Luzes nas trevas: como a verdade sobreviveu à corrupção da Idade Média – Estudo Bíblico sobre a Doutrina Medieval

Texto Básico: 2 Cr 34.14-21

Introdução

No trato com as Escrituras do Velho e Novo Testamentos, aprendemos a doutrina correta. E na leitura das cartas apostólicas e dos evangelhos, formamos a imagem correta da Igreja Primitiva, seu modo de vida e sua doutrina. A pregação dos apóstolos estruturou a Igreja Cristã: Teologia, Liturgia e Administração.

Suas doutrinas, em essência, eram:

  • Pecado
  • Graça
  • Expiação
  • Ressurreição do Senhor
  • Igreja como Corpo de Cristo
  • Segunda vinda de Jesus
  • Os sacramentos (O Batismo e a Ceia do Senhor).

Esta Igreja, enfim, com a sua teologia e ordenanças, prosseguiu até o fim do 2.° Século da Era Cristã, como Igreja fiel. Teve ela, entretanto, de entrar em contato com os sistemas de ideias pagãs, com as filosofias da época, que, aos poucos, lhe foram minando os alicerces, como os fios de água sorrateiros e imperceptíveis, que penetram os alicerces de uma construção.

Tais sistemas e filosofias, de modo mais acentuado, foram o ebionismo e o gnosticismo - verdadeira "colcha de retalhos", em que apareciam doutrinas judaicas, budistas bramânicas e neoplatônicas.

E os contornos das doutrinas cristãs começaram a tomar feições tipicamente pagas. E no fim do 3° século, a Doutrina da Trindade amadurecia e tomava forma nos terríveis debates, em que se destacava Atanásio, como "Campeão da Ortodoxia".

Definiram-se as posições corretas, e se refutaram as doutrinas heréticas, perfilhadas por Nestor e pelo bispo Ário. Atacada a Trindade, seus negadores atingiam o fundamento do cristianismo; outras doutrinas errôneas começaram a alterar o semblante da Igreja.

I. A igreja apóstata

As correntes, em luta, evidenciaram os defensores e os corruptores da fé. O Período Patrístico revela os chamados "Pais da Igreja". Alguns deles, a bem dizer, tiveram contato com o último apóstolo, o amado apóstolo João.

Entre eles houve alguns que se empolgaram com o platonismo, introduzindo o método alegórico de interpretação, como Clemente de Alexandria e Origines.

Apareceram as falsas doutrinas alimentadas pelo judaísmo e certas crendices orientais. Apareceram os credos, delineados nos concílios. Entre estes, o mais antigo e reverenciado, como síntese da fé, que alguns têm como Súmula Teológica elaborada pelos apóstolos, o Credo dos Apóstolos.

Este, se não foi elaborado por eles, foi derivado dos seus ensinos. Mesmo assim, a igreja apostatou e se corrompeu. E não parou mais o processo de falsificações.

Ela não era mais a genuína igreja de Jesus Cristo, na sua pureza e simplicidade, poderosa geradora de vidas transformadas. Teve razão o poeta J. G. de Araújo Jorge ao lamentar:

"SENHOR! A ÁGUA DA FONTE,
QUE TÃO PURA NASCEU ENTRE AS PEDRAS DO MONTE,
PEQUENINA. ESCONDIDA, E QUE ERA CLARA E DOCE,
HOJE É TURVA E PESADA, É AMARGA E ENVENENOU-SE!"

II. Acúmulo de heranças pagãs

Nos primeiros tempos estava em moda o "liberalismo" introduzido pelo neoplatonismo – doutrina de Platão modificada.

A Escola Helênica fundada em Alexandria na região do Delta, no rio Nilo, no 3.° Século antes de Cristo, dava seus frutos. A chamada cultura do mediterrâneo que ofereceu o "pano de fundo" para o Cristianismo, contribuiu também para corromper a Igreja.

O ascetismo, a Ideia de um cristão buscar a purificação nas clausuras e nos mosteiros, com jejuns e sacrifícios meritórios, entrou em voga.

Ele idealizava reformar a vida da Igreja mas acentuou o princípio da autorredenção e, em grande parte, invalidou a doutrina expiatória de Cristo. Livros de regras substituíram as Escrituras.

Por isso, hoje a Igreja deve atentar para o princípio escriturístico firmado pelos teólogos de Westminster: as escrituras do velho e do novo testamento são a única regra de fé e prática (ver Confissão de Fé, cap. I, Seção 2 e Breve Catecismo perg. 2).

Pela leitura habitual e consciente da Bíblia podemos peneirar a doutrina da Idade Média e evidenciar as suas grandes heresias. Elas constituem as heranças pagãs - o gnosticismo, o maniqueísmo, o docetismo, que, no fundo, são variações dos mesmos sistemas: judaísmo e helenismo, que alimentaram a tradição marginalizando as Escrituras (ver os sistemas mencionados no I Vol. de "Cristianismo Através dos Séculos", de Muirhead).

III. Teologia da Idade Média - (Cl 2.8,9; 2 Tm 4.3).

Na Idade Média, em vão se procura a "Teologia Cristã". Ela está monstruosamente, horrivelmente, alterada. Nesse período as doutrinas comuns são as dos Sete Sacramentos, ainda hoje ensinadas pela Igreja Católica Romana.

Esta ensina também:

  • Adoração de santos e imagens, a mariolatria - essa doutrina blasfema
  • A confissão auricular,
  • A doutrina das indulgências
  • A hierarquia clerical capitaneada pelo papa,
  • A mediação de Maria e dos santos, que invalida a mediação de Cristo
  • A transubstanciação

...e outras heresias. Originadas do paganismo e da tradição, foram ratificadas por Tomás De Aquino e outros e consagradas e mantidas pelo catolicismo romano, sob as penas da inquisição, que condenou milhares a fogueira.

E como se tanto não bastasse, inventou-se a Doutrina do Purgatório, que movimentou o tráfico do perdão, com que a igreja angariava avultadas somas monetárias. Todos esses abusos sustentavam o poderio da igreja medieval.

IV. Vislumbres da verdade

Durante a Idade Média já houve homens que não se conformavam com a corrupção da Igreja. Muitos Formularam os seus protestos. Os protestos, porém, vinham desde o período dos "pais".

Um deles foi Tertuliano (155 a 245) do segundo século da Era Cristã, que protestou contra a indisciplina reinante, chegando a abandonar a igreja oficial, embora doutrinariamente contaminado.

Joviniano (378) teve acirrada disputa com Jerônimo que tachou os seus ensinos de "Silvo da Serpente". Joviniano atacou a doutrina da 'viuvez meritória', o 'efeito mágico' do batismo, da 'abstinência de comida', como superior ao 'comer com ação de graças' e outras. E por essa atitude corajosa, o historiador Neander o apelidou de "O Protestante Do Seu Tempo".

Um outro notável foi VIGILÂNCIO (390) que se insurgiu contra os mosteiros, o celibato compulsório e a oração pelos mortos, bem como contra a veneração das relíquias, as imoralidades e outras práticas corruptoras da fé.

Todos esses mereceram a repulsa e o desprezo, embora tivessem retalhos e noções parciais da Teologia Cristã. Eles nos levam aos tempos do profeta Jeremias na consideração de que, consoante as palavras de Paulo, Deus nunca se deixou ficar sem testemunho de si mesmo (At 14.17).

O perverso rei Joaquim de Judá atirou a mensagem de Deus ao fogo da sua lareira de inverno. Deus usou da insistência dos príncipes Elnatã, Delaías e Gemarias, em que o rolo não fosse queimado (Jr 36.20-26).

Não foram ouvidos, mas o seu testemunho aumentou a responsabilidade dos rebeldes, e foi registrado para a posteridade. O texto básico (2 Cr 34.14-21) fala do livro perdido na casa do Senhor e do livro achado, pelo qual Josias empreendeu a imediata Reforma Religiosa. Os erros se repetem na história o que requer nossa vigilância constante.

A Doutrina na Idade Média, corrompida como estava, era alvo de protestos individuais, isolados, o que já vinha sucedendo desde o 3.° século. Nos dias do Imperador Carlos Magno se levantou verdadeira guerra contra a adoração e o uso de imagens, no que também se engajou o Imperador Leão, o isauriano, do Oriente e o Imperador Leão V, mais tarde.

Tudo isso nos séculos 8.° e 9.° da nossa era. Foram apenas tentativas infrutuosas. Contudo a Consciência cristã ainda estava viva, em alguns remanescentes fiéis!

V. Aplicação

Nos dias do rei Josias, o Livro de Deus estava perdido e a Lei de Deus ignorada. Não pode acontecer isso, ainda hoje? Foi justamente o que aconteceu nas vésperas da Reforma, e em toda a Idade Média. Quais foram as consequências? É fácil enumerar os resultados. Ao aluno convém dizê-las.

Convém-nos estar cientes da importância do conhecimento doutrinário e da sua prática diária. Ressalta-se o notável lugar das Escrituras, pelas quais podemos conferir as ideias e descobrir as verdadeiras doutrinas, na Igreja de Deus.

A Bíblia pode ser perdida ainda hoje entre as suas capas. Os resultados disto são danosos para a vida cristã individual e coletiva.

Autor: Rev. Lázaro Lopes de Arruda


Lista de estudos da série

1. O elo perdido da sua fé: por que conhecer a história fortalece sua doutrina – Estudo Bíblico sobre Doutrina e História

Semeando Vida

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