Texto Básico: João 14.1-11
Introdução
Nos dias atuais, as pessoas estão ávidas por experiências para confirmarem sua fé. Muitos irmãos que têm saído do meio carismático confessaram que passavam suas vidas em busca de alguma experiência. A experiência é quase como um prêmio que coroa o esforço de alguém.
Muitas pessoas quase enlouquecem por não terem nenhuma experiência sobrenatural, e por desejarem tanto, acabam tendo sensações estranhas e, então, pensam que tiveram uma experiência.
Assim, existem relatos de pessoas que dizem ter visto Jesus no banco de seus carros, ou Jesus em uma foto do pôr do sol, etc. Uns dizem que foram arrebatados ao céu, outros vão ainda mais longe, dizendo que foram arrebatados até ao inferno e puderam ver o terror que existe lá.
Na verdade, para essas pessoas, nenhuma experiência precisa ser testada pela Escritura. O pastor John MacArthur Jr. diz que um crente pentecostal escreveu na contra capa de sua bíblia a seguinte frase:
“não me importo com o que a Bíblia diz, eu tive uma experiência”.
É verdade que nem todos são tão ousados a ponto de declarar isso, mas, na prática, isso acaba acontecendo.
Nesta busca desenfreada, a experiência geralmente vem acompanhada de uma sensação de êxtase. E quanto maior for esta sensação, seja de alegria desenfreada, ou choro espontâneo, mais a experiência é valorizada.
Mas o incrível é que tem muito crente por ai achando que estas sensações de êxtase que acompanham as experiências comprovam que o Espírito Santo está se manifestando. Ignoram, porém, que estas mesmas sensações podem ser encontradas, por exemplo, no espiritismo moderno e nas religiões pagãs mais antigas.
I. Crede em mim
No capítulo 14 de João, Jesus está preocupado em confortar seus discípulos. Este capítulo está intimamente ligado com o capítulo 13, que é um capítulo dramático, onde Jesus deu uma grande lição sobre humildade aos discípulos ao lhes lavar os pés.
Em seguida, Jesus falou sobre o fato de que alguém dentre eles seria o traidor. Naturalmente, toda essa situação deixou os discípulos muito apreensivos. Estavam tristes devido a preocupante menção da partida de Cristo.
Além disso, envergonhados, devido ao orgulho que haviam demonstrado, bem como perplexos pela notícia de que um o trairia, Pedro o negaria e todos ficariam confundidos por causa dele.
Então, para confortar e tranquilizar seus discípulos, Jesus lhes entregou uma Palavra. Ele lhes disse: “não se turbe o vosso coração” (Jo 14.1), que também pode ser lido, “não continuem tão preocupados”. E insistiu “crede em Deus, crede também em mim". Que também pode ser lido como “continuem crendo em Deus, continuem crendo em mim".
Para a fé dos discípulos que podia começar a vacilar, Jesus exorta a que não desanimem, até porque ele sabia que sua hora de ser crucificado se aproximava.
E, então, lhes acrescenta mais uma revelação de Deus:
João 14.2,3
na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também. E vós sabeis o caminho para onde eu vou.
Jesus estava lhes explicando que a separação iminente, ao invés de ser uma maldição, seria uma bênção. Era necessário que ele partisse para lhes preparar lugar na casa do Pai, onde havia lugar suficiente para eles.
II. Eu sou o caminho, a verdade e a vida
Quando Jesus disse “e vós sabeis o caminho para onde eu vou” (Jo 14.4), Tomé não aguentou mais ouvir e disse: “se nós nem sabemos para onde o Senhor vai, como podemos saber o caminho”.
Provavelmente, Tomé estava sendo o porta-voz do grupo ao dizer isso. Podemos identificar muitas coisas na declaração de Tomé como, por exemplo, devoção ao Mestre.
Era-lhe impossível imaginar que Jesus os pudesse deixar. Mas também há um misto de debilidade e pecaminosidade em sua declaração, e uma vagarosidade em compreender a mensagem de Jesus. Será que ele não havia prestado atenção ao ensino do Senhor?
É muito duro pensar que alguém possa passar três anos com Jesus e ainda não entender o que o Senhor estava querendo dizer. Mas, realmente isso acontece. Muitas pessoas estão a tanto tempo frequentando alguma igreja e até hoje não têm entendimento da verdade.
No caso dos discípulos, o pensamento deles estava tão fixo no desejo de que Jesus fosse o Rei terreno, que não estavam dispostos a pensar numa outra possibilidade.
De qualquer forma, a reação de Jesus às palavras de Tomé não são de censura, mostrando que aquilo não o aborreceu. Jesus é um Mestre muito paciente diante da ignorância dos discípulos.
O que ele faz é lhes ensinar diretamente: “eu sou o caminho, e a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai se não for por mim” (Jo 14.6). Quer saber o caminho, Tomé? Eu sou o caminho, o único caminho a ser seguido.
E quando Jesus diz que é a verdade, está provavelmente se referindo à revelação redentora de Deus aos homens. E esta revelação está na pessoa de Jesus e somente nele.
Dessa forma, ele é também a vida. Vida no texto, não é vida biológica, mas significa o oposto da morte, significa a vida eterna de comunhão com Deus, sendo que morte significa separação de Deus.
III. Quem vê a mim vê o Pai
No verso 7, Jesus se dirige aos discípulos numa repreensão. Ele diz: “se vós me tivésseis conhecido, conheceríeis também a meu Pai".
Isso quer dizer: “se vocês tivessem prestado atenção aos meus ensinos, às minhas palavras, teriam realmente me conhecido, e entendido que eu sou a revelação do Pai, assim teriam conhecido ao Pai". E então ele completa: “desde agora o conheceis e o tendes visto”. Eles poderiam conhecer por causa destas mesmas palavras que Jesus acabou de lhes dizer.
É como se Jesus dissesse “porque agora lhes disse claramente que eu sou o caminho, a verdade e a vida, vocês estão vendo e não precisam mais de dúvidas, nem de revelações extras".
Mas nem todos estavam satisfeitos. Pelo menos, não Filipe. Este Filipe foi um dos primeiros discípulos. Procedia de Betsaida na Galiléia, que também era a cidade de Pedro e André.
Ele não estava satisfeito em conhecer o Pai desta forma. Ele quer ver o Pai e, por isso, pede: "Senhor mostra-nos o Pai e isso nos basta” (Jo 14.8). Será que não entendia que Deus é Espírito, invisível, que nenhum olho humano pode vê-lo? É provável que ele não fosse ignorante quanto a isso. Mas, então o que ele queria?
Queria uma manifestação de Deus, uma teofania (teo: Deus; fania: manifestação), como havia acontecido muitas vezes no Antigo Testamento com Moisés, Abraão e os profetas (Ver Êx 24.9-11; 33.18).
Não entendia que seu privilégio era muito maior que o de Moisés e de todos os crentes do Antigo Testamento. Jesus estava dizendo algo maravilhoso para os discípulos: embora ele teria que lhes deixar, eles haviam conhecido e visto o Pai em Jesus. Mas, Filipe não estava satisfeito. As palavras de Jesus não eram suficientes.
Ele precisava de algo mais. Quando ele diz a Jesus: “mostra-nos o Pai”, está dizendo, "isto que o Senhor fez não é suficiente. Suas palavras não são suficientes. Para que estejamos satisfeitos, dá- nos uma demonstração visível, dá-nos uma experiência e, então, somente então, estaremos satisfeitos".
Deve ter sido muito doloroso para Jesus ouvir estas palavras. Por isso, sua resposta foi uma grande repreensão a Filipe. Ele diz: há tanto tempo estou convosco e você ainda não entendeu! Não entendeu que eu e o Pai somos um! Será que eu não basto para você, Filipe?
Esta declaração deve ter deixado Filipe muito envergonhado. Ele havia insultado o Filho de Deus. Muitos também o têm insultado hoje em dia indo atrás de experiências extras, por não se contentarem com a Palavra de Deus.
Quando as pessoas estão querendo provas extras para crer em Deus além daquelas que a Escritura já nos dá, estão dizendo: o que o Senhor fez não é suficiente, nós precisamos de mais.
IV. Solus Christus
Um dos cincos lemas da Reforma foi o “solus Christus” (somente Cristo). No tempo da Reforma, à semelhança dos dias atuais, a teologia estava completamente centrada no homem.
Tudo dependia do homem. Em última instância, é o homem que decide se vai a Deus, e em como a maneira que lhe preferir. Na Idade Média, a Igreja era a opção; nos dias atuais, as opções são praticamente inumeráveis.
O pensamento comum é que todos vão a Deus de várias formas. Mas a Reforma disse não a todas as tentativas humanas de chegar até Deus.
Solus Christus seja, somente Cristo pode nos conduzir à Deus e nos dar a salvação. Nada além dele é necessário para a salvação ou para a vida cristã consagrada.
Autor: Leandro Antonio de Lima