Deus teve que fazer muitas coisas para que nossa redenção fosse possível. Ele teve que decretá-la na eternidade, enviar o Filho para que cumprisse a lei, sendo obediente até a morte, morresse na cruz e ressuscitasse ao terceiro dia.
Depois, fez com que seus discípulos fossem espalhados por todo o mundo, pregando o evangelho, trouxe missionários para o Brasil e, finalmente, através de um longo e incansável trabalho de pregação, o evangelho da salvação chegou até nós.
Será mesmo justificável todo esse empenho da parte de Deus para que nossos pecados fossem perdoados? Não seria mais fácil se Deus simplesmente fechasse os olhos para o pecado das pessoas que ele desejava salvar e os recebesse?
Na verdade, isso não é possível. Deus não poderia fechar os olhos para os pecados cometidos pelo ser humano porque ele é santo, e, por isso a satisfação de sua justiça e a expiação para o perdão dos pecados foram necessárias. Isso exigiu toda uma obra de redenção planejada e executada por Deus.
Deus é santo. A santidade é a perfeição de Deus, em virtude da qual ele eternamente quer manter e mantém sua excelência moral, aborrece o pecado, e exige pureza moral em suas criaturas.
I. A santidade de Deus: majestosa e moral
A palavra usada na Escritura traduzida por “santidade” significa “corte” ou “separação”. A Escritura fala da santidade de Deus em dois sentidos. O primeiro se refere ao fato de Deus estar separado de todas as criaturas e exaltado acima delas.
Nesse sentido, a santidade de Deus traz a ideia de majestade absoluta. É a respeito desse significado da santidade de Deus que Moisés fala em Êxodo 15.11:
Êxodo 15.11
Ó, Senhor, quem é como tu, glorificado em santidade, terrível em feitos gloriosos, que operas maravilhas?
Esse tipo de santidade majestosa desperta no ser humano um sentimento de nulidade, como aconteceu com o profeta Isaías. Quando viu o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, ele afirmou:
Isaías 6.5
Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos.
A santidade de Deus, nesse sentido, está ligada ao fato de ele ser glorioso, infinitamente separado e exaltado acima de todas as suas criaturas.
O segundo, que mais nos interessa neste estudo, é o da separação de Deus do mal e do pecado. A santidade de Deus, nesse sentido, tem uma forte conotação moral. Em virtude de sua perfeita santidade moral, Deus é totalmente separado do mal e do pecado.
Essa santidade moral é o atributo de Deus que faz com que ele se mantenha sempre puro e afastado de todo pecado e que todas as suas obras e leis sejam santas. Essa santidade de Deus afeta os seres humanos, pois requer santidade deles.
II. A manifestação da santidade de Deus
A santidade de Deus se manifesta em tudo o que ele é e faz. Ao estudarmos as lições sobre a justiça e a ira de Deus, veremos como ela se manifesta naquilo que ele é, exigindo que ele seja sempre justo e requerendo que se manifeste de forma ativa contra o pecado.
Neste estudo, veremos como ela se manifesta naquilo que ele faz.
1. A manifestação da santidade de Deus em suas obras
A Escritura nos ensina que justo é o Senhor em todos os seus caminhos, benigno em todas as suas obras (Sl 145.17). A santidade de Deus é a principal característica de todas as suas obras.
Tudo o que Deus faz tem o selo de sua majestade. Depois de criar o mundo, viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom (Gn 1.31). O ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, foi criado num estado de retidão, antes de se meter em muitas astúcias (Ec 7.29).
E até mesmo os anjos caídos e o próprio Satanás, quando criados por Deus, foram criados bons (Jd 6; Ez 28.15). O pecado e a impureza não procedem de Deus como uma espécie de “defeito de fabricação” inerente à criação.
Pelo contrário, o pecado procede das criaturas de Deus (anjos e homens), que, tendo sido criados santos e retos, se rebelaram contra o Criador. Tudo o que procede de Deus é bom e perfeito porque ele é justo e reto (Dt 32.4).
2. A manifestação da santidade de Deus em suas leis
O apóstolo Paulo diz que a lei de Deus é santa; e o mandamento, santo, justo e bom (Rm 7.12) e Davi diz que a lei do Senhor é perfeita e restaura a alma; o testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é puro e ilumina os olhos (Sl 19.7,8).
E todos os 176 versículos do Salmo 119 falam da excelência da lei de Deus, que reflete o caráter santo do Legislador. A lei moral é a mais clara demonstração do caráter santo de Deus.
Por causa de sua santidade, ela proíbe o pecado. Os mandamentos de Deus são frequentemente chamados de “juízos” (p. ex., Sl 119.7, 13,20) porque julgam o que é bom e o que é mau.
O caráter santo de Deus também é expresso na lei cerimonial quando ele ordena a realização de sacrifícios pelos pecados, revelando que sem derramamento de sangue, não pode haver remissão de pecados (Hb 9.22).
3. A manifestação da santidade de Deus na redenção
Deus criou o ser humano bom. O pecado foi que destituiu da santidade original, a criação de Deus. Para receber o pecador a justiça de Deus precisava ser satisfeita.
Deus perdoa o pecador, mas nunca deixa de punir o pecado nem de executar sua justiça. Os pecados dos eleitos, portanto, precisavam receber o castigo merecido.
Ele fez isso através de um substituto, Cristo Jesus; Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (Gl 3.13).
Ele recebeu a punição pelo pecado dos eleitos. Aqueles que não têm Cristo como seu substituto receberão pessoalmente a punição merecida pelos seus pecados.
III. A santidade de Deus e a nossa
O primeiro fator que devemos observar quando tratamos dessa questão é a diferença que existe entre a santidade de Deus e a nossa. Em Deus, a santidade é um atributo, isto é, uma qualidade essencial. Nos seres humanos, a santidade é qualidade adquirida.
Além disso, a santidade de Deus é infinita e perfeita, enquanto a santidade dos seres humanos é sempre imperfeita nesta vida. Assim como Deus é eterno, sua santidade também é eterna. A santidade humana é finita e imperfeita.
Este reconhecimento de imperfeição deve nos trazer grande humildade. Quando nos esquecemos disso, corremos o risco de cair no erro do orgulho espiritual. Quando nos esquecemos de nossas imperfeições nos vemos mais santos que os nossos irmãos.
É claro que os cristãos estão em estágios diferentes no processo de santificação. Usando uma metáfora, a Escritura chama esse processo de “despir-se do velho homem e revestir-se do novo homem” (Ef 4.24).
Despir-se do velho homem significa abandonar os pecados que cometíamos antes de sermos alcançados pela graça salvadora de Deus, e revestir-se do novo homem significa praticar aquilo que sabemos que é do agrado de Deus. Isto é, cultivar uma vida de piedade que reflita nossa relação pactual com Deus através de Cristo mediante a fé.
É certo que há crentes mais avançados nesse processo, pela graça de Deus, enquanto outros estão ainda no início do mesmo.
No entanto, quando a santificação é legítima, ela não nos conduz a uma atitude de ostentação e “orgulho espiritual”, mas a uma atitude de piedade e humildade.
Geralmente, o orgulho espiritual leva aos caminhos tortuosos da hipocrisia, como aconteceu com os fariseus no tempo de Jesus. Eles criavam leis para que eles mesmos as cumprissem e, assim, ostentassem uma superioridade espiritual em relação aos demais judeus.
Jesus ironizou a atitude deles dizendo que eles se sentavam na cadeira de Moisés, isto é, estabeleciam leis e as davam ao povo como se fossem leis de Deus. Jesus condenou a hipocrisia dos fariseus com toda clareza e veemência (Mateus 23.1-36).
O segundo fator que devemos observar quando tratamos dessa questão é que nosso procedimento deve refletir a santidade de Deus. O apóstolo Pedro nos ensina:
1 Pedro 1.15-16
Segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo.
A santidade de Deus é o padrão pelo qual devemos orientar nosso procedimento. É verdade que não conseguiremos, nesta vida, atingir uma santidade perfeita.
No entanto, isso não deve nos impedir de desenvolver nossa santidade no temor do Senhor até onde ele nos permitir. O Senhor exige de nós uma vida de piedade e santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb 12.14).
O terceiro fator a ser observado é que, sendo Deus é perfeito e infinitamente santo, devemos nos aproximar dele com reverência.
Salmos 99.5
Exaltai ao Senhor, nosso Deus, e prostrai-vos ante o escabelo de seus pés, porque ele é santo.
Em nossos dias é muito comum ouvirmos dizer que podemos e devemos nos relacionar com Deus numa intimidade que beira à falta de respeito.
E desse pensamento que nascem erros grosseiros como as “exigências” e "determinações” que homens fazem a Deus, tais como: “Eu exijo que o Senhor cure minha esposa”, “eu determino que essa casa seja minha”, dentre tantas outras coisas comuns no evangelicalismo brasileiro.
O fato de sabermos que somos filhos do Altíssimo não deve ser razão para a intimidade irreverente, mas para uma atitude de piedade, humildade e reverência.
Grandes servos do Senhor (que também eram seus filhos) demonstraram reverência diante dele. Isso aconteceu com Moisés, que tirou as sandálias; com Daniel, que orava de joelhos (Dn 6.10); com Isaías, que pensou que estava perdido porque seus olhos tinham visto o Senhor (Is 6.5); e com o próprio Jesus, o Filho de Deus, que orava de joelhos ao Pai (Lc 22.41).
Ter reverência não significa ter um relacionamento frio com Deus, mas tratá-lo como Deus, sabendo que ele é o Senhor e nós somos criaturas, filhos e servos (Gn 1.27; Jo 1.12; Rm 6.22; 1Co 3.5; Gl 1.10).
Quando perdemos a noção da santidade de Deus e da reverência exigida pela mesma corremos o risco de nos acostumarmos com as coisas santas e as tratarmos com menosprezo. Precisamos redescobrir a bênção de tirar as sandálias e cobrir o rosto (Êx 3.5; 33.17-23; Is 6.2).
Conclusão
O pecado é um assunto muito sério. Deus não podia simplesmente fechar os olhos para ele. Em virtude de sua santidade, ele precisa se manter afastado do pecado. Como o pecado mancha a natureza humana, Deus precisa se manter afastado do ser humano.
Para que essa separação fosse desfeita e a comunhão entre Deus e o ser humano fosse restaurada, Deus providenciou a redenção, através de Cristo (Rm 5.1).
Por isso, a chegada do primeiro missionário ao Brasil é um evento tão importante. Ela marca o início do trabalho de pregação do evangelho a brasileiros.
A partir daí, centenas de milhares de brasileiros tiveram seus pecados perdoados e sua comunhão com Deus restaurada. Muitos deles já foram se encontrar com Deus. Outros ainda militam neste mundo.
Aplicação
Zelar por sua santidade não é uma opção, mas uma obrigação. A santidade é uma necessidade na vida cristã. De forma prática, o que você pode fazer para abandonar o pecado e desenvolver uma vida de piedade e comunhão com Deus?
Deus é luz: santidade e justiça divinas
Quando as Escrituras chamam de "santo" a Deus ou cada uma das Pessoas da Deidade (como faz com frequência: Lv 11.44,45; Js 24.19; 1Sm 2.2; Sl 99.9; Is 1.4; 6.3; 41.14, 16, 20; 57.15; Ez 39.7; Am 4.2; Jo 17.11; At 5.3,4, 32; Ap 15.4), essa palavra significa tudo o que, a respeito de Deus, o separa de nós e o torna objeto de admiração, de adoração e de temor para nós. Essa palavra cobre todos os aspectos da grandeza transcendente e da perfeição moral de Deus e é característica de todos os seus atributos, apontando para a Deidade de Deus, em todos os aspectos.
A essência desta verdade, contudo, é a pureza que não pode tolerar qualquer forma de pecado (Hc 1.13) e chama os pecadores a humilhar-se constantemente em sua presença (Is 6.5).
Justiça — que significa agir retamente em todas as circunstâncias — é uma expressão da santidade de Deus. Ele mostra a sua justiça como Legislador e Juiz e, também, como Cumpridor de promessas e Perdoador de pecado. Sua lei moral, que exige do homem comportamento semelhante ao seu, é santa e justa e boa (Rm 7.12).
Ele julga com justiça de acordo com o merecimento verdadeiro (Gn 18.25; Sl 7.11, 96.13; At 17.31). Sua ira, sua hostilidade judicial ativa contra o pecado é totalmente justa em suas manifestações (Rm 2.5-16), e seus julgamentos particulares (punições retributivas) são gloriosas e louváveis (Ap 16.5, 7; 19.114). Quando Deus cumpre o compromisso envolvido no seu pacto, e age para salvar o seu povo, isso é um ato de sua justiça (Is 51.5,6; 56.1; 63.1; 1Jo 1.9).
Quando Deus justifica os pecadores por meio da fé em Cristo, ele o faz com base na justiça feita — a punição dos nossos pecados na pessoa de Cristo, o nosso substituto. A forma tomada por sua misericórdia perdoadora mostra que ele é absoluto e totalmente justo (Rm 3.25,26), e nossa justificação se revela judicialmente justificada.
Quando João diz que Deus é "luz” e nele absolutamente não há trevas, a figura da luz afirma a pureza santa de Deus, o que torna impossível a comunhão entre ele e a impiedade obstinada. Exige que a busca da santidade e da justiça seja uma preocupação central na vida do povo cristão (1 Jo 1.5-2.1; 2Co 6.14-7.1; Hb 12.10-17).
A convocação dos cristãos — regenerados e perdoados como são — para praticarem uma santidade que se assemelhará à do próprio Deus e para assim agradá-lo, é constante no Novo Testamento como, em verdade, era também no Antigo Testamento (Dt 30.1-10; Ef 4.17-5.14; 1Pe 1.13-22).
Autor: Vagner Barbosa
Lista de estudos da série
1. O Ponto de Partida de Tudo: Como a singularidade de Deus transforma seu relacionamento com Ele – Estudo Bíblico sobre o Ser de Deus2. A Evidência Definitiva: Onde encontrar a certeza inabalável da Sua existência – Estudo Bíblico sobre a Existência de Deus
3. O Mistério Revelado: Como conhecer um Deus infinito sendo uma pessoa finita – Estudo Bíblico sobre a Revelação de Deus
4. O DNA Divino: As 2 chaves para entender o caráter de Deus – Estudo Bíblico sobre os Atributos de Deus
5. Alívio para os Aflitos: O segredo para receber o favor de Deus na sua dor – Estudo Bíblico sobre a Misericórdia de Deus
6. O Presente que Você Não Merece: Como a graça divina reescreve sua história – Estudo Bíblico sobre a Graça de Deus
7. A Força Mais Poderosa do Universo: Descubra as 3 verdades sobre o amor que age – Estudo Bíblico sobre o Amor de Deus
8. O Padrão Inegociável: Por que a santidade de Deus é a sua maior segurança – Estudo Bíblico sobre a Santidade de Deus
9. A Balança Perfeita: Como a justiça divina garante a ordem do universo e a sua paz – Estudo Bíblico sobre a Justiça de Deus
10. Fogo Santo: O que ninguém te contou sobre a ira de Deus e por que ela é boa notícia – Estudo Bíblico sobre a Ira de Deus
11. O Poder Sem Limites: O que a onipotência de Deus significa para suas impossibilidades – Estudo Bíblico sobre Onipotência e Vontade de Deus
12. A Mente Que Sabe Tudo: Como a onisciência de Deus traz conforto e direção para sua vida – Estudo Bíblico sobre a Onisciência de Deus
13. A Rocha Inabalável: Encontre segurança eterna na principal característica de Deus – Estudo Bíblico sobre a Imutabilidade de Deus