Outra declaração básica dos Reformadores foi a respeito da suficiência da fé (Sola Fides significa Somente a Fé, em latim) para a nossa justificação. A sua compreensão é que a nossa justificação é inteiramente pela graça de Deus através da fé, sem a necessidade de obras.
A relevância da fé não depende simplesmente da sua intensidade mas, sim, do seu objetivo. Uma fé forte em algo débil de nada adianta. Qual o valor de uma “fé forte" nos ídolos criados pela imaginação pecaminosa do homem? Os ídolos nada podem fazer, por maior que seja a fé posta neles (SI 115.4-8; Is 44.9-20/ 1 Rs 18.20-30).
Os homens, em seus pecados, se tornaram nulos em seus pensamentos tal qual a sua “criação” (SI 135.15-18). A nossa fé repousa em Deus e na sua Palavra: na sua promessa.
1. Fé salvadora
Fé Salvadora é um dom da graça de Deus, através do qual somos habilitados a receber a Jesus Cristo como nosso único e suficiente Salvador e, a crer em todas as promessas do Deus Triúno, conforme estão registradas nas Escrituras.
A chamada fé salvadora, está enraizada no coração que foi regenerado por Deus. Ela é obra de Deus e é direcionada para Deus, através de Cristo (Hb 12.2; Ijo 5.1-5). Contudo, devemos observar que nós não somos salvos pela fé, mas sim por Cristo Jesus através da fé.
O Catecismo Menor (1647) na questão 86, assim define: “Fé em Jesus Cristo é uma graça salvadora, pela qual o recebemos e confiamos só nele para a salvação, como ele nos é oferecido no Evangelho."
2. Características da fé salvadora
Origina-se no próprio Deus
A fé salvadora é produto da graça de Deus que age através da sua Palavra registrada na Bíblia (At 3.16; 18.27). É através da Palavra que Deus nos gerou espiritualmente, tornando-nos seus filhos.
A fé salvadora exige conhecimento da Palavra de Deus. A fé é uma relação de confiança; como acreditar em alguém que não conhecemos? A fé consiste no conhecimento do Pai e do Filho pelo testemunho do Espírito (Jo 17.3/Jo 13.26; 16.13,14). É impossível crer e nos relacionar pessoalmente com um Deus desconhecido.
O que importa neste caso não é o que pensamos, mas sim, o que Deus prometeu: Deus cumpre sempre a sua promessa, não necessariamente as nossas expectativas. Deus não tem compromisso com a nossa fé mas, sim, com a sua Palavra e, consequentemente, com a fé que brota da Palavra.
Todavia, é importante ressaltar que não conhecemos tudo a respeito de Deus e da sua Palavra; mas devemos ter por certo, que o limite da fé está circunscrito pelos parâmetros das Escrituras (Dt 29.29).
Ou seja: não podemos crer além do que Deus nos revelou na Bíblia; fazer isto, não é ter fé mas sim, especular sobre os mistérios de Deus. A Palavra deve ser sempre o guia da nossa fé.
É direcionada para Deus e à sua Palavra
1. Deus pai através do filho
A fé salvadora é uma fé Teológica e, esta, é Cristocêntrica. A Teocentricidade da fé é Cristocêntrica. Crer no Pai é o mesmo que crer no Filho (Jo 5.24; 12.44). Sem Jesus Cristo o Pai continua inacessível a nós (Lc 10.22; Jo 8.12). Uma fé supostamente depositada no “Pai” sem a aceitação do Filho como Senhor e Salvador, não é a genuína fé bíblica: É impossível ter a Deus como Pai sem o Filho como irmão primogênito (Rm 8.29).
2. Toda a palavra
“O evangelho da vossa salvação” é para ser crido (Ef 1.13). Por isso, a pregação cristã nada mais é do que a proclamação do Evangelho; o poder de Deus para a salvação (Rm 1.16). Sem a Palavra, Jesus se constitui no caminho desconhecido para o Pai (Jo 20.30,31/Jo 14.6). A Palavra de Deus reclama a nossa fé (Vd. Mc 1.15; Jo 5.45-47). O que Deus revelou e prometeu é para ser crido (Rm 4.20).
Apoia-se no poder e fidelidade de Deus
O fundamento da fé é o Deus fiel: Aquele que a gerou e a sustenta. (ICo 2.4,5). A nossa fé encontra o seu amparo na veracidade e fidelidade de Deus. A fidelidade de Deus se revela nas suas promessas, como expressão de sua fidelidade a si mesmo.
É resultado da nossa eterna eleição
A eleição divina é-nos totalmente estranha até que nos conscientizemos desta realidade pela fé. A fé é a causa instrumental de nossa salvação; todavia, a causa essencial é a nossa eleição. A fé e o arrependimento são resultado da eleição. Usando uma expressão de Calvino, podemos dizer que a “eleição é mãe da fé”.
A fé não é precondição da eleição, no entanto, ela evidencia e confirma como um selo a nossa eleição. Deus em sua misericórdia em tudo se antecipou a nós; a fé é dos eleitos de Deus (Tt 1.1).
3. Necessidade da fé salvadora
A salvação
A fé é a causa instrumental da salvação; ela é o meio pelo qual recebemos a salvação (Jo 3.16; At 16.31).
A oração
A oração deve ser sempre acompanhada de fé. A oração sincera é um atestado de carência e de total confiança em Deus. A certeza de que seremos atendidos repousa na Palavra de Deus (Mt 21.22; Tg 1.5-8).
Ao culto
O culto cristão é a expressão da alma que conhece a Deus e, que deseja dialogar com o seu Criador; mesmo que este diálogo, por alguns instantes, consista num monólogo edificante no qual Deus nos fale através da Palavra. O culto cristão é uma atitude responsiva à ação de Deus que primeiro veio ao homem, revelando-se e capacitando-o a respondê-lo. É Deus quem procura seus adoradores (Jo 4.23).
A adoração correta ao verdadeiro Deus, é uma atitude de fé e obediência na qual, o adorador se prostra diante do Deus que o atraiu com a sua graça irresistível. No culto, o homem confessa sua dependência de Deus, professando a sua fé em resposta à Palavra criadora de Deus (Jo 1.1; Rm 10.17). Culto sem fé é uma contradição de termos (Hb 10.22).
Em nosso relacionamento com Deus
A nossa aproximação de Deus através da oração, leitura e meditação na Palavra, deve ser sempre norteada pela fé (Hb 11.5,6).
Para resistir ao Diabo
Uma das artimanhas do diabo é manter-nos na ignorância da Palavra de Deus (2Co 4.1-6). Aliada a esta estratégia, ele procura torcer os ensinamentos de Deus para gerar confusão, semeando a discórdia (Gn 3.1-7). Pela fé, podemos resistir ao diabo em todas as suas armadilhas: A fé é o conhecimento convicto e confiante de Deus e da sua vontade (IPe 5.8,9).
Conclusão
Concluímos afirmando que a fé salvadora produz os seguintes efeitos em nossa vida: nossa salvação; a recepção do Espírito Santo; a filiação de Deus; o perdão dos pecados; a justificação; a passagem da morte para a vida, das trevas para a luz (Jo 5.24); a certeza da vida eterna; a intercessão eficaz de Jesus e do Espírito; a santificação; a paz e a alegria; a obediência.
No Catecismo de Heidelberg (1563), analisando a doutrina da Justificação, lemos: "Esta doutrina não torna as pessoas descuidadas e ímpias?".
Responde: “De forma alguma, pois é impossível que alguém que está enxertado em Cristo por uma verdadeira fé, não produza frutos de gratidão.” (Pergunta 64). Um crente seguro de sua salvação é um trabalhador ardoroso e fiel na Causa de Cristo; não um espectador indolente com uma suposta fé bem fundamentada.
Aplicação
Os frutos produzidos por sua vida evidenciam salvação?
Autor: Hermisten M. P. Costa