O elo perdido da sua fé: por que conhecer a história fortalece sua doutrina – Estudo Bíblico sobre Doutrina e História

Texto básico: Atos 17.10-12

O ser humano é essencialmente religioso. A história e a experiência de cada geração são testemunhas deste fato incontestável. Plutarco afirmou:

"Podereis encontrar uma cidade sem muralhas, sem edifícios, sem ginásios, sem leis, sem uso de moedas como dinheiro, sem cultura das letras. Mas um povo sem Deus, sem oração, sem juramentos, sem ritos religiosos, sem sacrifícios, tal nunca se viu".

Max Scheler, filósofo alemão, disse: "Há uma lei essencial: todo espírito finito crê em um Deus ou em um ídolo". Por isso todos têm a sua religião.

Toda religião tem as suas doutrinas.

Durante anos temos estudado as nossas doutrinas. A partir de agora trataremos a história das doutrinas, isto é, o modo e quando surgiram as doutrinas, bem como a luta pela preservação da sã doutrina.

1. As doutrinas na história

Há uma diferença fundamental entre o cristianismo e todas as demais religiões. As doutrinas pagãs destacam o esforço do ser humano para chegar até a divindade, enquanto a doutrina cristã mostra Deus vindo ao encontro do homem.

Hb. 1.1,2
Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho a quem constituiu herdeiro de todas as cousas, pelo qual também fez o universo.

2 Co 5.19
Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo.

Jo 1.18
Ninguém jamais viu a Deus: o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou.

Deus se revelou a nós. E esta revelação está registrada na Escritura Sagrada.

Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja a sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e a malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo (Confissão de Fé, 1.1).

Estamos, pois, inteiramente convictos de que a Escritura Sagrada é a Palavra de Deus. Mas esta Palavra precisa ser explicada e interpretada. E da interpretação da Palavra de Deus surgem as doutrinas.

Portanto, as doutrinas não surgiram por geração espontânea, e nem por um acaso, como o arbusto que nasce sem ter sido plantado. Também não caíram do céu. As doutrinas surgiram do esforço de servos de Deus para interpretar e explicar a Escritura Sagrada.

Vamos a um exemplo:

A Igreja Presbiteriana adota o sistema de doutrina contido na Confissão de Fé e nos Catecismos Maior e Breve como exposição das doutrinas bíblicas. Esta Confissão e os Catecismos foram preparados por 121 teólogos de várias denominações, que se reuniram de julho de 1643 até fevereiro de 1649, numa das salas da Abadia de Westminster, em Londres. A Confissão de Fé tinha 33 capítulos.

No ano 1903 a igreja acrescentou mais dois capítulos à Confissão de Fé, alegando a necessidade e "a conveniência de exprimir claramente a doutrina da Igreja a respeito do Espírito Santo, das Missões e do amor de Deus para com todos os homens".

À medida que novos assuntos vão desafiando os crentes, surge também a necessidade da interpretação e da explicação do ensino da Escritura sobre tais assuntos. Esta interpretação e explicação é uma doutrina.

Atualmente, estamos sentindo a necessidade do acréscimo de novos capítulos à nossa Confissão de Fé. Assuntos como o controle de natalidade e a distribuição justa das riquezas não estão explicitamente definidos na nossa Confissão de Fé.

Se a igreja formular a doutrina sobre tais assuntos neste ano de 1984, poderemos dizer que esta é, ao mesmo tempo, uma doutrina nova e velha. Nova porque foi formulada recentemente; mas velha porque baseada na Escritura, cujo último livro foi escrito há mais de mil e oitocentos anos.

2. A fonte das doutrinas

As doutrinas das religiões primitivas baseiam-se na tradição dos antepassados. As religiões pagãs têm como fonte de suas doutrinas as palavras dos sábios ou iluminados. Mas as doutrinas cristãs só podem ter como fonte a Escritura Sagrada.

Todo o conselho de Deus concernente a todas as cousas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela (Confissão de Fé, 1.6).

É importante observar que a fonte das doutrinas cristãs é a Bíblia, e não parte da Bíblia. "Só é bíblico o ensino que reflita um recenseamento conveniente de textos que tratem de um assunto"; ou seja, só é bíblica a doutrina que tem base na Bíblia toda, do Gênesis ao Apocalipse.

Houve quem afirmasse que a Bíblia é "a mãe de todas as heresias", porque os hereges costumam tomar alguns textos bíblicos, escolhidos segundo o seu gosto pessoal, e formular uma doutrina. Os judaizantes, baseando-se em Levítico 12.3, etc., diziam aos gentios crentes: "Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos" (At 15.1).

Nestes vinte séculos de cristianismo, cada heresia que surge pretende ter base bíblica. E é por isso que muitos crentes têm sido enganados: apresentam-lhes um texto bíblico que parece favorecer tal doutrina, e eles passam a julgar que tal doutrina é bíblica.

O apóstolo Paulo, conhecendo este perigo a que estão expostos muitos crentes, escreveu: "Mas, ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema" (Gl 1.8,9).

3. As doutrinas e a igreja

Conforme já foi dito, as doutrinas surgem da necessidade de se interpretar e explicar o ensino bíblico sobre determinado assunto. Neste sentido, sempre haverá a necessidade de formulação de doutrinas, pois cada período histórico tem os seus próprios problemas. E a Bíblia tem a resposta para todos eles. Mas, quem deve formular as doutrinas?

Os primeiros crentes "perseveravam na doutrina dos apóstolos" (At 2.42). Mas quando surgiu a controvérsia sobre a circuncisão, reuniram-se "os apóstolos e os presbíteros para examinar a questão" (At 15.6). Isto mostra que a formulação de doutrinas é tarefa da igreja, através de seus líderes reunidos em concílios.

No início da igreja os apóstolos eram os únicos líderes. Mas quando surgiu a controvérsia da circuncisão, a igreja já possuía uma liderança mais ampla, constituída dos apóstolos e dos presbíteros. E foi esta liderança que interpretou e explicou o ensino bíblico quanto ao problema surgido.

Nenhuma pessoa individualmente está autorizada a formular doutrinas. É bom observar que Paulo e Barnabé discutiram com os judaizantes (At 15.1,2), mas a formulação da doutrina ficou a cargo dos apóstolos e dos presbíteros reunidos em concílio. A pessoa que está empolgada com um determinado assunto, corre o risco de não examiná-lo de todos os ângulos.

Mas, num concílio, temos muitas pessoas com experiências diferentes e com conhecimentos em diferentes áreas. Logo, o concílio tem muito mais possibilidade de acertar do que uma pessoa isoladamente. E quando o crente tiver dúvida sobre qualquer doutrina, é mais sensato ficar com o ensino da igreja do que com o seu próprio ponto de vista.

Afinal, a formulação daquela doutrina passou pelo crivo do estudo de homens que reúnem experiência, conhecimento e espiritualidade superiores às experiências, conhecimento e espiritualidade de qualquer crente isoladamente.

Mas, infelizmente, nem todos os nossos irmãos têm tido tal bom senso. Tenho visto membros da igreja contestarem as nossas doutrinas com atrevimento como se elas tivessem sido formuladas por um bando de descrentes analfabetos e irresponsáveis.

Quando tenho qualquer dúvida sobre doutrina, prefiro ficar com o ensino da igreja a ficar com as minhas dúvidas. Afinal, as doutrinas da igreja foram formuladas por homens que têm mais conhecimentos e mais experiências do que eu.

Autor: Adão Carlos F. Nascimento


Lista de estudos da série

1. O elo perdido da sua fé: por que conhecer a história fortalece sua doutrina – Estudo Bíblico sobre Doutrina e História

Semeando Vida

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