Moralidade de Deus vs. do homem: Como a Reforma combateu a decadência moral – Estudo Bíblico sobre a Reforma Protestante


Texto Básico: Romanos 1

Introdução

Eu não me lembro quem foi que disse: “se me perguntarem o que é imoralidade eu não saberei dizer. Mas se me perguntarem se algo é imoral eu não teria dúvida em responder".

Na verdade cada vez mais aumenta a dificuldade em estabelecer-se o que é e o que não é imoral, pois os padrões de comparação deixaram de ser a Palavra de Deus, para ser o que é socialmente aceito.

Ora, se moralidade ou imoralidade reside no que determinada sociedade aceita ou não, determinado comportamento que hoje é considerado imoral, amanhã pode ser tido como comum ou até mesmo desejável, pois vivemos em uma sociedade que caracteriza-se pela mudança constante de seus valores.

Recentemente, aconselhando alguém sobre a santidade do casamento, ouvi a seguinte resposta: “os tempos mudaram”.

Lembrei-me de uma resposta dada por C. S. Lewis, a quem lhe apresentou argumento semelhante: “Eu não lhe perguntei as horas”. Ele estava correto! Justificar determinada ação com a mudança do tempo é dizer que determinado comportamento, aceito em um século, pode ou não ser aceito em outro.

De séculos para décadas, de décadas para anos, de anos para meses, de meses para semanas e de semanas para dias, dependerá apenas da velocidade que caracterizará a época em questão. Creio que não demorará muito a chegarmos a horas.

E, de fato, é isso o que acontece: é desnecessário documentar comportamentos que, durante minha geração, tiveram seus valores completamente invertidos.

Curiosamente, parece que o homem seleciona o que lhe interessa: Há unanimidade sobre a corrupção financeira (quebra do oitavo mandamento), ser imoral. Entretanto a quebra do sétimo mandamento, atentado contra a castidade, há muito tempo deixou de ser tido como imoral.

I. A Bíblia como regra de conduta

Se a Reforma enfatizou a salvação pela graça, como ato soberano de Deus, enfatizou também que só podemos louvar a Deus com nossos atos se eles estiverem prescritos no que a Bíblia estabelece como mandados por Deus.

A Reforma deixou de ver as boas obras como o modo de se ganhar o favor de Deus, especialmente a salvação, para ser tão somente o modo como agradecemos a Deus por tudo que ele nos fez, e o respeitamos pelo que ele é.

O cristão de fé reformada cumpre os mandamentos de Deus, da melhor forma que pode fazê-lo, pois sabe que eles expressam a vontade de Deus. Aí reside a base reformada para saber se algo é moral ou imoral. Ou seja, se é conforme a vontade de Deus ou não.

II. Os 10 mandamentos como o único meio seguro de louvor a Deus

Outra palavra que, por perda de parte de seu sentido, geralmente nos induz ao erro é a palavra louvor. Geralmente, nossa geração a associa a cânticos.

Entretanto, quando lemos Agostinho declarando que a igreja voltou a cantar no século quarto (já que, perseguida, tinha de se manter discreta), ou temos de admitir que, historicamente, a igreja passou muitos anos sem louvar a Deus, ou que o louvor não está limitado a cânticos.

De fato, o Apóstolo Paulo nos ensina que apresentar nossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, é culto. Ou seja, é louvor.

E no capítulo primeiro dessa mesma carta, ao falar de comportamento sexual pervertido, bem como de linguagem obscena ou de quebra de acordos ou, ainda, de desobediência aos pais, e coisas semelhantes, ele diz que é o resultado da ira de Deus sendo derramada sobre a humanidade.

A imoralidade para a Reforma Protestante não limitou-se apenas à correção dos desvios sexuais, mas a todo o tipo de desvio da lei de Deus no que concerne ao seu aspecto moral.

Vale ressaltar que os reformadores viram na lei de Deus (Antigo Testamento) três aspectos distintos: O religioso, o civil e o moral.

No aspecto religioso (também chamado de Cerimonial), viram tudo o que referia-se a Cristo, que naquela época ainda estava por vir e era figurado em muitas coisas, como, por exemplo, nos sacrifícios oferecidos no templo, a fim de manter viva a esperança do povo. 

Obviamente este aspecto foi encerrado com Jesus, e tentar revivê-lo, seja na missa, seja em qualquer outra coisa, constitui-se verdadeiro acinte à obra de Cristo.

No aspecto civil, viram tudo o que era necessário à vida de uma sociedade. Por exemplo, as disposições sobre construções, higiene, etc. 

Tais disposições não foram abolidas, mas sobre elas nos diz a Confissão de Fé de Westminster: "A esse mesmo povo, considerado como um corpo político, Deus deu leis civis que terminaram com aquela nacionalidade, e que agora não obrigam além do que exige a sua equidade geral."

O que, na prática, quer dizer que tais leis do Antigo Testamento foram substituídas pelas leis de cada país, já que o objetivo delas era legislar a vida de Israel, como nação que era.

No aspecto moral, a Reforma enfatizou que nada foi ab-rogado. Ao contrário, à luz da interpretação dada por nosso Senhor, foi mostrado o verdadeiro sentido daquilo que antes era apenas visto como “letra”. De tal forma, que ao dizer “Não Matarás”, Deus, conforme Jesus, estava proibindo-nos até mesmo de nos irarmos contra nosso irmão.

Aí está a base da moral para a Reforma e consequentemente a base para se julgar algo imoral ou não: Imoral é tudo aquilo que fere em parte ou totalmente a Lei de Deus.

III. Alguns desdobramentos

Muitos viram a posição da Reforma como exagerada. Vejamos se procede.

Acontecimentos da época

Como sabemos, na época de Calvino, Genebra era uma cidade-estado. Governada pelo que chamaríamos hoje de vereadores, sendo independente de instâncias superiores de governo, essa “câmara municipal” era, na verdade, um Congresso Nacional.

Tinha, portanto, força de lei e a exerciam em sua plenitude. Legislavam. Julgavam. Executavam. Não era desconhecida a pena de cadeia ou de morte, e havia uma grande coincidência entre o que hoje chamaríamos de “Conselho da Igreja".

É certo que a Igreja de Genebra possuía um “Conselho de Pastores”, do qual temos até atas. Porém, este estava sujeito às disposições do “conselho maior” que possuía poderes temporais, e, que, portanto, podia impor penas judiciais e frequentemente o fazia.

É fato conhecido a prisão de alguns, que dançavam numa festa de casamento, ou a denúncia que o próprio Calvino fez contra a esposa de seu irmão Antônio por adultério com um dos criados.

Também é fato conhecido a proibição de qualquer prostituta em Genebra, e a prisão e expulsão da cidade daquelas que não queriam aprender uma profissão, que deveriam viver no hospital da cidade - que era mantido pelos diáconos da igreja — enquanto não conseguissem trabalho.

Resultados práticos

Porém, o que mais podemos destacar, ao examinarmos este tema, são os desdobramentos daquilo que iniciou-se com a Reforma em Genebra.

Através de John Knox, que após estudo com Calvino, foi instado a voltar à Escócia para reformar a religião, esse ímpeto moralizador chegou às Ilhas Britânicas, e não apenas gerou o presbiterianismo como forma de governo, mas também o puritanismo como forma de apreciação da Lei de Deus.

A máxima puritana era a “pureza”. Pureza nos negócios, nos relacionamentos, na adoração... enfim, pureza na vida.

Tomemos as artes como exemplo. Se elas já haviam sofrido uma grande restrição, uma vez que predominantemente eram feitas com fins cúlticos, aquelas que, especialmente, eram usadas para estimular a devassidão, foram duramente reprimidas.

Enquanto na pintura a saída encontrada pelos artistas foi limitarem-se a retratos ou a paisagens pitorescas (dignas de serem pintadas: daí nossa palavra pitoresca), na música houve grande divergência, pois, para alguns, a falta de exemplos no Novo Testamento do uso de instrumentos era motivo suficiente para abolir o uso de todos aqueles que eram citados no Antigo Testamento, pois acreditavam que estavam relacionadas ao aspecto cerimonial da Lei, que foi encerrado em Cristo.

Porém, talvez, as artes cênicas tenham sido as que mais foram reprimidas, uma vez que tinham por finalidade principal o questionamento dos valores correntes e o desrespeito às instituições.

Conclusão

Quando a Lei de Deus torna-se o norte de nossa ética, muitas coisas que prezamos passam a ser questionadas, pois, por nossa tendência natural, desejamos mais o que nos agrada do que aquilo que agrada a Deus.

Só o fato, de que na Lei de Deus encontramos mais proibições do que obrigações, já nos mostra que tendemos a fazer mais o que o desagrada, do que deixar de fazer o que ele nos ordena.

Ao tornar-se o centro de nossa vida, a Lei de Deus nos possibilita a fugir dos relativismos que nossa sociedade nos impõe, tanto nos diversos lugares, como nos diversos tempos em que ela se organiza visando os interesses do próprio homem ou a vaidade de alguns.

Aplicação

Será que não temos nos preocupado com santidade somente no nível sexual? Há santidade em todas as áreas da minha vida?

Autor: Fôlton Nogueira

Semeando Vida

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