Vença o Ativismo: 2 dicas Para Um Ministério Sem Estresse e Ansiedade

Estamos vivendo na era da velocidade. É uma pressa, uma correria. Corremos contra o relógio, porque queremos fazer duas, três coisas ao mesmo tempo. 24h no dia já não são suficientes. Estamos tão envoltos nisso que nem percebemos.

Pedimos a conta do restaurante antes de terminar de comer.
Quando temos tempo de dar atenção aos nossos filhos, amigos ou cônjuge, queremos fazer tudo rapidinho, para sobrar tempo para chegar os emails ou ler aquela revista que ficou para depois.
Cinco minutos na fila do banco, é a morte;
Se ao ligar para alguém o telefone der mais de três toques, já desligamos;
Maior parte dos trabalhadores hoje não usam integralmente suas férias que tem direito. Trabalham até se esgotar.
Estamos permanentemente disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 no ano, ano após ano.

Vivemos sob forte pressão para ir cada vez mais depressa, como se a pressa fosse nos levar a algum lugar.

O resultado disso é que a Era da Velocidade tem nos levado a Era da Ansiedade.

E assim esquecemos de certos valores básicos como a beleza de desfrutar de um momento quando ele acontece; nos privamos de princípios como de que os relacionamentos precisam ser cuidados... mas como fazer isso se vivemos numa correria?

Aplicando para a nossa realidade

Agora, façamos um exercício de reflexão para a nossa realidade como igreja. Pois essa correria, esse ativismo de nosso tempo, tem adoecido muita gente na igreja.

A história que eu vou contar é muito comum, especialmente para pastores, mas pode acontecer com qualquer um de nós.

Certa vez um jovem pastor, recém saído do Seminário e ordenado, assumiu seu primeiro campo ministerial numa pequena igreja, com toda aquela motivação própria daqueles que iniciam o pastorado.

Logo na primeira reunião do Conselho, aquele pastor apresentou seu plano de atividade que sonhou durante quatro anos de seminário.

Eram reuniões com as sociedades internas, planejamento anual, visitas domiciliares a crentes e não crentes, sem esquecer as visitas a enfermos nos hospitais.

É claro que o Conselho aprovou integralmente a questão. E logo surgiram cultos para que nos lares e nos sítios para que o pastor comparecesse.

Na primeira reunião do presbitério aquele jovem pastor foi eleito para a diretoria executiva.

Membros da igreja que queriam abrir pontos de pregação, solicitavam ao jovem pastor e eram prontamente atendidos. Isso sem contar os cultos especiais, Bodas, Casamentos, ofícios fúnebres, aniversários, etc.

A comunidade se orgulhava daquele pastor. De como ele era ativo!

Era casado e fazia de tudo para que suas obrigações domésticas não fossem negligenciadas.

Mas, não se passou muito tempo até que as falhas e também as críticas começassem a surgir.

Isso porque as atividades que aquele pastor foi assumindo já não contavam com o apoio de outras pessoas que no início se comprometeram, de forma que ficou tudo para o pastor.

Ele estava agora cansado, exausto e carregando um peso consigo, o de tentar abraçar todas as atividades, ser um super-homem.

O ativismo

O ativismo, também conhecido como excesso de atividades, tem sido um grande problema vivido quase na totalidade das igrejas evangélicas.

Há uma tendência ao acúmulo de atividades, de segunda a domingo, o que é desgastante e muitas vezes sem resultado prático.

Essa realidade tem levado membros, líderes e pastores ao cansaço tal que, se continuam a participar de tudo a família reclama (com razão), mas se não participam a consciência pesa.

“Crente que não trabalha, dá trabalho”. É verdade. Mas crente que trabalha demais na igreja faz o trabalho da igreja padecer. Temos que ter equilíbrio, bom senso neste assunto.

E já de início quero ponderar na seguinte questão. Nós temos falado aqui na igreja sobre trabalho, e a importância de você trabalhar na igreja e servir ao Senhor. Mas nós não temos pregado o ativismo.

Muito menos a negligência. Nós estamos orientando a cada irmão da igreja a um envolvimento equilibrado!

Viver o cristianismo e se realizar, não é necessariamente desempenhar uma série de atividades na igreja local, onde servimos ao Senhor, a ponto de isso nos separar de nossas atividades particulares ou mesmo de nossas famílias.

Alguns sintomas do ativismo:

Vejamos então alguns sintomas do ativismo:

Confundir espiritualidade com atividade – ir mais ou menos à igreja não faz de nós mais ou menos crentes. É óbvio que devemos ir à igreja regularmente. Mas não devemos cair no engano de achar que o número de vezes que vamos na semana na igreja faz de nós mais crentes.

Há igrejas que tem atividades TODOS OS DIAS, cultos todos os dias. Confundem espiritualidade com atividade. Há pessoas que vão muito à igreja mas não cultivam vida espiritual. E quem não cultiva a piedade espiritual fica rancoroso, magoado, difícil de lidar, sujeito ao legalismo.

Se envolver demais e deixar a família de lado – esposas que abandonam maridos para ir a todos os trabalhos da igreja e vice-versa. Filhos que deixam suas casas e suas famílias, mas estão sempre na igreja. O tempo em família é importante. A família é um porto-seguro. É lugar onde podemos exercer nossa espiritualidade, transmitir nossos valores. Não podemos deixar a família de lado.

Pegar cargos demais e não conseguir fazer nada bem feito – uma coisa que é muito comum. A pessoa geralmente é bem disposta, capacitada, e por causa disso vai acumulando cargos. Mas chega um ponto que essa pessoa tem tantas atividades que não consegue fazer nenhuma delas de maneira minimamente aceitável.

Cansaço e estresse – quando se pega muita coisa, no começo pode até dar conta, mas o cansaço vai vindo e a pessoa fica estafada. Aumenta a possibilidade de doenças causadas pelo sistema nervoso. E nitidamente a pessoa fica sem forças.

Drama de consciência – para aqueles que, no zelo para com suas obrigações, vêem-se obrigados a faltar a algumas atividades da igreja.

Se você tem pelo menos uma desses sintomas, cuidado, você anda fazendo muita coisa. Você está se envolvendo demais, mais do que você mesmo pode suportar.

Leiamos o texto bíblico para aprendermos como vencer o ativismo:

Êxodo 18:13-27
13 - No dia seguinte, assentou-se Moisés para julgar o povo; e o povo estava em pé diante de Moisés desde a manhã até ao pôr-do-sol.
14 - Vendo, pois, o sogro de Moisés tudo o que ele fazia ao povo, disse: Que é isto que fazes ao povo? Por que te assentas só, e todo o povo está em pé diante de ti, desde a manhã até ao pôr-do-sol?
15 - Respondeu Moisés a seu sogro: É porque o povo me vem a mim para consultar a Deus;
16 - quando tem alguma questão, vem a mim, para que eu julgue entre um e outro e lhes declare os estatutos de Deus e as suas leis.
17 - O sogro de Moisés, porém, lhe disse: Não é bom o que fazes.
18 - Sem dúvida, desfalecerás, tanto tu como este povo que está contigo; pois isto é pesado demais para ti; tu só não o podes fazer.
19 - Ouve, pois, as minhas palavras; eu te aconselharei, e Deus seja contigo; representa o povo perante Deus, leva as suas causas a Deus,
20 - ensina-lhes os estatutos e as leis e faze-lhes saber o caminho em que devem andar e a obra que devem fazer.
21 - Procura dentre o povo homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza; põe-nos sobre eles por chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinqüenta e chefes de dez;
22 - para que julguem este povo em todo tempo. Toda causa grave trarão a ti, mas toda causa pequena eles mesmos julgarão; será assim mais fácil para ti, e eles levarão a carga contigo.
23 - Se isto fizeres, e assim Deus to mandar, poderás, então, suportar; e assim também todo este povo tornará em paz ao seu lugar.
24 - Moisés atendeu às palavras de seu sogro e fez tudo quanto este lhe dissera.
25 - Escolheu Moisés homens capazes, de todo o Israel, e os constituiu por cabeças sobre o povo: chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinqüenta e chefes de dez.
26 - Estes julgaram o povo em todo tempo; a causa grave trouxeram a Moisés e toda causa simples julgaram eles.
27 - Então, se despediu Moisés de seu sogro, e este se foi para a sua terra.

O que nos ensina o texto sobre este assunto?

O texto nos ensina em primeiro lugar que...

1. É necessário repartir para suportar

Êxodo 18:18-19
18 – Sem dúvida, desfalecerás, tanto tu como este povo que está contigo; pois isto é pesado demais para ti; tu só não o podes fazer.

Esse texto bíblico fala da ocasião que o sogro de Moisés o aconselhou quanto à forma de tratar os problemas do povo. Moisés costumava fazer isso, ele se assentava para julgar o povo, desde manhã até o pôr do sol.

Lembre-se que Moisés era um líder espiritual levantado pelo próprio Deus, para guiar o seu povo, desde a libertação da escravidão do Egito até a entrada na terra prometida.

Sua missão não era algo comum. Ele tinha consciência disso e se dedicava ao máximo. Ele tinha mais de 80 anos de vida, além de muita experiência e conhecimento.

Entendia que deveria fazer tudo que era possível para que o povo se mantivesse fiel a Deus em todo o trajeto da peregrinação. Fidelidade era a condição de vitória, sem a qual não chegariam à terra prometida.

Problemas entre o povo

Porém, não tinha ainda passado os primeiros sessenta dias de peregrinação e os problemas já eram volumosos entre o povo. E por que tantos problemas?

É simples. Observe o contexto. Pelo contexto sabemos que nos dois primeiros meses, sucederam fatos tremendos aos israelitas:

A perseguição de faraó – Êxodo 14.1-4
A passagem pelo Mar Vermelho e destruição dos egípcios perseguidores – Êxodo 14.15-31
As águas amargas da região de Mara se transformam em águas doces – Êxodo 15.22-25
O envio de codornizes – Êxodo 16.11-13
O envio do maná – Êxodo 16.14-26
A água retirada da rocha em Refidim – Êxodo 17.1-7
E a primeira vitória contra Amileque – Êxodo 17.11-13
Isso sem levar em conta os fatos que antecederam o início da caminhada:

As 10 pragas e a instituição da Páscoa

Certamente isso tudo pesava nos ombros de Moisés e ele sentia-se obrigado, pelas circunstâncias, a desdobrar-se em uma série de atividades sem fim para atender ao povo, que estava carente, com vários problemas e necessitava de uma orientação.

O conselho de Jetro

Jetro, o sogro de Moisés, tinha sido um sacerdote em Mídia, e conhecia muito bem a tarefa de liderar um povo.

Ele não via nas atividades de Moisés, uma forma de ambição ou exibicionismo, mas via alguém desgastando-se desnecessariamente.

Moisés estava atendendo desde o nascer até o por do sol milhares de pessoas. Julgando cada caso.

Aconselhando, orando. Imagine que cansaço. Imagine o povo esperando. Isso estava desgastando os dois lados: tanto Moisés como o povo.

Jetro então fala para Moisés: sem dúvida desfalecerás... Desfalecer significa perder a força, afrouxar, enfraquecer. Mas isso não poderia acontecer a um homem de tão grandes responsabilidades como Moisés.

Por isso seu sogro diz: você sozinho não vai dar conta Moisés. Reduza o excesso de atividades.

Era necessário repartir para suportar.

Êxodo 18:21-23
21 - Procura dentre o povo homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza; põe-nos sobre eles por chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez;
22 - para que julguem este povo em todo tempo. Toda causa grave trarão a ti, mas toda causa pequena eles mesmos julgarão; será assim mais fácil para ti, e eles levarão a carga contigo.
23 - Se isto fizeres, e assim Deus to mandar, poderás, então, suportar; e assim também todo este povo tornará em paz ao seu lugar.

Repartir para suportar

E este é um princípio bíblico meus irmãos. Deus deu variedades de dons com um objetivo muito claro: para que todos participem!

1 Coríntios 12:12,18-19
12 - Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo.

18 - Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve.
19 - Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo?

Repartir as funções é um princípio bíblico! Mas porque as pessoas não querem repartir suas funções dentro da igreja? Podemos listar vários motivos.

Ciúme
Inveja
Medo de perder o cargo, e assim perder o poder e influência
Insegurança

Amparados nestes sentimentos muitas pessoas pegam tantas atividades, acumulam tantos cargos que chega um dado momento não suportam.

Não levam mais vida pessoal, não conseguem ter tempo com família, chega do trabalho para igreja, nem toma banho e vai para a casa dormir.

E mesmo que suportem, mesmo que façam disso um estilo de vida, o corpo humano não foi feito para isso. Não demora muito para o próprio corpo adoecer.

O resultado disso? A obra de Deus é então prejudicada, pelo menos em duas perspectivas:

Porque não é feita com toda a dedicação, é atrapalhada pelo cansaço e falta de tempo.

Porque limita o envolvimento de pessoas também capazes no mesmo ministério ou atividade. Afinal, se só um faz o trabalho de 20, por que o resto vai se envolver?

É necessário repartir para suportar. Mas não repartir por acaso. Não pegar gente a esmo e dar cargo para pessoa para ver se ela se afirma no compromisso.

As qualidades precedem os cargos!

Êxodo 18:21
21 – Procura dentre o povo homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade que aborreçam a avareza...

Sabe por que temos tantos problemas na igrejas? Porque a gente esquece destes critérios. A gente tenta arrebanhar todo mundo. Mas a gente esquece dos critérios.

É necessário repartir para suportar...

O texto nos ensina em segundo lugar que...

2. É necessário trocar a quantidade de atividades pela qualidade das mesmas

Este é um ponto presente em todo o texto. É preferível qualidade ao invés de quantidade.

Quando Moisés ouviu seu sogro e dividiu o trabalho, a quantidade diminui, mas a qualidade aumentou. Ninguém iria ficar sobrecarregado. Nem os líderes, nem o povo. O resultado disso era a PAZ. (23)

Êxodo 18:23
23 - Se isto fizeres, e assim Deus to mandar, poderás, então, suportar; e assim também todo este povo tornará em paz ao seu lugar.

Da mesma forma acontece na vida da igreja. Comparecer a várias reuniões durante a semana pode acarretar mais cansaço do que crescimento, e por fim, peso em vez de alegria no serviço à causa de Cristo.

O momento de ir à igreja deve produzir no nosso coração contentamento como bem expressa o salmista:

Salmo 122:1
Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do Senhor

É necessário trocar a quantidade de atividade por qualidade e produtividade.

Para fazer essa troca é necessário que você:

Estabeleça as prioridades – em certos ministérios da igreja sobram pessoas. Certos ministérios estão precisando de pessoas. Se envolva com uma área que necessita mais de sua ajuda.

Não acumule cargos ou atividades – quem acumula cargos e abraça todas as atividades erra em dois sentidos: não dá oportunidade para quem deseja aprender e corre o risco de não fazer nada direito. Prefira fazer uma coisa, mas bem feita!

Aprenda a dizer não. Aprenda e entenda que você não pode fazer tudo. Prefira fazer algo bem feito a muitas coisas mal feitas. Não tenha medo de recusar ou dizer não para coisas que sobrecarreguem você.

Procure ter uma vida equilibrada – não pendendo ao ativismo nem à negligência. A igreja é lugar de trabalhar, mas tal trabalho deve ser feito com alegria, disposição sem o sentimento de peso ou obrigação. Não deve atrapalhar o seu envolvimento com a sua família!

Cultive uma visão discipuladora, voltada para o bem do Reino de Deus. Ensine e invista nas pessoas – Mesmo que você seja bom em tal atividade, não caia no engano de achar que você é insubstituível ou absoluto – ou mesmo que a obra de Deus pertence à você. Ensine as pessoas, invista na vida delas. Tenha a visão de discipulado.

Seguindo estas dicas estaremos dando um passo importante para fazer as coisas de Deus com QUALIDADE e com um efeito maior ainda!

Conclusão

Nossa sociedade é extremamente ativista. Não temos tempo para nada. E isso também influencia nossa vida na igreja. Muitos acreditam que quanto mais atividades pegarem, mais espirituais são. Não é bem por aí.

Nós temos falado aqui na igreja sobre trabalho, e a importância de você trabalhar na igreja e servir ao Senhor.

Mas nós não temos pregado o ativismo. Muito menos a negligência. Nós estamos orientando a cada irmão da igreja a um envolvimento equilibrado!

Para que haja esse desenvolvimento equilibrado é necessário:

1. Repartir para suportar
2. É necessário trocar a quantidade de atividades pela qualidade das mesmas