Defendendo a fé: os desafios e a consolidação da doutrina após a Reforma – Estudo Bíblico sobre a Pós-Reforma

Texto básico: Gl 3.1-11

Introdução

Como é fácil o ser humano se afastar de Deus; descrer de Deus e crer em deuses que não existem, criados pela imaginação do próprio homem; descrer dos ensinos de Deus e crer nos seus próprios ensinos e em falsos profetas! Leia o que disse Cristo em Jo 5.43.

É fácil porque o mal, em todas as suas formas, existe no próprio homem e é astuciosamente explorado por Satanás, o adversário de Deus e de todos nós.

Desde o início da História do homem a Bíblia registra esse fato. Abraão nasceu em Ur, uma terra onde se adoravam ídolos; chegou a Canaã, onde Baal e outros falsos deuses eram adorados; no deserto, após saírem do Egito, enquanto Moisés estava no Monte Sinai recebendo de Deus os Dez Mandamentos, os israelitas se puseram a adorar um bezerro de ouro. Essa triste tendência continua através dos séculos.

A própria igreja cristã foi aos poucos se afastando tanto das verdades e doutrinas bíblicas que, muito antes do século XVI, surgiram em diversas partes da Europa movimentos de protesto e reafirmação dos ensinos bíblicos. Esses movimentos se renovaram e se tornaram vitoriosos no século XVI, com a Reforma.

A defesa da fé e da correta doutrina é o assunto de agora.

1. Heresias no século I.

Já nos dias dos apóstolos eles tiveram que combater várias heresias. Em Gl 3 a 5 vê-se que Paulo combatia o legalismo: ensino antibíblico de que a salvação dependia do cumprimento da lei; em 1 Jo 4.1-3 vê-se que o apóstolo combatia e condenava os que negavam a encarnação e a natureza humana de Cristo; em 2 Tm 2.18 Paulo se refere a outro ensino errado: o de que já se realizara a ressurreição dos mortos. Em 1 Tm 4.1-5 Paulo diz que a situação ainda pioraria: "Ensinos de demônios" seriam pregados, como proibição do casamento e abstinência de comidas.

E realmente, cerca do ano 1000 d.C., a igreja de Roma proibiu o casamento dos pastores e há muito já proibia comer carne na "Semana Santa", abstinência esta que não tem fundamento bíblico.

2. Atitude dos apóstolos.

Não só os apóstolos combatiam o que estava errado, como afirmavam o certo. Em Gl 1.6-12 Paulo deixa claro que o Evangelho não pode ser alterado. Nada se pode acrescentar à Palavra de Deus e nada se pode retirar dela, confirma João em Ap 22.18,19.

Reafirmam que a salvação é dada por Deus mediante a fé, pois sempre fora assim (Rm 1.17 e Hb 2.3,4). O mesmo tiveram que fazer os pré-reformadores e os reformadores do sec. XVI: combater heresias e reafirmar as doutrinas certas. Os que agiram assim sempre foram autênticos protestantes.

3. Fidelidade até a morte - Ap 2.10.

Jamais os adversários de Cristo desistiram de atacar a igreja, os crentes. Não podendo convencê-los, passaram a persegui-los para silenciá-los. Fora assim nos tempos do Velho Testamento; os profetas perseguidos - Mt 5.12; 23.37; Hb 11.35-38; Jr 20.2; 37.15; 1 Rs 21.13; 2 Cr 24.20,21.

Continuou assim nos dias do Novo Testamento e após os tempos apostólicos: Estevão e Tiago foram mortos e outros foram presos, açoitados, dispersos, mortos - At 7.59 a 8.3; At 4.1-3; 5.17,18; 14.19. O Império Romano começou a persegui-los de maneira atroz: queimava-os, lançava-os nas arenas de leões e de gladiadores para serem mortos.

4. Lutas internas na igreja. O protesto.

A própria igreja começou a se afastar da doutrina bíblica, a partir do século IV. Cristãos fiéis às Escrituras protestavam contra esses desvios e se mantinham fiéis. Muitos deles foram perseguidos, agora pela direção da igreja. Dezenas de homens notáveis, pregadores fiéis, foram perseguidos de diferentes maneiras.

Os tribunais do "Santo Ofício" ou "Santa Inquisição" condenavam à fogueira e outras penas os considerados hereges, que eram os protestantes fiéis à Palavra de Deus.

5. O inimigo não desiste: a Contra-Reforma.

Ao movimento da Reforma iniciado por Lutero na Alemanha em 1517 seguiram-se os de Zwinglio, Calvino, Knox e outros. Os movimentos se consolidaram. Isso fez com que Roma convocasse um concílio para enfrentar a Reforma: o de Trento, reunido de 1545 a 1563.

Nesse concílio os romanos se prepararam para combater a Reforma com algumas medidas tomadas: coibição de alguns abusos, apoio à Companhia de Jesus (dos jesuitas), reorganizou-se a Inquisição e criou-se o "Index Librorum Prohibitorum" (índice dos Livros Proibidos), que periodicamente revisaria e atualizaria a lista dos livros proibidos à leitura dos católicos romanos.

Quanto à doutrina, o concílio proclamou que as fontes de fé são a Tradição e a Bíblia (e não só a Bíblia); declarou a Vulgata Latina como o único texto autorizado da Bíblia; as boas obras, e estas segundo os seus catálogos, e não segundo a Palavra de Deus, como necessárias à salvação, e reafirmou várias heresias católicas romanas: 7 sacramentos (e não dois), transubstanciação, legitimidade das indulgências, culto aos santos, veneração das imagens, crença no purgatório, etc.

Enfim, reafirmou todos os dogmas negados pelos protestantes. Tomou algumas medidas visando à disciplina do clero. Recentemente o Concílio Vaticano II fez o mesmo, reafirmando todos os dogmas católicos. A Igreja Romana quer permanecer nos erros e heresias que só têm aumentado, mesmo depois da Reforma.

6. Deus dá a vitória a seus fiéis (1 Co 15.57).

Nada conseguiu apagar o fogo da Reforma e silenciar a Verdade. Repetiram-se os atos de coragem e intrepidez dos primeiros cristãos (At 4.18-20,29; 5.17-21, 27-29).

Enquanto Martinho Lutero mantinha na Alemanha sua luta pela Reforma, surgiu Ulrich Zwínglio na Suíça pregando as mesmas doutrinas básicas da fé cristã; levantou-se João Calvino na França, fugindo em 1533 para a Suíça por causa da perseguição do rei Francisco I; em Genebra, Suíça, firma-se e expande-se a Reforma Calvinista; da Suíça passou à França e também à Escócia com João Knox, fundador da Igreja Presbiteriana; daí passou para a Inglaterra e firmou-se também na Holanda.

Os países do norte da Europa se tornaram luteranos - Finlândia, Noruega, Suécia e também a Dinamarca. Na Europa continental as igrejas calvinistas geralmente têm o nome de "igrejas reformadas".

Da Europa passou, no início do sec. XVII, para a América do Norte e do fim do século XVIII em diante, para quase todas as partes do mundo, com o início das Missões Modernas. Era a Igreja Cristã dando mais um passo no sentido da ordem de Cristo, de "Ir até aos confins da terra".

Conclusão

O estudo de hoje nos faz pensar na firmeza que precisam ter os cristãos de todos os tempos, para permanecerem fiéis a Jesus, Sua Palavra e Sua igreja.

Essa fidelidade é bem exemplificada pelos primeiros cristãos - homens imperfeitos, mas fiéis; pelos cristãos dos dois séculos seguintes, da igreja perseguida pelo Império Romano, pelos fiéis perseguidos pela própria igreja, depois que ela começou a apostatar d? fé cristã; e pelos cristãos fiéis de toda a Idade Média e do período da Reforma do séc. XVI.

A firmeza hoje precisa ser a mesma, porque os riscos também são os mesmos. Disse Paulo: "Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos" (2 Tm 3.12). Felizes os "que não dobraram joelhos diante de Baal" (Rm 11.4).

Autor: Rev. Rubens Pires do A. Osório


Lista de estudos da série

1. O elo perdido da sua fé: por que conhecer a história fortalece sua doutrina – Estudo Bíblico sobre Doutrina e História

Semeando Vida

Postar um comentário

O autor reserva o direito de publicar apenas os comentários que julgar relevantes e respeitosos.

Postagem Anterior Próxima Postagem
Ajuste a fonte: