O profeta de Florença: A denúncia apaixonada contra a corrupção – Estudo Bíblico sobre a Reforma Protestante

Texto Básico: Ezequiel 33.1-20

Introdução

Muito tempo depois de Agostinho, há aproximadamente 100 anos antes de Lutero inaugurar a Reforma, Deus levantou homens para denunciar os erros da Igreja. 

Homens como John Wyclife, John Huss e Girolamo Savonarola que denunciaram o enfraquecimento moral e a corrupção econômica da Igreja, desejando mudar, radicalmente, esta situação. Homens que denominamos “Pré-Reformadores”.

Neste estudo, vamos conhecer um destes homens, bem como um pouco sobre o período em que viveu, sua missão, e as consequências de suas ações. Conheceremos Savonarola. Vamos ao estudo.

I. Sua origem

Girolamo Savonarola nasceu em Ferrara, na Itália, em 21 de Setembro de 1452; morreu em Florença, em 23 de Maio de 1498. Veio de uma família antiga de Ferrara. 

Foi intelectualmente talentoso nos estudos, especialmente na Filosofia e Medicina. Em 1474, ele ouviu um sermão poderoso sobre arrependimento e resolveu renunciar o mundo.

Ele realizou esta decisão de imediato e entrou na Ordem Dominicana em Bologna, sem o conhecimento de seus pais. Sentindo profundamente a depravação difundida na Era da Renascença, o jovem dominicano se dedicou à oração e à prática do ascetismo.

No mosteiro em Bologna, ele instruiu os iniciantes, e começou a escrever tratados de Filosofia, baseados em Aristóteles e Tomas de Aquino. Entre 1481 e 1482 ele foi enviado para pregar em Florença.

II. O início da missão

Savonarola se opôs com grande energia à vida pagã e imoral que prevalecia em muitas classes da sociedade. No entanto, os sermões de Savonarola não causavam boa impressão nos moradores da cidade de Florença. Mas isso não desencorajou o pré-reformador.

Ele pregou em outras cidades da Itália durante os anos 1485 e 1489. Em Bréscia, em 1486, ele explicou o livro de Apocalipse, pois era um interessado no julgamento de Deus, e na regeneração da igreja. Ao mesmo tempo, ele foi tomado por um zelo intenso pela salvação de almas. Em 1489 ele retornou para Florença.

Em agosto de 1490, em Florença, Savonarola começou seus sermões em Apocalipse. Foi um sucesso! Uma multidão vinha de todos os lugares para ouvi-lo e, então, com os seus sermões, foi adquirindo notoriedade e tendo influência sobre as pessoas.

III. A vida monástica

Em 1491, ele se tornou superior do mosteiro de São Marcos. Ele começou uma grande reforma no mosteiro, separando-o da ordem dominicana e, com autorização papal, criou uma congregação independente.

A vida monástica foi reformada nesta congregação com observância mais rígida no comportamento, sendo que o próprio Savonarola assumiu uma vida simples, embora fosse o superior do mosteiro.

Muitos irmãos novos entraram no mosteiro e, de 50, o número dos monges de São Marcos subiu para 238, entre eles, membros das famílias mais nobres da cidade.

Enquanto isso, Savonarola pregava com zelo fervoroso e rapidamente ganhava grande influência.

Ele foi estimado e venerado por seus seguidores como um profeta. Seus sermões, porém, estiveram livres de extravagância e caprichos.

Sem levar em consideração as consequências, ele chicoteou a imoralidade, e uma multidão de pessoas se arrependeu dos seus maus caminhos, voltando para o Cristianismo.

Os seus sermões, associados à sua personalidade forte, o fizeram reconhecido em todas as camadas sociais.

Em 1493, Savonarola desenvolveu uma campanha contra os abusos da vida eclesiástica, contra a imoralidade do clero, contra a vida imoral de muitos membros da Cúria Romana, e contra a maldade de príncipes e cortesãos. Em termos proféticos, ele anunciou que o julgamento de Deus estava se aproximando, e que um vingador reformaria a igreja.

Por "vingador” ele identificou Carlos VIII, Rei da França, que tinha entrado na Itália, e estava avançando contra Florença. 

Pela intervenção de Savonarola, o rei francês foi embora da cidade sem fazer males significativos para o povo. Isso deu mais força e prestígio a Savonarola.

Após a partida do rei, aderiram a uma nova Constituição e um novo governo foi estabelecido em Florença. Cristo foi considerado o Rei de Florença e protetor de suas liberdades. Um conselho grande, com representantes de todos os cidadãos, se tornou o corpo governante da República e a lei de Cristo passou a ser a base da vida política e social.

Savonarola não interferiu diretamente na política, nem em questões de Estado, mas seus ensinos e suas ideias foram autoritários. A vida moral dos cidadãos foi regenerada.

Muitas pessoas trouxeram artigos de luxo, pinturas de mulheres bonitas, escritos de poetas pagãos e imorais, cartões, ornamentos, para o mosteiro de São Marcos. Estes artigos foram queimados publicamente. Um grupo de pessoas do mosteiro, devotos de Savonarola, saiu pelas ruas a evangelizar e pregar contra a luxúria.

Assim, surgiram os policiais pela moralidade. Os princípios do juízo severo sobre a moral foram aplicados na vida prática do povo.

IV. A ameaça de cisma

Savonarola entrou em conflito com o Papa Alexander VI. O Papa gostava de todos os príncipes italianos e cidades, com exceção de Florença. Savonarola era veemente em suas acusações quanto ao Papa e à Cúria.

Em 25 de Julho de 1495, uma ordem papal orientou Savonarola à obediência à santa igreja e ao papa. Savonarola desculpou-se, mas não aceitou.

Então, três meses depois, ele foi proibido de pregar, e o mosteiro de São Marcos deixou de ser independente.

Na sua resposta, em 29 de Setembro, Savonarola buscou justificar-se e declarou que, a respeito de seu ensino, ele sempre fora submisso ao julgamento da igreja. O Papa escreveu novamente e a conduta de Savanarola foi julgada pacificamente, mas a proibição de pregar, até sua vindicação em Roma, foi mantida.

Entretanto, Savonarola voltou aos púlpitos, desobedecendo à ordem de não pregar. Nos seus sermões, agredia frontalmente os crimes em Roma. Isso contribuía para um grande reconhecimento em Florença. Surgiu a possibilidade de um cisma e o papa foi novamente forçado a intervir. Ainda assim, Savonarola recusou obediência e novamente pregava com veemência contra a igreja em Roma.

V. A excomunhão

Em 12 de Maio de 1497, Savonarola foi excomungado. Em 19 de Junho ele publicou uma carta "Contra a excomunhão” mostrando que o julgamento contra ele era ilegal. Os embaixadores de Florença, em Roma, tentaram defendê-lo, mas suas esperanças foram infundadas, especialmente porque Savonarola se tornava cada vez mais desafiador.

Não obstante sua excomunhão, ele fez uma celebração no Natal e distribuiu a Santa Ceia. Além disso, desconsiderando um édito arcebispal, ele começou novamente em 11 de Fevereiro de 1498 a pregar na Catedral e a demonstrar que as sentenças contra ele eram nulas. Mesmo nesta situação, o Papa agiu com suavidade e pediu que o monge se retratasse e se submetesse à igreja e à sua tradição.

Mas ele permaneceu com suas posições e, por isso, muitos aderiram a ele, quase formando um conselho em oposição ao Papa. Ele preparou cartas para as correntes cristãs, impelindo-as a pensarem como ele, e a lutarem contra o papado.

VI. Um plano frustrado

Por outro lado, em Florença, crescia a oposição à sua pessoa e aos seus pensamentos. Um integrante da ordem dos franciscanos o intimou para um desafio perante o povo. Era uma grande provação. O dia 7 de abril de 1498 foi escolhido. Estava tudo pronto, mas o desafio não aconteceu. E, para piorar, as pessoas agora se viraram contra Savonarola.

Existiram explosões contrárias em muitos lugares e o mosteiro de São Marcos foi atacado. Savonarola e um companheiro membro da ordem foram tomados prisioneiros e torturados. Todos passariam por um julgamento. Em 22 de Maio, Savonarola e dois outros membros da ordem foram condenados à morte. Eles foram enforcados em 25 de Maio e seus corpos foram queimados.

Savonarola teve um comportamento demasiado agressivo com relação à Igreja, porém, ele não foi um herege. Pelo contrário, denunciou os erros que, mais tarde, outros reformadores denunciariam também.

Conclusão

Vemos que Girolamo Savonarola foi mais um dos que lutaram por uma reforma na Igreja Católica Apostólica Romana.

De moral rígida e princípios religiosos firmes, condenou o paganismo humanista que corrompia os costumes, a arte, a poesia e a própria religião, e denunciou a corrupção do clero, inclusive nos mais altos escalões da hierarquia eclesiástica.

Mesmo exigindo uma reforma, nunca foi além do que conseguiram Wyclife e Huss. Porém, sua vida foi caracterizada pelo zelo religioso e pela piedade pessoal.

O texto de Ezequiel 33 nos mostra a responsabilidade que temos de avisar o perverso quanto aos seus atos iníquos (v. 7). Quando o avisamos e, mesmo assim, ele não se arrepende, estamos livres de seu sangue (v. 9). Porém, quando não denunciamos seus pecados, seus caminhos tortuosos, a Palavra nos adverte que o seu sangue será cobrado de nós (v. 8).

Aplicação

Temos sido fiéis atalaias de Deus em nossa geração? Temos denunciado o pecado daqueles que nos rodeiam?

Autor: Sérgio Paulo de Lima

Semeando Vida

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