Graça do início ao fim: Como a salvação é um presente imerecido – Estudo Bíblico sobre a Reforma Protestante

O nosso Deus é “O Deus de toda graça” (1 Pe 5.10). Bem-aventurados são todos aqueles que vivem como súditos do Reino da Graça de Deus. O reformador Calvino observou que “Satanás (...) vive sempre pronto a engendrar todo gênero de calúnia com o fim de lançar ao descrédito a doutrina da graça."

"A doçura da graça” de Deus é a tônica de sua relação com o seu povo. Tudo que temos, somos e seremos, é pela graça (ICo 15.10). Sensíveis a estes ensinamentos bíblicos, os Reformadores enfatizaram a suficiência da graça de Deus (Sola Gratia significa Somente a Graça, em latim). A riqueza da graça de Deus se manifesta de modo superabundante em nós (2Co 9.14; Ef 1.7; 2.7).

Neste estudo, abordaremos o assunto.

1. Definição de graça

Podemos definir a Graça de Deus como sendo um favor imerecido, manifestado livre e continuamente por Deus aos pecadores que se encontravam num estado de depravação e miséria espirituais, merecendo o justo castigo pelos seus pecados (Rm 4.4/Rm 11.6; Ef 2.8,9).

2. A graça e Jesus Cristo

Jesus Cristo é a personificação da graça. Ele encarna a graça e a verdade (Jo 1.17; 14.6). Ele é a causa, o conteúdo e a manifestação da graça de Deus. Falar de Cristo é falar da graça.

Os profetas do Antigo Testamento falavam de uma salvação futura pela graça (1 Pe 1.10). Jesus Cristo, a graça de Deus encarnada, veio na plenitude do tempo (GI 4.4), na plenitude da graça (2Tm 1.9/Jo 1.16).

A autoentrega de Jesus pelos pecados dos pecadores eleitos, foi um dom da graça que, como já vimos, fora profetizada (1Pe 1.10,11/Rm 5.1 5). A pobreza assumida por Cristo revela a riqueza da sua graça (2Co 8.9); por isso, ele, somente ele nos dá acesso à graça (Hb 4.14-16), convidando-nos: “Vinde a mim” (Mt 11.28).

Jesus Cristo se encarnou a fim de que Deus pudesse ser justo, e ao mesmo tempo o justificador daqueles que confiam em Jesus para salvação (Rm 3.26); portanto, para nós que cremos, ele se tornou justiça, santificação e redenção (ICo 1.30).

3. A graça e a justiça

A graça de Deus não é barata. A graça de Deus tem um outro lado, que com frequência nos esquecemos: a obra sacrificial de Cristo. O Pacto da Graça, através do qual somos salvos, foi Pacto de Obras para Cristo. A nossa salvação é muito cara, custou o precioso sangue de Cristo (IPe 1.18-20/At 20.28).

Deus não quebra a sua justiça por amor; antes, cumpre a justiça em amor; a graça reina pela justiça (Rm 5.21).

4. A graça e a salvação

Cristo deu a sua vida em favor de todos aqueles que o Pai lhe confiara na eternidade (SI 89.2,3; Is 42.6/2Tm 1.9). Assim, todos os homens, tanto no Antigo como no Novo Testamento foram salvos pela graça (At 15.11).

Mérito e graça são conceitos que se excluem (Rm 11.6). De fato, a graça tem sempre como pressuposto a indignidade daquele que a recebe. A graça brilha nas trevas do pecado; desta forma, a ideia de merecimento está totalmente excluída da salvação por graça (Ef 2,8,9; 2Tm 1.9).

A graça de Deus promove a paz em nosso coração através da nossa reconciliação com Deus (Rm 5.1; 2Co 5.18-21/Rm 1.7). Agora vivemos na esfera do Reino da graça, estando sob a graça, num estado de graça, numa nova posição em Cristo (Rm 5.2; 6.14).

Além desta declaração abrangente, podemos encontrar ainda nas páginas do Novo Testamento a relação de vários elementos da “ordem da salvação” procedentes da maravilhosa graça; ei-los:

Eleição

A nossa eleição caracteriza o Reino da Graça de Deus como antecedendo à história (Rm 2. 5-6; G1 1.15; 2Tm 1.9). A eleição não é condicionada ou dependente de “boas obras” nossas, nem de fé ou mesmo, de previsão de fé, mas sim do beneplácito de Deus (At 13.48; Rm 9.11,16,23).

Arrependimento

O arrependimento consiste numa mudança de mente, ocasionando um sentimento de tristeza pelos nossos pecados, que se caracteriza de forma concreta no seu abandono. O arrependimento sincero é uma “concessão” de Deus (2Co 7.10/2Tm 2.25), que se revela no abandono do pecado e uma prática da Palavra de Deus. Esta pratica consiste nos frutos do arrependimento” (At 26.19,20/At 20.21).

Adoção

A paternidade divina é entendida como um ato de intenso amor para com os homens que se encontravam num estado de total depravação e miséria (Jo 3.16; ljo 3.1). Assim, os homens são filhos de Deus não simplesmente por nascimento natural, mas, sim, por um novo nascimento concedido por Deus, tornando-se, deste modo, seus filhos adotivos. A nossa filiação, olhando pelo ângulo que for, é um ato da livre graça de Deus (Jo 3.3,5; Rm 8.15).

Justificação

Somos declarados justos pela justiça de Cristo (Rm 3.24; Tt 3.7). Na justificação Deus declara que já não há mais culpa em nós; aqui de fato passamos a ter vida; mudamos da situação de um condenado que aguardava tristemente a terrível sentença condenatória para a condição de filho de Deus, na expectativa da sua majestosa herança (Rm 8.14-18).

A capacidade para crer

Deus é quem abre os nossos corações e mentes, para que possamos entender salvadoramente a mensagem do Evangelho (At 3.16; 16.14). Deus não nos elegeu na eternidade porque um dia teríamos fé; mas sim, para que tivéssemos fé: Sem a graça de Deus não haveria fé (Lc 8.12; At 16.31).

Redenção e remissão dos pecados

Cristo redimiu-nos, levando sobre si a maldição de nossos pecados, pagando o altíssimo preço do nosso resgate (Rm 3.24; Ef 1.7/lPe 1.18,19). Cristo, com o seu próprio sangue, reconciliou-nos com Deus, sendo assunto aos céus, como nosso eterno e perfeito Mediador.

Vocação

Deus nos chama eficazmente por sua livre graça (G1 1.15; 2Tm 1.9). A vocação de Deus permanece e nos sustenta até o fim (Fp 1.6).

A conversão

É Deus quem converte o homem do domínio de Satanás para o seu Reino (At 26.18/At 11.21,23/ITm 1.12-14). A conversão se evidencia em nossa caminhada, que deve se coadunar com a nossa natureza transformada pelo Espírito Santo; agora, as coisas velhas passaram.

A perseverança

Aquele que começou a boa obra a nosso favor (Elegendo, justificando, concedendo fé, adotando, etc.), nos confirmará pela sua graça até o fim (Fp 1.6/Jo 10.28; IPe 1.5). Ninguém será deixado no meio do caminho!

Salvação eterna

A salvação é uma obra exclusiva de Deus (At 15.11; Rm 6.23). A nossa salvação é decorrente primeiramente da vontade Soberana de Deus (Mt 19.23-36).

5. A graça e o evangelho

O Evangelho é uma mensagem da Graça de Deus (At 20.24). Esta é uma proclamação fundamentalmente distintiva da Igreja.

Jesus Cristo é a graça encarnada — Ele encarna a Graça e a Verdade (Jo 1.17; 14.6) — o Evangelho é a graça verbalizada. É através do Evangelho que Deus transmite a sua Palavra de Graça (At 14.3; 20.24). A graça é-nos ensinada pelo Evangelho (CI 1.4-6); por isso, pregar o Evangelho, mais do que uma responsabilidade, é um “favor” de Deus (Ef 3.8).

A Igreja é proclamadora da graça de Deus, tendo em sua existência histórica a concretude da graça: a Igreja é o monumento da graça soberana de Deus! (IPe 2.9,10).

6. Graça e a igreja

A Igreja é composta por pecadores regenerados (Jo 3.3; Tt 3.5). O pecado já não tem domínio sobre nós (Rm 6.14), todavia, ainda exerce a sua influência (ljo 1.8).

Assim, a Igreja Santa, que é composta por pecadores, revela o triunfo da graça de Deus sobre o poder do pecado. Vemos a graça de Deus na Igreja, da seguinte forma:

Conhecimento de Deus

A possibilidade de conhecimento de Deus, é uma concessão da graça; não depende, em primeira instância de nós, mas sim de Deus usar da sua graça (2Pe 1.2/2Pe 3.18).

A Vocação

Deus nos vocaciona devido a sua graça (Rm 1.5; Ef 3.7,8).

Os Dons

Deus nos chama e concede-nos dons para servir-lhe (Rm 12.6; Ef 4.7,11-14).

Preservação

Vivemos e nos movemos pela graça (At 14.26; 15.40).

Confirmação

Deus nos confirma na sua Palavra, para que tenhamos um "coração confirmado com graça” (2Ts 2.16,17; Hb 13.9).

Edificação e Santificação

Deus pela Palavra da sua graça, nos edifica e santifica, concedendo-nos a sua herança eterna (At 20.32/Rm 6.14).

Conclusão

A Bíblia nos diz para que não recebamos a graça de Deus em vão (2Co 6.1); isto significa que não devemos banalizar a graça, fazendo pouco caso de Cristo e da sua obra salvadora. Positivamente, a Igreja é Igreja porque não recebeu em vão a graça.

Portanto, nossa atitude deve ser a de:

  • Receber o Evangelho da Graça e da Vida (IPe 3.7);
  • usufruir dignamente da Graça (Rm 6.1,15);
  • usar nossos talentos (Rm 12.6-8);
  • permanecer na Graça (At 13.43);
  • cumprir o propósito de nossa Eterna Eleição (Ef 1.3,4);
  • viver humildemente (ICo 4.7);
  • proclamar o Evangelho da Graça (At 20.24);
  • prestar culto a Deus com graça (gratidão) (2Co 2.14; CI 3.16).

Aplicação

Quais dessas atitudes relacionadas podem ser encontradas em sua vida?

Autor: Hermisten M. P. Costa

Semeando Vida

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