Texto básico: Salmos 136.1-26
No dia 12 de agosto, a chegada do missionário Ashbel Green Simonton ao Brasil faz mais um aniversário.
Ele foi o primeiro missionário a chegar ao Brasil com o intuito de evangelizar brasileiros. Naquela época as denominações evangélicas existentes no Brasil se dedicavam quase que exclusivamente à pregação nas colônias de imigrantes europeus.
O povo brasileiro não conhecia outra religião cristã além do Catolicismo, em cujas igrejas o povo afluía para ouvir pregações em latim.
O povo estava sedento do evangelho da salvação, mas os missionários estrangeiros, em sua maioria americanos, se dirigiam aos montes para a China e para a África.
Em 1859, Deus teve misericórdia do povo brasileiro e enviou para o Brasil o primeiro missionário que veio exclusivamente pregar para brasileiros, e hoje, quase 166 anos depois, temos em nosso país uma imensa multidão de pessoas alcançadas pela mensagem salvadora do evangelho.
Temos a maior Sociedade Bíblica do mundo, que imprime cerca de quatro milhões de Bíblias por ano, em muitas línguas, e temos enviado missionários para muitas partes do mundo. Deus teve misericórdia de nós e por nós fez grandes coisas. Louvado seja Deus!
1. Os objetos da misericórdia de Deus
A Escritura apresenta Deus como um ser misericordioso (Sl 136.1-26). Podemos definir misericórdia como “a bondade ou amor de Deus demonstrado para com os que se acham na miséria ou na desgraça, independentemente dos seus méritos".
Mas a quem Deus dirige sua misericórdia? Para responder a essa pergunta, precisamos fazer uma distinção entre misericórdia geral e misericórdia especial.
A. Misericórdia geral
A misericórdia geral de Deus é aquela que Deus dirige a todas as suas criaturas. Davi escreve:
Salmos 145.8-9
Benigno e misericordioso é o Senhor, tardio em irar-se e grande em clemência. O Senhor é bom para todos, e as suas ternas misericórdias permeiam todas as suas obras.
Esse texto revela duas coisas importantes sobre a misericórdia de Deus. Primeiramente, ele afirma que suas misericórdias são ternas, isto é, cheias de ternura. Em segundo lugar ele diz que as misericórdias do Senhor se estendem a todas as suas obras.
Portanto, toda a criação, tanto os seres animados, quanto os inanimados, são alvos de sua misericórdia. Deus faz rebentar fontes que dão de beber a todos os animais do campo e faz com que a terra se farte do fruto de suas obras. Ele faz crescer a relva para os animais e as plantas, planta os cedros, sustenta os leõezinhos e dá de comer a todos no devido tempo (Salmo 104).
Essa misericórdia também é exercida em favor daqueles que não desfrutam de um relacionamento harmonioso com ele, isto é, em favor daqueles que não são redimidos. Neste ponto cabe uma segunda divisão.
1. Deus exerce sua misericórdia em favor daqueles que ainda não são redimidos, mas que, um dia, serão
Vemos o exercício da misericórdia de Deus nesse contexto, por exemplo, no caso de Bartimeu, o cego de Jericó (Mc 10.47, 48).
Ao saber que Jesus se aproximava, Bartimeu se pôs a clamar por misericórdia dizendo: Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim! E muitos o repreendiam, para que se calasse, mas ele cada vez gritava mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim! (Mc 10.47,48).
Jesus atendeu aos clamores por misericórdia e curou-lhe de sua cegueira e também o livrou de seu pecado, a miséria espiritual na qual se encontra toda a humanidade.
Deus continua exercendo misericórdia, hoje, em favor daqueles que serão salvos preservando-lhes para que, no momento oportuno, tenham contato com o evangelho e conheçam a graça salvadora de Jesus.
2. Deus também exerce sua misericórdia em favor daqueles que não são e nunca serão redimidos
Até mesmo o ímpio é alvo da misericórdia de Deus. Essa misericórdia se revela no fato de que, por algum tempo, ele não lhes trata como merecem, reservando sua justa punição apenas para o momento oportuno, determinado pelo próprio Deus.
O salmista Asafe percebeu isso. Ele relata no salmo 73 a prosperidade dos ímpios, e afirma que a misericórdia de Deus o sustenta e permite que eles prosperem abundantemente.
No entanto, essa misericórdia é temporal. O salmista contemplou o fim deles e verificou que esse seria sem misericórdia (Sl 73.17). Durante esta vida, Deus faz nascer o sol sobre maus e bons e vir a chuva sobre justos e injustos (Mt 5.45).
B. Misericórdia especial
Além da misericórdia geral, há também a misericórdia especial de Deus, que ele exerce unicamente em favor dos redimidos, isto é, em favor de seus filhos.
Deus socorre seus filhos em suas misérias, apesar dos pecados que eles ainda praticam. Davi afirmou que, assim como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece dos que o temem, pois ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó (Sl 103.13,14).
Foi exatamente por saber que Deus é rico em misericórdia (Dt 5.10; Sl 57.10; 86.5), e que sua misericórdia é eterna (1Cr 16.34; 2Cr 7.6; Sl 136; Ed 3.11) e graciosa (1Tm 1.2; 2Tm 1.1; Tt 1.4), que Davi, depois de cometer pecados horríveis (cobiça, assassinato e adultério), recorreu a Deus e foi perdoado (Sl 51.1; 32.1).
Veja no clamor de Davi, como ele confiava na misericórdia do Senhor:
Salmos 51.1
Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; e, segundo a multidão das tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões.
Assim como Davi, podemos saber que as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã... E que o Senhor usará de compaixão segundo a grandeza das suas misericórdias (Lm 3.23,32). Amém! Aleluia!
2. A misericórdia soberana
Romanos 9.15
Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compaixão de quem me aprouver ter compaixão.
Esse verso da palavra de Deus nos mostra outro aspecto da misericórdia de Deus: a sua soberania.
Até aqui vimos que Deus é essencialmente misericordioso. A misericórdia é um dos atributos de Deus (Sl 116.5), e, por isso ele é imensamente misericordioso em seu ser. A misericórdia de Deus é eterna:
Isaías 54.10
Os montes se retirarão, e os outeiros serão removidos; mas a minha misericórdia não se apartará de ti, e a aliança da minha paz não será removida, diz o Senhor, que se compadece de ti.
No entanto, para fazer jus ao todo do ensino bíblico sobre a misericórdia de Deus é preciso dizer que, embora Deus seja misericordioso em seu ser, o exercício de sua misericórdia depende de sua vontade soberana.
O contexto de todo o capítulo 9 de Romanos é a soberania de Deus, que manifesta sua misericórdia a quem quer, independente dos méritos (Rm 9.11).
Como vimos na definição de misericórdia que apresentamos na introdução da lição, a bondade ou amor de Deus demonstrado para com os que se acham na miséria ou na desgraça, independentemente dos seus méritos.
Portanto, Deus manifesta sua misericórdia soberanamente e não são os méritos da criatura que fazem com que Deus lha conceda misericórdia. Não é possível associar mérito e misericórdia. Aliás, a misericórdia é concedida exatamente porque não há mérito.
Até mesmo a condenação do ímpio é uma demonstração da misericórdia de Deus. Do ponto de vista de Deus, a condenação do ímpio é o exercício de sua justiça. Do ponto de vista do ímpio é um ato de equidade, pois recebe o que merece.
Do ponto de vista do crente, no entanto, é um ato de misericórdia, pois, se o senhor permitisse a entrada do mal e do pecado no céu, o céu deixaria de existir e a bem-aventurança do crente seria perdida.
É uma sublime demonstração da misericórdia o fato de que Deus não permitirá que, na nova Jerusalém penetre coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira, mas somente os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro (Ap 21.27).
É por isso que o salmista canta: Rendei graças ao Senhor... que precipitou no mar Vermelho a Faraó e ao seu exército, porque a sua misericórdia dura para sempre (Sl 136.3,15).
3. Misericórdia, juízo e graça
Há uma clara relação entre a misericórdia e o juízo de Deus. De fato, esses dois atributos de Deus são incompatíveis se forem aplicados, ao mesmo tempo, à mesma pessoa.
Tiago diz que o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo (Tg 2.13). A aplicação do juízo é sem misericórdia, ou seja, quando Deus decide mostrar sua justiça em juízo, não há o que se possa fazer em favor do pecador julgado.
A única razão pela qual o pecador pode se ver livre do juízo eterno de Deus é sua misericórdia que reside no fato de que Jesus Cristo o substituiu, tomando sobre si o castigo exigido pela reta justiça de Deus. É nesse sentido que a misericórdia triunfa sobre o juízo.
Há, também, uma estreita relação entre a misericórdia e a graça de Deus. Esses dois atributos são diferentes aspectos do amor de Deus. Enquanto a graça concede favor ao pecador sem que ele o mereça, a misericórdia deixa de dar ao pecador aquilo que ele merece em função do seu pecado: a morte (Rm 3.23; 6.23).
Conclusão
Quando quis demonstrar sua misericórdia ao povo brasileiro, Deus usou, no tempo oportuno, uma grande quantidade de missionários, de várias denominações evangélicas, que se instalaram em todo o nosso país.
Grandes metrópoles, regiões rurais e até mesmo os mais distantes rincões do país receberam a luz do evangelho de Cristo e a salvação foi proclamada com vigor, o que testemunha a imensa misericórdia de Deus.
Aplicação
Vimos, neste estudo, a grandeza da misericórdia de Deus. Agora que temos uma ideia mais ampla desse atributo do Senhor, temos o dever de demonstrar misericórdia pelo próximo.
Foi Jesus quem nos ensinou: Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai (Lc 6.36; veja também: Mq 6.8). Você pode e deve demonstrar misericórdia:
- Pela criação de Deus em geral, preservando a natureza;
- Pelos incrédulos, demonstrando amor, tratando-os com cordialidade e respeito, preservando a paz, e anunciando-lhes o evangelho da graça;
- Pelos seus irmãos, demonstrando a bondade e o amor de Cristo.
Autor: Vagner Barbosa
Lista de estudos da série
1. O Ponto de Partida de Tudo: Como a singularidade de Deus transforma seu relacionamento com Ele – Estudo Bíblico sobre o Ser de Deus2. A Evidência Definitiva: Onde encontrar a certeza inabalável da Sua existência – Estudo Bíblico sobre a Existência de Deus
3. O Mistério Revelado: Como conhecer um Deus infinito sendo uma pessoa finita – Estudo Bíblico sobre a Revelação de Deus
4. O DNA Divino: As 2 chaves para entender o caráter de Deus – Estudo Bíblico sobre os Atributos de Deus
5. Alívio para os Aflitos: O segredo para receber o favor de Deus na sua dor – Estudo Bíblico sobre a Misericórdia de Deus
6. O Presente que Você Não Merece: Como a graça divina reescreve sua história – Estudo Bíblico sobre a Graça de Deus
7. A Força Mais Poderosa do Universo: Descubra as 3 verdades sobre o amor que age – Estudo Bíblico sobre o Amor de Deus
8. O Padrão Inegociável: Por que a santidade de Deus é a sua maior segurança – Estudo Bíblico sobre a Santidade de Deus
9. A Balança Perfeita: Como a justiça divina garante a ordem do universo e a sua paz – Estudo Bíblico sobre a Justiça de Deus
10. Fogo Santo: O que ninguém te contou sobre a ira de Deus e por que ela é boa notícia – Estudo Bíblico sobre a Ira de Deus
11. O Poder Sem Limites: O que a onipotência de Deus significa para suas impossibilidades – Estudo Bíblico sobre Onipotência e Vontade de Deus
12. A Mente Que Sabe Tudo: Como a onisciência de Deus traz conforto e direção para sua vida – Estudo Bíblico sobre a Onisciência de Deus
13. A Rocha Inabalável: Encontre segurança eterna na principal característica de Deus – Estudo Bíblico sobre a Imutabilidade de Deus