Pv 11.30
O fruto do justo é árvore de vida, e o que ganha almas é sábio.
Ambições ardentes flamejam em muitos corações hoje em dia. Alguns são dominados pela paixão da riqueza. Outros são governados pela ambição do poder. Ainda outros demonstram este zelo consumidor no esforço de angariar os tesouros da sabedoria.
Há muitas atividades dignas na vida. Há muitos desejos lícitos; há, porém, uma só paixão na alma redimida pelo sangue precioso: paixão pela salvação dos homens, propósito dominante que trouxe o Filho de Deus dos céus e o conduziu até à cruz.
Por meio da leitura cuidadosa da Bíblia, podemos ter a certeza de que este é o plano de Deus para os que têm sido redimidos. Daí a importância desta lição.
I. Os motivos desta paixão
O texto básico nos fala com eloquente clareza, que ao desembarcar no lugar outrora solitário, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-se deles (Mc 6.34). O evangelista, inspirado pelo Espírito Santo, nos dá o motivo da compaixão de Cristo. A partir daí, encontramos todos os outros motivos da paixão pelas almas:
1. A condição dos pecadores
À luz da Bíblia e da própria experiência humana, verificamos ser profundamente deplorável a condição dos pecadores sem Cristo:
a) Estão desorientados. "Eram como ovelhas que não têm pastor": Esta é a dolorosa caracterização daquele povo e de todas as pessoas em qualquer lugar do mundo. Sem o conhecimento do Evangelho, andam desgarrados, como ovelhas, desviando-se do Caminho (Is 53.6).
Por isso crescem os terreiros de umbanda, os centros de magia negra, os astrólogos e os horóscopos. Confusos e sem rumo, os pecadores necessitam de nossa compaixão para lhes apontarmos o caminho; eles não sabem para onde ir e nem o que fazer. Alguém precisa dizer-lhes (At 16.30,31).
b) Estão perdidos. A situação real dos pecadores sem Cristo não é apenas de desorientação no tempo, mas de perdição na eternidade. E preciso refletir nos ensinos de Mt 7.13, Lc 16.22-26.
Sem dúvida alguma, os que andam pela estrada larga chegarão à perdição. "Alguns andam nela propositadamente, mas outros, porque não conhecem a estrada que conduz à vida". É nosso dever apontar-lhes Cristo, o caminho da vida, antes que seja tarde demais.
É conveniente pensarmos aqui nas palavras do Rev. Henry Ward Beecher, o notável pregador: "Cada crente é como um bote de piloto; deve navegar perto do porto da salvação, velando pelas almas naufragadas, a fim de que as possa guiar ao Porto da Vida".
c) Estão mortos. Em Ef 2.1,5,12, o Apóstolo retrata em cores sombrias, a verdadeira situação do pecador sem a bênção do Evangelho. Vale observar a repetição da verdade quanto ao estado ou condição: mortos. Desde que a morte entrou no mundo em consequência do pecado, implantou entre os homens a dor da saudade e a tristeza da separação.
Entretanto, muito mais funestos são os efeitos da morte espiritual, da separação de Deus!
Meditando nesses fatos, devemos redobrar esforços no sentido de vitalizar as almas que, separadas da fonte da vida, percorrem os caminhos do mundo, em condição infeliz, como a descrita nos textos mencionados. Existe ainda outro motivo pelo qual deve arder em nós a chama inextinguível da paixão pelas almas:
2. A obrigação que temos
Não temos o direito de apenas lamentar a condição em que vivem os homens e mulheres sem Cristo. Temos o dever, a obrigação de sair-lhes ao encontro, instando com eles pela salvação de suas almas. E esta obrigação resulta dos seguintes fatos:
a) É ordem de Jesus. "Dai-lhes vós mesmos de comer!..." Esta ordem foi repetida em várias outras ocasiões, ainda que com palavras diferentes (Mt 28.19,20; Mc 16.15; Lc 24.47; Jo 20.21). Os Apóstolos e toda a Igreja Primitiva compreenderam essa obrigação e a cumpriram com fidelidade (At 4.19,20; 8.4; 1 Co 9.16).
b) A bênção que recebemos. É agradável e consolador sabermos que "nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus", "os quais passaram da morte para a vida".
Entusiasma-nos o coração o cântico de vitória de esperança e de certeza que entoamos em nossas Igrejas e em nossos lares: "Achei um bom amigo, Jesus, O Salvador ..." "Pela fé avistamos além". "Cada momento me guia o Senhor ..."
Entretanto, várias pessoas, bem perto de nós, carecem dessa bênção e não sabem onde encontrá-la. Até quando nos assentaremos sozinhos à mesa farta da graça divina? Até quando comeremos sozinhos, egoisticamente, o maná celestial que pela fé recebemos?
Lembremo-nos de que para gozarmos esses favores, outros se empenharam, contribuíram, oraram, lutaram. E nós, que estamos fazendo com os tesouros da salvação?
"Sempre brilha em graça imensa Rico amor do eterno Deus; Toca a nós mostrar o rumo Da viagem para os céus!"
II. Exemplos desta paixão
O assunto não se constitui novidade, nem tão pouco invenção nossa. Nas Sagradas Escrituras, e na História da Igreja, encontramos os exemplos mais inspiradores desta elevada e nobre paixão. Para inspiração nossa, destaquemos alguns:
1. A santíssima trindade
Quando a Bíblia diz que "Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3.16), está nos informando de que houve da parte de Deus a mobilização dos recursos celestiais em favor dos pecadores. E isso por amor, por interesse em nosso bem presente e futuro (Tt 3.4-7).
2. Os apóstolos e a igreja primitiva
Revestidos de zelo santo, e possuídos de extraordinária paixão, souberam fazer da pregação do Evangelho o alvo supremo de suas vidas:
a) Oram por intrepidez e pelos prodígios de Deus, em favor dos pecadores (At 4.29,30);
b) Dispõem-se a obedecer ao Senhor, ainda que com sacrifício da liberdade e da própria vida (At 5.29-32; 20.24).
3. Os missionários autênticos
Excetuando-se a Bíblia Sagrada, a leitura mais inspiradora da fé cristã é a historia das missões em todas as épocas e em todos os lugares. Empolgam-nos o coração os feitos marcantes e heroicos de homens e mulheres que, tocados pela chama do altar de Deus, se deixaram consumir por paixão abençoadora:
Ashbel Green Simonton deixou a sua pátria aos 26 anos de idade, enfrentando viagem penosa, que durou quase sessenta dias, a bordo de pequeno navio a vela. Aqui viveu apenas 8 anos, pois morreu de febre amarela, em S. Paulo, aos 9 de dezembro de 1867, com apenas 34 anos de idade.
Mas em apenas 8 anos, numa sequência vertiginosa e quase que atordoadora, fundou no Rio uma Escola Dominical, uma Igreja, um jornal, um seminário, um presbitério, e escreveu uma série de sermões e poesias em português. E tudo isso, apesar das dificuldades daquela época, culminando com a morte da esposa, nove dias após o nascimento da primeira e única filhinha.
João Knox suportava o frio das madrugadas geladas da Europa, agonizando em oração apaixonada: "Senhor, dá-me a Escócia ou eu morro!" E o Senhor ouviu. Ainda estão presentes na memória e no reconhecimento dos presbiterianos brasileiros nomes queridos e ilustres de missionários e evangelistas, cuja paixão pelas almas tanto benefício nos trouxe.
III. Os efeitos desta paixão
A compaixão de Jesus Cristo pela multidão produziu uma série de resultados sublimes: Ensinou-lhes muitas coisas, mobilizou recursos, saciou-lhes a fome, alegrou-lhes o coração, produziu fartura. Aprendemos que todas as vezes em que a alma redimida se deixa empolgar por essa bendita paixão, surgem resultados grandiosos e benfazejos:
1. Glorifica ao Senhor
A preocupação dominante com os pecadores, decorre primeiro do querer de Deus. É também um ato de obediência, que honra ao Senhor (Fp 1.20).
2. Proporciona alegria
A conversão de um pecador proporciona júbilo nos céus (Lc 15.7,10); alegria àquele que o levou a Cristo (Fp 4.1), e satisfação à sua própria alma.
3. Eleva o nosso trabalho
Ele assume proporções mais elevadas e possibilita resultados muito mais abundantes. Estamos certos de que o número das nossas Igrejas já seria bem maior, se todos os crentes trabalhassem sob o impulso dessa paixão sublime.
Conclusão
Reconhecendo todas as razões bíblicas e todas as conveniências desta santa paixão em nossa vida, resta saber como adquiri-la. É simples. Basta nos dispormos à obediência e à oração. Clamemos para que o Espírito Santo acenda em nosso coração as chamas benditas do amor que busca os perdidos.
Lista de estudos da série
1. Não é só um prédio: Descubra o verdadeiro propósito da Igreja – Estudo Bíblico sobre a Missão da Igreja2. Mais que palavras: Proclame a mensagem do amor de Deus que salva – Estudo Bíblico sobre o Evangelho
3. Fé inabalável: Como construir uma certeza que resiste a qualquer dúvida – Estudo Bíblico sobre Convicção Cristã
4. Não na sua força: Receba o poder do alto para testemunhar com autoridade – Estudo Bíblico sobre o Poder do Espírito Santo
5. O fogo de Deus: Acenda em seu coração o amor que move o céu pelas almas perdidas – Estudo Bíblico sobre Paixão por Almas
6. O método de Deus: Descubra como Jesus preparou seus discípulos para mudar o mundo – Estudo Bíblico sobre Métodos Evangelísticos
7. Quebrando fronteiras: Leve o Evangelho da sua rua até os confins da Terra – Estudo Bíblico sobre o Alcance Missionário
8. A hora é agora: Como aproveitar cada oportunidade para falar de Jesus – Estudo Bíblico sobre Oportunidades de Evangelismo
9. Contagem regressiva: Por que a tarefa de evangelizar não pode esperar para amanhã – Estudo Bíblico sobre a Urgência da Pregação
10. O mapa da salvação: O papel insubstituível da Bíblia na obra missionária – Estudo Bíblico sobre a Bíblia em Missões
11. A colheita celestial: Descubra os frutos eternos do seu trabalho para Deus – Estudo Bíblico sobre os Resultados do Evangelismo
12. A tarefa é sua: Entenda por que a Grande Comissão começa com você – Estudo Bíblico sobre Responsabilidade Pessoal