O Presente que Você Não Merece: Como a graça divina reescreve sua história – Estudo Bíblico sobre a Graça de Deus

Neste estudo, abordaremos sobre a graça de Deus. Podemos definir a graça de Deus como:

...a imerecida bondade ou amor de Deus aos que perderam o direito a ela e, por natureza, estão sob sentença de condenação.

A graça é mais um dos atributos de Deus que precisa ser estudado e assimilado pelos crentes, pois a graça é a causa de nossa existência e de nossa salvação. Estudar esse assunto certamente colaborará para que sua comunhão com Deus seja fortalecida.

I. Diferentes manifestações da graça de Deus

Em uma linguagem bem simples, podemos dizer que a graça é a concessão de bondade a alguém que não a merece. O relacionamento entre Deus e o pecador é sempre motivado por sua graça, pois não há no pecador nada que possa motivar o amor de Deus. O amor de Deus pelo pecador é imerecido.

A graça de Deus se manifesta de duas formas para com dois diferentes tipos de pessoa. Sua mais rica manifestação é vista nas operações salvíficas de Deus através das quais ele age para perdoar pecados e salvar os pecadores.

Em geral, é nesse sentido que a Bíblia usa o termo “graça”. No entanto, a graça de Deus também é a doadora das bênçãos naturais e temporais ao ser humano nesta vida. Ela restringe a ação do pecado no mundo e concede dons e talentos que enriquecem a raça humana.

Essas duas manifestações distintas da graça de Deus recebem o nome de graça especial e graça comum, respectivamente.

1. Graça comum

Em geral se pode dizer que, quando falamos em graça comum, temos em mente ou...

(a) as operações gerais do Espírito Santo pelas quais ele, sem renovar o coração, exerce tal influência sobre o homem por meio da sua revelação geral ou especial que o pecado sofre restrição, a ordem é mantida na vida social e a justiça civil é promovida ou...

(b) as bênçãos gerais, como a chuva e o sol água e alimento, roupa e abrigo, que Deus dá a todos os homens indiscriminadamente, onde e quanto lhe parece bem fazê-lo”.

A graça comum produz quatro resultados importantes na vida humana:

a. A graça comum restringe o pecado. Se o Senhor deixasse todos os seres humanos sem nenhum impedimento para a prática do pecado o mundo não seria habitável. Por isso, a graça comum de Deus refreia o mal e o pecado (Gn 31.7; 2Rs 19.27,28; Rm 13.1-4).

b. A graça comum promove a prática do bem social. A graça comum capacita o ser humano a praticar o bem social. Mesmo os não-regenerados praticam obras socialmente boas, isto é, obras que trazem algum benefício para eles mesmos e para outros. Essa é uma outra manifestação da graça comum (2Rs 10.29, 30; Lc 6.33, 34; Rm 2.14, 15).

c. A graça comum concede muitas bênçãos naturais. Embora o ser humano tenha perdido o direito a toda e qualquer bênção de Deus por causa do pecado, sendo merecedor apenas da morte como salário de seu pecado (Rm 6.23), Deus despeja, diariamente, suas bênçãos sobre todos os seres humanos, sem exceção.

Ele é bom para com todos e satisfaz de benevolência a todo vivente (Sl 145.9, 15, 16); faz vir a chuva sobre justos e injustos (Mt 5.45); é benigno até para com os ingratos e maus (Lc 6.35, 36); e faz o bem a todos os povos, dando-lhes do céu chuvas e estações frutíferas (At 14.16, 17).

d. A graça comum é a fonte das artes e da ciência. Tiago nos diz que toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das Luzes (Tg 1.17). O Espírito Santo é a única fonte de toda a verdade e beleza, onde quer que elas se encontrem.

O uso dos poetas gregos feito pelo Apóstolo Paulo, nos ensina esta verdade. Em Atos 17.28, ele cita e considera como certas as palavras do poeta grego Epimênides de Creta, que, em um de seus poemas, escreveu:

Fizeram uma tumba para ti, ó Santo e Exaltado!
Os cretenses, sempre mentirosos, bestas más, ventres preguiçosos!
Mas tu não estás morto; tu vives e permaneces para sempre, pois em ti vivemos e nos movemos e temos nosso ser

O mesmo poema é usado em Tito 1.12,13, onde encontramos uma aprovação escrita:

"Tal testemunho é exato".

Ainda em Atos 17.28, Paulo cita o poeta grego Arato:

Dele somos geração.

O ensino da Escritura é claro: a verdade procede de Deus, onde quer que se encontre. Esses poetas gregos não eram cristãos, quanto menos inspirados, mas aquilo que há de verdadeiro em seus poemas foi aproveitado pelos filhos da verdade.

A graça comum de Deus, que alcança tanto o crente quanto o incrédulo, faz com que o ser humano seja capaz de desenvolver virtudes, fazer boa arte, ter boas ideias, ser criativo, enfim, seja capaz de grandes realizações.

Uma música que chamamos de “secular” pode ser muito boa, se expressar a sabedoria e a beleza que só podem vir do Pai das Luzes. Um filme que não seja “evangélico” pode ser muito bom e instrutivo, e um bom guia para alimentação saudável de bebês não precisa ser "baseado na Bíblia” nem ser escrito por um médico cristão.

É um engano pensar que só é bom aquilo que pode ser identificado com a igreja e que costumamos chamar de “evangélico”.

Mesmo aqueles que não são cristãos, tendo sido criados à imagem e semelhança de Deus (Tg 3.9), também possuem criatividade, virtudes, e talentos dados por Deus, que os tornam capazes de interagir com o mundo, e colaborar para o desenvolvimento da sociedade.

É certo que “o mundo jaz no maligno” (1 Jo 5.19), e, por isso, nele há inúmeras coisas más.

Mas não podemos nos esquecer o mundo é de Deus (Sl 50.12), e por isso, não está correto pensar que tudo o que existe fora das paredes da igreja é mau. Esportes, artes, cultura, moda, tudo isso tem seu valor e seu lugar na vida.

O cristão não deve repudiar tudo aquilo que está fora da igreja por este fato. Ele deve repudiar todos os efeitos do pecado, quer na igreja, quer fora dela. O problema não é o mundo, mas os efeitos do pecado nele.

2. Graça especial

A graça especial de Deus possui um caráter eminentemente salvador e é exercida somente em favor e naqueles que herdarão a salvação. Ao contrário da graça comum, em nenhuma parte da Escritura encontramos essa manifestação da graça de Deus como algo que atinge a toda a humanidade.

Nesse aspecto a graça de Deus também é um dom, e, por isso, não pode ser obtida através das obras nem reivindicada como um direito.

O apóstolo Paulo nos ensina que somos justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus (Rm 3.24) e que pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie (Ef 2.8, 9).

Há quem tenha dificuldade de reconhecer a soberania de Deus na concessão de sua graça. Esses criticam a doutrina da soberania da graça de Deus afirmando que seria injustiça da parte de Deus salvar alguns e não outros.

No entanto, a Bíblia ensina que Deus não está obrigado por nada e ninguém a conceder a sua graça. Para deixar claro que o exercício da graça de Deus é totalmente livre, Paulo afirma expressamente que ela é concedida antes mesmo do nascimento.

Romanos 9.11-13
Ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama), já fora dito a ela: O mais velho será servo do mais moço. Como está escrito: Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú.

E ainda: o evangelho, segundo o poder de Deus, nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos (1Tm 1.9).

Todos os seres humanos são considerados por Deus como culpados porque todos pecaram (Rm 3.23). Portanto, são todos merecedores da justa retribuição por seu pecado: a morte (Rm 6.23).

Não temos onde nos abrigar da justiça de Deus. Estamos todos debaixo de sua justa condenação (Jo 3.18; Rm 3.19).

Todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como um trapo de imundície; todos nós murchamos como a folha e as nossas iniquidades, como um vento, nos arrebatam (Is 64.6).

Sendo assim, o único caminho de salvação é receber a salvação que o Senhor oferece graciosamente a quem ele quer.

II. As obras da graça especial

Os frutos que a graça produz na vida dos filhos de Deus a quem ela é administrada são:

a. A graça especial redime o pecador. A graça de Deus é responsável por tudo o que acontece na vida do pecador para que ele deixe de ser um homem dominado pelo pecado e se torne um amado filho de Deus, adotado em Cristo.

A eleição (Rm 11.5, 6), a vocação eficaz (Gl 1.6, 15), a justificação (Rm 3.14). a própria fé (At 18.27) a santificação (1Pe 5.10) e a glorificação (1Pe 5.10) são todas elas frutos da graça especial de Deus.

Nossa redenção começa e termina com a graça de Deus. Na obra de salvação, nada é feito pelo ser humano, tudo é feito por Deus.

b. A graça especial cria meios para que a salvação alcance o pecador. Deus determina os fins e também determina os meios. O mesmo Deus que determinou, antes da fundação do mundo, salvar seu povo, também determinou os meios necessários para que isso fosse feito.

Paulo argumenta:

Romanos 10.14, 17
Como invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão se não forem enviados?... a fé vem pela pregação.

A pregação do evangelho é uma manifestação da graça especial de Deus. A chegada de Simonton ao Brasil, a distribuição de Bíblias por um batalhão de colportores pelo interior do país, e a preparação de pastores nos seminários são manifestações da graça de Deus.

Sua igreja local, onde você serve ao Senhor, é uma manifestação da graça de Deus.

c. A graça especial de Deus permeia a vida cristã. A graça de Deus age de forma permanente na vida cristã. Isso pode ser visto, por exemplo, na distribuição de dons pelo Espírito Santo (Rm 12.6); na consolação suprema que recebemos diretamente da parte de Deus (2Ts 2.16, 17; Hb 4.16) e na sabedoria que Deus nos dá para vivermos neste mundo em santidade (2Co 1.12).

Conclusão

A graça de Deus se manifesta de duas formas aos seres humanos. A graça comum é aquela dispensada a todos os homens, justos e ímpios, e inclui todas as riquezas naturais, inteligência e talentos dados por Deus aos homens. A graça especial, ministrada somente aos filhos de Deus, é a responsável pela salvação dos mesmos.

Ambas as manifestações da graça de Deus podem ser percebidas em nós. Sua graça comum sempre esteve entre nós. Nós, brasileiros, somos particularmente abençoados pela graça comum de Deus pela vasta diversidade natural, e também pela diversa produção cultural saudável.

Desde a eternidade, Deus decidiu manifestar sua graça salvadora em favor dos redimidos.

Para que isso acontecesse no Brasil, ele preparou irmãos nossos para anunciar o evangelho ao nosso povo. Cada pregador, cada Bíblia, cada igreja usada para anunciar o evangelho com fidelidade é um instrumento da graça de Deus para anunciar a salvação em solo brasileiro.

Aplicação

Agora que você sabe que a natureza é uma dádiva da graça comum de Deus, o que muda em sua forma de se relacionar com ela? E com a cultura? Agora que você sabe que a graça de Deus começa e termina a obra de redenção, que influência isso terá em sua santificação?

Autor: Vagner Barbosa


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