Texto Básico: 1 Coríntios 4.2
Introdução
Sl 30.5
Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã
Depois das trevas, do medo e da perseguição, chega o alívio com os primeiros raios de luz.
A Bíblia, escondida na era das trevas, começa agora a aparecer. A bem sucedida participação na história da reforma de homens como Martinho Lutero e João Calvino, parece apagar um pouco da importante contribuição de John Wycliff e John Huss.
Mas estes foram os precursores do movimento reformado. São chamados de pré-reformadores.
Depois de uma época de descontentamento contra os abusos da Igreja Romana por toda a Europa, Deus, pela sua misericórdia, começa a levantar homens para fazer a Igreja de Cristo, a noiva, voltar a ser pura, santa e sem mancha.
John Wycliff é chamado de a “Estrela d'alva da Reforma" por ser o primeiro instrumento usado por Deus a enfrentar o sistema papal antibíblico e as injustiças da Igreja Católica.
Foi ele quem deu o “pontapé inicial” na emocionante história da volta da Igreja às Escrituras Sagradas. O presente estudo pretende mostrar o valor do ensino bíblico para a Igreja de Cristo e a importância de servos que se colocam como verdadeiras ferramentas nas mãos do Senhor.
I. John Wycliff
Um grande erudito
O que marcou a vida deste homem foi sua erudição e dedicação ao estudo da teologia. Nasceu em Hipswell, Yorkshire na Inglaterra, em 1329. Foi estudar em Oxford e logo se notabilizou por sua inteligência e erudição.
Dominou a filosofia e os ensinos de Agostinho (ensinos que mais tarde influenciariam homens como Lutero e Calvino). Por ser um grande teólogo, tornou-se capelão do Rei da Inglaterra, Ricardo II. Nesta posição pôde fazer muito pela reforma de sua Igreja.
A presença de Deus na história
Deus é o Senhor da História. Nela ele mostra o seu amor e cuidado pela Igreja. Estando numa posição de grande destaque, Wycliff pôde ter acesso ao Parlamento e traduzir a Vulgata (Bíblia em Latim) para o Inglês. Essa tradução foi de fundamental importância, tanto para a vida espiritual do povo, como também para o próprio idioma inglês.
Como fez com a rainha Ester, Deus ainda hoje eleva homens e mulheres para posições de grande destaque, conforme seus soberanos propósitos, para o engrandecimento do seu nome e crescimento de sua Igreja.
Vemos aqui a distinção entre o homem de Deus e o homem sem Deus — Wycliff usou sua autoridade para a glória de Deus, enquanto que o papa perdeu sua autoridade diante de Deus pois a usava para si próprio.
II. Ensinos voltados para a Bíblia
Wycliff defendeu as seguintes ideias para obter a reforma da sua igreja:
Sobre a Bíblia
Wycliff ensinava que os concílios e a liderança da Igreja deveriam ser provados pelas Escrituras Sagradas. A palavra do papa e a tradição da Igreja não poderiam ter uma autoridade maior do que a da Bíblia.
Para o reformador Inglês, a Bíblia é a única regra de fé e prática. Ela é suficiente para suprir as necessidades da alma humana, sem que sejam necessárias as intervenções da Igreja e as mágicas de seus sacerdotes.
Wycliff entendia também que as Sagradas Escrituras deveriam ser colocadas na mão do povo e não ficarem limitadas ao clero (liderança da Igreja).
Sobre o papa e seus sacerdotes
Wycliff ensinava que os papas eram homens sujeitos ao erro e ao engano. Assim como dentro da Igreja de Cristo havia joio e o trigo, ser líder da igreja não era garantia de salvação, muito menos de perfeição.
Ensinava que o ofício do papado era invenção do homem e não de Deus e que o papa seria o anticristo se não seguisse fielmente os ensinamentos de Cristo. Censurou monges quanto à preguiça e ignorância deles no que dizia respeito ao estudo das Escrituras.
Sobre a ceia
Segundo a Igreja Católica Romana, no momento da ceia o pão e o vinho se transformam no corpo e no sangue de Cristo. Este dogma é chamado de transubstanciação.
Wycliff declarou que esta doutrina era antibíblica, pois Cristo está presente nos elementos de forma espiritual e não física.
O historiador E.E.Cairns diz que “se a ideia de Wycliff fosse adotada, significaria que o sacerdote não mais reteria a salvação de alguém por ter em suas mãos o corpo e o sangue de Cristo na comunhão”.
Com sua inteligência e posição dadas por Deus, a pregação de Wycliff começava a ser ouvida nos mais distantes cantões da Inglaterra, chegando a atravessar o mar em direção ao continente.
Muitas pessoas devem ter recebido seus ensinos ou ganhado uma Bíblia na sua própria língua conhecendo assim a vontade de Deus para suas vidas.
III. Influência que atravessou fronteiras
Os lolardos
Para que o ensino bíblico fosse transmitido por toda Inglaterra, Wycliff fundou um grupo de pregadores leigos, os quais receberam o nome de Lolardos.
O trabalho de expansão deu certo, mas o papa não gostou. Em um decreto, a Igreja condenou os Lolardos à pena de morte. Apesar disto, Deus não permitiu que nenhum desses pregadores fossem mortos.
Os boêmios
Estudantes da região da Boêmia, no centro da Europa, foram para Oxford e lá tiveram contato com os escritos de Wycliff e com alguns dos Lolardos.
Ao regressarem para a sua terra, os boêmios levaram as novas informações e ensinos que acabaram influenciando aquele que seria um outro grande reformador, John Huss.
Ao tomar os primeiros contatos com os escritos de Wycliff, Huss escreve na margem de seus papéis: “Wycliff, Wycliff, você vai virar muitas cabeças”. Anos mais tarde, Huss teria sido acusado pela Igreja de Wicliffismo.
A história nos mostra que Deus vai espalhando sua semente. Assim como na Igreja Primitiva, crentes foram influenciando pessoas, autoridades e até reis, a ponto de ocupar todo o mundo.
Temos a Bíblia em nossas mãos hoje porque servos e servas de Deus se dedicaram para isto. A mensagem continua viva. Será que a Igreja de hoje tem influenciado? O Evangelho de Cristo tem de fato sido pregado?
IV. Condenado depois de morto
Próximo aos 55 anos de idade, Wycliff sofreu um derrame e morreu. Passados 30 anos, o Concilio de Constança, convocado pelo papa João XXIII, reuniu-se em 1415 e, sob a condenação de heresia, decidiu exumar o corpo de Wycliff e queimá-lo em praça pública.
Como pode-se observar, o poder arbitrário tomou conta da Igreja. Absurdos como a punição de um homem depois de morto e outros mais preencheram a sua história.
Mas tudo isso não foi suficiente para calar a voz do Evangelho. O clero não percebeu que estava lutando contra o próprio Deus.
Conclusão
Vimos que a escuridão da Idade Média começa a ser vencida pelos primeiros raios de luz da manhã. Deus prepara um homem, coloca-o numa posição de influência e autoridade e começa a trazer a Igreja de volta para o seu noivo.
John Wycliff envolve-se numa batalha de fé pela Verdade das Escrituras, coloca a Bíblia na mão do povo, ensina-a e tenta tirar este povo das mãos daqueles que exploravam suas vidas. Morre, mas deixa uma mensagem viva, um exemplo de luta pelo Evangelho.
Certo autor escreveu que a luta dos pré-reformadores terminou com insucesso. Entretanto, devemos crer que a perseguição e morte de homens como Wycliff e Huss não foram empreendimentos frustrados, e sim o plano soberano de Deus abrindo caminho para acontecimentos maiores.
Anos mais tarde os reformadores levantaram a bandeira da “Sola Scriptura”, em favor da suficiência e autoridade exclusiva da Palavra de Deus sobre qualquer dogma ou direção humana. A semente do ensino de Wycliff e Huss estava lá e, até hoje, dá os seus frutos.
O presente estudo serve como um alerta para a Igreja de hoje. Os crentes devem viver uma vida santa e, ao mesmo tempo, devem estar prontos para reformar a igreja sempre que ela se afastar do ensino bíblico. Agindo assim seremos encontrados por Deus fiéis.
Aplicação
Quão disposto você está a sacrificar sua vida por amor ao Evangelho?
Autor: Dráusio Piratininga Gonçalves