Introdução
Nesses quase dois mil anos de história da Igreja cristã, muitos foram os períodos em que os fiéis discípulos do Senhor Jesus enfrentaram o sofrimento por causa de sua fé.
Desde a cruel execução de Estêvão (At 7.54-60) até hoje, dependendo do lugar e do contexto sócio-cultural, os discípulos do Senhor têm sofrido as consequências de sua fé.
A história da igreja tem sido uma história de mártires. Como disse Tertuliano, “o sangue dos mártires é a semente da igreja”.
As perseguições no período apostólico, a inquisição no período medieval e outros tipos de sofrimento hoje, tais como: preconceito, intolerância, represálias e até mesmo a morte, confirmam o que Paulo diz: “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (II Tm 3.12).
Contexto
As pessoas a quem Pedro anima quanto ao sofrimento por Cristo, são referidas na introdução da carta como “eleitos que são forasteiros da Dispersão....” (1.1). No capítulo 2.11 Pedro volta a se referir aos destinatários da carta como “peregrinos e forasteiros”.
Esta é, portanto, a condição do cristão nesse mundo (Hb 13.14). É nesta perspectiva que os dois textos tomados por base para este estudo devem ser compreendidos.
Os textos apontam qual deve ser a conduta cristã em face às hostilidades dos de fora, apresentando também as motivações e a maneira correta de se enfrentar os sofrimentos por causa do compromisso com Cristo.
Os versículos 19-21 são de difícil compreensão. Os teólogos são unânimes em concordar que constituem uma das mais controvertidas passagens do Novo Testamento.
Não há dúvidas de que o texto enfatiza a universalidade do alcance da obra expiatória de Cristo. Isto não significa, porém, que todos serão automaticamente salvos (II Co 2.14-16).
Devido à variedade de interpretações, a falta de espaço e o propósito deste estudo, vamos nos ater ao assunto central que é o sofrimento por Cristo, considerando as seguintes lições.
1. O sofrimento por Cristo é apresentado como uma possibilidade
“...Ainda que venhais a sofrer...” (3.14). O apóstolo dá a entender a iminência de perseguições que poderiam atingir também a estes cristãos que viviam na Ásia Menor.
Caso viessem a sofrer por causa de sua fé - o que pode acontecer conosco hoje também -, como deveriam entender esta experiência?
1.1. Constitui-se numa bem-aventurança.
“...ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois” (3.14). Esta frase nos conduz a Mateus 5.10, onde Jesus declara: “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus”.
Em 4.13-14, Pedro volta a dizer que o sofrimento por Cristo deve ser motivo de alegria, pois se constitui numa bem-aventurança. Isto não significa que o cristão deva ser masoquista, ou seja, ter prazer no sofrimento.
O apóstolo quer mostrar que é melhor e mais digno sofrer como cristão, do que como “assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem” (4.15,16).
1.2. Pode ser da vontade de Deus.
“...se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom...” (3.17). Na experiência do sofrimento nunca podemos desconsiderar a vontade de Deus.
O pensador cristão C.S. Lewis no livro “O Problema do Sofrimento Humano”, afirma:
Deus sussurra aos nossos ouvidos em nossos prazeres, fala à nossa consciência, mas grita em nossas dores: elas são o seu megafone para despertar um mundo surdo.
Afirma Helmut Thielicke que:
o homem reclama, grita, blasfema. Deus vê o sofrimento em silêncio. Não é, porém, o silêncio da indiferença. Propósitos e finalidades superiores, ainda por nós incompreendidos e indevassáveis, presidem a esse silêncio.
2. O sofrimento por Cristo é uma oportunidade para testemunho
“...Estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós...” (3.15). O cristão precisa defender a sua fé, não importa quais sejam as circunstâncias. Sendo assim, o sofrimento por Cristo se toma uma oportunidade para testemunho, pois:
2.1. Revela o compromisso incondicional do cristão
“...santificai a Cristo, como Senhor, em vossos corações...” (3.15). Mais importante do que viver para Cristo, é morrer por Ele se preciso for.
O Dr. Vermon Jones, pastor evangélico norte-americano biografado no excelente filme “O Pastor”, declarou: “Quem não tem um bom motivo para morrer, não tem motivos para viver”.
Em meio aos sofrimentos por Cristo é possível ao cristão encontrar uma grande oportunidade para testemunhar a sua fé, tal qual o apóstolo Paulo que disse: “será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte. Porquanto, para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp 1.20,21).
2.2. Deixa transparecer o bom procedimento do cristão
“...fazendo, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo” (3.16).
Pedro está falando de um estilo de vida cristã que confronta o adversário mais do que com palavras convincentes, com um procedimento inquestionável e inatacável.
2.3. Torna-se um meio de glorificação a Deus
“...se sofrer como cristão, não se envergonhe disso, antes glorifique a Deus com esse nome” (4.16). Sofrer por Cristo é sofrer por uma causa nobre, é sofrer com dignidade.
Se sofremos por Cristo somos bem-aventurados e por isso devemos regozijar e exultar (Mt 5.10-12). Tal atitude nos faz lembrar dos apóstolos perante o Sinédrio, quando foram interrogados, açoitados e intimidados, pois diz o texto que eles se retiraram do Sinédrio, regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome” (At 5.17-42).
3. O sofrimento por Cristo é um atestado de fidelidade
3.1. O sofrimento prova o cristão
“...fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos...” (4.12). O sofrimento muitas vezes é utilizado como um instrumental de Deus para testar a nossa fidelidade (Dt 8.1-5).
Afirma o teólogo João Calvino que “a verdadeira piedade não se distingue de sua imitação, até que venham as provações”.
Segundo Paulo somos designados para passarmos por tribulações, a fim de que sejamos provados (I Ts 4.1-5). Tiago também escreve sobre os benefícios das provações que sobrevêm ao cristão (Tg 1.2-4).
3.2. O sofrimento confirma a filiação do cristão
“Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus” (4.14).
Não podemos deduzir daí que o cristão só tem o Espírito Santo quando é envolvido por sofrimento. Entretanto, é no sofrimento por Cristo que se confirma a nossa filiação ao Pai Celeste.
“Se vós fôsseis do mundo” - afirma Jesus - “o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso o mundo vos odeia” (Jo 15.19).
3.3. Ao sofrer, o cristão se torna co-participante dos sofrimentos de Cristo
“Alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo...” (4.13). O próprio Senhor Jesus é quem nos deu o exemplo do sofrimento (I Pe 2.18-25).
A co-participação nos sofrimentos de Cristo já está implícita no convite ao discipulado: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia após dia tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23).
3.4. Em meio ao sofrimento o cristão se entrega confiantemente ao Senhor
“Por isso os que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem as suas almas ao fiel criador, na prática do bem” (4.19).
Este versículo e, mais especificamente a palavra “encomendem” (que na língua grega indica “entrega”, “confiança”), sugerem uma entrega sem reservas ao Senhor, aconteça o que acontecer.
Isto é bem exemplificado no episódio envolvendo os amigos de Daniel quando foram ameaçados de ser lançados na fornalha de fogo pelo rei Nabucodonozor. Eles disseram ao rei:
Se o nosso Deus, a quem servimos quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha de fogo ardente, e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que levantaste” (Dn 3.17,18).
Desafiados pela mensagem de Pedro e sustentados pelo Espírito Santo, vivamos coerente e corajosamente a vida cristã, assumindo todos os seus riscos:
Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor” (Rm 14.7,8).
Para pensar
1. À luz do estudo de hoje, você acha que em nosso país tem havido algum tipo de sofrimento por causa da fé em Cristo? Justifique.
2. Alguns ensinam que o cristão está livre de sofrimentos. Qual a sua opinião a respeito desta afirmação?
3. Além de orar, o que a Igreja deve fazer em favor daqueles que têm sofrido por causa de sua fé em Cristo?
Autor: Eneziel Peixoto de Andrade
Lista de Estudos da série
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12. Vença a Perseguição: 3 Revelações Poderosas Para o Cristão Que Sofre Pela Fé – Estudo Bíblico
13. Vença Fracasso: 3 Verdades Inegáveis Para Transformar Suas Derrotas em Crescimento – Estudo Bíblico