Texto básico: Hebreus 11.6; Isaías 40.12-31
Nos estudos anteriores, vimos que Deus existe, é um só, imanente e, ao mesmo tempo, transcendente. Isso significa que podemos ter algum conhecimento a respeito de Deus. Mas esse conhecimento é mesmo confiável?
Podemos falar confiantemente que temos um conhecimento verdadeiramente seguro sobre a natureza e a existência de Deus? Ele pode ser conhecido de maneira plena, a tal ponto de dizermos que conhecemos tudo sobre a natureza divina?
Neste estudo, veremos que, embora Deus possa ser conhecido, jamais poderá ser completamente conhecido.
1. O Deus que pode ser conhecido: revelação
Vimos no estudo anterior que, por termos sido feitos à imagem e semelhança de Deus, temos implantados em nós, desde o nascimento, a semente da religião e a noção da existência de Deus.
Isso significa que Deus criou o homem com a capacidade de conhecê-lo e de se relacionar com ele. Para tanto Deus se revela ao homem de diversas formas: através das obras da criação, da condução da história e, sobretudo, da Sagrada Escritura.
Se Deus não se revelasse não teríamos nenhum conhecimento sobre ele. Só podemos adquirir conhecimento de Deus na medida em que ele se revela a nós. Sem a revelação, o homem nunca poderia ter nenhum conhecimento de Deus, pois o conhecimento de Deus não se dá através de uma iniciativa humana.
Pelo contrário, Deus é quem vem ao encontro do homem e, ativa e soberanamente, se revela a ele. Não é a razão humana que descobre algo a respeito de Deus, mas Deus quem se revela ao homem que o contempla pelos olhos da fé.
Assim, Deus só pode ser conhecido pelo ser humano na medida em que este compreende aquilo que o Senhor revela sobre si mesmo e cumpre a sua vontade revelada.
O autor de Hebreus afirma que “é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe" (Hb 11.6), e Davi diz que “a intimidade do Senhor é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança” (Sl 25.14).
Contudo, como Deus transmitiu sua revelação de modo escrito e proposicional, o homem precisa examinar a revelação de Deus e, orientado pelo Espírito, buscar compreender com a sua mente o conteúdo da revelação.
O conhecimento humano é limitado. Portanto, mesmo que Deus tivesse revelado tudo sobre si mesmo (o que ele não fez Dt 29.29), o ser humano jamais teria condições de compreender tudo sobre Deus. O finito jamais poderá compreender o infinito.
Deus se revela de acordo com a capacidade que ele mesmo concedeu aos seres humanos. Em sua revelação, Deus se acomoda à mente humana, isto é, ele se revela respeitando nossas limitações de uma forma que possa ser conhecido por um ser limitado.
É por isso, por exemplo, que Deus, sendo um espírito infinito e eterno, se revela na Escritura como tendo braço, mãos, pés, como sendo um cavaleiro, uma rocha, e assim por diante.
Portanto, Deus se revela usando uma linguagem adequada à nossa compreensão. Embora o conhecimento que o ser humano tem de Deus seja sempre limitado, Deus se revela de forma que o homem possa conhecê-lo em um grau adequado à realização de seu propósito.
O conhecimento que o ser humano possui de Deus é limitado e a revelação que Deus faz de si mesmo é parcial, no entanto, essa revelação é suficiente para dar-nos um conhecimento verdadeiro e seguro sobre Deus.
2. O Deus incompreensível
Deus pode ser conhecido, mas não pode ser completamente compreendido. Mesmo tendo um conhecimento confiável e verdadeiro de Deus, fornecido pelo próprio Deus em sua palavra, não podemos compreender sua natureza interior, sua mente e seus caminhos.
A incompreensibilidade de Deus é revelada claramente em textos bíblicos tais como Romanos 11.33,34; Jó 26.14; 36.26.
Sendo infinito, Deus é totalmente insondável. Ninguém pode penetrar as insondáveis profundezas de Deus. Elas são inescrutáveis. Não se pode esquadrinhar o seu entendimento (Is 40.28). Somente o Espírito do próprio Deus pode sondar as suas inescrutáveis profundezas.
Alguns dos atributos de Deus estão diretamente relacionados ao fato de Deus ser incompreensível. Vejamos alguns deles:
A. A espiritualidade de Deus
O fato de que Deus é espírito é um dos ensinos mais evidentes da Escritura. Embora a Escritura use termos masculinos para se referir a Deus, ele não é homem nem mulher. Deus é espírito (Jo 4.24).
Esse ensino da Escritura mostra que está equivocada a chamada teologia feminista, que se esforça para fazer com que Deus seja também chamado de “Deusa” e para apresentar a Trindade como Pai/Mãe, Filho e Espírito.
Deus é um ser diferente dos seres humanos que se dividem em dois gêneros distintos; masculino e feminino. Deus não tem gênero, sexo ou corpo. Ele não tem forma física nem qualquer tipo de aparência. É por isso que atribuir forma a Deus, através de imagens de adoração, é um pecado tão grande e combatido com tanta severidade na Escritura (Is 40.17, 18,25).
No decorrer da revelação bíblica, Deus algumas vezes assumiu formas para transmitir alguma revelação no contexto da aliança. Deus assumiu, por exemplo, a forma de fogo (Êx 3.2-4) e de fumaça (Êx 20.18-21). Essas formas recebem o nome de teofanias. No entanto, essas formas que Deus assumiu não pertencem à sua natureza, pois ele é espírito invisível (1 Tm 1.17).
B. A infinitude de Deus
Deus é infinito. Quando fazemos essa afirmação estamos dizendo que Deus não é sujeito a limitações. Os seres humanos são limitados pelo tempo e pelo espaço, mas isso não acontece com Deus, pois ele é infinito. Sua infinitude em relação ao tempo é chamada de eternidade, e em relação ao espaço, é chamada de onipresença.
Deus é eterno. A eternidade de Deus é um dos atributos divinos mais difíceis de serem compreendidos. Estamos tão presos à categoria do tempo que não podemos escapar da noção de passado, presente e futuro.
No entanto, por ser infinito, Deus não está sujeito à noção temporal. Para Deus, não existe passado, presente e futuro. No entanto, nós só conseguimos pensar em termos de tempo e espaço. É por isso que a Escritura, quando fala na eternidade de Deus, usa imagens temporais. Neste ponto pode-se perceber a acomodação de Deus em sua revelação.
Moisés, por exemplo, diz:
Salmos 90.2
Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade tu és Deus.
Os seres humanos estão em constante mudança, no decorrer dos anos. Deus, ao contrário, é o mesmo de geração a geração (Sl 90.1). Deus não é afetado pelo tempo.
Salmos 90.3-4
Mil anos, aos seus olhos, são como o dia de ontem que se foi, e como a vigília da noite.
Deus, portanto, é eterno. Foi ele quem criou o tempo, e, portanto, está fora dele.
Deus é onipresente. Deus não é limitado pelo espaço. Ele está em toda parte. À capacidade divina de estar em toda parte ao mesmo tempo damos o nome de onipresença. Falando sobre a onipresença de Deus, o salmista diz:
Salmos 139.7-10
Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a tua mão e a tua destra me susterá.
Portanto, Deus é onipresente. Isso significa que ele está em cada parte do universo ao mesmo tempo. É importante lembrar que, embora ocupe todo o universo, Deus não é o universo.
Ele é o Criador do universo, e, portanto, completamente distinto dele. Também devemos observar que Deus não está contido no universo. Ele também não está espalhado pelo universo, como se sua cabeça estivesse em uma parte dele e seus pés estivessem em outro lugar. Deus está presente em todo o universo com todo o seu ser. Esse é o sentido da onipresença de Deus.
A onipresença de Deus é conforto para os crentes em suas tentações e angústias. O fato de sabermos que Deus está presente conosco, onde quer que estejamos nos dá a certeza de que estamos protegidos. Assim como Jesus, podemos ter a certeza de que Deus está conosco (Jo 16.32).
Ela também nos conforta em nossas angústias, pois a certeza da presença de Deus, nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na tribulação (Sl 46.1), nos anima e fortalece.
Conclusão
Podemos ter algum conhecimento de Deus porque ele se revela a nós, dando-se conhecer. Esse conhecimento não é completo, pois Deus é infinito e nós somos finitos. Deus não tem limites, mas nosso conhecimento os tem.
No entanto, embora nosso conhecimento de Deus seja limitado, ele é seguro e confiável, pois se baseia na revelação que o próprio Deus deu de si mesmo.
Como Deus transmitiu sua revelação de modo escrito e proposicional, o homem precisa examinar a revelação de Deus e, orientado pelo Espírito, buscar compreender com a sua mente o conteúdo da revelação.
No entanto, nosso conhecimento será sempre limitado e jamais poderemos compreender Deus em sua natureza infinita. Esse Deus insondável é espírito, não tem sexo, gênero, forma ou corpo. Ele é invisível, eterno e onipresente. A ele seja a glória eternamente. Amém!
Aplicação
Deus não pode ser completamente compreendido, mas pode ser conhecido. Você tem realmente se empenhado em estudar a Bíblia para aprender mais sobre Deus e ter uma comunhão mais forte e vibrante com ele ou tem negligenciado a revelação de Deus em sua palavra?
O que você tem feito com o conhecimento que tem adquirido sobre ele na Escritura? Na medida em que aprende um pouco mais sobre Deus você tem crescido em comunhão com ele ou tem permitido que esse conhecimento se seco e sem vida?
"Este é o meu nome": a auto-revelação de Deus
No mundo moderno o nome de uma pessoa pode ser apenas um rótulo, sem revelar nada a respeito dela.
Os nomes bíblicos, contudo, têm como fundo uma ampla tradição, segundo a qual o nome de uma pessoa oferece significativa informação a respeito de quem o usa. O Antigo Testamento frequentemente celebra o fato de Deus tornar seu nome conhecido a Israel e os Salmos, muitas e muitas vezes, elevam louvores ao nome de Deus (Sl 8.1; 113.1-3; 145.1,2; 148.5, 13).
"Nome” aqui significa o próprio Deus, como ele se revelou por palavras e ações. No coração dessa auto revelação está o nome pelo qual Deus autorizou Israel a invocá-lo, nome comumente traduzido por "O SENHOR" (no lugar do termo hebreu Yahweh, como os eruditos modernos o pronunciam, ou “Jeová”, como é às vezes escrito).
Deus declarou esse nome a Moisés, quando lhe falou a partir da sarça que se queimava mas não se consumia. Deus primeiro identificou-se como o Deus que tinha se empenhado num pacto com os patriarcas (Gn 17.1-14); mas quando Moisés perguntou-lhe o que deveria dizer ao povo quando este quisesse saber qual era o seu nome (pois os antigos supunham que a oração só seria respondida se o destinatário fosse nomeado corretamente), Deus primeiro respondeu; "Eu Sou o que Sou", depois abreviou para “Eu Sou”.
O nome Yahweh (SENHOR) soa como "Eu Sou" em hebraico; e Deus, finalmente, chamou-se a si mesmo “O SENHOR, Deus de teus pais” (Êx 3.15,16). O nome, em todas as suas formas, proclama a realidade eterna e soberana que se auto sustenta e se autodetermina, ou seja, o seu modo sobrenatural de existência, que a sarça ardente representou (Êx 3.2).
A sarça que não se consumia ilustrava a própria vida inesgotável de Deus. Ao designar Yahweh como “Meu nome eternamente” (Êx 3.15), Deus indicou que seu povo deveria sempre pensar nele como Rei vivo, poderoso e sempre reinando, Rei que a sarça ardente o mostrava ser.
Mais tarde Moisés pediu para ver a glória de Deus. Em resposta, Deus proclamou "o nome”: “SENHOR, SENHOR Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado" (Ex 34.6,7). Na sarça ardente Deus tinha manifestado a questão do modo de sua existência. Agora ele responde à questão de como podemos descrever as suas ações.
Esta proclamação fundamental do seu caráter moral ecoa, com frequência, em passagens posteriores das Escrituras (Ne 9.17; Sl 86.15; Jl 2.13; Jn 4.2). Todas estas revelações são parte do seu "nome” e revelam a sua natureza, em função da qual ele deve ser reverenciado e glorificado para sempre.
No Novo Testamento, as palavras e atos de Jesus, o Filho encarnado de Deus, constituem a plena revelação da mente, do caráter e do propósito de Deus, o Pai (Jo 14.9-11, cf. 1.18). A frase "Santificado seja o teu nome", na oração do Pai Nosso, expressa o desejo de que Deus seja reverenciado e louvado como merece o esplendor da totalidade de sua auto revelação.
Autor: Vagner Barbosa
Lista de estudos da série
1. O Ponto de Partida de Tudo: Como a singularidade de Deus transforma seu relacionamento com Ele – Estudo Bíblico sobre o Ser de Deus2. A Evidência Definitiva: Onde encontrar a certeza inabalável da Sua existência – Estudo Bíblico sobre a Existência de Deus
3. O Mistério Revelado: Como conhecer um Deus infinito sendo uma pessoa finita – Estudo Bíblico sobre a Revelação de Deus
4. O DNA Divino: As 2 chaves para entender o caráter de Deus – Estudo Bíblico sobre os Atributos de Deus
5. Alívio para os Aflitos: O segredo para receber o favor de Deus na sua dor – Estudo Bíblico sobre a Misericórdia de Deus
6. O Presente que Você Não Merece: Como a graça divina reescreve sua história – Estudo Bíblico sobre a Graça de Deus
7. A Força Mais Poderosa do Universo: Descubra as 3 verdades sobre o amor que age – Estudo Bíblico sobre o Amor de Deus
8. O Padrão Inegociável: Por que a santidade de Deus é a sua maior segurança – Estudo Bíblico sobre a Santidade de Deus
9. A Balança Perfeita: Como a justiça divina garante a ordem do universo e a sua paz – Estudo Bíblico sobre a Justiça de Deus
10. Fogo Santo: O que ninguém te contou sobre a ira de Deus e por que ela é boa notícia – Estudo Bíblico sobre a Ira de Deus
11. O Poder Sem Limites: O que a onipotência de Deus significa para suas impossibilidades – Estudo Bíblico sobre Onipotência e Vontade de Deus
12. A Mente Que Sabe Tudo: Como a onisciência de Deus traz conforto e direção para sua vida – Estudo Bíblico sobre a Onisciência de Deus
13. A Rocha Inabalável: Encontre segurança eterna na principal característica de Deus – Estudo Bíblico sobre a Imutabilidade de Deus