deuses da natureza. E os cultos pagãos exerceram grande influência sobre o povo.

A renovação da aliança, registrada em Josué 24. 14-25, teve grande importância religiosa e política. Ela foi o instrumento que serviu para unir o povo de Deus e, também, unir as tribos umas às outras.

Mas Israel não se livrou da idolatria. O lamento de Elias retrata o abismo espiritual onde a nação foi parar: "Os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derribaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada; e eu fiquei só, e procuram tirar-me a vida" (1 Rs 19.10).

Mas o Senhor respondeu a Elias: "Também conservei em Israel sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que o não beijou" (1 Rs 19.18). Mesmo no momento mais negro da história de Israel, havia pessoas fiéis que adoravam e serviam ao verdadeiro Deus.

A idolatria levou o povo de Israel para o cativeiro. Mas, mesmo entre os cativos, havia crentes fiéis.

Sl. 137.1-4
As margens dos rios da Babilônia nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião. Nos salgueiros que lá havia pendurávamos as nossas harpas, pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções, e os nossos opressores, que fôssemos alegres, dizendo: Entoai-nos algum dos cânticos de Sião. Como, porém, haveríamos de entoar o canto do Senhor em terra estranha?

O povo de Israel voltou do cativeiro curado da idolatria. Mas o judaísmo pós-exílico criou uma nova ameaça para o povo de Deus: a salvação pela herança racial. Julgavam que a sua condição de herdeiros de Abraão lhes garantia a automática aprovação divina.

Diante do apelo de Jesus Cristo, responderam: "Somos descendência de Abraão (Jo 8.33). Ao que Jesus respondeu: "Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos" (Jo 8.44).

Mas havia um remanescente fiel, do qual podemos citar, como exemplos, "um homem chamado Simeão; homem este justo e piedoso que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele" (Lc 2.25); e "uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, avançada em dias, que vivera com seu marido sete anos desde que se casara, e que era viúva de oitenta e quatro anos.

Esta não deixava o templo, mas adorava noite e dia em jejuns e orações" (Lc 2.36,37). Este remanescente constituía a Igreja de Deus, os fiéis adoradores.

3. A igreja no Novo Testamento

Deus havia levantado Israel para ser o Seu povo, a Sua Igreja. E, através deste povo, Ele enviaria Seu Filho ao mundo. "Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos" (Gl 4.4,5).

Mas Israel não O recebeu. "Veio para o que era seu, e os seus não o receberam" (Jo 1.11). E o próprio Senhor Jesus lhes declarou: "Portanto vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos" (Mt 21.43).

Contudo, Deus não rompeu a aliança feita com Abraão. "E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado, porque nem todos os de Israel são de fato israelitas; nem por serem descendentes de Abraão são todos seus filhos... Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa" (Rm 9.6-8).

"Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão o que o é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus" (Rm 2.28,29). "Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão" (Gl 3.7).

No capítulo 11 de Romanos, Paulo emprega a figura da oliveira para representar o antigo povo de Deus. Diz que os judeus incrédulos foram cortados da oliveira, e que os gentios crentes são enxertados nela. De sorte que o antigo povo de Deus, que foram os judeus, e o novo povo de Deus, constituído de gentios, formam uma árvore só. A igreja do Novo Testamento é essencialmente a mesma igreja da antiga dispensação. Quanto à natureza essencial, as duas estão constituídas por crentes verdadeiros, e por ninguém mais além dos verdadeiros crentes" (L. Berkhof).

Contudo, várias mudanças importantes ocorreram na Igreja no período do Novo Testamento:

  • A Igreja se libertou do Estado de Israel, tornando-se uma organização mais flexível, menos formal e mais aberta à atuação de sua liderança espiritual;
  • A Igreja deixou de ser uma igreja judaica para ser uma igreja plurinacional e multirracial, ou seja, uma igreja para todas as nações e raças;
  • A adoração tornou-se menos formal e mais espiritual;
  • A obrigação de levar o Evangelho a todas as nações do mundo fez da Igreja uma grande frente missionária.

Quando o Novo Testamento foi concluído, por volta do ano 97, a Igreja já havia sido implantada na Ásia Menor, na Síria, na Macedônia, na Grécia, em Roma e, provavelmente, também no Egito. Pobres e ricos, escravos e senhores, analfabetos e doutores, governados e governantes se rendiam ao Evangelho de Cristo.

Autor: Adão Carlos F. Nascimento


Lista de estudos da série

1. O elo perdido da sua fé: por que conhecer a história fortalece sua doutrina – Estudo Bíblico sobre Doutrina e História

Semeando Vida

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