Texto Básico: João 20.19-23
Introdução
A Idade Média, período que vai, aproximadamente, do sexto ao décimo sexto século, é chamada por alguns historiadores de “a Idade das Trevas”. Este título nada simpático é dado porque foi neste período que aconteceram os maiores absurdos relacionados ao domínio da Igreja Católica Apostólica Romana sobre o mundo.
No final deste período, como vimos em estudos anteriores, Deus levantou homens para denunciar estes erros, na tentativa de uma reforma da Igreja. Não foram poucos os que morreram por acusarem a Igreja de ter saído do reto caminho.
Para entendermos melhor este assunto, estudaremos os principais erros da Igreja naquele período, bem como o ensino bíblico a respeito do assunto.
Começamos com as indulgências e, para bem compreendermos o assunto, vejamos sobre o que ele está fundamentado. Em primeiro lugar, o que é uma Indulgência?
"Uma indulgência é a remissão, perante Deus, da pena temporal devida aos pecados cuja culpa já foi apagada; remissão que o fiel devidamente disposto obtém em certas e determinadas condições pelo agir da Igreja, dispensadora da redenção, que distribui e aplica, por sua autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos. Uma indulgência é parcial ou plena conforme remova tanto a punição parcial ou total da punição temporal decorrente do pecado. O fiel pode obter indulgências para si próprio, ou aplicá-las aos mortos”.
Note que esta é a teoria sobre a qual se assenta hoje a doutrina Católico-romana das-indulgências, suavizada pelos tempos e práticas. Porém, no século 16, ocasião da Reforma Protestante, ela era praticada de modo muito mais incisivo.
Além de não ter apoio bíblico, na prática, essa doutrina revelou-se escandalosamente propícia a práticas corruptas.
Quando o Papa Leão X, autorizou uma emissão de “Cartas de Indulgências” Martinho Lutero, já escandalizado com os desvios da Igreja, recebeu como verdadeiro acinte as declarações de Tetzel, que, encarregado de vender tais cartas, chegava a declarar que "tão pronto a moeda caísse no cofre a alma saía do purgatório” ou que elas tornavam o comprador “mais limpo do que Adão antes de cair".
Talvez possamos ter uma pálida ideia dos sentimentos de Lutero, quando, mais polidamente do que Tetzel fazia, o Vaticano, através da internet faz a mesma coisa com as recentes disposições do Ano Jubileu.
I. A Bíblia nos ensina o perdão
Muitos textos da Palavra de Deus nos falam sobre o perdão, muitas parábolas de Cristo demandam a prática do perdão, e a própria Obra Redentora de Cristo é a essência do perdão.
Porém, o perdão que somos obrigados a praticar é sempre mostrado de forma direta e sem mediação. O único perdão mediado é o de Deus em Cristo Jesus, pois na verdade, ele é fruto da aplicação da justiça de Deus em Cristo, para que, nele representado, sejamos tidos como justos.
A má interpretação de textos foi que levou a Igreja Católica Apostólica Romana a crer na ideia de que o perdão só é obtido mediante penitência equivalente ao pecado cometido.
II. Cristo nos mostra o quanto nos é difícil perdoar
Ao contar a parábola do Filho Pródigo (texto de quarta-feira), Jesus fala de dois irmãos. O mais novo sai de casa. Considera o pai como morto, pois pede a antecipação da herança. Gasta prodigamente todos os bens do pai. Desce a tal nível de miséria que se vê desejoso de comer a comida dos porcos. Arrepende-se e volta.
Mesmo apresentando características de que estava apenas interessado na fartura da casa do pai, o pai o recebe e, de coração, o perdoa. A parábola termina com o irmão mais velho hesitando em perdoar.
Ou seja: o irmão, que sofreu menor ofensa, foi quem mais tem dificuldade em perdoar. O mesmo acontece com a parábola que lemos na quinta-feira, conhecida como A Parábola do Credor Incompassivo. Quem devia uma quantia impossível de ser paga foi perdoado, mas recusou-se a perdoar um colega de trabalho que lhe devia uma pequena quantia.
Não será por essa dificuldade em perdoar, comum a todos nós, que nosso Senhor, quando nos ensinou a orar, condicionou nosso pedido de perdão? “Perdoa-nos as nossas dívidas assim como temos perdoado aos nossos devedores”?
III. A reforma resgatou o sentido bíblico de perdão
Todos nós sabemos que quando ofendemos nosso irmão, ofendemos também a Deus, pois não há como ofender alguém sem quebrar um dos mandamentos de Deus. Isso, para a Reforma, significou diversas coisas:
- O primeiro ofendido é Deus, pois antes de ofender meu irmão, o ofensor já violou a vontade de Deus.
- Deus está sempre pronto a perdoar e o faz em graça, sem qualquer intermediação humana, pois a única é feita por Cristo.
- O perdão restaura a condição original, mas não elimina as marcas do pecado; como aconteceu ao Filho Pródigo, que foi restituído pelo pai a tudo o que abandonou, mas, nem as riquezas dispersas voltaram, nem os sentimentos fraternos deixaram de ser abalados.
IV. A reforma expôs a torpeza das indulgências
Como já vimos nas notas da Introdução, a doutrina das indulgências assenta-se sobre a doutrina da Satisfação, que, resumindo, ensina não adiantar ao pecador apenas arrepender-se dos pecados que cometeu, mas satisfazer a justiça de Deus com boas obras.
Torpeza doutrinária
Não é preciso ir muito longe para ver que tal doutrina desdenha do sacrifício de Cristo e pressupõe que o homem possa fazer algo melhor do que "trapos de imundícia”.
A situação é agravada quando se declara que tais boas obras podem exceder ao que Deus exige de alguém e que esse excesso pode ser juntado em um “tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos” a ser administrado pela Igreja, esquecendo-se de que ninguém pode satisfazer a justiça de Deus no que concerne a si próprio, e esquecendo-se de que Cristo morreu apenas pelas suas ovelhas (Jo 10.15).
Torpeza histórica
Não sabemos, exatamente, como se originou a doutrina das Indulgências. Alguns cogitam que ela desenvolveu-se a partir da Doutrina das Chaves.
Na perspectiva Católico Romana, Pedro é o detentor das chaves. Na perspectiva protestante, todos são detentores das chaves do reino dos céus: abrem-no ao proclamar o Evangelho e fecham-no ao disciplinar o faltoso.
Observe que dois capítulos depois (Mt 18.18), a prerrogativa de ligar e desligar é dada a todos os apóstolos e, como o contexto fala da disciplina na Igreja, tal prerrogativa estende-se a todas as ovelhas do Senhor.
O século 16 se escandalizou com as instruções dadas pelo Arcebispo Alberto de Mogúncia Gerdesii, sobre a aplicação da Bula de Inocêncio X, nas quais, dentre outros absurdos, lê-se:
Também declaramos que para obter essas duas mais importantes graças não é preciso confessar-se, ou visitar igrejas e altares, mas simplesmente adquirir a carta confessional... A quarta graça importante é em favor das almas que estão no purgatório e é a remissão completa de todos os pecados, remissão que o papa consegue por sua intercessão para o bem dessas almas da seguinte maneira: a mesma contribuição que se faria por si mesmo estando vivo deve ser depositada na caixa... Além disso, não é necessário que as pessoas que colocam suas contribuições na caixa em favor dos mortos estejam contritas em seus corações ou se tenham confessado, visto que essa graça baseia-se unicamente no estado de graça em que os falecidos estavam ao morrer e na contribuição dos vivos, como é evidente do texto da bula. De resto, os pregadores se devem esforçar por tornar essa graça mais largamente conhecida, pois que, através dela, certamente virá auxílio para as almas dos falecidos e a construção da igreja de São Pedro será ao mesmo tempo melhor promovida.
A Basílica de São Pedro, a mesma que pode ser vista hoje, era um dos objetivos. Talvez o principal.
Conclusão
Contra essa mistura de religião e comércio foi que os reformadores se revoltaram. Será que há semelhanças com os dias de hoje? Será que não precisamos de novos reformadores revoltados com as práticas comerciais que já chegaram às igrejas evangélicas?
Aplicação
Ore a Deus pedindo perdão pela omissão e forças para não aceitar os erros que têm sido cometidos ao seu redor.
Autor: Fôlton Nogueira