O Ponto de Partida de Tudo: Como a singularidade de Deus transforma seu relacionamento com Ele – Estudo Bíblico sobre o Ser de Deus

Texto básico: João 4.24

Neste estudo, iniciamos a análise sobre a natureza e os atributos de Deus. Ao contrário do que muitos pensam, o estudo desse ramo da teologia não é frio e estéril.

Conhecer a natureza e os atributos de Deus é o primeiro passo para termos um relacionamento mais rico e frutífero com ele. Quanto mais conhecemos o caráter do grande Deus que transcende todas as coisas e, ao mesmo tempo, nos ama e se relaciona conosco, cuidando de nossa vida nos seus mínimos detalhes, mais nos apegamos a ele, e desfrutamos da generosidade de sua graça e da sublimidade de seu amor.

Essa, certamente tem sido a experiência de muitos cristãos em todas as épocas e lugares. Desejando que também seja a nossa, passemos ao estudo.

1. A singularidade de Deus

A primeira coisa que precisamos saber sobre Deus é que ele é único. Não há mais de um Deus. Isso é claramente afirmado na Escritura (Dt 6.4; 32.39; 1 Rs 8.60; 1Co 8.6; Gl 3.20; 1Tm 2.5).

Observando as referências bíblicas acima, você pode perceber que o ensino de que Deus é um só está presente tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento. A doutrina de que existe apenas um Deus vivo e verdadeiro, Criador e Senhor de todas as coisas, é o ponto de partida e pano de fundo da fé cristã.

Embora a Bíblia revele a existência de três pessoas divinas (Pai, Filho e Espírito Santo), ela revela também que há apenas um Deus. Ele é infinito e eterno, e subsiste em três pessoas de uma só natureza.

O politeísmo, portanto, é um erro que deve ser evitado a todo custo pelos cristãos. Disso sabemos. No entanto, precisamos estar atentos para um erro mais sutil. Certamente não temos, em nossas igrejas, bezerros de ouro, como o que Arão construiu no deserto, nem prestamos culto a deuses mitológicos.

No entanto, sempre corremos o risco de formar deuses conforme nossa própria imaginação em nosso coração, projetando no Deus vivo nossas próprias imperfeições e convicções. 

Assim, criamos deuses humanizados que nada tem a ver com o Deus revelado na Escritura; uma espécie de deus criado à nossa imagem e semelhança. Isso também é idolatria e afronta o ensino bíblico de que Deus é um só.

O Deus vivo e verdadeiro é aquele que foi revelado na Escritura e em Cristo. Nossas opiniões e preferências devem ficar de lado. Precisamos aprofundar nosso estudo da Escritura para conhecermos melhor o Deus a quem amamos e servimos.

Quando fala em outros deuses, a Escritura deixa bem claro que esses não são deuses de fato, mas criados pela imaginação humana, desvirtuada pelo pecado.

Deus é sempre apresentado como o único Deus vivo e verdadeiro (Mc 12.28-30; Rm 16.25-27; 1Tm 6.13-16; Jd 4,25).

Os ídolos são descritos como “obra da mão de homens” (Sl 115.4-8; Sl 96.5), nulidade (Jr 2.5), detestáveis e abomináveis (Ez 7.20), contaminação (Ez 20.31), inúteis (Hc 2.18), algo que, de si mesmo, nada é (1Co 8.4; 10.19).

É por isso que Deus pergunta, através de Isaías:

Isaías 40.25
a quem, pois, me comparareis, para que eu lhe seja igual?

Movido somente por sua graça, esse Deus único criou o universo, sustenta-o, governa-o e mantém relações com a parte racional de sua criação. Isso, como veremos a seguir, revela sua imanência.

2. A imanência de Deus

Imanência é a capacidade que Deus. mesmo sendo infinito e eterno, tem de se relacionar conosco, seres finitos e imperfeitos.

Realmente há uma diferença infinita entre nós e Deus. Ele é o Criador, e nós somos suas criaturas. No entanto, isso não significa que Deus esteja ausente, distante de nós, como pensam muitos teólogos e filósofos.

A Escritura é bastante clara ao nos mostrar que Deus está próximo de nós e se interessa profundamente por nós. Aliás, ele se interessa tanto pelos seres humanos, obra de suas mãos, que perguntou ao profeta:

Jeremias 23.24
Ocultar-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? diz o Senhor; porventura, não encho eu os céus e a terra? diz o Senhor.

Por causa de sua imanência, Deus mantém relação com os seres que criou. Sua imanência pode ser vista no fato de que ele criou o universo e pode sustentá-lo, governá-lo e manter relação com os diversos seres vivos:

  • As plantas (Gn 1.11, 12; Sl 147.7, 8; Mt 6.28-30);
  • Os animais (Gn 1.20-25; Sl 104.21);
  • Os seres humanos (Gn 1.26,27; Êx 16.11-15; Dt 8.2,3; 1 Rs 17.12-14; Mt 6.26, 28, 29; Mt 7.7, 8).

Sendo imanente, Deus ama os seres que criou, mostrando por eles interesse genuíno. Na verdade, o amor de Deus fez com que todas as coisas viessem a existir e esse mesmo amor faz com que ela subsista. Se Deus pensasse apenas em si mesmo e para si recolhesse o seu espírito e o seu sopro, toda carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó (Jó 34.14, 15).

A doutrina da imanência de Deus é essencial para o Cristianismo, pois, se Deus não fosse imanente, não poderia se relacionar conosco, nem mesmo realizar nossa salvação através do Verbo encarnado que habitou entre nós.

A Escritura nos apresenta um Deus que se importa conosco, cuida de nós por meio de sua providência e se encarnou, fazendo-se um de nós igual em tudo, exceto no pecado (Hb 4.15; 1Pe 2.22-24).

O Deus da Bíblia...

Filipenses 2.7, 8
...se esvaziou, assumindo a forma de servo, tomando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz.

Ele veste os lírios e alimenta os pardais (Mt 6.25-33). Cuida de cada um de nossos fios de cabelo (Mt 10.30; Lc 12.7) e se preocupa com a quantidade de farinha contida no pote de uma viúva pobre (1 Rs 17.8-16). O caráter imanente de Deus é expresso de forma linda no nome Emanuel: Deus conosco (Mt 1.23).

Cabe aqui um alerta. Se entendermos que Deus é apenas imanente, poderemos cair no erro do panteísmo, que identifica Deus com o universo criado.

Embora imanente, Deus não é material e não está contido no universo que criou. Ele não é parte dele, nem limitado por ele, mas é totalmente distinto, como nos ensina a doutrina da transcendência de Deus.

3. A transcendência de Deus

A doutrina da transcendência de Deus nos ensina que Deus é totalmente distinto e independente do mundo. A Escritura nos ensina claramente que, antes que o universo fosse criado, Deus já existia.

Moisés declara isso se dirigindo ao próprio Deus: Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus (Sl 90.2). Ensinamentos semelhantes são encontrados em toda a Escritura (Gn 21.33; Sl 10.16; 93.2; Is 26.4; Jr 10.10; 1Tm 1.17; Tt 1.2).

Deus não apenas existia antes que houvesse o mundo e o universo, mas ele mesmo foi o Criador de todas as coisas (Gn 1.1 -2.3), sendo, portanto, distinto daquilo que ele mesmo criou.

Além disso, Deus é transcendente também no sentido de que está infinitamente acima e além de todo o universo, inclusive dos seres humanos. Ele ensina, através do profeta Isaías:

Isaías 55.8,9
os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos... porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos.

Ele é o Deus Altíssimo (Gn 14.19-22; Sl 7.17; Sl 47.2; 78.35; Sl 97.9; At 16.17) que está acima de todas as coisas, o Sublime (Is 33.5; 57.15). A doutrina da transcendência de Deus nos ensina que o ser humano não é o ser mais precioso do universo, nem a medida da verdade. Há algo muito além e acima de nós: Deus.

Essa doutrina nos ensina também que a diferença entre Deus e nós não é apenas moral, como pensam os liberais. Ela é também uma diferença qualitativa. Deus é qualitativamente diferente de nós. Nós somos e continuaremos sendo sempre seres humanos, e ele é e continuará sendo sempre Deus.

Assim como acontece com a doutrina da imanência, se enfatizada exageradamente, a doutrina da transcendência pode conduzir a um erro grave. Trata-se do erro de pensarmos que Deus é um ser distante de nós, alheio ao que nos acontece e que, por ser tão exaltado, não se importa e não se relaciona com o universo que criou. Esse é o erro dos chamados deístas.

Eles dizem que Deus é como um grande relojoeiro, que criou o mundo, uma espécie de relógio gigante, estabeleceu leis que o governam (deu corda no relógio) e foi embora, deixando que o mundo funcionasse sozinho. Não é isso que a Bíblia nos ensina. 

O que ela nos diz é que Deus, mesmo sendo tão exaltado e sublime, se importa e se relaciona com o universo que criou. Ele mesmo nos ensina isso, pela boca do profeta Isaías:

Isaías 57.15
Assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos.

Podemos dizer que, de acordo com o ensino da Escritura, as doutrinas da imanência e transcendência de Deus devem caminhar juntas.

Conclusão

O estudo da natureza do único Deus vivo e verdadeiro tem muito a nos ensinar sobre a forma correta de nos relacionarmos com ele. Esse, portanto, é um estudo muito dinâmico e que encontra muitas aplicações práticas para a nossa vida cristã.

A doutrina da natureza singular, imanente e transcendente de Deus ganha ainda mais relevância em nossa época, na qual a Nova Era procura retomar o politeísmo, o esoterismo e o panteísmo de tempos passados. 

Além disso, a correria e a solidão do mundo moderno nos assediam com a angústia de nos imaginarmos fora do alcance dos interesses, da providência e do amor de Deus. Tudo isso é evitado quando compreendemos a doutrina da natureza de Deus, que nos edifica, conforta e consola.

Aplicação

Você alguma vez já sentiu que Deus está tão distante de você que parece até mesmo não se interessar pelos seus problemas? Como este estudo pode ajudá-lo a vencer esse sentimento?

A grandeza de Deus

Deus é grande (Dt 7.21; Ne 4.14; Sl 48.1; 86.10; 95.3; 145.3; Dn 9.4), maior do que a nossa capacidade de entender. A teologia afirma esta verdade, descrevendo-o como "incompreensível" — não que ele seja irracional ou ilógico, para impedir-nos de seguir os seus pensamentos, absolutamente, mas para dizer-nos que nossas mentes não podem compreendê-lo porque ele é infinito e nós finitos.

As Escrituras falam de Deus como quem habita não só em trevas densas e impenetráveis, mas também em luz inacessível (Sl 97.2; 1Tm 6.16). Estas duas imagens expressam o mesmo pensamento: nosso Criador está acima de nós e medi-lo está além do nosso poder.

Deus nos diz na Bíblia que a criação, a providência, a Trindade, a encarnação, a obra regeneradora do Espírito, a união com Cristo em sua morte e ressurreição e a inspiração das Escrituras — para não ir além — são fatos, e nós os aceitamos com base na sua palavra, sem saber como tudo isto pôde ser feito. Como criaturas somos incapazes de compreender plenamente o ser ou as ações do Criador.

Contudo, assim como seria errado supor que sabemos tudo sobre Deus (e deste modo aprisioná-lo no estojo da nossa própria limitada noção a respeito dele), seria errado também duvidar de que o nosso conceito de Deus constitua um real conhecimento dele. 

Uma das consequências de termos sido feitos à imagem de Deus é que nós somos capazes de conhecer a respeito dele, e de conhecê-lo relacionalmente de um modo verdadeiro, embora limitado.

Calvino fala de Deus dizendo que ele condescende com as nossas fraquezas e acomoda-se à nossa incapacidade, tanto na inspiração das Escrituras como na encarnação de seu Filho, com o objetivo de permitir-nos genuína compreensão a seu respeito. 

Por analogia, a forma e a substância da linguagem dos pais, quando falam com a criança não se comparam com o pleno conteúdo da mente dos pais, quando se expressam em conversações com outro adulto; porém, ainda assim, mesmo com a linguagem infantil, a criança recebe verdadeira informação a respeito dos pais, e responde com crescente amor e confiança.

Esta é a razão pela qual o Criador se apresenta para nós antropomorficamente, como tendo rosto (Êx 33.11), ouvidos (Ne 1.6) e olhos (Jó 28.10); ou como tendo pés (Na 1.3) sentando-se sobre o trono (1Rs 22.19), voando nas asas do vento (Sl 18.10) ou combatendo em batalhas (2Cr 32.8; Is 63.1-6). 

Estas não são descrições daquilo que Deus é em si mesmo, mas daquilo que ele é para nós: Deus transcendente que se relaciona com o seu povo como Pai e Amigo. Deus vem até nós para nos conquistar em amor e confiança, mesmo que, de certo modo, sejamos sempre crianças e entendamos só em parte (1Co 13.12).

Nunca devemos esquecer que o propósito da teologia é a doxologia; estudamos com o objetivo de louvar. A mais verdadeira expressão de confiança em Deus será sempre o culto e louvar a Deus por ser maior do que compreendemos será sempre o culto mais apropriado.

Autor: Vagner Barbosa


Lista de estudos da série

1. O Ponto de Partida de Tudo: Como a singularidade de Deus transforma seu relacionamento com Ele – Estudo Bíblico sobre o Ser de Deus

2. A Evidência Definitiva: Onde encontrar a certeza inabalável da Sua existência – Estudo Bíblico sobre a Existência de Deus

3. O Mistério Revelado: Como conhecer um Deus infinito sendo uma pessoa finita – Estudo Bíblico sobre a Revelação de Deus

4. O DNA Divino: As 2 chaves para entender o caráter de Deus – Estudo Bíblico sobre os Atributos de Deus

5. Alívio para os Aflitos: O segredo para receber o favor de Deus na sua dor – Estudo Bíblico sobre a Misericórdia de Deus

6. O Presente que Você Não Merece: Como a graça divina reescreve sua história – Estudo Bíblico sobre a Graça de Deus

7. A Força Mais Poderosa do Universo: Descubra as 3 verdades sobre o amor que age – Estudo Bíblico sobre o Amor de Deus

8. O Padrão Inegociável: Por que a santidade de Deus é a sua maior segurança – Estudo Bíblico sobre a Santidade de Deus

9. A Balança Perfeita: Como a justiça divina garante a ordem do universo e a sua paz – Estudo Bíblico sobre a Justiça de Deus

10. Fogo Santo: O que ninguém te contou sobre a ira de Deus e por que ela é boa notícia – Estudo Bíblico sobre a Ira de Deus

11. O Poder Sem Limites: O que a onipotência de Deus significa para suas impossibilidades – Estudo Bíblico sobre Onipotência e Vontade de Deus

12. A Mente Que Sabe Tudo: Como a onisciência de Deus traz conforto e direção para sua vida – Estudo Bíblico sobre a Onisciência de Deus

13. A Rocha Inabalável: Encontre segurança eterna na principal característica de Deus – Estudo Bíblico sobre a Imutabilidade de Deus

Semeando Vida

Postar um comentário

O autor reserva o direito de publicar apenas os comentários que julgar relevantes e respeitosos.

Postagem Anterior Próxima Postagem
Ajuste a fonte: