Textos básicos: Jr 36.20-25; Hb 11.32-40
Introdução
Durante a Idade Média, em que se desenvolveram as doutrinas heréticas, nem tudo se perdeu. A Verdade de Deus não perece. Há sempre o remanescente, a relíquia do Senhor, que é esse punhado de fiéis, que sobreviveu nas trevas, e que mantém o clamor profético contra os erros.
Nesse período houve pessoas bem intencionadas que tentavam purificar a Igreja, mesmo alguns papas que, com restrição, são chamados "papas reformadores" por muitos.
Contudo, os evangélicos não os aceitam como reformadores. Para início, eles deixariam de ser papas se quisessem agir como reformadores. Não foi o que sucedeu. Eles ainda mais fortaleceram os dispositivos de repressão para alijar os "protestantes".
Há, no entanto, os que, embora não tivessem ainda uma interpretação clarividente, ou satisfatória, das Escrituras, tocaram em pontos doutrinários fundamentais, para merecerem o título de "precursores da Reforma", chamados, também, "pré-reformistas". É o que veremos.
1. Os pré-reformadores
Realmente nas épocas precedentes algumas doutrinas começaram a ser entendidas e proclamadas, como: a confissão direta a Deus, sem necessidade de mediadores, além de Jesus; o sacerdócio geral e o livre exame das escrituras; a salvação pela graça e o primado das escrituras sobre a tradição, e outras. Ligados à proclamação dessas doutrinas, aparecem nomes inesquecíveis.
a) Pedro Valdo (1140-1217)
Percebendo que a vida é breve, seja pela morte repentina de um amigo, ou pela leitura de algum devocionário, ou ainda por ouvir algum discurso sobre a brevidade da existência, sentiu a necessidade pungente de se preparar para o serviço de Deus e, consequentemente, para morrer.
Era um comerciante abastado, na cidade de Lyon (França). Consultando um teólogo, segundo o historiador Latourette, para saber o caminho do céu, foi aconselhado a atender o preceito de Jesus: "Vender tudo, por amor à santidade e dar o produto à pobreza".
Foi o que ele fez. Deu tudo aos pobres, apenas reservando o suficiente para a esposa e os filhos. Fez-se, um mendigo diário esmolando o pão, entregando-se à obra de pregar, usando para isso, um Novo Testamento.
Com isto fundou uma ordem: "Os Pobres de Lyon". De Pedro Valdo - ou Pierre Vaux, vieram os valdenses, discípulos que o grande pré-reformador agregou a si, andando a pé, como "andarilho de Deus", pregando e socorrendo.
Enfrentou os desafios do bispo e do papa, sofrendo violenta oposição. Negava a obediência às autoridades eclesiásticas; recusou o culto aos santos, a confissão ao padre, o jejum meritório, admitindo como sacramentos, os do Novo Testamento, atacando a depravação moral, a liturgia em latim, o papado e a hierarquia.
b) John Wycliffe (1324-1384)
Nascido de família pobre, estudou, tornando-se famoso. Tornou-se o homem mais culto da Universidade de Oxford (Inglaterra). Instruído na Bíblia, desfechou uma campanha contra as taxas cobradas pelo papa, negando ao Pontífice Romano, esse direito.
Por isso, a sua reforma alcançou os favores políticos, graças ao extremo nacionalismo da Inglaterra na época. Pregou contra as doutrinas extrabíblicas, em geral.
Proclamou a suficiência das escrituras, o livre exame, o sacerdócio geral dos crentes, rejeitando a transubstanciação católica romana.
Foi condenado como herético pelo Concílio de Constança, em 1415. Após a sua morte, 44 anos mais tarde, seu corpo foi desenterrado, queimado e a cinza lançada no rio Sevenn. Traduziu a Escritura e deixou a Boa Semente no solo inglês.
Em todo o período chamado de Idade Média, no meio de uma floresta de heresias, a Bíblia foi uma constante no despertamento espiritual das consciências.
c) John Huss (1369-1415)
Nasceu na Boêmia - região da Checoslováquia. Era admirador de Wycliffe, estudioso, inflexível, austero em sua vida moral, tido como irrepreensível. Proclamou os ensinos do cristianismo original, condenando os abusos, com poderosa eloquência. Tornou-se protegido pela corte. Três companheiros seus foram presos, em segredo, e secretamente executados, cujo sangue manchou as grades do presídio.
O povo, revoltado, tomou de assalto a Câmara Municipal. Isto, contudo, não impediu, mais tarde, a morte de John Huss, que teve violado o seu "salvo-conduto", que lhe fora dado pelo Imperador Sigismundo no Concílio de Constança, em 1414.
A oposição era alimentada, em grande parte, pelo ódio dos monges e do clero, arrasados pela sua eloquência. E assim, John Huss foi lançado às chamas, pagando o seu arrojo com o martírio.
d) Jerônimo Savonarola (1453-1498)
Monge dominicano da Itália. Foi Prior do Mosteiro de S. Marcos, tido por notável historiador, como "o mais notável pregador da retidão depois de São Paulo". Nasceu em Ferrara e morreu em Florença, nas chamas da fogueira inquisitorial. Era dado a visões e a profecias, das quais, algumas se cumpriram, o que mais eletrizou os seus pronunciamentos.
No auge das suas pregações lhe oferecem a púrpura cardinalícia, e o chapéu de cardeal, o que recusou, para continuar o seu ministério! A ele estava destinado "o gorro encarnado" do martírio.
Escreveu na prisão um comentário do Salmo 31, e compôs muitos hinos, nos intervalos das suas torturas que culminaram nas labaredas destruidoras.
2. A herança dos pré-reformistas
Nos dias do terrível rei de Judá, o execrável Joaquim, Jeremias, o profeta, da prisão lhe enviou a mensagem de Deus. Num acintoso e ímpio desafio, o rei queimou o exemplar da palavra de Deus. Outra mensagem, igual à original, foi escrita por Baruque, sob a orientação do profeta.
A palavra de Deus é eterna, e como tal, é indestrutível, porque sempre reescrita, e reeditada, sob os eflúvios da divina providência (Jr 36.20-25). Deus sempre teve uma "nuvem de testemunhas" das quais o "mundo não é digno" para reiterar, repetir, altissonante, a mesma mensagem.
E assim, os "precursores da Reforma" deixaram aos pósteros os seus exemplos, com os seus escritos, entre os quais o TESOURO DAS ESCRITURAS - TRADUZIDAS E EXPLICADAS, BEM COMO EXEMPLIFICADAS PELA SUA CORAJOSA CONDUTA.
3. Aplicação
a) Tenhamos o mais reverente apreço para com as Escrituras. As filosofias humanas e as "psicologias", sem Deus, afirmam, negam, contradizem-se, anulam-se, nos argumentos e contra-argumentos. A Bíblia é a mesma a jurisprudência do Espírito Santo, pela qual os juízos humanos são joeirados!
b) Saiba o discípulo evangélico que as filosofias estão passando, as psicologias envelhecem. E não se condenam os grandes princípios filosóficos, as grandes descobertas das ciências psicológicas. Mas o lugar e o objetivo das escrituras, competem somente às escrituras, que corrigem e orientam 2 Tm 3.16,17, e encaminham àquele que é "o caminho, e a verdade, e a vida".
Tudo isso nos séculos 8.° e 9.° da nossa era. Foram apenas tentativas infrutuosas. Contudo a Consciência cristã ainda estava viva, em alguns remanescentes fiéis!
V. Aplicação
Nos dias do rei Josias, o Livro de Deus estava perdido e a Lei de Deus ignorada. Não pode acontecer isso, ainda hoje? Foi justamente o que aconteceu nas vésperas da Reforma, e em toda a Idade Média. Quais foram as consequências? É fácil enumerar os resultados. Ao aluno convém dizê-las.
Convém-nos estar cientes da importância do conhecimento doutrinário e da sua prática diária. Ressalta-se o notável lugar das Escrituras, pelas quais podemos conferir as ideias e descobrir as verdadeiras doutrinas, na Igreja de Deus.
A Bíblia pode ser perdida ainda hoje entre as suas capas. Os resultados disto são danosos para a vida cristã individual e coletiva.
Autor: Rev. Lázaro Lopes de Arruda