O livro reencontrado: O poder da Palavra para iniciar uma transformação – Estudo Bíblico sobre a Reforma Protestante

Num programa de televisão que visa esclarecer o assunto da sexualidade para a juventude brasileira, as frases que determinam o juízo dos apresentadores são assim: "Eu acho que não é por aí.” “Eu acho que esse tabu não tem nada a ver.”

As constantes repetições da expressão “eu acho”, tanto na quebra de valores quanto na escolha de caminhos, são sintomas do pensamento vigente em nossa época.

A sociedade atual, no Brasil e no mundo, prega (mesmo que de forma camuflada) que não há verdade absoluta. Perdeu-se o conceito de certo e errado. Em todas as áreas da vida não nos é permitido impor o que achamos ser correto aos outros.

Quanto à fé, você é visto como arrogante por dizer que só Jesus é o caminho, como se só você experimentasse o que é correto. Dizem: “Jesus pode funcionar para você, mas para mim o que funciona é o espiritismo (ou qualquer outra crença). O importante é que nós devemos nos respeitar".

Quanto à ética, se você diz que o homossexualismo é errado, será zombado e perseguido por não respeitar a “opção” do gay. A moralidade tem assumido uma postura subjetiva. Quanto à família, se você reprova o divórcio como sendo a melhor saída para um casamento esfacelado, será visto como uma pessoa 'careta'.

Prega-se o espírito da tolerância, pois o que é certo para você não é necessariamente certo para o outro. O importante é que você encontre satisfação em tudo o que faz. A verdade tem sido substituída pelo desejo.

Infelizmente, a igreja também tem sido afetada pela perda de um padrão de valores. Muitos sentem-se inibidos em corrigir algum desvio doutrinário ou litúrgico porque pensam: "cada um com a sua posição; temos que respeitar".

Perdeu-se o apego à verdade. Escolhem uma igreja não porque ela pregue a verdade de Deus, mas porque “gostam” dela. Escolhem as doutrinas nas quais querem crer. Novamente, a verdade tem sido substituída pelo desejo. Estamos em estado de alerta!

1. Perdendo valores (v. 14)

Assim como em nossa época, o período que antecedeu o reinado de Josias foi de perda de muitos valores por completo. Josias foi precedido por dois reis maus: Manassés, 55 anos de reinado, e Amom, 2 anos de reinado (2Rs 21.1-26).

Manassés foi um homem muito mau e deixou sua corrupção marcada até o tempo de Josias (2Rs 23.12); sua conversão tardia não evitou que o povo continuasse por maus caminhos (2Cr 33.10-17), até porque, quando Amom assumiu, conduziu o povo novamente à idolatria (2Cr 33.22-23).

Além de tudo isso, a adoração continha elementos idólatras desde tempos antigos (da época de Salomão, 2Rs 23.13, e Jeroboão, 2Rs 23.15). Todos esses valores perdidos e que afetavam a doutrina, o culto e a vida do povo de Judá, eram consequência da falta de um padrão: as Escrituras Sagradas.

Aparentemente não haviam cópias do Livro da Lei nem mesmo para os maiorais e religiosos; a ignorância era generalizada. Tanto é que a descoberta do Livro da Lei foi acidental. Quando o sacerdote Hilquias realizava uma outra atividade na Casa do SENHOR é que o Livro foi descoberto — o "Livro da Lei" era provavelmente o rolo de Deuteronômio (compare Dt 28 com 2Cr 34.21,25,27).

A perda das Escrituras aconteceu pela falta de interesse. E a falta de interesse vem porque não queremos que a Escritura aja como acusadora a reprovar nossos atos.

Então a colocamos de lado. Foi isto que aconteceu nos reinados que antecederam o rei Josias. A consequência deste afastamento da Lei de Deus foi uma vida ímpia, literalmente desregrada. Havia culto e religiosidade, só que totalmente deturpados.

Nosso Brasil, como Judá no tempo de Josias, consegue ser religioso (são muitos os evangélicos) sem dar o devido valor às Escrituras.

Em proporção ao número de evangélicos, nosso impacto sobre a sociedade brasileira é muito pequeno devido à pobre qualidade da grande maioria dos que se dizem "crentes". Isto é consequência de um desprezo pelo direcionamento oferecido pelas Escrituras. A Bíblia já não tem sido mais a autoridade final e soberana para a vida da Igreja.

Os acertos do pragmatismo, as estatísticas do marketing, e o misticismo das religiões direcionadas pela emoção, têm sido considerados autoridades tão importantes quanto, ou até mais que a autoridade da Bíblia. Essas características são sintomas de um mundanismo na Igreja.

2. Descobrindo o óbvio (v. 15)

Por graça divina, no período de Josias o Livro da Lei foi preservado. Deus, na sua providência, proporcionou o encontro do seu Livro através do sacerdote Hilquias. A frase de Hilquias ao escrivão parece tão óbvia: “Achei o Livro da Lei na casa do Senhor". Você poderia perguntar: “Onde mais ele poderia estar".

Acontece que esta descoberta não é tão óbvia para os evangélicos, que possuem tantas outras autoridades que superam a autoridade suprema das Escrituras. Sendo assim, precisamos redescobrir o valor da Palavra de Deus.

Precisamos voltar à base a que os reformadores do século XVI voltaram: Sola Scriptura (Só a Escritura). Temos que reafirmar a veracidade e relevância das Escrituras para a igreja brasileira atual, e para a sociedade que a cerca.

Que a Bíblia deve ser a nossa única regra de fé e prática pode parecer óbvio, mas não é. Diante de uma sociedade que já não aceita mais as classificações de certo e errado, verdade e mentira, e diante de evangélicos que aos poucos têm aceito alguns desses conceitos, precisamos agir como crentes autênticos afirmando existir um padrão que determina o que é certo ou não, o que é ou não verdade: o Livro da Lei do Senhor.

De certa forma, isto é não nos conformarmos com o presente século (Rm 12.2). Aprova-se o que está de acordo com o Livro e reprova-se o contrário. E isto não significa que devamos nos silenciar, simplesmente por causa da tão aclamada tolerância.

Com isto, não digo que devemos ter um espírito amargo, faccioso e cheio de preconceito para com aqueles que não estão de acordo com o Livro — até porque, este espírito é contrário aos princípios do próprio Livro. Mas precisamos ser sal da terra (Mt 5.13); uma das funções do sal é desinfetar a ferida — mas isto arde!

3. Divulgando a descoberta (v. 16-18)

Vemos que Hilquias transmitiu a descoberta ao escrivão Safã, entregando-lhe o Livro. Safã, em seu relatório, repassou a descoberta ao rei Josias; por último, o rei Josias reuniu todo o povo de Judá (2Cr 34.29-31) para lhes comunicar a Palavra de Deus.

Esta divulgação só aconteceu devido ao impacto que a descoberta causou em cada um dos integrantes dessa corrente. Algo semelhante precisa acontecer conosco. Precisamos nos conscientizar do perigo que a falta de absolutos pode trazer para a vida dentro da Igreja e para seu impacto no mundo.

Depois, é preciso divulgar o apego às Escrituras como regra que resolve as questões controversas na teologia, na evangelização, na liturgia, na espiritualidade, na vida.

Precisamos reavivar a pregação expositiva, que visa extrair os conceitos bíblicos de forma fiel. Precisamos resgatar a ética puramente bíblica, a qual não apresenta uma moralidade subjetiva que molda os valores ao pensamento presente.

4. Os efeitos da descoberta

Após a passagem que descreve a descoberta do Livro da Lei, lemos acerca de uma das maiores reformas pela qual o povo de Deus passou.

Houve um arrependimento genuíno da parte do rei Josias que resultou num abandono da idolatria e na purificação do templo (2Rs 23.4-20), numa reforma do culto exaltando a centralidade do sacrifício pascal (2Cr 35.1-19), e renovação da aliança com todo o povo conforme as estipulações do Livro da Aliança (2Cr 34.29-32).

Todas estas modificações aconteceram “para cumprir as palavras da lei, que estavam escritas no livro que o sacerdote Hilquias achara na casa do SENHOR” (2Rs 23.24). Antes da descoberta do Livro, Josias já havia começado a purificar o templo e o culto (2Cr 34.3-13).

Contudo, ele não havia concebido o tamanho da tarefa que havia começado até que o Livro da Lei despertou sua consciência para o pecado do povo e para o caráter justo de Deus. A descoberta do Livro deu impulso e direcionamento aos seus esforços de reforma.

Não há dúvidas de que a Palavra de Deus é a base de toda reforma religiosa genuína. Ela pode causar hoje mudanças radicais como aconteceu na época do rei Josias e como aconteceu na Reforma do século XVI. Contudo, é preciso colocá-la no seu devido lugar.

É assim que Deus opera maravilhas na vida do Seu povo. Quando a sua Palavra, a sua Verdade, é o nosso leme, então nosso barco é guiado pelas veredas da justiça.

Conclusão

Não nos esqueçamos de que o povo só andou corretamente enquanto Josias os conduziu firmados na Palavra. “Enquanto ele viveu não se desviaram de seguir o SENHOR, Deus de seus pais" (2Cr 34.33).

Depois de Josias, Judá foi conduzida por quatro reis maus, que não se deixavam nortear pela Palavra. Por isso, Deus não retirou o juízo de sobre Judá conforme havia profetizado Hulda (2Cr 34.24-28).

Enquanto estivermos debaixo do direcionamento da Bíblia, seremos guiados pelo Deus da Bíblia às reformas necessárias em nossas igrejas. A partir do momento que abandonarmos nossa bússola novamente, seremos objeto do castigo de Deus.

Aplicação

Será que não temos conduzido nossa vida por meio de preceitos que a Escritura reprova, desprezando assim a direção de Deus. Se existem áreas de nossa vida em que isto acontece, é preciso mudar. Quando devemos opinar sobre algo, nossa resposta deve estar alicerçada na Palavra de Deus.

Autor: Heber Carlos de Campos Júnior

Semeando Vida

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